Valoriza herói, todo sangue derramado afrotupy!

domingo, junho 30, 2013

Movimento sueco luta há mais de uma década por transporte público gratuito










Grupo anarcosindicalista Planka usa dinheiro de sócios para pagar multas de quem usa transporte público sem pagar tarifa

“Para quem são construídas as cidades?”. É com esta simples pergunta que os membros do grupo Planka têm promovido a discussão da mobilidade urbana no mundo há mais de uma década. O movimento foi fundado em 2001 pela SUF (Federação da Juventude Anarcosindicalista da Suécia, na sigla em sueco), em resposta ao aumento da passagem do transporte público de Estocolmo, a capital do país.

O grupo defende que o custo da utilização do transporte público deveria estar embutido nos impostos pagos pelos cidadãos, de acordo com a sua renda, em vez de um valor fixo para todos. “As passagens deveriam ser como as calçadas – pagas por todos e de uso gratuito”, diz a página web do grupo.

“Nós queríamos fazer alguma coisa concreta que fosse além da pura dissidência”, explica a Opera Mundi Christian Tengblad, um dos membros do coletivo. “Nestes anos de atuação, conseguimos que muitas pessoas economizassem com transporte e forçamos um debate em torno das tarifas e da mobilidade no espaço público”.

O Planka atua defendendo o não pagamento das passagens no transporte público, saltando as catracas ou simplesmente embarcando nos ônibus e bondes sem pagar. Caso apareça um controlador, a multa é paga pelo movimento se a pessoa multada for um membro do grupo. Para se associar, paga-se uma mensalidade de 100 coroas suecas (R$ 33), que financia todas as atividades do Planka.

As mídias sociais e os smartphones também estão sendo usados em prol da causa. Um grupo no Facebook, com mais de 20 mil membros, informa em tempo real a localização dos biljettinspektör (inspetores de passagem), evitando assim que passageiros sem ticket sejam multados. A multa por viajar sem passagem ultrapassa os 400 reais.

Divulgação
A estratégia é controversa, mas os líderes do movimento explicam que esta é uma maneira de chamar a atenção para as suas demandas. Além do não-pagamento dos bilhetes, o grupo conta com o apoio de lobistas profissionais e da militância de esquerda para pressionar o debate do passe livre.

[Cartaz do grupo Planka]

“Fomos muitas vezes levados para a polícia e políticos do partido de direita Moderatema tentaram abafar os nossos debates. O lobby das empresas de transporte também tentou nos silenciar”, conta Christian.

E a atuação do grupo não se resume ao preço da passagem ou à defesa do passe livre. A crescente dependência do automóvel e a consciência ecológica fazem parte da agenda. A construção de estradas no interior da Suécia e nos subúrbios de Estocolmo também é alvo frequente dos ativistas do Planka.

Há alguns anos, a empresa sueca de transportes anunciou que instalaria controles mais modernos para tentar evitar o não-pagamento de passagem. O grupo fez um vídeo explicativo mostrando o exemplo da cidade francesa de Lyon, onde o sistema foi aplicado e era facilmente burlado. “O mais importante é não ficar somente no campo da utopia. Mostramos com números que o custo de um transporte privado é maior do que se fosse financiado pelos nossos impostos. E que qualquer tentativa de aumentar o controle vai ser em vão”, explica o representante do movimento sueco.

O grupo elabora também relatórios e livros, tendo se transformado em um think tank escandinavo no assunto da mobilidade urbana. “Sabemos o que está acontecendo no Brasil e inclusive já falamos sobre o Movimento Passe Livre na nossa página-web. Trabalhamos em cooperação com outros grupos, inclusive o brasileiro”, conta Petter Slaatrem Titland, da filial em Oslo, na Noruega.

O Planka faz parte de uma rede internacional chamada Free Public Transports (Transporte Público Gratuito), que conta com quase 50 organizações em mais de 20 países. No Brasil, quatro grupos fazem parte da rede – Transporte Gratuito para Todos, TarifaZero.org, Movimento Passe Livre e Grupo Transporte Humano.

“Nossa maior conquista é criar uma problemática, uma discussão. É trazer temas globais para o debate local. Uma das nossas vitórias é trazer para a esfera pública a questão das classes”, conta Petter. “Além da discussão do transporte público financiado pelos impostos, o movimento politizou um assunto que até então era encarado como um problema de segurança – o não pagamento das passagens no transporte”.

Segundo Christian Tengblad, os melhores exemplos de transporte público hoje em dia são a cidade de Hasselt, na Bélgica, Avesta, na Suécia e Tallinn, na Estônia. “Mas ainda é pouco. Queremos incentivar a discussão do transporte urbano em todo o mundo”, conclui.

FONTE:  Opera Mundi

Comitê Popular da Copa anuncia protesto domingo no entorno do Maracanã


Entidades que compõem o comitê contestam a forma como estão sendo geridos os recursos públicos e realizadas as obras de infraestrutura nas 12 cidades-sede da Copa do Mundo de 2014

O Comitê Popular da Copa e das Olimpiadas do Rio de Janeiro está organizando uma manifestação para domingo 30, no entorno do Maracanã, estádio que as seleções do Brasil e da Espanha disputam, às 19h, a final da Copa das Confederações. As entidades que compõem o comitê vão protestar, sobretudo, contra o processo de urbanização do Rio de Janeiro para os dois megaeventos, que, segundo elas, envolveu remoções forçadas e violação de direitos humanos, e contra a privatização do Maracanã.
Nesta sexta-feira 28, em entrevista coletiva, os coordenadores do ato informaram que a concentração será na Praça Saens Peña, a cerca de 1 quilômetro  do Maracanã, de onde os manifestantes se dirigirão ao estádio. Depois de anunciarem suas reivindicações, eles vão se dispersar na Praça Afonso Pena, no mesmo bairro.
O representante da organização Justiça Global e membro da articulação do comitê, Renato Cosentino, disse esperar que não haja qualquer impedimento por parte da polícia na chegada do Maracanã. Ele ressaltou que, se houver bloqueios nas imediações do estádio, a orientação é não furá-los. “O movimento é pacífico. Este é nosso quinto ato, e não temos nenhuma intenção de atrapalhar o jogo." Cosentino explicou que o objetivo é chegar ao Maracanã, como nas outras manifestações. "Esperamos ter garantia de fazer essa manifestação, é um direito constitucional nosso."
O movimento reivindica, sobretudo, a interrupção do que chamaram de elitização e privatização do Maracanã, fim do processo de demolição do Parque Aquático Julio De Lamare e do Estádio de Atletismo Célio de Barros, que fazem parte do complexo desportivo do Maracanã, e da Escola Municipal Friedenreich, no entorno da arena.
“O Maracanã agora só tem 75 mil lugares, as áreas VIPs [áreas exclusivas] se multiplicaram, e o preço das entradas subiu muito. Além disso, estão retirando pessoas pobres das áreas centrais e nobres para lugares mais distantes, e tudo isso com recursos públicos para os jogos”, lamentou Cosentino. “Estão transformando o Maracanã em um shopping. O Julio De Lamare e o Célio de Barros eram aproveitados diariamente por cerca de 10 mil pessoas que ali se exercitavam, usando-os como equipamentos de saúde. Tirar esses espaços para transformá-los em estacionamento, que é a proposta do projeto de privatização, é um absurdo”, completou.
Gustavo Mehl, também integrante do Comitê Popular da Copa no Rio, lembrou que protestos paralelos ocorrerão durante todo o domingo em outras áreas da cidade. Ele espera que as manifestações pressionem as autoridades para que ajam de forma mais transparente e democrática, já que, pelas vias legais, as reivindicações sociais não têm sido ouvidas ou acatadas. “Temos uma série de liminares que foram apreciadas diretamente pela presidência do Tribunal de Justiça, que derrubou todas as que tiveram parecer favorável dos juízes de primeira instância.”
Ele informou que a articulação enviou ao Comitê Olímpico Internacional e à Federação Internacional de Futebol (Fifa) documento com denúncias sobre irregularidades nas remoções, mas, até o momento, não obteve resposta. “Em relação ao Maracanã, em dezembro de 2012, entregamos um documento listando todas as violações, ilegalidades e arbitrariedades que aconteciam no complexo do maracanã à comitiva do Jérôme Valcke [secretário-geral da Fifa].”
O Comitê Popular da Copa e das Olimpíadas reúne representantes de comunidades, movimentos sociais, organizações e entidades diversas e de pessoas que contestam a forma como estão sendo geridos os recursos públicos e realizadas as obras de infraestrutura nas 12 cidades-sede da Copa do Mundo de 2014, e no Rio de Janeiro, onde serão realizados os Jogos Olímpicos de 2016.

FONTE: AGÊNCIA BRASIL

DOMINGO EU VOU AO MARACANÃ!


















NO DOMINGO VAMOS AO MARACANàPOR DIREITOS!

Caminhada da Saens Peña até o Maracanã, 
com encerramento na Praça Afonso Pena
Data e hora: Domingo, 30 de junho de 2013
Horário: concentração a partir das 10h

A NOSSA PAUTA É:
- PELA IMEDIATA ANULAÇÃO DA PRIVATIZAÇÃO DO MARACANÃ!
- Com isso, a reabertura do Parque Aquático Julio Delamare, reconstrução da pista do Estádio de Atletismo Célio de Barros, manutenção da Escola Friedenreich e devolução da Aldeia Maracanã para os indígenas! Por um Maracanã público e popular!
- PELO FIM DAS REMOÇÕES E DESPEJOS DE COMUNIDADES EM NOME DA COPA E OLIMPÍADAS! URBANIZAÇÃO JÁ!
- Pela permanência e urbanização da Vila Autódromo e a regularização fundiária do Horto e de todas as comunidades do Rio de Janeiro
- Dinheiro da Copa para Saúde e Educação. Contra a privatização da Saúde e da Educação
- Gestão democrática das cidades: construção de espaços efetivos de deliberação popular
- Passe livre. Por um transporte público que garanta o direito à mobilidade na cidade
- Não à repressão policial e ao uso de armas letais e menos letais! Pela desmilitarização da polícia
- Contra a criminalização dos movimentos sociais. Anistia aos presos nos atos contra os aumentos das passagens
- Democratização dos meios de comunicação
- Pelo direito ao trabalho e contra a repressão aos camelôs
- Contra a elitização do futebol. Por setores populares no estádio
- Contra a internação compulsória da população em situação de rua

IMPORTANTE: O caráter deste ato é pacífico. Afirmamos que é dever do Governo Estadual garantir o direito constitucional de ir às ruas protestar. Defendemos o direito de manifestação de todos. Acreditamos que temos que unir bandeiras, e não rasgá-las.
O Comitê Popular da Copa e das Olimpíadas do Rio de Janeiro reúne movimentos sociais, organizações, representantes de comunidades, pesquisadores e outras entidades e pessoas críticas à forma como estão sendo geridos os recursos e como estão sendo feitas as transformações urbanas para a Copa e as Olimpíadas na cidade. Esse ato foi construído por estas organizações e por outras entidades do Rio de Janeiro em plenárias. Respeitamos que sejam construídos outros atos em outros horários e apoiamos estas iniciativas.
FONTE: Comitê Popular da Copa e das Olimpiadas do Rio de Janeiro 

Centrais Sindicais convocam Dia Nacional de Lutas em 11 de julho









As centrais sindicais brasileiras, CSP-Conlutas, CUT, UGT, Força Sindical, CGTB, CTB, CSB e NCST, juntamente com o MST e o Dieese, realizaram uma reunião nesta terça-feira (25) para discutir o processo de lutas que tomou conta do país. Foi definido que 11 de julho será o Dia Nacional de Lutas com Greves e Mobilizações, com o tema “Pelas liberdades democráticas e pelos direitos dos trabalhadores”.   

A pauta de reivindicações consensual é redução das tarifas e melhoria da qualidade do transporte coletivo, mais investimentos em saúde e educação públicas, contra os leilões das reservas de petróleo e em defesa do patrimônio público, fim do fator previdenciário e valorização das aposentadorias, redução da jornada de trabalho e contra o PL 4330 (que regulamenta a terceirização), reforma agrária.   

A luta da juventude pela redução da tarifa deu exemplo ao conquistar a revogação do aumento em diversas cidades brasileiras, principalmente as maiores, Rio e São Paulo.   

A CSP-Conlutas já esteve nas ruas com greves, paralisações a manifestações de diversas categorias, do movimento popular e dos estudantes nos dias 26 e 27 de junho. Vamos fortalecer esse nosso dia de luta nacional para que ele sirva de preparação para o dia 11 de julho.   

É hora de os trabalhadores irem às ruas unificados e levantarem bandeiras comuns de suas demandas. Além da participação nas mobilizações que estão acontecendo, entrará de forma organizada nesta luta. Precisamos cobrar do governo Dilma atenda demandas que não tem sido ouvidas. Essa mesma cobrança devemos fazer aos governos estaduais e municipais, sejam eles do PT, do PSDB, do PMDB ou outro partido, pois eles os responsáveis pela difícil situação do nosso povo.

FONTE: CSP-CONLUTAS

terça-feira, junho 25, 2013

A resposta popular é Greve Geral em 27 de junho










A Greve Geral de 27 de Junho em Portugal é contra um governo em fim de linha a que falta legitimidade política e não tem mandato para esta devastação austeritária.

Numa altura em que Passos Coelho, logo acompanhado em coro por uma série de energúmenos, fala em alterar a lei da greve, a melhor resposta que os trabalhadores e o povo podem dar é exercer o seu direito fazendo a Greve Geral de 27 de Junho em defesa das suas condições de vida e trabalho, defendendo o direito à Greve que em Portugal tanto custou a alcançar e que após o 25 de Abril foi consagrado na Constituição da República aprovada no dia 2 de Abril de 1976.
A luta dos professores foi um grande sinal de unidade em defesa do Estado Social e do direito à greve. O governo sofreu uma derrota.
A Greve Geral é resposta forte e convergente da resistência cidadã às políticas de austeridade que após dois anos da assinatura do memorando com a troika devastou económica e socialmente o País e as pessoas.
A situação financeira degrada-se de dia para dia, o défice não diminui e a dívida está sempre a crescer e ultrapassa já os 127% do PIB, esta é a realidade que o “Excel” e a “chuva do Gaspar” não conseguem desmentir. A dívida é impagável. O governo de Passos & Portas submete o País aos ditames do capital financeiro que torna impossível gerar riqueza e criar de emprego.
A violência do desemprego atinge já um milhão e meio de homens e mulheres e tal como na altura da guerra colonial, todas as famílias tinham um soldado na guerra, hoje todas têm um familiar que engrossa este enorme exército de desempregados. Esta é a velha fórmula do capital para fazer baixar brutalmente os custos do trabalho. É contra esta guerra social que é preciso dar combate e dizer basta à exploração e ao empobrecimento, por isso é preciso estarmos todos nesta Greve Geral.
A ofensiva é contra TODOS, sejam do Sector Privado; do Sector Empresarial do Estado (SEE); da Administração Pública Central, Regional e Local. O roubo dos salários e pensões, o desemprego, o aumento do horário de trabalho é a base da política anti- laboral deste (des) governo.
Acrescentam ainda o congelamento do salário mínimo nacional, novos cortes nas indemnizações e no subsídio de desemprego e doença, o bloqueamento da contratação coletiva, colocam em causa direitos consagrados nos acordos de empresa (AE`s), como a redução nos subsídios de refeição, valor do trabalho noturno e de turnos e como cereja no cimo do bolo, o maior despedimento coletivo de sempre na Administração Pública.
A Greve Geral é feita num momento crucial de resposta aos ataques destruidores do governo e crítico face às novas medidas, que com o início da oitava avaliação, a troika e o governo pela boca de Paulo Portas vai anunciar a demolição do Estado Social que querem pôr em marcha através de cortes de 4700 milhões de euros nos serviços públicos, saúde, educação e segurança social.
A população em geral vai sofrer com novas taxas e contribuições sobre pensões, reformas e aumento dos impostos (IVA e IMI) e dos preços de bens e serviços essenciais, como habitação, a eletricidade, o gás e a água. A Greve Geral é para TODOS.
27 de Junho 2013 é o dia da 10.ª Greve Geral convocada pela CGTP desde 1982, a 4.ª greve em convergência com a UGT o que neste momento importa valorizar como um elemento de unidade na ação e um caminho de luta e resistência contra a ofensiva austeritária do capital, da financiarização da economia, da desvolarição do trabalho e da democracia, no plano europeu e nacional.
Esta Greve Geral é pela dignidade e contra o retrocesso civilizacional que marca as políticas de austeridade impostas pela troika, governo e suportadas de muito bom agrado pelo Presidente da República. Exigimos a DEMISSÃO do governo e a marcação de eleições antecipadas que devolvam a palavra ao povo.
A Europa está sob um violento ataque do capital financeiro que se faz representar pela troika (FMI,BCE, CE). Sabemos que esta ofensiva aposta em vergar os povos, tornando-os escravos da dívida e da austeridade. Atravessa vários países e deve ser derrotada pela luta internacional. Este é também o caminho trilhado pela CES – Confederação Europeia de Sindicatos, que exige o fim da austeridade e convocou uma mobilização em todos os países europeus que ocorreu entre 7 e 15 de Junho 2013.
A Greve Geral de 14 Novembro 2012 foi até agora ímpar com dimensão Ibérica e Europeia, foi um ganho organizativo e um avanço social na luta de massas e trouxe-nos a responsabilidade de termos sempre presente a articulação da luta nacional com as lutas à escala europeia é neste sentido que o próximo Conselho Nacional da CGTP de 3 de Julho deve encarar a continuidade da luta em convergência, não só para a repetir mas para a alargar em força e mobilização, sobretudo nos países do Sul.
Em Portugal, como nos países do sul enfrentar a troika é enfrentar cara-a-cara os especuladores e os ideólogos da austeridade, recusando ingerências e pressões sobre a soberania dos povos e o próprio exercício da democracia política e social.
A Greve Geral de 27 de Junho em Portugal é contra um governo em fim de linha a que falta legitimidade política e não tem mandato para esta devastação austeritária. A exigência é: Governo RUA! Para que se abra espaço a uma saída política, evite o desastre económico e permita a recuperação da vida das pessoas sem a “canga” da troika.
A luta cidadã tem enchido as ruas e as praças do nosso País contra as medidas de austeridade, em 27 de Junho, dia da Greve Geral, estamos todos convocados para uma grande mobilização popular que faça ouvir bem alto a vontade dos que estão a ser vítimas do governo Passos & Portas.
Temos 10 milhões de razões para fazer e apoiar a Greve Geral!
FONTE: ESQUERDA NET

“Passei anos desmilitarizando a polícia”, lembra José Paulo Bisol











Ex-secretário de Segurança Pública do governo Olívio Dutra (PT), José Paulo Bisol afirma que passou sua gestão inteira tentando desmilitarizar a Brigada Militar. “Eles são submetidos a uma educação militar antidemocrática”, considera.
Aos 85 anos, José Paulo Bisol recebeu a equipe do Sul21 em sua casa, no município de Osório, para falar sobre segurança pública e policiamento. Ex-candidato a vice de Lula em 1989, quando ainda era filiado ao PSB, Bisol ainda mantém uma filiação formal ao PT – apenas por não ter se dado ao trabalho de cancelar -, mas assegura que não possui mais identificação com o partido. “O PT não existe mais”, entende.
Nesta entrevista, Bisol comenta também sobre as manifestações que vêm ocorrendo no país. Ele se mostra entusiasmado com o movimento, mas lamenta que as causas defendidas, na sua avaliação, sejam “muito pobres”.                                                                                       
“A função policial é a 
mais difícil que existe

 e escolhemos os mais

 pobres para realizá-la”

Sul21 – Como o senhor avalia estes protestos que vêm ocorrendo no país inteiro ?
Bisol – Eu, pela própria condição da minha vida, sou um espectador, olho de longe. Isso já lamento. É um lamento de velho, pois eu gosto é de participar. Sou solidário com eles. O fato de haver violência é inerente a estes movimentos. O ser humano tem tendência para a violência e se a circunstância o envolve… Por melhor que eu seja, se eu me envolvo num movimento, se eu tenho paixões – e se eu não tenho paixões, não sou bem um ser humano -, essas paixões se manifestam e se põem para fora. A violência tem esse aspecto, ela é nossa. Não é dos outros.
Sul21 – Em diversos protestos, houve confrontos entre as policias militares e os manifestantes. Sul21 – A ação dos manifestantes pode ser uma resposta à violência da polícia?
Bisol – A polícia de hoje é bem melhor estruturada do que a de 20 anos atrás. A função policial é a mais difícil que existe e escolhemos os mais pobres para realizá-la. Eles são submetidos a uma educação militar antidemocrática. A polícia, hoje, até a militar, é bem desmilitarizada. Eu passei anos na Secretaria (de Segurança Pública) desmilitarizando a polícia, dando cursos de procedimentos não militares. A Brigada é militar em sua organização corporativa, mas é razoavelmente desmilitarizada, no sentido de que a função policial é diferente da função militar.
Bisol - Também é preciso ter um pouco de amor por esses policiais. Eles participam dessa sociedade dura em que vivemos e exercem uma função muito difícil. Eu defendo muito esses policiais e acho que a Brigada, dentro das condições atuais, é uma boa polícia. Excessos sempre ocorrem. Existe um estudante, como o Pierre, que sai do formato e dos limites do movimento e quebra as vidraças. Existem quantos Pierres? Cada um carrega uma consciência de si e um inconsciente.
“Eu sou homem de esquerda e acho

 que a esquerda está morta.
 
Se vocês me disserem que Lula

 é de esquerda eu desmaio
Sul21 – E o que o senhor pensa sobre as causas que eles defendem?
Bisol – Eu fico impressionado com esse movimento do qual sou solidário, quero que eles tenham condições de continuar para ver se produzem as modificações que querem. Só que essas modificações são muito pobres. Mudar preço de passagem de ônibus e por no meio coisas sem nenhuma viabilidade de realização, como suspender a corrupção… Se nos reunirmos para debater como acabar com a corrupção, certamente chegaremos até o Congresso. Porque o setor de onde emerge mais corrupção no Brasil é o Congresso. Eu participei desse Congresso. É preciso amadurecer e saber o que se quer. Se querem ir contra a Corrupção, como vão inventar um novo Congresso?

“A teoria do fetiche da 
mercadoriaé válida até hoje. 
Vocês devem estudá-la” 
Sul21 – Faltariam propostas mais concretas, na sua avaliação?
Bisol – Um movimento desses é uma oportunidade sagrada. Hegel dizia que a razão humana 
 é astuta: fazemos uma coisa e a razão produz outra. A tua e a minha razão seriam capazes de ser mais do que a razão é em nós dois, porque produziria um resultado imprevisto por nós. Eu tenho esperança que esse movimento ganhe forças. Eu sou homem de esquerda e acho que a esquerda está morta. Se vocês me disserem que Lula é de esquerda eu desmaio. É meu amigo, tenho admiração por ele. Mas não é de esquerda, é um capitalista tremendo. Eu gostaria que esse movimento adquirisse uma força transformadora, aí vale a pena. As circunstâncias são favoráveis a isso, no sentido de que há movimentos no mundo inteiro. Mas percebo que ninguém se arrisca a dizer qual é o sentido deste movimento.

Sul21 – Quais propostas teriam que ser defendidas, na sua opinião?
Bisol - Existe vulgarização nas redes sociais e tenho medo que ela atinja os agentes do movimento. As causas são muito pequenas. Para um país que tem o problema de identidade que nós temos… Diminuir preços não é bem o nosso problema. Nosso problema é: quem somos nós? Até onde temos qualidades para perceber a realidade e pensar sobre ela? O século XX foi o século das grandes narrativas, que eram filosofias políticas. Esse século deu o nazismo, o fascismo, o comunismo, que é uma coisa de louco. O fascismo era o mais vulgar. O nazismo teve essa loucura assassina de colocar judeus como símbolo do mal. Não havia movimento que não tivesse uma teoria por detrás. E, às vezes, teorias espetaculares. Marx não é brincadeira. A teoria do fetiche da mercadoria é válida até hoje. Vocês devem estudá-la. Na adolescência, eu ficava impressionado com os guris comunistas, que sabiam muito mais do que eu. Eu tinha aprendido a viver longe das teorias. Eu tinha vivido na alienação histórica mais profunda da humanidade, que é a religião. Você tem direito de acreditar em Deus, mas não tem o direito de exigir que o outro acredite. E você não tem o direito de transformar seus princípios religiosos em lei. E você não tem o direito de não ser suficientemente lúcido para perceber que, se Deus existe, ele é inacessível. Tua razão não alcança. Como se prova isso? Deus sempre é representado por uma figura humana ou animal. Não temos como pensá-lo.
Sul21 – A interferência religiosa na política é um tema bastante atual.
Bisol – O que os evangélicos estão fazendo é uma fundamentalização da religião. E eu não sei qual será o futuro dos Estados Unidos, onde as pequenas religiões crescem. São, inclusive, soluções econômicas. Às vezes, perdemos este sentido. A droga é uma solução econômica. Já imaginou o que eles fazem de dinheiro? Se eu fosse muito pobre, não sei se não iria vender droga.
“Sofri muito. Eu era um ingênuo.
 
A minha esquerda, o meu modo

 de viver a esquerda,
 
era muito romântico”

Sul21 – Voltando ao assunto das manifestações, há uma insatisfação em 
boa parte das pessoas com relação aos partidos políticos.
Bisol – Quando tu quiseres lidar contra a corrupção no Brasil, tem que começar pelo Congresso e pelos partidos. Os partidos políticos brasileiros são uma vergonha. Havia um com alguma estruturação de povo e com uma substância um pouco camponesa e religiosa: o PT. Mas esse PT não existe mais. O que temos são partidos cínicos, que não possuem sequer um programa. Estão pensando cada dia como vão aprimorar seu interesse eleitoral e quanto dinheiro é preciso para isso. Se o sistema continuar assim, quem tiver mais dinheiro ganha a eleição. Eu gostei de ver os guris quebrarem a bandeira de um partido em São Paulo. Há uma rejeição bonita e verdadeira aos partidos. Há uma relação bem clara entre causa e efeito. Não dá mais para aguentar os partidos. Mas na hora de votar, quem vota são os interessados no que está aí.
Sul21 – O senhor disse que a esquerda está morta. Quando ela começou a morrer?
Bisol – Acompanhei a esquerda e tive participação política. Não gosto nem de lembrar disso, porque sofri muito. Eu era um ingênuo. A minha esquerda, o meu modo de viver a esquerda, era muito romântico, não tinha efetividade nenhuma. Chegou um ponto em que a esquerda não tinha mais caminhos para mim. Eu continuo à esquerda. Mas é preciso dizer com simplicidade: esquerda não tem mais profundidade nenhuma. É apenas uma expressão para dizer que eu não estou do lado dos conservadores. O meu princípio é de que tudo está sempre mudando. Em polícia e em democracia, não penso somente como Marx, penso como Jefferson, da revolução americana, que quando venceu disse: “de 20 em 20 anos temos que renovar”.
Sul21 – É preciso renovar a democracia brasileira?
Bisol - Todo sistema, depois de um certo tempo, não tem mais coincidência com o povo, que se renovou e tem outros sonhos. Temos que estar sempre mudando. O Brasil precisa mudar sua estrutura de governo. Não é passar para as estruturas que existiram no passado, mas é inventar um novo Congresso. Esse Congresso é insuportável. É tão insuportável estar lá dentro como tê-lo ao lado. Lá dentro tem gente muito boa. Mas o sistema é poderoso e aí vem novamente Hegel: há uma força que não é de ninguém, mas que já se consolidou como uma espécie complexa de hábitos mentais que não se muda mais. Isso que consolida os absurdos. O Congresso Nacional é um absurdo descarado, eles não têm nem vergonha. Eu estive lá dentro e vi pessoas maravilhosas, como Darcy Ribeiro, um grande espírito de nação e de solidariedade humana. Então é isso, estou de acordo com este movimento. Mas, sem estar definitivamente fechando o assunto, porque tudo ainda está em andamento, digo que há muita superficialidade nas causas. Não se faz transformação só com isso.

“Tarso é um capitalista
 
contra o capitalismo selvagem”

Sul21 – Uma reforma política profunda seria a saída?
Bisol – Temos que começar mudando nós mesmos. Não posso me considerar pessoalmente. Tenho que considerar as pessoas que estão em torno de mim. Em Osório, por exemplo, uma eleição é antiquada, com churrascos, festinhas. Acho interessante que esses guris têm a coragem de pretender obstruir um pouco as partidas de futebol. É uma coragem de adolescente. Há um contrato internacional. Não existe presidente nem nada: a polícia tem que ir e impedir. É um risco para os guris.

Sul21 – Como o senhor avalia o governo Dilma?
Bisol – Acho a Dilma uma pessoa com uma estrutura política pessoal fantástica. Ela é muito equilibrada e com uma consciência de si bastante amadurecida, sem se pretender a uma transcendência. Só que ela tem que governar ao contrário do que ela pensa. Quantas pessoas ela tem, verdadeiramente, do lado dela? Está todo mundo ao lado dela para que ela governe exatamente como está governando, não como gostaria. Esse é o problema dela, a meu ver, sem pretensão nenhuma de não errar.
Sul21 – E o governo Tarso?
Bisol – Tarso é uma bela pessoa. Gosto muito dele, é meu amigo. Isso é preciso ser dito, pelo que vou dizer agora. O Tarso é o Lula do Rio Grande. Não tem nada de revolucionário. É um capitalista contra o capitalismo selvagem. As soluções dele são capitalistas. O PT não existe mais. Estou dizendo isso literalmente. É igual ao PMDB e a qualquer outro partido.
Sul21 – O PT existia no final dos anos 1980, na época do Olívio?
Bisol – Opa! Olívio é do PT camponês. Não é religioso, mas é da esquerda religiosa. Do ponto de vista dos intelectuais, naquela época ainda existia no mundo a esquerda lacaniana, que é sensacional. Teoricamente, é, hoje, a mais atual. Mas Tarso e a maioria do PT são como o Lula. Eles estão dentro do sistema e de acordo com o sistema. Querem mudar algumas coisinhas, no sentido de que “se eu faço, eu sou”. O fazer precisa aparecer. Politicamente, não existe outro caminho. Sem aparecer, não existem votos. E aí já existe uma tremenda contradição na política, porque o sujeito está sendo político e está pensando em se reeleger. Um dos males da política mundial é que política não pode ser profissão.

Sul21 – Que mudanças o senhor tentou impor na sua época?
Sul21 – O senhor foi Secretário de Segurança. Na sua avaliação, os governos estaduais possuem controle sobre a Brigada Militar?

Bisol – É um controle conflitivo e dialético. Eles têm o sentido de corporação. A Brigada é uma corporação. Como corporação, supõe uma certa independência. Eles têm muita tradição no sentido de respeitar a figura do governador. O secretário representa o governador. Eu nunca tive grandes dificuldades. Tive outro tipo de dificuldades e posso contar. Quando assumi, um ex-secretário de Justiça, que era primo de uma pessoa que era muito minha amiga, se reunia com os velhos coronéis da Brigada e velhos delegados de polícia para preparar um jeito de impedir o Olívio de governar. Governamos com muita dificuldade. Houve resistências obscuras, não no debate público. Pelo contrário, o debate era tudo que eu pedia e eles nunca quiseram.
Bisol – Eu queria, por exemplo, separar os bombeiros. É uma função muito positiva, generosa, sacrificial e sem violência. Acho que se deve separar. Isso era a parte externa. O que eu queria mesmo era uma desmilitarização espiritual. O tipo de formação militar, se for bem humanizada, é boa, disciplinarmente.
Sul21 – O senhor é a favor do fim da polícia militar, como sugere a ONU?
Bisol – Aí é outra ideia. Polícia tem que ser una. Se tu crias polícias muito diferentes, elas disputam privilégios entre si e não transferem informações. Estão agora com a PEC 37 e essa é uma intuição muito boa do movimento. É um horror essa PEC. Ela transforma a polícia brasileira na maior corporação do país. Vão abafar tudo o que quiserem. Nunca se deve concentrar competências. O que deve se concentrar é a unidade das polícias. Elas devem funcionar complementarmente e isso não existe no Brasil.
Sul21 – Como o senhor trabalhava diante de casos de abusos cometidos por policiais?
Bisol – Isso é um tema mundial. É o tema do código vermelho. Quando a corporação policial tem interesse, ela resolve seus problemas, independentemente de outras instituições. Quando eu assumi a secretaria, os códigos de honra eram fortíssimos na Polícia Civil e na Brigada Militar. Eles, inclusive, tinham pacto com bandidos. Das investigações que fiz, registro diversos encontros neste sentido.
“A RBS, lá embaixo, é unha e dente com a polícia”

Sul21 – Que investigações o senhor citaria?
Bisol - O mais importante são alguns inquéritos que fiz na época, contra tudo e contra todos. Encontrei alguns policiais extraordinariamente dignos para fazer esses inquéritos. Um deles, inclusive pedi ao Olívio que colocasse na Justiça Militar, o Brum. Ele fez o inquérito sobre o caso em que a polícia matou dois guris que eram assaltantes de ônibus. Eram dois irmãos. Como esses dois guris, num dos assaltos, mataram uma brigadiana, por um tiro infeliz de um deles, a Brigada inteira se reuniu, por fora da lei. Em um código de honra, foram à casa dos guris e massacraram os dois. Esse inquérito foi muito bem feito. Mas aí chegou uma hora em que a mídia começou a dizer que não era bem assim. Era como eu pensava, sim – muito pior até.
Sul21 – A mídia não concordava com o inquérito?
Bisol - O código de honra funciona de uma maneira em que os jornalistas às vezes cooperam com a polícia para ter as informações necessárias. A mídia tem muita ligação com a polícia. Eu fui funcionário da RBS. A RBS, lá embaixo, é unha e dente com a polícia. Se a polícia resolver não gostar de um secretário, assopra para a RBS e a RBS ajuda. Eu não tenho nada contra a RBS, embora eles tenham ajudado a me desmoralizar. Pelo contrário, trabalhei na RBS sem interesse de salário, por gosto. Depois quis sair, porque queria fazer política. Eles foram muito bacanas comigo, eu estava lá como diretor e não sabia fazer as coisas. Eles deveriam ter me posto na rua, mas foram muito tolerantes. Eu que tive que dizer que eu não sabia fazer, então me colocaram no rádio. Eu sou agradecido a eles. Depois se voltaram contra mim. Isso é outro assunto.
Sul21 – Qual a importância da formação policial para que se tenha uma polícia que respeite os direitos humanos? 
Sul21 – O senhor estudou as cartilhas da ONU para tentar mudar a polícia. Para que a arma fosse utilizada em última instância.
Bisol – Sim. Inclusive fiz dois ou três editais para transformar comportamento tirando princípios da ONU. Quase me mataram. A mídia quase me matou. Me ridicularizaram até na Veja. Eu dizia que a polícia não pode atirar sem dominar a situação. Se pode acertar em outro, não atire. Se está em movimentação, não atire. Tem tanta gente morrendo não de tiro perdido, mas de tiro mal dado. Seja quem for o bandido, se houver risco de se acertar outras pessoas, então que não atirem. Fiz editais neste sentido e fui ridicularizado. A mídia é muito policialesca.
Bisol – Nenhum secretário fez muito por isso. O problema é que as polícias conseguiram, com apoio do Congresso, fazer eles mesmos a sua escola, assim como o Exército. A Polícia Civil que faz seu curso em Porto Alegre. Não pode ser assim. Se a polícia mesmo se faz, ela se faz como quiser.
“Polícia não tem que
 
acabar com ninguém
Ela tem que
 
exercer proteção
Poĺícia tem que te dar

 espaço e tranquilidade”

Sul21 – Então secretários não têm poder de modificar a formação?
Bisol – Têm, porque nós fazíamos cursos. É preciso fazer cursos civis para desmilitarizar a polícia. Mas não pense que a Polícia Civil não tem também uma concepção militar. O Brasil como nação possui uma concepção militar. O pensamento de que eles são bandidos e nós representamos os bons, então precisamos acabar com eles. Isso não é polícia. Polícia não tem que acabar com ninguém. Ela tem que exercer proteção. Polícia tem que te dar espaço e tranquilidade. No que diz respeito aos criminosos, tem que buscá-los e prendê-los.
Sul21 – E diante de uma manifestação, como a polícia deve agir?
Bisol – Não há possibilidade nenhuma de se acertar. Sempre vai haver um ponto discutível, porque vai haver violência. Agora, não se pode deixar um movimento chegar a subir em cima do Congresso. Isso é muito bonito, mas tu tens que ir para a capela rezar para que nada aconteça. Se desse correria lá, teríamos aleijados para tudo que é lado. Não pode deixar se aproximar três metros. O movimento tem que ter espaços livres e tem que ter consciência de que existem lugares onde o acesso não é permitido. É preciso deixar que o movimento tenha flexibilidade. E eles estão bem inteligentes, fazem diversos grupos.

“Há, universalmente, um desencanto com o sistema capitalista” 
Sul21 – Como o senhor avalia a luta pelos direitos humanos hoje?
Bisol – Fui uma pessoa muito integrada com os direitos humanos, mas hoje sou mais revolucionário. Hoje leio que a revolução sempre fracassa, acaba em terrorismo. Outro dia dei uma palestra aqui na universidade e, depois, fui almoçar com uns amigos e um deles me perguntou: “e se o senhor tivesse que matar pela causa?”. Eu respondi: “se eu tivesse certeza da minha causa, eu mataria”. Mas é difícil ter certeza. A vida de cada um de nós, o que nós pensamos, sentimos e amamos, está dentro de uma verdade que nunca pode ser esquecida: o ser humano se caracteriza pela finitude. Ele nunca alcança o que gostaria de alcançar. Ninguém alcança. A não ser que o objetivo seja diminuir as passagens de ônibus. Isso é algo que a ignorância brasileira nacional não consegue compreender. Somos uma espécie estranha de iluminismo. As pessoas, eu, tu, nós, agimos como se nossas cabeças resolvessem tudo. Como se fôssemos racionais. O que o desejo sexual tem a ver com a razão? E não é normal e natural? E não é estranho? Tu não dominas muito. E não seria bonito, se não tivessem todos esses desvios morais que colocam em cima? A relação seria muito mais transcendente se não fosse o moralismo. A verdade é que ela não é racional, é animal. Pode até existir uma substância espiritual, mas o desejo, seja de quem for, é sexual mesmo. Lacan diz que não se chega nunca à realização sexual, o que é absoluta verdade.
Sul21 – O senhor disse que a esquerda está morta, os partidos são uma vergonha e o Congresso é um absurdo. Como agir diante deste cenário?
Bisol – O que estou dizendo com isso? Estamos precisando de um evento, um fato que mude tudo. É a revolução. Isso pode ocorrer. Há sinais. Há, universalmente, um desencanto com o sistema capitalista. O liberalismo é algo cansado. Mas, como não existe cultura política, ninguém pensa contra. Tanto é que fazem um movimento para mudar preços.
Sul21 – Outros partidos de esquerda que estão na origem destas manifestações atuais não são capazes de produzir uma nova teoria que dê conta dos nossos tempos?
Bisol – Como agentes políticos, esses partidos são interessantes. Mas não têm perspectivas, porque nada se reproduz. Gadamer dizia que compreender é sempre mudar a compreensão. Quando eu compreendo algo, o que mudou foi minha capacidade de compreender. Eles querem refazer uma história que já está feita. Já passou o tempo. É intempestivo. É preciso inventar algo que coincida com essa mentalidade um pouco esvaziada, mas muito produtiva tecnicamente, e que tem riqueza de habilidades e de imaginação nos seus setores.
FONTE: SUL 21

segunda-feira, junho 24, 2013

Carta aberta do movimento Passe Livre São Paulo à presidenta Dilma Roussef









CARTA ABERTA DO MOVIMENTO PASSE LIVRE SÃO PAULO À PRESIDENTA 

Ficamos surpresos com o convite para esta reunião. Imaginamos que também esteja surpresa com o que vem acontecendo no país nas últimas semanas. Esse gesto de diálogo que parte do governo federal destoa do tratamento aos movimentos sociais que tem marcado a política desta gestão. Parece que as revoltas que se espalham pelas cidades do Brasil desde o dia seis de junho tem quebrado velhas catracas e aberto novos caminhos.  

O Movimento Passe Livre, desde o começo, foi parte desse processo. Somos um movimento social autônomo, horizontal e apartidário, que jamais pretendeu representar o conjunto de manifestantes que tomou as ruas do país. Nossa palavra é mais uma dentre aquelas gritadas nas ruas, erguidas em cartazes, pichadas nos muros. Em São Paulo, convocamos as manifestações com uma reivindicação clara e concreta: revogar o aumento. Se antes isso parecia impossível, provamos que não era e avançamos na luta por aquela que é e sempre foi a nossa bandeira, um transporte verdadeiramente público. É nesse sentido que viemos até Brasília.   

O transporte só pode ser público de verdade se for acessível a todas e todos, ou seja, entendido como um direito universal. A injustiça da tarifa fica mais evidente a cada aumento, a cada vez que mais gente deixa de ter dinheiro para pagar a passagem. Questionar os aumentos é questionar a própria lógica da política tarifária, que submete o transporte ao lucro dos empresários, e não às necessidades da população. Pagar pela circulação na cidade significa tratar a mobilidade não como direito, mas como mercadoria. Isso coloca todos os outros direitos em xeque: ir até a escola, até o hospital, até o parque passa a ter um preço que nem todos podem pagar. O transporte fica limitado ao ir e vir do trabalho, fechando as portas da cidade para seus moradores. É para abri-las que defendemos a tarifa zero.   

Nesse sentido gostaríamos de conhecer o posicionamento da presidenta sobre a tarifa zero no transporte público e sobre a PEC 90/11, que inclui o transporte no rol dos direitos sociais do artigo 6o da Constituição Federal. É por entender que o transporte deveria ser tratado como um direito social, amplo e irrestrito, que acreditamos ser necessário ir além de qualquer política limitada a um determinado segmento da sociedade, como os estudantes, no caso do passe livre estudantil. Defendemos o passe livre para todas e todos!   

Embora priorizar o transporte coletivo esteja no discurso de todos os governos, na prática o Brasil investe onze vezes mais no transporte individual, por meio de obras viárias e políticas de crédito para o consumo de carros (IPEA, 2011). O dinheiro público deve ser investido em transporte público! Gostaríamos de saber por que a presidenta vetou o inciso V do 16º artigo da Política Nacional de Mobilidade Urbana (lei nº 12.587/12) que responsabilizava a União por dar apoio financeiro aos municípios que adotassem políticas de priorização do transporte público. Como deixa claro seu artigo 9º, esta lei prioriza um modelo de gestão privada baseado na tarifa, adotando o ponto de vista das empresas e não o dos usuários. O governo federal precisa tomar a frente no processo de construção de um transporte público de verdade. A municipalização da CIDE, e sua destinação integral e exclusiva ao transporte público, representaria um passo nesse caminho em direção à tarifa zero.   

A desoneração de impostos, medida historicamente defendida pelas empresas de transporte, vai no sentido oposto. Abrir mão de tributos significa perder o poder sobre o dinheiro público, liberando verbas às cegas para as máfias dos transportes, sem qualquer transparência e controle. Para atender as demandas populares pelo transporte, é necessário construir instrumentos que coloquem no centro da decisão quem realmente deve ter suas necessidades atendidas: os usuários e trabalhadores do sistema.  

Essa reunião com a presidenta foi arrancada pela força das ruas, que avançou sobre bombas, balas e prisões. Os movimentos sociais no Brasil sempre sofreram com a repressão e a criminalização. Até agora, 2013 não foi diferente: no Mato Grosso do Sul, vem ocorrendo um massacre de indígenas e a Força Nacional assassinou, no mês passado, uma liderança Terena durante uma reintegração de posse; no Distrito Federal, cinco militantes do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) foram presos há poucas semanas em meio às mobilizações contra os impactos da Copa do Mundo da FIFA. A resposta da polícia aos protestos iniciados em junho não destoa do conjunto: bombas de gás foram jogadas dentro de hospitais e faculdades; manifestantes foram perseguidos e espancados pela Polícia Militar; outros foram baleados; centenas de pessoas foram presas arbitrariamente; algumas estão sendo acusadas de formação de quadrilha e incitação ao crime; um homem perdeu a visão; uma garota foi violentada sexualmente por policiais; uma mulher morreu asfixiada pelo gás lacrimogêneo. A verdadeira violência que assistimos neste junho veio do Estado – em todas as suas esferas.   

A desmilitarização da polícia, defendida até pela ONU, e uma política nacional de regulamentação do armamento menos letal, proibido em diversos países e condenado por organismos internacionais, são urgentes. Ao oferecer a Força Nacional de Segurança para conter as manifestações, o Ministro da Justiça mostrou que o governo federal insiste em tratar os movimentos sociais como assunto de polícia. As notícias sobre o monitoramento de militantes feito pela Polícia Federal e pela ABIN vão na mesma direção: criminalização da luta popular.  

Esperamos que essa reunião marque uma mudança de postura do governo federal que se estenda às outras lutas sociais: aos povos indígenas, que, a exemplo dos Kaiowá-Guarani e dos Munduruku, tem sofrido diversos ataques por parte de latifundiários e do poder público; às comunidades atingidas por remoções; aos sem-teto; aos sem-terra e às mães que tiveram os filhos assassinados pela polícia nas periferias. Que a mesma postura se estenda também a todas as cidades que lutam contra o aumento de tarifas e por outro modelo de transporte: São José dos Campos, Florianópolis, Recife, Rio de Janeiro, Salvador, Goiânia, entre muitas outras.   

Mais do que sentar à mesa e conversar, o que importa é atender às demandas claras que já estão colocadas pelos movimentos sociais de todo o país. Contra todos os aumentos do transporte público, contra a tarifa, continuaremos nas ruas! Tarifa zero já!   

Toda força aos que lutam por uma vida sem catracas!   

Movimento Passe Livre São Paulo 24 de junho de 2013