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sexta-feira, novembro 30, 2012

Aids continua sendo epidemia grave apesar da queda da mortalidade


Cerca de 70% dos portadores do HIV - 

23,5 milhões - vivem na África Subsaariana, 

onde 3,1 milhões de crianças estão infectadas


O total mundial de soropositivos, 34 milhões, reflete uma grave epidemia, embora tenha sido possível reduzir a mortalidade graças aos tratamentos antirretrovirais e os índices estejam "estáveis" na América Latina.

Às vésperas da celebração do Dia Mundial de Luta Contra a Aids, o Programa Conjunto da ONU para o HIV/aids (Unaids) divulgou seu relatório anual em que se destaca que o continente mais afetado é a África.

Cerca de 70% dos portadores do HIV - 23,5 milhões - vivem na África Subsaariana, onde 3,1 milhões de crianças estão infectadas (94% do total mundial das crianças infectadas).

Apesar da força desses números, a região também viu uma grande diminuição das mortes relacionadas à aids, 32% entre 2005 e 2011 - ano em que o número de mortos foi de 1,2 milhão.

Graças aos investimentos em tratamentos antirretrovirais o número de mortes anuais por essa doença caiu e passou de 2,2 milhões em 2005 a 1,7 milhão em 2011.

Só nos dois últimos anos o acesso aos tratamentos contra o vírus HIV aumentou 63% no mundo todo.

Atualmente, 8 milhões de pessoas recebem tratamento antirretroviral, o que significa que mais pacientes do que nunca recebem ajuda para ter vidas mais prolongadas, mais saudáveis e mais produtivas, segundo a Unaids.

Na América Latina, onde a epidemia da aids, que afeta 1,4 milhão de pessoas, se encontra em uma fase "estável", as pesquisas também revelam uma leve queda de casos de novos infectados.

A América Latina se mantém como a região - entre as de renda média e baixa - com a maior cobertura de tratamento para portadores do HIV, com uma taxa de 68% em comparação a uma média mundial de 54%, segundo a Unaids.

Além disso, as mortes relacionadas à aids também caíram na América Latina e no Caribe 10% entre 2005 e o ano passado.

No Caribe, a prevalência do HIV chega a 1%, acima de qualquer outra região do mundo exceto a África Subsaariana, embora a epidemia seja relativamente restrita e o número de pessoas com o vírus tenha se mantido relativamente baixo (230 mil) e quase não tenha variado desde o final da década de 1990.

Outros casos de sucesso são os do Peru e México, onde o número de mortes por aids baixou em 55% e 27%, respectivamente.

Por outro lado, na Europa Oriental e na Ásia Central (com 1,4 milhão de portadores do HIV), e no Oriente Médio e o norte da África houve "preocupantes aumentos na mortalidade relacionada à aids", com porcentagens entre 17% e 21%.

Assim, na China a aids causou 17.740 mortes de janeiro a outubro deste ano, o que representa um aumento de 8,6% em relação ao mesmo período do ano anterior, segundo o Ministério da Saúde chinês.

No entanto, o país quadruplicou suas despesas contra a aids, dos US$ 124 milhões em 2007 para US$ 530 milhões em 2011, investimento que foi elogiado neste ano pela ONU quando a China se tornou um dos cinco países que mais contribuem para a campanha global para combater a síndrome.

Ao menos uma pessoa a cada hora contrai HIV na Tailândia, onde o número de pessoas infectadas durante as últimas duas décadas supera 1 milhão.

Na Rússia, o número de portadores do vírus dobrou nos últimos cinco anos. O país experimenta um aumento contínuo de casos de infecção: foram 60 mil somente em 2012.

Em relação a grupos de risco, a infecção por HIV é sistematicamente superior entre os profissionais do sexo (em torno de 23% de infectados) e entre os que consomem drogas injetáveis (com ocorrência 22 vezes maior do que na população geral).

Mas a situação também é preocupante entre as crianças, já que menos de um terço dos que convivem com o HIV recebem tratamento antirretroviral o que impede de alcançar o objetivo de conseguir uma geração livre da aids, segundo denunciou a Unicef.

No entanto, a Unicef destacou o "excepcional" avanço conseguido nos últimos anos, quando se registrou uma queda de 24% das novas infecções em crianças: das 430 mil confirmadas em 2009 às 330 mil em 2011.

Um dos problemas em relação à doença é que dos 34 milhões de portadores do HIV, apenas 50% sabem que estão infectados pelo vírus.

Apesar de tudo, os dirigentes da Unaids asseguraram que pela primeira vez, os investimentos nacionais superaram as doações globais para a aids, passando de US$ 3,9 bilhões anuais em 2005 para quase 8,6 bilhões em 2011.

FONTE: ESTADÃO.COM

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No Dia Mundial de Combate à Aids, saiba mitos e verdades sobre a doença

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Nunca tenha medo de tentar algo novo, Luis Fernando Verissimo!





Luis Fernando Veríssimo, escritor, foi internado no dia 21 de novembro com sintomas parecidos com os de uma gripe forte, como febre, dores no corpo e cansaço, mas descobriu-se uma infecção generalizada. Apesar de sua melhora, seu estado de saúde ainda inspira cuidados.

Verissimo, que é filho do também escritor Érico Veríssimo nasceu em Porto Alegre (RS) em 26 de setembro de 1936. Mais conhecido por suas crônicas e textos de humor, publicados diariamente em vários jornais brasileiros, Verissimo é também cartunista e tradutor, além de roteirista de televisão, autor de teatro e romancista bissexto. Já foi publicitário e copy desk de jornal. É ainda músico, atualmente tocando saxofone no grupo Jazz 6. Com mais de 60 títulos publicados, é um dos mais populares escritores brasileiros contemporâneos. É colunista dos jornais “O Globo”, “O Estado de São Paulo” e “Zero Hora”. Ele publicou seu livro mais recente, a coletânea de crônicas “Diálogos Impossíveis“, em outubro deste ano.
Deixamos, aqui, a nossa singela homenagem ao Luis Fernando Veríssimo,  torcendo por sua melhora.
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Dez Coisas que Levei Anos Para Aprender
1. Uma pessoa que é boa com você, mas grosseira com o garçom, não pode ser uma boa pessoa.
2. As pessoas que querem compartilhar as visões religiosas delas com você, quase nunca querem que você compartilhe as suas com elas.
3. Ninguém liga se você não sabe dançar. Levante e dance.
4. A força mais destrutiva do universo é a fofoca.
5. Não confunda nunca sua carreira com sua vida.
6. Jamais, sob quaisquer circunstâncias, tome um remédio para dormir e um laxante na mesma noite.
7. Se você tivesse que identificar, em uma palavra, a razão pela qual a raça humana ainda não atingiu (e nunca atingirá) todo o seu potencial, essa palavra seria “reuniões”.
8. Há uma linha muito tênue entre “hobby” e “doença mental”.
9. Seus amigos de verdade amam você de qualquer jeito.
10. Nunca tenha medo de tentar algo novo. Lembre-se de que um amador solitário construiu a Arca. Um grande grupo de profissionais construiu o Titanic.
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Autoria de Luis Fernando Verissimo
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Ele concedeu entrevista, por e-mail, para aIHU On-Line, em junho de 2008, abordando a questão da cultura gaúcha contemporânea a partir da literatura e também da música.



FONTE: BLOG IHU

Programa de cotas das universidades paulistas terá bolsa de um salário mínimo e curso preparatório


O programa de cotas a ser implantado nas universidades paulistas, será semelhante ao adotado nas universidades federais, mas contará com duas novidades: a concessão de bolsas de estudo de um salário mínimo e a criação de um curso preparatório, de dois anos.
De acordo com o diretor executivo do Movimento Educação e Cidadania de Afrodescendentes e Carentes (Educafro), frei David Santos, o governador do estado, Geraldo Alckmin, se comprometeu a apoiar um programa de inclusão social e racial na Universidade de São Paulo (USP), na Universidade Estadual Paulista (Unesp) e na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Ainda segundo frei David, Alckmin quer um programa mais avançado e com mais qualidade.
"Ele [o governador] vai conceder a toda pessoa que entrar na universidade pela cotas, cuja renda familiar per capita seja de até um salário mínimo e meio, uma bolsa permanente de um salário mínimo por pessoa”, disse frei David.
A medida, de acordo com a Educafro, é uma inovação. “Esse é um pedido que fizemos ao governo federal, e o governo federal ainda não nos atendeu.  Isso [a concessão de bolsas] ele [o governador Geraldo Alckmin] falou que vai atender e já falou para os reitores que vai atender.”
Ontem (29), o ministro da Educação, Aloizio Mercadante,anunciou a intenção do governo de conceder bolsas aos alunos que entrarem nas universidades federais por meio de cotas.
Outro benefício, aceito pelo governador, será o de criar para os alunos cotistas um curso, ainda sem nome, de dois anos, na Universidade Virtual do Estado de São Paulo (Univesp), que servirá de porta de entrada para USP, Unesp e Unicamp. “O governo de São Paulo está criando mais um curso, tipo college norte-americano. O aluno que terminar o college, que é uma graduação de dois anos, pode fazer o que quiser da vida. Mas também pode solicitar ingresso imediato na USP, Unesp e Unicamp, sem vestibular, em qualquer curso, até medicina”, disse frei David.
Ainda segundo o diretor, Alckmin escolheu o professor Carlos Vogt, que atualmente comanda a Univesp, para coordenar o processo de implantação do programa de ação afirmativa. A Agência Brasil tentou, sem sucesso, entrevistar Vogt.
Como as universidades paulistas têm autonomia administrativa, o novo programa de inclusão deverá passar obrigatoriamente pelos conselhos universitários de cada instituição. “O próximo passo deverá ser o governador ir a público e dizer para a sociedade que ele, como governo do estado, entende que esse programa precisa ser aplicado e entregue a cada universidade para discussão. E aí, se a universidade disser não, estará evidenciado onde está o problema”, destacou.
A assessoria de imprensa do governo do estado de São Paulo confirmou apenas que o governador convocou os reitores das universidades para debater o assunto e que a receptividade foi boa. Agora, o governo espera uma proposta unificada dos reitores, que deve ser apresentada nos próximos dias.
Nas universidades e institutos federais, a Lei de Cotas prevê a reserva de, no mínimo, 50% das vagas para estudantes que tenham cursado todo o ensino médio em escolas da rede pública, com distribuição proporcional das vagas entre negros, pardos e indígenas. A lei determina ainda que metade das vagas reservadas às cotas sociais – ou seja 25% do total da oferta – sejam preenchidas por alunos que venham de famílias com renda de até um salário mínimo e meio per capita. O prazo para cumprimento da lei é quatro anos.
 FONTE: AGÊNCIA BRASIL

Antirretroviral usado por 20% dos portadores de aids no Brasil terá fabricação nacional


Ministério da Saúde espera economizar cerca de R$ 81 milhões por ano

A partir de 2013, começará a ser distribuído na rede pública de saúde mais um medicamento com rótulo nacional para o tratamento da aids: o Sulfato de Atazanavir. O antirretroviral, que já é distribuído aos pacientes do SUS, é utilizado por cerca de 45 mil pessoas — perto de 20% do total de pacientes, 217 mil.
Nesta sexta-feira, véspera do Dia Mundial de Luta Contra a Aids, no Rio de Janeiro, o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, participou da cerimônia de oficialização do processo de transferência de tecnologia para a produção do medicamento no país.
A produção nacional do Atazanavir será possível graças a uma Parceria para o Desenvolvimento Produtivo (PDP) firmada entre o Ministério da Saúde, por meio do Instituto de Tecnologia em Fármacos (Farmanguinhos) da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), e o laboratório internacional Bristol-Myers Squibb. Atualmente, o Atazanavir é importado. Com a PDP, a expectativa é de que o Ministério da Saúde economize cerca de R$ 81 milhões por ano.
O Sulfato de Atazanavir é um antirretroviral da classe dos inibidores de protease e constitui uma importante droga na composição de esquemas terapêuticos para o tratamento de pacientes com infecção por HIV/Aids. 


Atualmente, ele é indicado para início de terapia antirretroviral como um dos medicamentos preferenciais pelas diretrizes internacionais do Departamento de Saúde dos Estados Unidos (DHHS, na sigla em inglês), da Sociedade Internacional de Aids (IAS, na sigla em inglês) e da Sociedade Clínica Europeia de Aids (EACS, na sigla em inglês), e da Organização Mundial da Saúde (OMS).

FONTE: ZERO HORA
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Nasa desmente 'fim do mundo' e alerta sobre suicídios









Após receber uma enxurrada de cartas de pessoas seriamente preocupadas com teorias que preveem o fim do mundo no dia 21 de dezembro de 2012, a agência espacial americana (Nasa) resolveu "desmentir" esses rumores na internet.

Nesta quarta-feira (28), a Nasa fez uma conferência online com a participação de diversos cientistas. Além disso, também criou uma seção em seu website para desmentir que haja indícios de que um fim do mundo esteja próximo.
Segundo o astrobiologista David Morrison, do Centro de Pesquisa Ames, da Nasa, muitas das cartas expondo preocupações com as teorias apocalípticas são enviadas por jovens e crianças.

Alguns dizem até pensar em suicídio, de acordo com o cientista, que também mencionou um caso, reportado por um professor, de um casal que teria manifestado intenção de matar os filhos para que eles não presenciassem o apocalipse.

"Estamos fazendo isso porque muitas pessoas escrevem para a Nasa pedindo uma resposta (sobre as teorias do fim do mundo). Em particular, estou preocupado com crianças que me escrevem dizendo que estão com medo, que não conseguem dormir, não conseguem comer. Algumas dizem que estão até pensando em suicídio", afirmou Morrison.

"Há um caso de um professor que disse que pais de seus alunos estariam planejando matar seus filhos para escapar desse apocalipse. O que é uma piada para muitos e um mistério para outros está preocupando de verdade algumas pessoas e por isso é importante que a Nasa responda a essas perguntas enviadas para nós."

CALENDÁRIO MAIA

Um desses rumores difundidos pela internet justifica a crença de que o mundo acabará no dia 21 dizendo que essa seria a última data do calendário da civilização maia.

Outro rumor tem origens em textos do escritor Zecharia Sitchi dos anos 70. Segundo tais teorias, documentos da civilização Suméria, que povoou a Mesopotâmia, preveriam que um planeta se chocaria com a Terra. Alguns chamam esse planeta de Nibiru. Outros de Planeta X.

"A data para esse suposto choque estava inicialmente prevista para maio de 2003, mas como nada aconteceu, o dia foi mudado para dezembro de 2012, para coincidir com o fim de um ciclo no antigo calendário maia", diz o site da Nasa.

Sobre o fim do calendário maia, a Nasa esclarece que, da mesma forma que o tempo não para quando os "calendários de cozinha" chegam ao fim, no dia 31 de dezembro, não há motivo para pensar que com o calendário maia seria diferente - 21 de dezembro de 2012 também seria apenas o fim de um ciclo.

A agência espacial americana enfatiza que não há evidências de que os planetas do sistema solar "estejam se alinhando", como dizem algumas teorias, e diz que, mesmo que se isso ocorresse, os efeitos sobre a Terra seriam irrelevantes. Também esclarece que não há indícios de que uma tempestade solar possa ocorrer no final de 2012 e muito menos de que haja um planeta em rota de colisão com a Terra.

"Não há base para essas afirmações", diz. "Se Nibiru ou o Planeta X fossem reais e estivessem se deslocando em direção à Terra para colidir com o planeta em 2012, astrônomos já estariam conseguindo observá-lo há pelo menos uma década e agora ele já estaria visível a olho nu", diz o site da Nasa.

FONTE: FOLHA.COM / BBC-BRASIL

Crônica de um sonho jamaicano

Poucos jamaicanos acreditam que o novo plano de ajuste estrutural atualmente em negociação com o Fundo Monetário Internacional (o 14º desde 1977) vai tirá-los da pobreza. A indústria fonográfica desperta mais esperanças – até aceitar todos os sacrifícios para tentar atingir a glória.

Mocassins impecáveis, calça clara, camisa imaculada e boné branco, Courtney é um desafio ambulante à poeira da capital, uma das mais quentes e secas do Caribe. Em Kingston, é possível ser pobre edigno. O swag– a aparência – conta ainda mais quando se quer ser, um dia, uma estrela do dancehall (ver box).

Esse termo, que em sentido literal significa "pista de dança", designa um gênero musical que surgiu nos anos 1980. De maneira mais geral, trata-se de um sinônimo de "música jamaicana", englobando, por extensão, todas as práticas ligadas à sua produção e consumo, do estilo de roupa aos grupos de dança, passando pelo sound system.1 Courtney canta; ele se prepara para gravar uma nova música.

Tendo como família apenas uma tia que vive do outro lado da cidade, sem dinheiro no banco, com um trabalho que lhe garante 12 mil dólares jamaicanos (R$ 270) a cada quinze dias2 para fazer a manutenção dos jardins das mansões da burguesia de Beverly Hills, Courtney não está perto da glória. 

Seu salário o coloca na média do país. Ele paga o aluguel, as contas, compra comida – mas raramente os três ao longo do mesmo mês. À imagem de centenas de jamaicanos, o jovem passa boa parte do tempo livre numa das dezenas de estúdios de gravação existentes na cidade: como diz o provérbio, "ninguém fica rico trabalhando", e a música constitui o atalho mais óbvio para uma vida menos miserável, pelo menos para os que se mantêm afastados das armas e das gangues.

Fazer sucesso, muito rápido, gravando um hit: a esperança se alimenta do percurso de um punhado de estrelas saídas do gueto – Mavado, Elephant Man, Beeni Man, Vybz Kartel etc. – cujos cachês ultrapassam às vezes R$ 100 mil por show. Pode-se vê-los passear pela Hope Road, a principal avenida da capital, dirigindo carros conversíveis alemães, e a imprensa local alardeia suas aventuras. Mas, para a grande maioria das pessoas, o dancehall continua sendo a música que acompanha a lida do dia a dia, nas mil e uma atividades do setor informal (45% do produto nacional bruto [PNB] e dois terços da população envolvida), na indústria do turismo ou nas zonas francas (o setor terciário representa cerca de 30% da produção de riqueza real do país).3

Para circular entre o estúdio de gravação, os jardins dos bairros chiques e seu apartamento, Courtney pedala uma velha mountain bike vermelha, que ele freia com a sola do sapato na roda traseira. Situado ao pé da colina de Wareika, seu quarto faz parte de uma pequena "guarnição", bairros pobres controlados por gangues ligadas aos partidos políticos da Jamaica. Estamos na zona leste da cidade, no coração de um emaranhamento de bastiões desse tipo, que floresceram sobre o que restava dos belos bairros construídos na época da independência, em 1962. Concebidos para a classe média, os imóveis foram abandonados há muito tempo por sua população original. 

Divididos em quartos, eles são hoje ocupados pelos que não têm meios de ir para outro lugar, mas puderam escapar das favelas construídas na zona oeste de Kingston em torno do lixão, em Riverton ou no manguezal, em Seaview, por exemplo. Os muros que rodeiam as avenidas são pintados com as efígies do herói nacional Marcus Garvey,4 do lendário Bob Marley, do ex-primeiro-ministro socialista Michael Manley (no poder de 1972 a 1980, depois de 1989 a 1992) e de alguns chefes de guarnição locais, os Dons.

O quarto de Courtney é grande o suficiente para abrigar uma cama coberta por um colchão de espuma, uma velha geladeira, uma pequena televisão, um aparelho de som hi-fi e uma grande bacia destinada a recolher as goteiras mais importantes do teto. Cortinas rosa com flores escondem as venezianas de metal que permanecem constantemente fechadas. O fio de eletricidade pirateado atravessa o quarto em diagonal, carregado de alguns cabides com roupas. Uma tomada isolada grosseiramente com fita preta pende na parede, permitindo o funcionamento permanente de um ventilador com controle remoto. A luz se acende ao rosquear a lâmpada, a porta se fecha colocando um pedaço de caneta no gancho reservado ao cadeado. No resto da cidade, a simples menção do nome de um desses bairros suscita um gesto de desdém e medo: o clientelismo político, o tráfico de drogas e a luta pelo controle da extorsão dos comércios da capital encheram essas guarnições de armas de guerra. Os membros das gangues se matam e as armas se encontram nas mãos de jovens adolescentes, os gunbwoy...

"Monday morning blues, bills to pay and the youth want shoes, another Monday morning blues, it's not easy leaving downhere in the ghetto, everyday is another trial, don't you know..."5 Courtney aprendeu a cantar na igreja. Ele aperfeiçoou sua arte ao longo dos anos, sem realmente pensar a respeito. Com um timbre de voz de soul norte-americano, ele cantarola de manhã, arrumando os sapatos, os hinos melancólicos do gueto. À noite, diante da passagem de uma jovem que ele considera bonita, improvisa em patwa, o crioulo jamaicano, num tom mais atrevido. Um amigo o acompanha batendo a rítmica característica do dancehall com duas garrafas.

A cena acontece diante do pequeno bar do bairro. Na indiferença geral, uma menina de uns 10 anos carrega um galão de água, o corpo retorcido para o lado da mão livre. Um pouco mais acima, crianças com a pele brilhante, torso nu, brincam de polícia e bad bwoy("bandido"), com pistolas de madeira. Uma estudante de uniforme revista os bolsos do irmão menor imitando os modos violentos dos squadies (policiais). O menino tem as mãos contra a parede e as pernas separadas enquanto a irmã lhe tateia os bolsos e administra golpes fortes atrás da cabeça. De repente, as crianças debandam. Um silêncio pesado enche a rua. Dois jipes do Exército patrulham lentamente a rua esburacada, abrindo caminho para um cortejo de cinco viaturas de polícia. O comboio é protegido por trás por dois veículos militares, com armamento pesado e atirador no teto. A polícia jamaicana foi formada pelos colonos britânicos para impedir os pobres de se revoltar. Meio século depois da independência, ela protege os ricos jamaicanos das gangues que essa mesma burguesia criou para conservar o poder: as gangues jamaicanas nasceram com os primeiros partidos políticos, protegendo os encontros de uns, atacando os do partido adversário, impedindo certas pessoas de chegar aos locais de voto. No início, foram empregados nessa função estivadores do sindicato dos anos 1940. Depois passaram a pagar grupos de jovens de certos bairros. As primeiras armas chegaram ao gueto com o apelido de vote getters("conquistadores de votos").

Foi nesse ambiente que Courtney cresceu; é o cenário de suas canções. É também o cenário do dancehall. Os dois artistas mais populares do país, Vybz Kartel e Buju Banton, estão atualmente na prisão, respectivamente por assassinato e tráfico de drogas. O terceiro, Jah Cure, conheceu o sucesso no centro penitenciário de Santa Catarina, onde cumpriu pena de oito anos por estupro.

O sistema de produção de uma canção se organiza em três etapas: a gravação de um título, a mixagem e a promoção. Muito raros entre os jovens são os que gravam um tune (uma canção) em menos de três horas, no valor de 1.500 dólares jamaicanos (R$ 34) a hora no Cell Block e quase o dobro em um estúdio renomado como Tuff Gong. Um corista para as harmonias? Some nada menos que 5 mil dólares jamaicanos. A mixagem, uma etapa indispensável, já que torna o título comercializável? Mais 5 mil dólares jamaicanos, no mínimo... Mas o mais duro, e o mais caro, ainda está por vir: conseguir que sua música seja notada no meio dos milhares de títulos produzidos todos os anos no país.

Então é indispensável tocar em uma das principais rádios, como a Irie FM, e idealmente em seus charts, assim como nos das redes de televisão dedicadas ao dancehall, como a RE TV ou a Hype. O que quer que digam os responsáveis, o acesso é pago. Uma simples difusão cotidiana durante três meses em um dos programas da primeira rádio da ilha custa cerca de 50 mil dólares jamaicanos (R$ 1.125) por baixo do pano. No entanto, nem todas as músicas são aceitas, e mais vale passar por uma pessoa que conhece bem o apresentador, um agente, por exemplo. O que aumenta ainda mais os custos... A transação é informal, por isso, não há nenhuma garantia de que a música vai realmente ser tocada. E ter acesso aos charts custa ainda mais caro. A mesma coisa para ter acesso aos programas de televisão: acesso pago, mais a realização do vídeo... Apenas essa etapa de promoção, caso se queira que seja benfeita, custará muito mais que um ano do salário de um jovem como Courtney. É apenas a esse preço que um artista pode esperar obter um reconhecimento local, depois internacional, e enfim começar a viver de sua música.

O dancehall alimenta de forma mesquinha uma grande parte da população jamaicana: vendedores de bebida e comida durante os shows, motoristas de ônibus e táxis, dançarinos, seguranças, técnicos, vendedores de CDs piratas, responsáveis de manutenção, funcionários dos pequenos salões de beleza aos quais vão as mulheres antes desses eventos, e todos os reis do jeitinho que gravitam em torno dos shows e dos sound systems. Mas o dinheiro se concentra em outro lugar, lá onde o capital é investido: agentes de artistas, produtores, promotores, investidores, grandes marcas internacionais patrocinando os eventos, gravadoras estrangeiras... e traficantes de drogas. Pois as conexões tecidas pela música através do mundo servem ao tráfico. Assim, a economia do dancehall,com sua organização piramidal, reflete a do país: lucros concentrados nas mãos de uma pequena burguesia de pele clara, para a qual a independência não abalou a dominação, e de uma nova classe rica negra, surgida no fim dos anos 1970, principalmente no setor financeiro.

Se a economia jamaicana se diversificou desde a independência (indústria da mineração, zonas francas, turismo, "indústria da música"), sua estrutura não evoluiu. Alguns economistas caribenhos falam de uma "economia da plantation modificada":6 uma economia de plantation cujos lucros se concentram nas mãos da burguesia local e dos investidores estrangeiros, mas que não depende mais unicamente do setor agrícola. Como anunciado desde 1961 por Frantz Fanon em Os condenados da Terra, as novas classes ricas locais se concentraram quase em todos os lugares em diversificar o sistema colonial... para mantê-lo igual.

BOX:
Do "grito do porão" aos gemidos do gueto

Na Jamaica, a cultura musical do dancehall surgiu na época das plantations. Como a própria linguagem crioula, ela carrega muita coisa da África, mas se transformou pelo sincretismo do contato com os europeus. Essa cultura "muda com a troca, sem se perder", segundo a expressão cara ao poeta martiniquense Édouard Glissant.1 Desde então o dancehall evoluiu, como a economia jamaicana, mas sua estrutura permanece a mesma. As pessoas se reuniam na época em volta de tambores e instrumentos improvisados para dançar nos confins da fazenda. Ali se zombava dos senhores, fazia-se comentário social, agradecia-se, cantavam-se cantos de encorajamento e canções de amor por vezes atrevidas: todos os ingredientes do dancehall contemporâneo, por trás de suas rítmicas agora criadas por computador.

Nesse meio-tempo, o mento, o ska e o reggae foram algumas das manifestações da evolução dessa música. Encontramos esses temas tocados por rumba box,2 sardin tin guitars3 e também por instrumentos mais modernos. Poderíamos aqui retomar a análise de outro escritor martiniquense, Patrick Chamoiseau, sobre os contadores e outras formas de pré-literatura caribenha, e ver nascer o dancehall no "grito do porão" dos navios negreiros, durante a passagem do meio (a travessia do Atlântico).4 Na ilha, a música teve, ao longo de sua história, a função de válvula de escape psicológica, oferecendo uma saída artística ao sofrimento dos sem raízes com condições de vida miseráveis. Quando Bob Marley encontrou um de seus primeiros produtores jamaicanos, no início dos anos 1970, este lhe disse: "Você vem de um bairro onde as pessoas gemem o tempo todo. Vocês serão os 'wailers'...".5 (R. C.)

Romain Cruse é professor da Universidade das Antilhas e da Guiana (UAG_Martinica) e do Centro de Estudo e Pesquisa em Economia, Gestão, Modelização e Informática Aplicada (Ceregmia)

1 "Material de som". Designa por extensão grupos que animam noitadas típicas da cena dancehall graças à ajuda de uma parede de caixas de som gigantesca. Trata-se da principal forma de consumo da música na Jamaica, antes dos shows.

2 O salário mínimo é de 20 mil dólares jamaicanos por mês (R$ 450), tendo aumentado 11% em julho de 2012.

3 As estatísticas oficiais aumentam o número para 79% da produção da riqueza nacional. Mas elas não levam em conta a economia informal nem os envios de dinheiro da diáspora.

4 Célebre pan-africanista, militante do repatriamento dos afro-americanos para a terra de seus ancestrais, a Etiópia.

5 "É o blues da segunda de manhã, contas para pagar e o jovem quer sapatos, mais um blues da segunda de manhã, não é fácil viver aqui no gueto, cada dia é um novo desafio, não sabe..."

6 Cf. Lloyd Best e Kari Levitt, Essay on the theory of plantation economy [Ensaio sobre a teoria da economia de plantation], Editora da Universidade de West Indies, Kingston, 2009.

FONTE: Diário Liberdade

quinta-feira, novembro 29, 2012

‘O governo tenta nos transformar em agressores em vez de vítimas’













A holandesa que faz parte das Farc explica motivos que levaram guerrilheiros às armas


Tanja Nijmeijer se levanta da mesa para ir embora, com mais um um cigarro na mão. É noite de terça-feira e seu rosto mostra uma expressão atormentada, a mesma da segunda-feira durante as seis horas de entrevista.


- Estou cansada de ter que me defender constantemente - diz a representante holandesa das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) nas negociações de paz. - É importante que se entenda por que pegamos em armas e que na Colômbia existe uma guerra que produz mortes. E sim, às vezes cometemos erros.

Tanja, de 34 anos, nasceu em Denekamp (Holanda) e é a segunda das três filhas da família. Em entrevista ao “El País”, ela conta, cheia de ardor, como é sua vida nas Farc, a organização guerrilheira que faz parte desde 2002. E se parece muito surpresa com o interesse da mídia.

- Eu gostaria que eles prestassem mais atenção às condições de vida das pessoas. Não seria muito mais importante do que falar de mim?

O caminho que levou Tanja à guerrilha colombiana foram dois acontecimentos vividos em 2001, durante o período que viveu no país. O primeiro foi uma visita a um bairro pobre da cidade de Pereira. Seu acompanhante lhe disse que teriam que sair de lá às 21 horas, porque as pessoas iam dormir.

- Quando perguntei a um vizinho do bairro porque ele foi para a cama tão cedo, ele disse que os paramilitares poderiam considerar como criminoso alguém que andasse a essa hora na rua e matá-lo com um tiro. Isto é chamado de limpeza social na Colômbia.

O outro incidente ocorreu em Bogotá. Ele foi visitar Ciudad Bolívar, um bairro gigante de favelas ao sul da capital. Depois a levaram para o Centro Andino, o centro comercial da elite do norte da cidade. O contraste era muito doloroso. Tanja mergulhou na história da Colômbia, buscou os contatos certos no país e entrou na guerrilha. - Para mim, ficou claro que a democracia na Colômbia só existia no papel. E assim permanece até hoje.

Alguns pensam que as Farc recorrem a você - uma mulher ocidental, inteligente e eloquente- para melhorar sua imagem.

Tanja Nijmeijer: Me incomoda ouvir que sou parte da campanha de comunicação das Farc. O que queremos é contar a nossa visão das coisas. O governo colombiano colocou muitas dificuldades na minha participação nas negociações de paz.

As Farc nasceram em 1964. Qual é a sua luta atual?

Tanja Nijmeijer: Os tempos mudam, mas a opressão continua. Nos consideramos um partido político armado, cuja ideologia é baseada no marxismo-leninismo. Essas são as ideias pelas quais lutamos. Queremos fazer reformas radicais. O que nós queremos saber é como podemos participar da política? Disso tratam nossas conversas com o governo.

Pelo jeito que você fala sobre a sua vida nas Farc, parece que não existe guerra. Também clipe que gravaram a impressão é que se trata de uma banda alegre.

Tanja Nijmeijer: E isso é o que somos. Se você não está feliz, não consegue aguentar. São precisamente os momentos mais difíceis que nos inspiram a maioria das piadas.

As Farc são conhecidas por impor penas severas para violações e a pena de morte por deserção.

Tanja Nijmeijer: Quando uma vez liguei escondida para casa, o castigo foi cavar mais de 30 metros e escrever 20 páginas sobre meu delito. Somos um exército e deve haver disciplina. Mas quem nos abandona é um traidor.

Você já assistiu a alguma execução?

Tanja Nijmeijer: Não. Mas já ouvi falar sobre elas.

Você se tornou mais dura ao longo dos anos?

Tanja Nijmeijer: Nós, os guerrilheiros, somos duros por fora, mas macios por dentro.

Você estaria disposta a pedir desculpas para suas vítimas? (Ele olha com raiva)

Tanja Nijmeijer: Há um ditado que diz: “O povo sabe quem são seus algozes”. O governo tenta nos transformar em agressores, em vez vítimas.

Como o objetivo que vocês perseguem é bom, não há nada que seja reprovável?

Tanja Nijmeijer: Eu não tenho que me justificar. A luta é justificada. Estamos em guerra.

FONTE: GLOBO.COM

País registra em 2011 maior número de greves em 15 anos


No ano passado, houve 554 paralisações, contra 446 em 2010

Em 2011, houve 554 greves no país contra 446 em 2010, aumentando em 24% o número de paralisações, segundo dados divulgados nesta quinta-feira pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese). É o maior número de greves verificado desde 1997, ano em que foram registradas 631 mobilizações.

De acordo com a instituição, os resultados dos dois últimos anos confirmam a tendência de aumento do número de greves a partir de 2002 – ano que estabeleceu, com os 298 movimentos registrados, a marca mais baixa da primeira década dos anos 2000.Os dados foram extraídos do Sistema de Acompanhamento de Greves (SAG) e obtidas por meio de notícias veiculadas em jornais impressos ou eletrônicos da grande mídia e da imprensa sindical. O sistema reúne informações das greves de trabalhadores realizadas no Brasil desde 1978 e conta, atualmente, com mais de 27 mil registros.

As informações dos dois anos analisados mostram a predominância de mobilizações na esfera pública, frente à privada, uma vez que em 2010 foram encontrados registros de 269 greves no setor público e 176 no privado e em 2011 os números para cada uma dessas esferas corresponderam a 325 e 227. As paralisações dos trabalhadores da esfera pública, mesmo com pequena queda na participação, continuam prevalecendo e representam cerca de 60% do total anual de greves.

Nesse período, a maior parte das greves na esfera privada ocorreu entre os trabalhadores da indústria. Em 2010, 97 mobilizações foram realizadas por empregados da indústria, e em 2011, o número cresceu para 131. Nos Serviços também foi registrado um número significativo de greves — 77 em 2010 e 91 em 2011.

FONTE: GLOBO.COM

Assassinatos de brancos caem 25,5%, mas de negros aumentam 29,8%


Os números são do ‘Mapa da Violência 2012 - 

A cor dos homicídios’, divulgado pelo governo


Enquanto o número de homicídios de brancos caiu 25,5% no Brasil, entre 2002 e 2010, o de negros aumentou 29,8%. Em números absolutos, o total de vítimas negras subiu de 26,9 mil, em 2002, para 34,9 mil, em 2010, ante uma redução de 18,8 mil para 14 mil nos assassinatos de brancos, no mesmo período. É o que revela o Mapa da Violência 2012 - A cor dos homicídios, divulgado nesta quinta-feira pela Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir).

As estatísticas relativas à população negra consideram a soma de vítimas pretas e pardas. Ao analisar dados separadamente, porém, o Mapa mostra que não foi somente o número de vítimas brancas que caiu. De 2002 a 2010, houve ligeira diminuição de 0,7% nos assassinatos de pretos. Essa queda foi contrabalançada pela elevação de 35,3% nas mortes de pardos, resultando num crescimento de 29,8% do total de vítimas negras.

Para o sociólogo Julio Jacobo Waiselfisz, autor do estudo, a diferença no chamado índice de vitimização reflete a desigualdade econômica. Proporcionalmente, a quantidade de negros assassinados no país, em 2010, foi 132,3% maior do que a de brancos, conforme o Mapa. Pior: ao longo da última década, a taxa só aumentou - de 65,4%, em 2002, para 90,8%, em 2006, até 132,3%, em 2010.

- A tendência crescente é o mais preocupante - diz Julio Jacobo.

De acordo com o relatório "os níveis atuais de vitimização negra já são intoleráveis, mas se nada for feito de forma imediata e drástica, a vitimização negra no país poderá chegar a patamares inadmissíveis pela humanidade".
Julio Jacobo afirma que a população branca, de modo geral, tem maior nível de renda e vive em bairros não só com maior policiamento, mas também protegidos por serviços de segurança privada:

- O perfil das vítimas é de jovens desocupados, negros, nas periferias urbanas. Bairros que não têm segurança pública eficiente. Da classe média para cima, há guaritas e guardas armados no prédio. Quem pode pagar tem melhor condição de segurança.

O levantamento mostre que a disparidade é ainda mais acentuada entre os jovens. Na população de 15 a 29 anos, a redução de assassinatos tendo como vítimas a população branca foi de 33%, entre 2002 e 2010, enquanto os homicídios de negros subiram 23,4%. Entre os jovens, as mortes de pretos caíram 8,1%, ante um acréscimo de 29% de vítimas pardas.

Mais assassinatos de brancos no Paraná e de negros em Alagoas

Julio Jacobo diz que o foco do estudo é comparar a situação de negros e brancos. Ele minimiza a diferença nas estatísticas de assassinatos de pretos e pardos, com o argumento de que os dois grupos têm perfil socioeconômico semelhante. Além disso, o sociólogo diz que pode haver imprecisão na atribuição da cor das vítimas.

- Não há razão lógica para supor que, num caso, aumentou e, em outro, diminuiu. Em nível socioeconômico, (pretos e pardos) têm uma configuração muito semelhante - afirma o sociólogo.

Na comparação entre os estados, a maior taxa de assassinatos de brancos foi registrada no Paraná, com 39,3 homicídios para cada 100 mil habitantes, em 2010. Rondônia aparece em segundo, com 25,8, e o Rio de Janeiro em terceiro, com 21,5. Já nos homicídios de negros, Alagoas tem a maior taxa (80,5), seguido por Espírito Santo (65) e Paraíba (60,5). O Rio ocupa a décima posição, com taxa de 41.

Em termos de vitimização, a Paraíba apresenta a situação mais desfavorável para a população negra, com índice de 1.824,3%, o que significa que, para cada branco assassinado, há 19 vítimas negras.

O relatório destaca negativamente o Pará, a Bahia, a Paraíba e o Rio Grande do Norte como estados onde cresceu o número de homicídios de negros. " A Região Norte e, em segundo lugar, a Região Nordeste, são as que evidenciaram maior crescimento no número de homicídios negros: 125,5% e 96,7% respectivamente, entre os anos 2002 e 2010. Individualmente, Bahia, Paraíba e Pará foram as unidades que tiveram maior crescimento no seu número de homicídios negros nesse mesmo período, mais que triplicando em 2010 os números de 2002", diz o texto.

Entre as capitais, Salvador é a que tem o maior número de assassinatos de negros: 1.659, em 2010, o equivalente a uma taxa de 78,3 vítimas para cada 100 mil negros. O Rio aparece logo atrás, com 1.078 homicídios de negros (taxa de 35,6), seguido por Recife (792 vítimas e taxa de 88,9).

Dentre os 608 municípios com mais de 50 mil moradores, Ananindeua, no Pará, figura com a maior taxa de assassinatos de negros (198,8 para cada grupo de 100 mil habitantes), com Simões Filho (BA) e Cabedelo (PB) logo atrás. Nesse ranking, o município do Rio em pior situação é Duque de Caxias, que aparece com a 41.ª maior taxa (78,6). Considerada apenas a população jovem - de 15 a 29 anos -, Simões Filho (BA) tem a maior taxa (455,8).
"A situação dos municípios é mais heterogênea ainda. Acima da metade dos municípios do país: exatos 2918, não tiveram registro homicídios negros. Dentro da mesma unidade da federação encontramos localidades com elevadas taxas de homicídios negros, como no caso da Bahia, onde convivem municípios como Simões Filho, com a segunda maior taxa de homicídios negros do país, ou também Porto Seguro, com a quarta maior taxa, junto a Barreiras, que não registrou homicídios negros no ano de 2010", diz o estudo.

O relatório foi lançado pela Seppir, pelo Centro Brasileiro de Estudos Latino-Americanos (Cebela) e pela Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais (Flacso).

O Mapa da Violência utiliza dados do Sistema de Informações de Mortalidade (SIM), do Ministério da Saúde, com base em atestados de óbito. A cor das vítimas é atribuída pelo médico ou pelas testemunhas que atestam cada morte.

FONTE: GLOBO.COM

terça-feira, novembro 27, 2012

Lenda da guitarra, Jimi Hendrix faria 70 anos









Todo guitarrista, querendo ou não, tem um pouco de Jimi Hendrix. Seja nas caretas, no jeito de pressionar os pedais ou na hora de se ajoelhar durante um emocionante solo, James Marshall Hendrix, conhecido como Jimi Hendrix, semeou em todos os guitarristas um pouco do seu estilo inventivo.

Nascido em Seattle, em 27 de novembro de 1942, Jimi Hendrix completaria 70 anos de de idade nesta terça-feira (27) se estivesse vivo. Jimi morreu no dia 18 de setembro de 1970, aos 27 anos, em Londres. Embora as circunstâncias não tenham sido plenamente esclarecidas, é sabido que o guitarrista morreu asfixiado em seu próprio vômito após ingerir uma grande quantidade de vinho e remédios para dormir.

Jimi Hendrix nasceu em Seattle, nos Estados Unidos, e teve sua infância profundamente afetada por problemas familiares que culminaram no divórcio de seus pais, em 1951. Seu primeiro contato com um instrumento de cordas veio em 1958, quando ganhou um ukulele no mesmo ano da morte de sua mãe. Seu primeiro violão veio pouco tempo depois. Mais velho, Hendrix se alistou no exército como paraquedista no Tennessee. Após uma fratura no tornozelo recebeu dispensa médica.

Seguindo sua grande paixão pela música, o guitarrista tocou com diversas bandas locais até entrar definitivamente no mercado, em 1965. Uma das suas primeiras bandas foi Jimmy James and the Blue Flames, que tocava frequentemente em um café em Nova York. E foi lá que Hendrix foi descoberto por Chas Chandler, baixista da banda britânica The Animals, que o levou até a Inglaterra para conhecer mais pessoas do meio musical e finalmente montar o The Jimi Hendrix Experience ao lado do baixista Noel Redding e do baterista Mitch Mitchell.

Suas primeiras apresentações em Londres logo colocaram a cena musical de pernas para o ar. Guitarristas célebres locais, como Eric Clapton, Jeff Beck e Pete Townsend falavam sobre o "forasteiro" de técnica invejável. Clapton, que detém o nada modesto título de “deus da guitarra”, chegou a pensar em desistir quando viu aquele negro esguio forçando ao máximo os limites daquelas seis cordas. “Se eu sou Deus, ele é o quê?”, disse o inglês na época.

Já Townshend, da banda britânica The Who, um dos mais bem acabados produtos da época, travou uma guerra em busca do posto de maior guitarrista do mundo. Sua banda até conseguiu um lugar de destaque na enciclopédia do Rock, mas, na guitarra, sinto muito. A concorrência era cruel. Até mesmo o exibido e pavoneado Little Richard tirou Jimi da sua banda quando percebeu que o guitarrista chamava mais atenção no fundo palco do que ele bem à frente.

Em 1967 foi lançado o álbum Are You Experienced?. Foxy Lady, Manic Depression, Red House, Fire, Purple Haze, Hey Joe e outras músicas viraram referências instântaneas para os novos grupos britânicos e invadiram as rádios. No mesmo ano lançaram Axis: Bold as Love, que geralmente fica na "sombra" de seus outros álbuns, mas possui destaques como a bela Little Wing e If 6 Was 9. “É fácil tocar blues. Mas é difícil senti-lo”, dizia Hendrix.

No ano seguinte, a rotina de shows pela Europa em combinação com brigas com Noel Redding e abuso de drogas e álcool fizeram com que o trio começasse a desabar. Hendrix chegou a ser preso pela polícia de Estocolmo, na Suécia, após um ataque de fúria que desencadeou na destruição completa de um quarto de hotel. Em 1968 saiu Electric Ladyland, um álbum duplo, com mais experimentalismos e peças como Voodoo Child e uma versão para All Alogn the Watchtower, de Bob Dylan.
 
O perfeccionismo de Hendrix no estúdio - há quem diga que a música Gypsy Eyes teve 43 tomadas - e seu temperamento explosivo influenciado pelas drogas abalou sua relação com Chas Chandler, que pediu demissão e vendeu sua parte para Michael Jeffery. Biógrafos apontam que a influência de Jeffery pode ter sido ruim para o guitarrista e que ele pode ter desviado grandes quantias de dinheiro do guitarrista para contas no exterior.

Enquanto Jimi avançava musicalmente para uma vanguarda jamais explorada, seu relacionamento com a banda se desfez. Em 1969 a banda Experiene terminava. Em maio daquele ano, Hendrix foi preso novamente após uma grande quantia de heroína ter sido descoberta em sua bagagem no aeroporto de Toronto, no Canadá.

Em agosto, o guitarrista montou uma nova banda, Gypsy Suns and Rainbows, para fazer parte do festival de Woodstock. O grupo ficou formado com Jimi Hendrix na guitarra, Billy Cox no baixo, Mitch Mitchel na bateria, Larry Lee na guitarra de apoio e Jerry Velez e Juma Sultan na bateria e percussão.

O show, que se tornou um dos mais famosos de sua história, mostra Hendrix extremamente inspirado ao tocar uma versão instrumental de The Star Spangled Banner, o hino nacional dos Estados Unidos. Sua versão do hino se tornou uma declaração pela inquietude e insatisfação da juventude contra a sociedade norte-americana. O embolado de distorções que simulavam os sons da Guerra do Vietnã correu o mundo e se tornou um dos pontos altos do evento, cristalizando para sempre a imagem heroica de um músico inesquecível.

O Gypsy Suns teve vida curta, e Jimi logo formou o trio Band of Gypsys,Billy Cox no baixo e Buddy Miles na bateria .Em 1970 veio o lendário show do festival de Isle of Wight, onde tocou com Mitchell e Cox. A sua reputação incendiária como performer ao vivo e a extensa obra póstuma ajudam a contar o resto da lenda.

FONTE: DIÁRIO LIBERDADE

quinta-feira, novembro 22, 2012

Cota europeia para mulheres cria polêmica

Pela nova regra, 40% das vagas em conselhos de 
administração serão destinadas ao sexo feminino

A União Europeia aprovou na semana passada uma medida que tem gerado polêmica: até 2020, 40% das cadeiras nos conselhos de administração das empresas terão de ser ocupadas por mulheres. Para quem não atingir a meta, pode haver sanções. Atualmente, executivas detêm 13,7% dos cargos de diretoria das grandes corporações europeias. As empresas têm, discretamente, demonstrado alguma insatisfação com a novidade.
Aumentar o espaço feminino nas grandes corporações era uma bandeira da comissária de justiça da União Europeia, Viviane Reding. Ela costurou o projeto e defendeu o texto diante dos demais comissários. Ao aprovar a ideia, comemorou 23 vezes na semana passada. "Está feito! A Comissão adotou hoje a minha proposta para uma lei europeia para ter, em 2020, 40% de mulheres no topo das empresas", escreveu ela no Twitter.
A mensagem foi disparada, uma seguida da outra, em alemão, búlgaro, castelhano, checo, dinamarquês, eslovaco, esloveno, estoniano, finlandês, francês, grego, holandês, húngaro, inglês, irlandês, italiano, letão, lituano, maltês, polaco, romeno e sueco, além do português. Ou seja: democraticamente, em todas as 23 línguas oficiais da União Europeia.
Viviane argumenta que levar mulheres ao topo das companhias não é apenas justo, como também bom para os negócios. Ao citar estudos de consultorias internacionais, a comissária alegou aos demais colegas da UE que, historicamente, empresas com mais mulheres no comando têm "melhor desempenho operacional e resultado financeiro mais forte".
Além disso, como cerca de 70% do consumo global é decidido por uma consumidora, ter mais conselheiras pode "fornecer uma ampla visão em termos de comportamento econômico e das escolhas dos consumidores". Outras características ligadas às mulheres são a criatividade, inovação, governança corporativa e ética, diz Viviane.
Pela proposta aprovada, só estarão sujeitas à nova regra empresas públicas ou privadas com capital aberto que tenham 250 ou mais empregados ou faturamento anual superior a 50 milhões. Ao todo, o universo atingido chega a 5 mil companhias. O texto cita que as empresas serão obrigadas a adotar "regras claras e neutras em relação ao gênero para a escolha de candidatos". "Se dois candidatos são igualmente qualificados, deve ser dada prioridade ao sexo sub-representado - que na maioria dos casos seria uma mulher", explica o texto aprovado.
Críticas. Passados alguns dias da aprovação, começaram a aparecer críticas. Advogados e representantes de departamentos jurídicos de empresas têm dito anonimamente na imprensa europeia que a novidade vai, em tempos de crise e contenção de gastos, introduzir uma série de novas despesas administrativas.
Além disso, do ponto de vista jurídico, o texto aprovado teria lacunas, como, por exemplo, a ausência de uma regra clara sobre quais serão os mecanismos de seleção dos integrantes de um conselho de administração. O problema, dizem os críticos, é que, sem um procedimento padrão, companhias poderiam estar sujeitas a processos judiciais abertos por candidatos desclassificados - de ambos os sexos - que questionariam seus mecanismos de contratação. Outro ponto criticado é sobre como empresas provarão às autoridades europeias que executam políticas de aumento da participação feminina nos conselhos. A legislação aprovada não prevê como será feito esse acompanhamento e fiscalização.
Viviane se defende. "Tomamos grande cuidado na elaboração da nossa proposta porque queremos promover a igualdade de gênero, mas não devemos e não vamos discriminar candidatos competindo por uma posição. Sob nossas regras, qualificação e mérito continuarão a ser os principais critérios para um trabalho", afirmou a comissária em artigo publicado no último domingo no jornal inglês The Guardian.
"Chegou a hora de quebrar o teto de vidro que continua barrando o talento feminino de chegar ao topo. A Comissão Europeia tem promovido a igualdade de gênero desde 1957. Continuar nesse caminho não é uma revolução, mas uma evolução natural", argumenta Viviane.

FONTE: ESTADÃO