Valoriza herói, todo sangue derramado afrotupy!

segunda-feira, março 31, 2014

Docentes das IFE intensificam mobilização em abril e pautam decisão sobre greve


 

Reunião no final do mês irá deliberar sobre a greve dos docentes das IFE em 2014, a partir de nova rodada de assembleias

Em reunião que contou com a presença de representantes de 41 seções sindicais neste final de semana (29 e 30), o setor das Instituições Federais de Ensino Superior (Ifes) do ANDES-SN avaliou a importância de intensificar o processo de mobilização. Para isso, foi definido um calendário de atividades e paralisações que culminará em nova reunião do Setor, no final de abril.

Diversas atividades estão programadas para acontecer durante todo o mês, com destaque para a paralisação nacional no dia 10 (quinta-feira), em vigília durante a audiência entre o Sindicato Nacional e a Secretaria Executiva de Ensino Superior do Ministério da Educação (Sesu/MEC).
De acordo com Marina Barbosa Pinto, 1º secretária do ANDES-SN e da coordenação do Setor das Ifes, as seções sindicais fizeram um debate muito consistente sobre o momento, sobre as dificuldades e as peculiaridades de 2014, tanto do ponto de vista dos desdobramentos de 2012 e 2013, quanto ao fato deste ser um ano eleitoral. 

“Consideramos também a mobilização conjunta com os demais servidores federais e específica do setor da educação federal, que já tem uma greve em curso iniciada pela Fasubra e outra deliberada para o dia 21 de abril, dos companheiros do Sinasefe, que estiveram presentes na reunião e trouxeram relatos da mobilização nas suas bases. Além disso, foram destacados os resultados que implantação do projeto de carreira do governo trouxe para a realidade dos professores, consolidando a desestruturação da carreira - o que já era previsto pelo movimento desde 2012 quando a proposta foi amplamente rejeitada pela categoria. Avaliamos ainda o aprofundamento da precarização das condições de trabalho nas IFE”, comentou Marina.
De acordo com a diretora do ANDES-SN, o movimento docente está mobilizado e protagonizou ações significativas, como a paralisação do dia 19 em várias IFE, e apontou a importância de avançar nesse processo. “Ficou evidente a disposição de responder contundentemente e avançar na construção dessa reação. Para isso, aprovamos um calendário que visa à intensificação da mobilização, dando destaque, por exemplo, debates sobre as ações políticas do governo de retirada de direitos e a situação precária nas IFE, com paralisações e atividades com outras categorias”, explica.

A agenda de atividades definida pelo Setor das Ifes (confira mais abaixo) culmina na reunião apontada para os dias 26 e 27 de abril, quando a deliberação da greve nacional dos docentes das IFE 2014 será tomada a partir das decisões na base, com rodadas de assembleias gerais, que devem indicar o período para a paralisação e a relação com a greve das demais categorias.

Moções
Durante a reunião do Setor das Ifes foram aprovadas três moções. Uma em apoio à greve da Fasubra e duas em repúdio às ações da polícia nas Universidades Federais de Campina Grande e de Santa Catarina.
AGENDA DE ATIVIDADES:
- Durante todo o mês de abril – Jornada de visitas promovidas pelas seções sindicais aos Campi e as unidades das IFE para discutir a pauta/mobilização, buscando articulação com os técnico-administrativos e os estudantes.

- Entre os dias 31 de março e 9 de abril – Rodada de Assembleias Gerais, incluindo na pauta paralisação das atividades dos docentes no dia 10 de abril, greve nacional dos docentes das IFE e intensificação da mobilização na categoria.

- Entre os dias 31 de março e 9 de abril – Constituir Comissões Locais de Mobilização (debatendo pauta local e nacional, greve, EBSERH, FUNPRESP...).

- Entre 1 e 25 de abril – Enviar as pautas locais atualizadas para a secretaria do ANDES-SN.

- Dia 2 de abril – Audiência no MEC sobre Hospital da UNIRIO/EBSERH. Representação de e
ntidades nacionais e locais.

- Dia 7 de abril – Ato Pelo Dia Mundial da Saúde convocado pelo Fórum de Saúde do Rio de Janeiro – Campanha 2014 dos docentes das IFES/Defesa da autonomia universitária e contra a EBSERH com representação de entidades nacionais e das seções sindicais - concentração às 16h no Largo da Carioca, Rio de Janeiro.

- Dia 8 de abril – Ato nos Estados da Campanha dos SPF.

- Dia 10 de abril – Paralisação nacional dos docentes das IFE.

- Dia 10 de abril – Audiência do ANDES-SN com a SESU/MEC.

- Dia 10 de abril  – Reunião ANDES-SN/FASUBRA/SINASEFE.

- Dia 11 de abril – Reunião do Fórum Nacional das Entidades dos SPF.

- Entre os dias 11 e 25 de abril – Rodada de Assembleias Gerais, incluindo na pauta a deliberação da greve nacional dos docentes das IFE 2014, com indicação de período e da relação com a greve das demais categorias. 

- Entre 22 a 25 de abril – Convocar a CNM.

- Dias 26 e 27 de abril – Reunião do Setor das IFES, em Brasília, incluindo na pauta a deliberação da greve nacional dos docentes das IFE 2014, com indicação de período e da relação com a greve das demais categorias.

- Dia 1 maio – Dia do Trabalhador com atos nos Estados.

- Dia 7 de maio – Marcha a Brasília dos SPF.

- Dia 15 de maio – Dia Nacional de Luta contra as remoções da Copa.


Fonte: ANDES-SN

sexta-feira, março 28, 2014

“Macaco!!”: o silêncio ensurdecedor de Pelé nos casos escandalosos de racismo no futebol









O gênio de Mario Filho, o maior cronista esportivo do país, produziu em 1947 um clássico chamado “O Negro no Futebol Brasileiro”. Eu já mencionei o livro aqui.
Mario fala da ascensão dos atletas negros, de como eles transformaram o esporte, de como os times, notadamente os cariocas, foram aos poucos tendo de se render ao fato de que aqueles meninos pobres eram melhores que os meninos ricos.
Na edição de 1964, ele acrescentou dois capítulos e num deles cometeu um erro de avaliação — que pode ser creditado ao seu romantismo.
Escreve Mario sobre Pelé: “Dondinho era preto, preta dona Celeste, preta vovó Ambrosina, preto o tio Jorge, pretos Zoca e Maria Lúcia. Como se envergonhar da cor dos pais, da avó que lhe ensinara a rezar, do bom tio Jorge que pegava o ordenado e entregava-o à irmã para inteirar as despesas da casa, dos irmãos que tinha de proteger? A cor dele era igual. Tinha de ser preto. Se não fosse preto não seria Pelé”.
Prossegue: “Se era ‘Rei’, o que eram aqueles pretos admiráveis que o formaram, que o modelaram, que só lhe ensinaram o que era bom? Para isso, ele tinha de ser o que era: um preto. O Preto. O Crioulo”.
Cinquenta anos depois, o apelido Crioulo caiu em desuso e Pelé está calado, e provavelmente continuará assim, diante dos casos de racismo cada vez mais frequentes e absurdos. Torcedores do Mogi Mirim chamaram Arouca, do Santos, de macaco e o mandaram procurar uma “seleção africana para jogar”.
Tinga, do Cruzeiro, ouviu a torcida peruana do Real Garcilaso gritar a mesma ofensa — algo que já ocorrera com ele numa partida do Brasileirão contra o Juventude, em Caxias do Sul, quando atuava pelo Internacional. O árbitro Márcio Chagas da Silva não apenas foi xingado como encontrou bananas espalhadas sobre seu carro na saída de uma partida. O goleiro Felipe, quando no Corinthians, passou por situação do mesmo teor contra o Juventude. Zé Roberto, do Inter, também, num Gre-Nal.
Esses são apenas os casos que tiveram repercussão. A punição, quando há, é irrelevante. O clube paga uma multa e perde dois mandos de campo, se tanto, e vida que segue. Não é muito diferente no exterior, por orientação do presidente da Fifa, Sepp Blatter. O show tem de continuar.
Numa nota, Arouca lamentou: “Como se algumas das páginas mais bonitas da história da nossa seleção não tivessem sido escritas por jogadores como Leônidas, Romário e pelo Rei Pelé, também negros”.
E Pelé? Na idealização de Mario Filho, ele tem orgulho de sua cor e seu exemplo seria suficiente para que o racismo no futebol fosse mitigado. Mas ele é, na verdade, o oposto disso, a face da acomodação.
Não se posiciona, não defende ninguém ou nenhuma causa que não seja a própria, não enfrenta nada, não quer se indispor com quem ele sabe que manda no futebol — aqueles que mandavam no tempo de Mario Filho.
Não que tenha sido poupado na carreira. Pelé já relembrou episódios em que os membros da equipe do Santos foram chamados de “macaquitos” na Argentina e de como “ia lá e arrebentava os adversários” quando escutava coisas que “o chateavam”. Há três anos, porém, afirmou que casos de racismo no futebol eram “coisinhas”.
A democracia racial brasileira é uma peça de ficção e Pelé, de certo modo, também. Mario Filho fala de Robson, do Fluminense, que nos anos 50 deu uma declaração que caberia perfeitamente, hoje, na boca do Rei: “Eu já fui preto e sei o que é isso”
FONTE: DIARIO DO CENTRO DO MUNDO / Kiko Nogueira


RS APROVA RENÚNCIA DE R$ 25 MI DE ICMS POR COPA











 Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul aprovou a concessão de incentivo fiscal para a iniciativa privada construir as estruturas temporárias da Copa do Mundo em Porto Alegre; ou seja, para cada R$ 1 aplicado na obra, a iniciativa privada terá também R$ 1 de ICMS descontado; a infraestrutura construída será utilizada somente durante os cinco jogos do Mundial no Beira-Rio e será desmontada após o encerramento da competição



A Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul aprovou na noite desta terça-feira (25) a concessão de incentivo fiscal no valor de R$ 25 milhões para a iniciativa privada construir as estruturas temporárias da Copa do Mundo em Porto Alegre. O projeto de lei 17/2014 é de autoria do governo do estado e concede isenção total no ICMS para a empresa que fizer as obras de infraestrutura no entorno do estádio Beira Rio.

O valor de R$ 25 milhões de isenção de impostos diz respeito ao custo estimado das estruturas temporárias. Ou seja, para cada R$ 1 aplicado na obra, a iniciativa privada terá também R$ 1 de ICMS descontado. A infraestrutura construída será utilizada somente durante os cinco jogos da Copa na cidade e será desmontada após o encerramento da competição.
A isenção tributária por parte do governo estadual foi a saída encontrada para o impasse, já que o Internacional se nega a arcar com esses custos – assim como a FIFA, que diz não ser responsável pelas estruturas temporárias. Com isso, a prefeitura de Porto Alegre e o Palácio Piratini costuraram o PL 17/2014 e alinharam o discurso de que seria a única alternativa possível. Além disso, tanto o prefeito José Fortunati (PDT) quanto deputados aliados do governador Tarso Genro (PT) sustentaram que, caso o projeto não fosse aprovado, não haveria Copa na cidade.
Na Assembleia Legislativa, o debate ocorreu em uma sessão tumultuada, com 34 projetos na pauta – dentre eles, três análises de vetos parciais do governador e quatro propostas do Executivo que estavam trancando as votações. O PL 17/2014 foi o sétimo a ser apreciado, tendo sido votado somente após as 20h, sendo que a sessão teve início às 15h30min.
Foram 31 votos favoráveis e 19 contrários. As únicas bancadas a votar inteiramente a favor do projeto foram a do PT, que estava com 13 de seus 14 deputados presentes, a do PCdoB e a do PRB, que possuem um deputado cada. A bancada do PTB, com cinco parlamentares e maior aliada do Piratini, apresentou quatro votos favoráveis. O deputado Marcelo Moraes (PTB) se manifestou contrário à proposta. No PDT – partido que recentemente desembarcou da administração estadual -, apenas votaram contra o PL 17/2014 os deputados Vinícius Ribeiro e Juliana Brizola.
Por parte da oposição, houve o apoio total dos sete deputados do PP à proposta. Os progressistas ainda emplacaram uma emenda que determina que os gastos com as estruturas temporárias devem ser declarados em tempo real na internet. E, dos oito parlamentares do PMDB, apenas Alexandre Postal votou a favor.
A sessão plenária desta terça-feira contou com a presença constante do secretário de Gestão de Porto Alegre, Urbano Schmitt, e do secretário estadual de Planejamento, João Motta (PT). Ambos são os principais articuladores de projetos relacionados à Copa do Mundo no Paço Municipal e no Palácio Piratini.
Oposição diz que PT mudou ao incentivar renúncia fiscal; petistas rebatem acusando críticos de serem contrários à Copa
A discussão do PL 17/2014 durou mais de três horas. Deputados da oposição e da situação se revezaram em discursos na tribuna da Assembleia. Os parlamentares do PMDB e do PSDB se mostraram surpresos com o fato de que o governo do PT estava propondo isenção de R$ 25 milhões para realização de obras que a FIFA se recusa a fazer.
Os peemedebistas e tucanos argumentaram que, durante os governos de seus partidos, os petistas gaúchos sempre se posicionavam contrários à renúncia fiscal como forma de atração de investimentos ao estado . Para os oposicionistas, o PT se contradiz ao propor a mesma política de renúncia fiscal e aplica-la para viabilizar a construção de estruturas que serão utilizadas somente durante os cinco jogos da Copa em Porto Alegre e depois serão desmontadas.
Já os parlamentares do PSB acreditam que aprovar o PL 17/2014 seja rebaixar o Parlamento gaúcho às determinações da Fifa. E o deputado Márcio Biolchi (PMBD) recordou que financiar – através de isenção total de impostos – a construção das estruturas temporárias da Copa nunca foi um compromisso assumido pelo governo do estado para a realização do Mundial no Rio Grande do Sul.
Em resposta às críticas, parlamentares do PT e do PCdoB se revezaram na tribuna argumentando que o Brasil derrotou grandes potências mundiais na briga para ser sede da Copa do Mundo. Os deputados acreditam que isso só foi possível porque, durante o governo Lula, o país teria adquirido prestígio internacional e papel de destaque global.
Além disso, os petistas entendem que a Copa trará diversos benefícios à economia gaúcha, como geração de empregos – através das obras de mobilidade urbana – e ingresso de receitas com a vinda de turistas estrangeiros.
Os deputados governistas sustentaram o discurso de que votar contra o PL 17/2014 seria votar contra a Copa e contra o Rio Grande do Sul. Do outro lado, os oposicionistas disseram que são favoráveis ao Mundial, mas que acreditam que a FIFA ou Internacional podem custear os R$ 25 milhões necessários para a construção das estruturas temporárias – sem a necessidade de que o recurso seja retirado dos contribuintes gaúchos, na forma de renúncia tributária.
Oposição derruba veto de Tarso
Antes de apreciar o PL 17/2014, os deputados também votaram outros 6 projetos. A oposição conseguiu derrubar um veto do governador Tarso Genro a uma emenda do projeto 350/2013. O PL autoriza o Executivo a administrar diretamente a folha de pagamento de cerca de 1,4 mil servidores aposentados da CEEE, que trabalhavam na antiga companhia de energia encampada por Leonel Brizola em 1965. A folha de pagamento destes servidores representa cerca de R$ 500 milhões anuais para a estatal.
O projeto abre uma brecha para que o Piratini fique autorizado a obter R$ 1,3 bilhão do caixa da CEEE. A verba diz respeito ao montante pago pela União à companhia em 2012, referente a uma dívida histórica que nunca havia sido quitada. A oposição aponta que o valor é muito superior à folha de pagamento dos aposentados do antigo quadro e afirma que o governo.estadual usará o dinheiro para suprir suas necessidades de caixa. Por isso, a emenda aprovada – e vetada pelo governador – determina que esses recursos sejam depositados em uma conta específica, destinada somente ao pagamento dos servidores relacionados no projeto. Com 28 votos contra 21, a oposição conseguiu derrubar o veto de Tarso.
FONTE: BRASIL 247 / Samir Oliveira
Relação Deputados Estaduais que votaram à favor da PL 17/2014 Incentivo Fiscal (RENÚNCIA) para entornos do Beira Rio. Valor estimado que o estado do Rio Grande do Sul deixa de arrecadar: R$25.000.000,00 Isso mesmo 25 Milhões de reais!!!!! 
Edegar Pretto - PT Raul Pont- PT Luiz Fernando Mainardi - PT Valdeci Oliveira- PT Stela Farias- PT Adão Villaverde- PT Daniel Bordignon- PT Luis Lauerman- PT Miriam Marroni- PT Marisa Formolo - PT Altemir Tortelli - PT Alexandre Lindenmeyer- PT Ana Affonso- PT Nelsinho Metalurgico- PT
Raul Carrion - PC do B
Carlos Gomes – PRB 
Alexandre Postal – PMDB 
Adolfo Brito – PP Ernani Polo – PP Frederico Antunes – PP João Fischer- PP Silvana Covatti - PP Pedro Westphalen – PP Mano Changes –PP 
Aloísio Classmann - PTB Luis Augusto Lara - PTB Ronaldo Santini - PTB José Sperotto - PTB
Gilmar Sossela - PDT Gerson Burman - PDT Marlon Santos - PDT Basegio - PDT Ciro Simoni - PDT

segunda-feira, março 24, 2014

1º Encontro Nacional de Negras e Negras da CSP-Conlutas






1º Encontro Nacional de Negras e Negras da CSP-Conlutas é sucesso com a presença de 1.500 pessoas 


Encontro  aprova resoluções sobre campanha contra a violência racista na Copa e sobre a  organização dos Negros e Negras da CSP-Conlutas

 A abertura do 1º Encontro Nacional de Negras e Negros da CSP-Conlutas, que ocorreu neste domingo (23), foi emocionante. As cerca de 1.500 pessoas que lotaram o plenário mostraram sua determinação e disposição e unidade para dizer “Chega racismo, exploração e dinheiro para a Copa”.

O membro do Quilombo Raça e Classe e também do Setorial de Negros e Negras da CSP-Conlutas, Wilson Honório, antes do anúncio da composição da mesa de debates, saudou os presentes. Disse que simbolicamente a mesa era composta também personalidades históricas da luta contra o racismo, machismo, e de luta contra as opressões. Entre os nomes citados, estavam Zumbi dos Palmares, Rosa Park, Solano Trindade. Também lembrou dos que tombaram recentemente e se tornaram símbolo da luta contra o racismo e contra o machismo, como Claudia e Sandra  e tantos outros.

A mesa foi composta pelo representante do Moquibom do Maranhão, Antonio Lambão, pela integrante Luta Popular, Helena Silvestre, pelo dirigente do Andes-SN, Gean Santana, representando a CSP-Conlutas, Julio Condaque, do Quilombo Raça e Classe e Tamiris Rizzo,  o integrante da Frente Nacional em Defesa do Território Quilombola,  Nelson Morale,  a representante da Comissão Organizadora do Encontro  Maristela Farias, e a representante do GT de Negros do Sinasefe, Eugênia Tavares Martins.

Gean foi mediador da mesa e também saudou a todos dizendo que sentia grande emoção em participar dessa atividade, considerada por ele, histórica.

Compartilhou da mesma opinião o membro da Secretaria Executiva da CSP-Conlutas, Julio Condaque. O dirigente resgatou seu histórico de mais de 25 anos de militância. “Para nós que temos mais tempo de luta esse encontro representa um marco. Podem ter certeza que nós incomodamos o governo”, ressaltou.

Lembrou-se de sua militância desde 2001 quando a entidade que fazia parte se desfiliou da CUT, e  da importância da reorganização e seu fortalecimento. “Hoje, essa reorganização sela um desafio que foi o espaço de unidade de ação. De unificar todos os lutadores contra a copa e contra o racismo. Por isso esse encontro vai apontar uma direção”, frisou.

A integrante do Luta Popular, Helena Silvestre, com a voz embargada pela emoção parabenizou a todos pela realização do Encontro. “A emoção é muito forte. Nós não queremos só trabalhadores aqui, mas também que deem espaço para os oprimidos. Somos nós que estamos submetidos a todo o tipo de exploração e opressão. Somos aqueles que são transformados em mercadoria. Temos que disputar nossos espaços. A nossa cultura de resistência para que os negros possam se reconhecer na sua história que é a história da classe trabalhadora”, disse emocionada.

A luta dos povos quilombolas foi salientada pelo integrante do Moquibom do Maranhão, Antonio, que fez a exigência da necessidade da titulação dessas terras. Criticou o governo que em sua avaliação está sucateando o Incra. “Mas estamos lutando e desde 2005, são mais de 100 entidades, para ajudar nossos irmãos. Nosso foco principal é luta pelos territórios livres. Nos unimos a entidades e a povos como a  CSP-Conlutas, Quilombo e  Anel e para lutar por educação, saúde, transporte, mas fundamentalmente também queremos as terras tituladas  para plantar, não queremos bolsa do governo”, completou.

Tamiris também muito emocionada falou em nome do Quilombo Raça e Classe sobre os recentes casos de racismo. “Choramos pela morte de Claudia. Mas estamos aqui resistindo respondendo contra o racismo”, disse. Citou também os outros casos de racismo, como os do pedreiro Amarildo, justiceiros.

A representante do Quilombo Raça e Classe também criticou a Copa  que colocou uma lente de aumento para o racismo que ocorre no país há quatro séculos. Criticou o PT de Dilma e Lula que em dez anos de governo tem uma dívida com negras e negros do país.  “Não foi capaz de acabar com a desigualdade entre negros e não negros. Ainda ganhamos 30% a menos do que os não negros. Mas isso ocorre porque o governo privilegia empresário e banqueiros e não os trabalhadores negros e negras”, destacou. Segundo ela, no país morrem em média 150 negros por dia.

“Vamos organizar os negros a para assumir sua negritude sob a perspectiva de raça e classe. Trabalhadores garis, operários do Comperj e rodoviários deram o exemplo. Nós, negros, que vivemos essa exploração e racismo temos a  tarefa histórica de sermos vanguarda na classe trabalhadora”, reafirmou, também emocionada.

A representante do Sinasefe, Eugênia fez uma saudação a todos os presentes e abordou a importância de se fazer nos sindicatos a discussão sobre o racismo. “Entendemos a importância dessa luta que precisa ser cíclica. A educação é a base. Trabalhar a questão racial e desmascarar o mito da democracia racial, leis que prejudicam os negros, e lidam com as opressões”, pontuou.

Nelsinho da Frente Negra Quilombola também destacou a importância da educação para combater o racismo. “Tivemos um avanço nesse sentido nas comunidades quilombolas. Uma das vertentes é com a questão da educação, fizemos um trabalho para acabar com o analfabetismo”, destacou. Ao final, homenageou sua mãe que tombou e “não pode ver em vida o seu quilombo titulado”, completou: “é em sua memória que vamos fazer a luta. Axé a todos os quilombos”, finalizou.

Logo em seguida, a mesa abriu para as saudações de representações de diversos segmentos. Garis de Niterói, indígenas da Aldeia Maracanã, companheiros do Comperj, e as representações internacionais da África do Sul.

O companheiro Rasta do Comperj informou que sairia fortalecido daquele encontro. “Travamos uma luta contra o sindicato pelego eles podem me matar, mas a luta continua. Amanhã vamos fazer uma paralisação junto com as mulheres que trabalham na cozinha”, disse. Uma trabalhadora da cozinha fez o uso da palavra e disse que vai lutar junto com os operários do Comperj. “Sem a gente o Comperj não vai andar. Nós mulheres decidimos que amanhã nossa luta vai continuar”, disse.

O gari Luiz Fernando também deu sua contribuição “estou nessa luta, pois quero estar junto aos negros e negras e alcançar o que é de cada um de nós”.

As representações da África do Sul do movimento estudantil, Thando Manzi, e o representante da organização sindical dos metalúrgicos NUMSA , Hlokoza também saudaram o plenário.

Thando  disse que estava feliz por estar ali. “Estou feliz em estar participando desse capitulo da historia e levar comigo hoje esse momento. Nós somos parte dessa luta internacional que também tem cor”, disse.

Hlokoza falou que o racismo sobre  o regime democrático é algo que acontece de forma velada. E finalizou, “precisamos acabar com o sistema capitalista, não vamos esperar mais 500 anos para ter o mesmo salários que os brancos”, disse.

As saudações também foram feitas pelos militantes da Anel, do MML, setorial LGBT, da Anel que também fizeram saudações ao plenário.

Além de representantes das organizações  LRS, LER e POR. Todas as falas convergiram na importância do combate ao racismo e na unidade de todos para combatê-la.

Ao final, Julio pediu um minuto de silencio em homenagem a todos os negros  que tombaram. Ao final entoou junto com o plenário:

Todos, presente!
Todos, presente!
Todos, presente!

Em seguida a mesa de abertura saudou os presentes que se reuniram em 13 grupos de trabalho.

Tudo o que for discutido nos grupo, bem como moções, serão enviadas num relatório final do encontro.

Encontro aprova resoluções sobre campanha contra a violência racista na Copa e de organização dos Negros e Negras da CSP-Conlutas

Na volta do almoço foi apresentada duas resoluções, uma  sobre a violência racista e a criminalização dos movimentos sociais e da pobreza, outra resolução é sobre a organização de negras e negros na estrutura da base, para ser votada pelo plenário. Ambas foram aprovadas pelo plenário.

Confira abaixo, as resoluções aprovadas:

Resolução sobre a violência racista e a criminalização dos movimentos sociais e da pobreza

Considerando:

1. Que a violência, nas suas mais diversas manifestações, tem marcado a vida e a história de negros e negras desde que nossos ancestrais foram sequestrados da África, num projeto perverso e cruel que tentou, desde sempre, “coisificá-los” e desumanizá-los para satisfazer os interesses da elite branca capitalista.

2. Que, após quase 400 anos de escravidão, negros e negras ingressaram no mundo do trabalho assalariado predominantemente nos serviços mais pesados e precarizados, quando não no completo desemprego e marginalização, ficando expostos às piores condições de vida e, consequentemente, imersos na violência cotidiana das moradias precárias, do transporte desumano, da falta de acesso à saúde, à educação ou qualquer tipo de direitos ou serviços.

3. Que as políticas compensatórias e reformistas desenvolvidas nos 10 anos de governo da Frente Popular não têm contribuído para reverter esta situação. Pelo contrário, a adoção do projeto neoliberal pelo governo petista, só tem acirrado o racismo e suas consequências, em particular a violência.

4. Que, desde o início, o projeto da Copa construído pelos governos (federal, estaduais e municipais) e a FIFA (em benefício dos empresários e banqueiros) tem significado um acirramento desta violência em relação a todos os trabalhadores, mas particularmente em relação aos mais explorados e oprimidos, através, por exemplo, de despejos, ataques higienistas (remoções forçadas, expulsão de pobres – majoritariamente negros e negras – dos centros das cidades-sede etc.) e a quilombos e comunidades de povos originários.

5. Que, também como reflexo da Copa, negros e negras tem sido ainda mais expostos a trabalhados insalubres e perigosos, sendo a maioria daqueles que fazem os serviços mais pesados na construção civil e nas obras do PAC, nas terceirizadas, bem como nos serviços de limpeza etc. O que, particularmente na construção dos estádios, já resultou na morte de vários operários.

6. Que, na atual situação, a população negra é vítima cotidiana de um processo de genocídio e higienização social que atravessa todas as políticas do governo petistas e seus aliados e cujos efeitos podem ser constatados em dados como os seguintes: a) a possibilidade de um jovem negro ser assassinado no Brasil é 135% maior do que a de um branco (dados do Ministério da Saúde mostram que mais da metade – 53,3% — dos 49.932 mortos por homicídios, no Brasil, em 2010, eram jovens, dos quais 76,6% eram negros; b) segundo o “Mapa da Violência, 2012”, entre 2002 a 2010 foram registrados\ 272.422 assassinatos de negros, sendo 34.893 só em 2010 e que, como exemplo da cumplicidade da Frente Popular, entre 2002 e 2010 houve uma redução de 24,8% nos homicídios de jovens brancos entre 15 e 24 anos, contra um aumento de 36% no assassinato de negros.

7. Que, como também temos presenciado, a imposição do projeto da Copa, bem como a crescente insatisfação popular, particularmente a partir de Junho de 2013, têm sido encarados pelos governos com um grau sem precedentes de repressão aos movimentos sociais e o emprego de forma cada vez mais violenta da Política Militar e dos aparatos de repressão (orientados e amparados pela fascista “Lei de Garantia e da Ordem”), o que já resultou em milhares de presos, centenas de feridos e, inclusive, mortos entre os que saíram às ruas para protestar. Que este projeto tem se combinado com processos anteriores, como, por exemplo, a implementação da UPPS’s no Rio de Janeiro, que já significaram um aumento enorme nos índices de genocídio da juventude negra e repressão da população em geral. Uma situação que tem feito que ganhe cada vez mais força a reivindicação pelo fim das PM e forças de repressão.

8. Que Amarildo, Douglas, Jean e, recentemente, Claudia, dentre tantos outros, são lamentáveis exemplos do processo de genocídio a que nos referimos e do destino que o governo petista e o sistema que ele defende reserva a negros e negras.

9. Que a combinação de todos os fatores da atual conjuntura tem aumentado a polarização racial no país (tanto através do aumento de ataques quanto do maior número de denúncias), algo expresso em lamentáveis exemplos como a de jovens negros acorrentados a postes (e, ainda, atacados pela mídia, como foi o caso da jornalista Sherazade, do SBT); violentos ataques racistas nos campos de futebol etc.

10. Que toda e qualquer forma de violência é particularmente perversa em relação às mulheres negras entre as quais a combinação de racismo e machismo resulta em ataques físicos, assédio moral e sexual, super exploração etc. Algo que, como já temos visto, só tem piorado com a Copa do Mundo, particularmente no que se refere à exposição ao turismo e à exploração sexual (como ficou evidente na asquerosa camiseta comercializada pela Adidas).

11. Que a CSP-Conlutas e as entidades a ela filiadas, desde sua fundação e em seus princípios, defendem a luta contra toda forma de opressão e suas consequências no cotidiano da vida dos trabalhadores e da juventude, através da ação direta e na luta pela reorganização sindical e política dos movimentos, dentro de uma perspectiva classista e de transformação socialista da sociedade.

O I Encontro do Setorial Negros e Negras da CSP-Conlutas resolve:

1. Desenvolver uma ampla campanha, na base da CSP-Conlutas e em aliança com as organizações que se articularam em torno do Espaço Unidade de Ação e do movimento negro combativo em torno do tema“Chega de dinheiro para os patrões, banqueiros e a FIFA: contra violência racista na Copa!”, englobando todos os aspectos da violência (inclusive a provocada pela falta de acesso aos serviços públicos básicos), mas centrada no tema do genocídio negro e do avanço do aumento da repressão e da militarização.

2. Que a Campanha tenha como base o mesmo calendário de lutas que será aprovado no Encontro do Espaço Unidade de Ação, o que significa, por exemplo, a confecção de faixas voltadas para o tema para os atos, a formação de colunas de negros e negras nestas atividades e a inclusão dos temas da Campanha em todos os materiais e debates que promovamos neste período, procurando apoiar-se tanto nos dados gerais quanto naqueles específicos a cada setor ou categoria.

3. Que um dos eixos desta campanha seja a luta pela desmilitarização das polícias, visando o fim de todas as polícias.

4. Que durante a campanha seja dada a devida ênfase e particularidade ao tema do turismo sexual e a luta contra violência à mulher negra e às mulheres trans e conseqüente mercantilização de seus corpos.

5. Que, como parte da campanha, sejam tomadas iniciativas institucionais tanto como forma de denúncia como para apoiar as vítimas (apoio jurídico, denúncia às cortes internacionais) e defender, juridicamente, os companheiros e companheiras que têm sido criminalizados.

6. Fortalecer a luta pela descriminalização das drogas e fim do tráfico, pois são uma das principais justificativas para o extermínio da população negra.

7. Aprofundar a discussão e atuar para fortalecer a autodefesa e resistência do movimento, contra a repressão policial nas manifestações e periferias.

8. Combate a discriminação religiosa, que também se materializa em preconceito e violência contra o povo negro e sua cultura.

9. Combate ao racismo institucional, que respalda a violência racista e promulga o mito da democracia racial por meio de várias instituições (como a escola e a imprensa) e também, na forma de não fazer valer os direitos já conquistados pela população negra, como a aplicação da Lei nº10.639 e o trato do racismo como crime.

Segunda resolução

Resolução sobre a organização de negros e negras na estrutura e base da CSP-Conlutas

Considerando:

1. Que, no interior dos movimentos sociais – sindical, estudantil, de mulheres, LGBT, popular etc. –, um dos principais reflexos do “mito da democracia” é a “invisibilização” da questão racial em todos seus aspectos – da história às reais condições de vida de negros e negras –, o que faz com que a abordagem sobre os temas relacionados ao racismo seja formal, secundarizada ou simplesmente menosprezada.

2. Que reverter esta situação é uma tarefa extremamente difícil, já que esta postura está profundamente enraizada na própria história dos movimentos operário e sociais do Brasil, particularmente pela forte tradição que o populismo (fortemente alicerçado no mito da democracia racial) e o stalinismo (que , na prática, sempre se recusou a fazer um debate de raça e classe) tiveram em nossa história.

3. Que os efeitos sociais, econômicos e ideológicos do racismo têm como uma de suas consequências a maior dificuldade que negros – e muito particularmente as mulheres negras – têm em se organizar e participar do dia a dia das entidades do movimento, o que se reflete na presença “racialmente desproporcional” nas direções e inclusive militância das categorias (o que pode ser facilmente verificado particularmente naquelas em que a base é formada majoritariamente por negros e negras).
 
4. Que a ideologia racista está profundamente enraizada no interior da classe trabalhadora e da juventude (sendo propagandeada cotidianamente pelos instrumentos de “formação” da burguesia, como o sistema educacional, os meios de comunicação etc.), o que faz com que, pela falta de um “contradiscurso” (classista e anti-racista), trabalhadores e jovens reproduzam toda e qualquer forma de preconceitos e discriminação, o que, evidentemente, divide a classe e os lutadores.

5. Que, em consequência de tudo isto, negros e negras têm enormes dificuldades para se identificar com os movimentos (e, consequentemente, suas políticas), exatamente por não “se verem” na estrutura e atuação das entidades, o que é um enorme obstáculo para qualquer projeto de mudança social em um país composto majoritariamente por negros e negras.

6. Que a CSP-Conlutas, desde seu processo de fundação, tem se caracterizado por lutar para romper esta tradição, a começar pelo seu caráter “sindical e popular” e a inclusão, em suas fileiras, dos movimentos de combate ao machismo, ao racismo e à homofobia. Contudo, exatamente pelos motivos apontados acima, este é um processo extremamente difícil que necessita medidas concretas e permanentes que busquem trazer negros e negras para nossas fileiras.

7. Que a realização dos Encontros do Espaço de Unidade de Ação e do Encontro de Negros e Negras da CSP-Conlutas e, principalmente, as mobilizações que ocorreram no próximo período, irão, certamente, colocar milhares de negros e negras em contato com a Central e suas entidades, muitos deles procurando uma alternativa de organização.

O I Encontro do Setorial de Negros e Negras resolve:

1. Que as direções de todas as instâncias da CSP-Conlutas – suas coordenações nacional, estaduais e regionais; as diretorias sindicais; as coordenações dos movimentos popular, estudantil, LGBT e de mulheres e dos grupos do movimento negro combativo; bem como as minorias e oposições – tenham como uma de suas tarefas prioritárias a organização e implementação da Campanha contra a violência racistas na Copa, que deve ser tomada como parte de uma política permanente de incentivo à construção de Secretarias, Setoriais, Coletivos ou qualquer outra forma de estrutura destinada a organizar negros e negras, no interior das entidades, na base das categorias e setores (como os movimentos negros etc.). Essa Campanha deve continuar após a Copa, denunciando o extermínio da juventude e do povo negro da periferia, que já acontecia antes da Copa e que se refletiu nos casos do Amarildo, Douglas, Jean e Claudia.

2. Que a exemplo do que já foi feito em algumas entidades – como a Secretaria de Combate ao Racismo do Sindicato dos Metroviários (SP) – as entidades filiadas a CSP-Conlutas realizem censos e pesquisas que auxiliem a entidade a fazer uma análise mais objetiva e concreta da situação de negros e negras em suas bases, com objetivo de construir políticas concretas que respondam à “realidade racial” da categoria e suas demandas.

4. Que as instâncias da CSP-Conlutas – a começar por suas coordenações – promovam uma política de formação em torno do tema racial, através de cursos e palestras que visem atacar os problemas apontados acima. Neste sentido, estes cursos devem abordar tantos aspectos ideológicos e históricos, como também servir para armar a militância para o cotidiano de suas lutas e atividades, como, por exemplo, atividades de formação em torno de temas como “saúde da população negra”, “aplicação da lei 10.369”, “comunidades quilombolas” etc. Estes cursos devem ser formulados em parceria com o Setorial e aliados da CSP-Conlutas nos projetos de formação, como o Ilaese; como também em propostas formuladas pelos membros do Setorial, como o curso “Globalização e Racismo”, que já vem sendo oferecido pelo Quilombo Raça e Classe.

5. Que além de garantir publicações especiais nas datas simbólicas da luta contra o racismo – Dia Internacional de Combate ao Racismo (21/03), Dia 14 de maio Dia de discussão e de luta pós fim da escravidão; Dia de Protesto Contra a Ocupação do Haiti (01/07), Dia latino americano e caribenho da Mulher Negra (25/07) e Dia Nacional da Consciência Negra (20/11) – as instâncias da CSP-Conlutas adotem a política de publicar regularmente materiais (como cartilhas, boletins especiais etc.) que auxiliem no debate sobre o racismo e na armação da militância. No mesmo sentido, que, em base a dados concretos, se procure sempre dar um “corte” de raça e classe nos materiais publicados regularmente pelas entidades (jornais, boletins etc.).

6. Que nos processos eleitorais, as chapas em que os militantes da CSP-Conlutas participem abordem o tema racial em seus programas e debates.

7. Que, como parte de seus esforços internacionalistas, a CSP-Conlutas – a exemplo do que vem sendo feito, através de viagens a Inglaterra e a África do Sul – estimule a troca de experiência e o desenvolvimento de parcerias e campanhas em relação ao racismo, tema que deve ser levado a todas iniciativas internacionais que a Central tem desenvolvido.

8. Que a CSP-Conlutas discuta nas suas instâncias a realização de encontros de negros e negras com mais freqüência e que reflita nos seus congressos esse debate.

9. Incentivar a construção de espaços de auto-organização de negras e negros para que sejamos protagonistas das construção das lutas.

10. Incentivar a construção de comitês de base que organizem as lutas das negras e negros e nível local, acumulando para futuros encontros nacionais.


11. Campanha contra a impunidade e pelo julgamento dos assassinos de Quilombolas (negros e índios). Contra a violência no campo e pela Reforma Agrária.

FONTE: CSP-CONLUTAS

domingo, março 23, 2014

Quando chamar alguém de fascista


"Foi o fascismo que nos deu a noção de um líder todo-poderoso, carismático, capaz de encarnar os anseios da nação"

Palavras são armas. E, quando você mira num inimigo político, a palavra "fascista" equivale a um obus. Na era pós-Auschwitz, acusar alguém de "fascista" é uma das mais devastadoras acusações.

Raramente a palavra experimentou um retorno como o que vemos hoje. O maior acelerador hoje é a crise na Ucrânia. Vladimir Putin e a mídia estatal russa adoram descrever os revolucionários em Kiev como "fascistas" (termo firmemente rejeitado pelos defensores dos protestos que derrubaram o presidente Viktor Yanukovich). O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, usa "fascistas" para os manifestantes que têm saído às ruas para pedir sua demissão. (Madonna respondeu aplicando a mesma palavra a Maduro.) Turcos de esquerda que se manifestam contra o premier Recep Erdogan denunciam seu "fascismo".

Na Ásia, comparar países com a Alemanha nazista tornou-se um jogo de salão. Os norte-coreanos chamam o premier japonês, Shinzo Abe, de "Hitler asiático". Os chineses acusam Abe de "venerar nazistas orientais" por suas visitas a um controvertido santuário da Segunda Guerra Mundial. Hillary Clinton não empregou a palavra para Putin, mas comparou a ocupação da Crimeia à tomada dos Sudetos por Hitler.

Quando as pessoas usam uma palavra tão carregada com tal facilidade é tempo de um choque de realidade. Há consenso entre historiadores e cientistas políticos sobre como defini-la.

1. Começa com a quimera da pureza racial.
Historicamente, o fascismo nasceu das ansiedades do fim do século XIX, quando radicais de direita em países europeus começaram a se ver como parte de "nações" orgânicas, que enfrentavam ameaças existenciais diante das poderosas novas ideologias do socialismo e do capitalismo. Para eles, teorias abstrusas pareciam confirmar a ideia de que minorias "inferiores" (judeus, eslavos) conspiravam para atacá-los. O colapso das monarquias dominantes e do sistema tradicional de valores na Primeira Guerra Mundial abriu um vácuo que os fascistas correram a preencher.

E no mundo de hoje? Há muitos racialistas xenófobos por aí. Mas apenas o racismo não faz de você um fascista.

2. O Estado reina supremo.
"Tudo no Estado, nada fora do Estado, nada contra o Estado." A frase é de Benito Mussolini, uma das primeiras pessoas a falar com aprovação de "totalitarismo". Fascistas acreditam no Estado porque o veem como a manifestação lógica da vontade de uma nação de afirmar e defender seus direitos coletivos. Assim, sindicatos, clubes e a imprensa deveriam ser subordinados ao governo. Noções como "direitos humanos" nada significam fora da moldura da "comunidade popular". Os fascistas têm pouco em comum com, por exemplo, supremacistas brancos americanos, profundamente desconfiados de qualquer tipo de governo. Fascistas e anarquistas ocupam lados opostos do espectro político.
3. Um único homem forte dá as ordens.
Foi o fascismo que nos deu a noção de um líder todo-poderoso, carismático — o Duce ou o Führer — que pessoalmente encarna os anseios da nação. (O comunismo também tinha seu Grande Timoneiro e seus Jardineiros da Felicidade, mas mesmo esses personagens sobre-humanos ainda estavam supostamente seguindo os ensinamentos de um certo filósofo judeu alemão.) Muitos autocratas pós-1945 — vem à mente o argentino Juan Perón — aprenderam com esses modelos.

É digno de nota que os movimentos de protesto na Ucrânia ou na Venezuela não lutam para instalar um líder em particular. Eles querem democracia — o oposto do poder de um só homem.

4. Fascistas põem os militares acima de todos.
Os fascistas celebram as massas — mas apenas quando elas são rigidamente organizadas em torno das necessidades do Estado. Os militares oferecem uma imagem perfeita de como os fascistas veem o mundo. Visitantes à Alemanha nazista notavam a pletora de uniformes: para os não iniciados, era difícil diferenciar motoristas de ônibus e outros funcionários de membros das forças armadas. E política externa agressiva, expansionista, tem sido marca registrada de muitos regimes fascistas, embora não todos. A Espanha de Franco e Portugal de Salazar são talvez os melhores exemplos de regimes fascistas clássicos que preferiam manter um perfil discreto.
5. Fascistas zombam da racionalidade.
As raízes do fascismo clássico estão no período romântico — uma estirpe aparente na ênfase fascista na emoção, na vontade e na unidade orgânica e sua rejeição aos valores do Iluminismo —, no individualismo e no pensamento crítico. A ligação pode ser feita com os "decadentes" do fim do século XIX, como o poeta italiano Gabriele d'Annunzio, que celebrava a morte, a violência e a destruição dos "valores burgueses". Os fascistas sempre veem a nação como ameaçada e sua tomada do poder é retratada como um renascimento nacional que varrerá a decadência e a fraqueza.
6. Partidos fascistas se veem como "terceira via".
Hitler e Mussolini viam suas versões do "nacional-socialismo" como a única alternativa válida a todas as outras ideologias políticas. Rejeitavam violentamente o socialismo e o "capitalismo burguês", enquanto diziam se apropriar das melhores características de cada um. Por exemplo, absorveram ideias marxistas de revolução e uma abrangente engenharia social, deixando de lado a divisiva luta de classes. Também tentavam preservar os aspectos competitivos do capitalismo (o que, para eles, assegurava a "sobrevivência dos mais aptos"), enquanto afirmavam o controle estatal sobre setores estratégicos da economia. É verdade que alguns fascistas tentavam incorporar a Igreja Católica em seu sistema ideológico. Mas Hitler, um zeloso anticlerical, sonhava com o dia em que as massas pendurariam o Papa pelos calcanhares na Praça de São Pedro.
FONTE: RADIO DO MORENO / o Globo / Christian Caryl, pesquisador no Legatum Institute, é editor do Laboratório de Democracia da revista "Foreign Policy", para a qual escreveu este artigo.

Viver sem ela (Claudia Silva Ferreira )











E agora como retomar uma história despedaçada pela violência policial?


O Morro da Congonha, em Madureira, zona norte do Rio, parecia uma favela fantasma na quinta-feira. Por volta das 11 horas, não havia ninguém na Rua Joana Rezende, que leva ao topo da comunidade, onde fica a casa da família de Claudia Silva Ferreira, baleada na manhã de domingo com um tiro de fuzil no coração. Dentro de casa, o pai dos quatro filhos dela, Alexandre Fernandes da Silva, comentava a notícia divulgada naquela manhã. O Ministério Público Militar havia concordado com o pedido de libertação, que seria concedida à noite pela Justiça, dos três policiais que levaram a vítima no porta-malas de uma Blazer da PM. Cerca de 5 quilômetros adiante, na Avenida Intendente Magalhães, o corpo de Claudia, pendurado na viatura, foi arrastado no asfalto por pelo menos 350 metros.

O relato de que policiais empurraram moradores e deram dois tiros para o alto antes de deixar o local em alta velocidade, com a tampa traseira aberta e um dos braços dela para fora, foi feito por uma vizinha na terça-feira. Naquela tarde, outros moradores do morro saíram à rua para mostrar cápsulas recolhidas, marcas de bala da ação policial e a poça de sangue que ficou no local em que Claudia foi assassinada, a 50 metros de sua casa. Eram 8 horas da manhã quando ela saiu para comprar pão segurando um copo de café e alguns reais.
A inquietação que tomou conta da favela nos dias seguintes à morte, inclusive com protestos na Avenida Edgar Romero, havia desaparecido na manhã de quinta. Alexandre estava refugiado em sua casa com os quatro filhos e os quatro sobrinhos que terá de criar sozinho com o salário de R$ 891 que ganha como vigia do Mercadão de Madureira, tradicional ponto de comércio popular da zona norte. Ele conta que Claudia tinha 19 anos e vendia doces em um sinal da Tijuca, também na zona norte, quando a conheceu. Foram apresentados por uma cunhada que "fez muita propaganda". Alexandre tinha 22, morava na Cidade de Deus, zona oeste, e trabalhava na fábrica da Rica Alimentos como "sangrador" de frangos, pendurando e cortando a cabeça dos animais. Daquela época ele guarda a cicatriz de um corte no dedo mindinho da mão esquerda.
Se Claudia não tivesse saído de casa para comprar pão no domingo, os dois completariam 20 anos juntos em setembro. Conhecida como Cacau no Morro da Congonha, onde nasceu e foi criada, ela é definida pelo marido, agora viúvo, como "multimulher". "Se eu fosse embora, ela não ia precisar de homem nenhum para desentupir um cano e trocar um registro. Tá vendo essa parede da sala? Tinha uma janela aí. Ela emboçou em 20 minutos. Era sempre batalhadeira, determinada, independente e sorridente." Claudia também era vaidosa. Fazia o cabelo e a unha todo domingo para começar a semana arrumada. Depois de ir à padaria, sempre passava na casa da vizinha manicure para marcar um horário e voltar à tarde.
Alexandre tem os olhos avermelhados. Sentado no sofá em um canto da sala, faz questão de mostrar fotografias que guarda dentro de uma sacola amarela de supermercado. Em uma delas, Claudia parece se divertir com amigas de trabalho. Há três anos ela fazia a faxina de banheiros, corredores e ambulatórios do Hospital Naval Marcílio Dias, no Lins de Vasconcelos, zona norte. Recebia R$ 810 por mês. Na segunda-feira, colegas de trabalho lotaram um ônibus para ir ao seu enterro. "Ela era muito alegre, brincalhona, extrovertida. Só não ficava na farra com a gente por causa dos filhos e sobrinhos. Ia sempre direto para casa e dizia, brincando: ‘Meu litrão tá me esperando’", conta a amiga Márcia Regina Zacarias, de 46 anos, também auxiliar de serviços gerais.
A cervejinha do fim de semana era sagrada. "Eu ficava bêbado e ela não. Era uma mulher firme. Aqui a gente bebe, mas sempre pagou as contas e nunca deixou ninguém sair do eixo", diz Alexandre, referindo-se aos filhos.
A casa da família é simples. Tem três cômodos, cozinha e área externa onde as crianças podem brincar. O muro está pichado e tem tijolos aparentes. Um dos quartos é minúsculo. Praticamente só cabem o beliche e o armário. No outro fica a cama de casal. Seis dormiam na sala, coberta por telhas de amianto, com dois sofás reformados, um ventilador preso na parede, um tapete tipo persa e uma TV da marca H-Buster em cima de um rack de madeira.
Desde domingo, Alexandre não consegue deitar no colchão de casal. Mudou-se para a sala. "O mais duro é à noite. Um cachorro late e eu fico assustado. Não sei quem está lá fora. Hoje não consegui dormir. Se um dia eu não estiver mais aqui, como vai ser com as crianças?"
Na quarta-feira, parentes de Claudia reuniram-se com o governador Sérgio Cabral no Palácio Guanabara. "Ele me garantiu que os policiais envolvidos ficariam presos até o julgamento. Agora os caras vão ser soltos. O governador fez o papel de bom moço. Como posso acreditar na promessa? Não há dúvida de que os PMs fizeram uma atrocidade. Só queremos que paguem por isso. É um risco para a família e os moradores eles serem soltos, uma ameaça. Estamos com medo."
Alexandre tinha a informação publicada na quinta pelo Estado de que um dos policiais que levaram o corpo de Claudia está envolvido em 57 registros de ocorrência de operações que resultaram em mortes. São os chamados autos de resistência, homicídios praticados por PMs em alegados confrontos, como a morte de Claudia seria registrada se não tivesse surgido um vídeo no meio do caminho. A filmagem, divulgada pelo jornal Extra, mostra o corpo sendo arrastado pela viatura, pendurado por um pedaço de roupa.
Há contradições entre as polícias Civil e Militar se foram 8 ou 12 policiais que participaram da operação no Morro da Congonha no domingo, mas todos são do 9º Batalhão, em Rocha Miranda. Em vários momentos desde a década de 1990, o 9º BPM foi o campeão de autos de resistência no Rio, segundo pesquisas do sociólogo Ignácio Cano. "Os policiais nunca são punidos. O caso da Claudia é mais um que eles vão tirar de letra", diz Alexandre.
Na sexta, os dois subtenentes e o sargento que estavam na viatura foram soltos do presídio Bangu 8. De acordo com a juíza Ana Paula Pena Barros, que assina a decisão, "por mais fortes, chocantes e até mesmo revoltantes que sejam as imagens da senhora Claudia, já baleada, sendo arrastada no asfalto presa ao reboque, não é possível inferir que os policiais militares presentes na viatura conheciam tal circunstância e a ignoraram". O advogado de um dos PMs alegou que Claudia foi colocada no porta-malas porque "a viela estreita impedia a abertura das portas laterais da viatura". Mas, segundo moradores, até caminhões sobem a favela pela Rua Joana Rezende. O advogado da família, João Tancredo, vai processar o Estado.
Na quinta, Alexandre proibiu todo mundo de sair de casa sem autorização. Também pediu à filha mais velha, Thaís, de 18 anos, que parasse de dar entrevistas. Os quatro sobrinhos, Gabriel (14), Caíque (11), Alexandre (9) e Caio (5), vivem com a família há quase dois anos. Pouco antes do Dia dos Pais de 2012, eles ficaram uma semana na casa da tia Claudia. Depois, não queriam mais ir embora. Alexandre comenta que essa história daria um livro, mas não fala muito. Diz apenas que os pais "não tinham responsabilidade".
Weverton, o filho de 16 anos, foi o único que não conseguiu se matricular na escola este ano. Segundo o pai, não havia vaga para o curso noturno do primeiro ano do ensino médio. O adolescente já percebeu que existe a possibilidade de ter de deixar a favela, mas não quer se afastar dos amigos. O Morro da Congonha começou a ser ocupado na década de 1950 e tem 2.752 moradores pelo Censo de 2010. É área do Comando Vermelho. A casa de Claudia fica de frente para o Morro da Serrinha, da facção rival Terceiro Comando Puro.
Neste domingo, os filhos mais novos, os gêmeos Pâmela e Pablo, completam 10 anos. "Financeiramente eu dou meu jeito, mas sozinho vai ser difícil", diz o pai. "A mulher é mais forte que o homem. Numa situação dessas, a Claudia saberia contornar. Acho que vou pirar com essas crianças. Hoje estou vendo que não sei se vou dar conta. Preciso ter muita força."
Ele se levanta, vai até a geladeira e volta com um copo de cerveja. "Temos uma história bacana. Foi fácil aprender a viver com a Claudia. Difícil vai ser viver sem ela", conclui Alexandre, usando uma flanela dobrada para enxugar o rosto. A cem metros dali, em frente à quadra de futebol, a palavra ‘saudade’ foi pichada em letras garrafais no chão de concreto. 

FONTE: ESTADÃO / Felipe Werneck