Valoriza herói, todo sangue derramado afrotupy!

segunda-feira, junho 30, 2014

Em qual conjuntura chegamos à 124ª Plenária Nacional do SINASEFE?









Na última sexta-feira (27), após audiência preliminar com a chefia de gabinete do STJ para tratar dos embargos à liminar que ingressamos na terça-feira (24), recebemos um ofício do Ministério da Educação, que nos convocou para uma audiência com representantes do governo, do STJ e também da Fasubra Sindical para tratar da nossa pauta de greve no dia 1º de julho.  

Após se negar a negociar efetivamente as nossas reivindicações e judicializar o nosso movimento paredista, como também fez com as greves da Cultura e da Fasubra, o governo se viu obrigado a um recuo, devido decisões do STJ que trataram como necessário um processo de abertura de negociação com os servidores e obrigou o MPOG a apresentar uma solução para as pautas das categorias em greve.  

Foi essa conjuntura que se apresentou na 124ª PLENA do SINASEFE, realizada no último final de semana (28 e 29 de junho), quando os delegados presentes decidiram por encaminhar às bases uma consulta para construção de um novo cenário em nossa greve.  

Essa necessidade de consulta partiu das deliberações tomadas pela Plenária, onde foi proposto e aprovado que aguardemos o que o governo nos apresentará na mesa de negociação de amanhã (01/06) e, a partir disso, em havendo resultado satisfatório às nossas aspirações, comecemos a pensar numa saída organizada da paralisação, com o indicativo às bases de suspensão da greve para o próximo dia 10, o qual deve ser apreciado pelas assembleias das Seções ainda esta semana.  

Como amanhã já teremos um resultado objetivo do que o governo nos apresentará, indicamos que as assembleias de base tratem do tema entre os dias 2 e 4, trazendo suas respectivas deliberações à 125ª Plenária Nacional, que acontecerá no hotel San Marco, em Brasília-DF, no próximo sábado (5 de julho).  

Nossa greve chega hoje aos 71 dias e adentramos num momento decisivo para garantir conquistas à categoria a partir desse movimento paredista. Precisamos não só do retorno às questões acima expostas, mas da mobilização de todas as bases em greve para que esta etapa do nosso movimento possa agregar ganhos aos trabalhadores da Rede Federal de Educação Básica, Profissional e Tecnológica.

Encaminhamentos aprovados na 124ª PLENA
BRASÍLIA-DF, 28 e 29 DE JUNHO DE 2014

SOBRE A GREVE:

1. A 124ª Plena aprova o indicativo de suspensão da greve em 10 de julho de 2014;

2. Remeter esse indicativo às rodadas de Assembleias de base, a serem realizadas nos dias 02 e 03 de julho de 2014 (4ª e 5ª feiras);

3. Realização de nova Plena no dia 05/7/2014 (sábado), para deliberar, definitivamente, sobre a suspensão do movimento paredista;    
  
4. Indicativo de nova rodada de Assembleias de base nos dias 07 e 08 de julho de 2014 (2ª e 3ª feiras);

5. Apresentar, na audiência com o governo na próxima 3ª feira (01/7), a necessidade da assinatura de um Termo de Acordo que, entre outras questões, conste, obrigatoriamente, que a retomada do Calendário Escolar seja definida pela negociação entre Reitorias e Seções Sindicais/Comandos Locais de Greve, além de assegurar a reposição de trabalho para os TAE, sem prejuízo para a categoria;

6. Que ao divulgar os ganhos da greve, sejam evidenciados os avanços das pautas internas de cada Instituto;

7. Que os Comandos Locais de Greve encaminhem informes de suas Assembleias de base ao Comando Nacional, para divulgação e atualização do quadro nacional.

Outros encaminhamentos
 A 124ª PLENA indica às Seções Sindicais do SINASEFE que criem Grupos de Trabalho que debatam a temática de combate às opressões.

FONTE: SINASEFE - NACIONAL

domingo, junho 29, 2014

As eleições estaduais abrem a temporada de esquizofrenia política








Os partidos adversários na esfera nacional se unem e acabam dando palanque para mais de um presidenciável

A pouco mais de três meses para as eleições brasileiras, os partidos decidiram mais uma vez dar um nó na cabeça dos eleitores. Na maioria dos Estados as legendas locais não seguirão as composições feitas na disputa presidencial e terão de dar palanque para mais de um candidato. Assim, o mesmo concorrente ao governo que pede votos para a petista Dilma Rousseff acabará apoiando o socialista Eduardo Campos. Não se espante se houver casos em que um candidato se apresente como tucano-petista, ao apoiar a presidenta e, ao mesmo tempo, se juntar a Aécio Neves, do PSDB.

Levantamento feito pelo EL PAÍS mostra o seguinte quadro nas 27 unidades da Federação: o PT já decidiu lançar candidatos ao governo em 18, o PSB lançará em 12 e o PSDB, em 15. Nas demais localidades ainda não sabem que rumo tomar ou vão apoiar outros nomes, boa parte deles do PMDB, o partido que quase nunca é oposição no Brasil. Esse cenário ainda pode mudar até 5 de julho, quando acaba o prazo para as legendas registrarem suas coligações no Tribunal Superior Eleitoral.

São Paulo, Paraná, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte e Maranhão são alguns dos Estados em que ocorrerá essa esquizofrenia política. No mais populoso Estado do país, o governador Geraldo Alckmin, do PSDB, anunciou que se coligará com o PSB, de Campos. A aliança paulista gerou uma crise interna no reduto socialista porque a vice de Campos, Marina Silva, defendia uma candidatura própria. Assim, Alckmin dará suporte para os dois principais opositores de Rousseff.

Crise semelhante ocorre no Paraná, onde os socialistas apoiarão a candidatura à reeleição de Beto Richa (PSDB) e a descontente Marina Silva vai pedir votos para um candidato do Partido Verde.

No Rio de Janeiro, foi o PT que iniciou uma ruptura com a base que apoiou Rousseff nas últimas eleições, ao lançar Lindbergh Farias para o governo confrontando o antigo aliado Luiz Fernando Pezão, do partido do atual vice-presidente Michel Temer. Coube a Pezão se juntar ao PSDB e ao PSB ao mesmo tempo. Essa possivelmente será uma das composições menos compreensíveis para o eleitor, já que Pezão se diz amigo de Rousseff, mas pedirá votos para dois opositores dela.

O mesmo ocorre no Rio Grande do Norte. O candidato do PMDB, Henrique Eduardo Alves, é o presidente da Câmara dos Deputados e sempre esteve ao lado de Rousseff. Mas, ao invés de dar suporte a ela, se aliou aos dois oposicionistas. No Maranhão, reduto da família Sarney, o comunista Flávio Dino, que apoia Rousseff nacionalmente, também pedirá votos para o tucano Aécio, com quem formalizou um acordo.

A confusão para o eleitorado também chega ao Rio Grande do Sul, onde os socialistas, contrários ao governo Rousseff, pedirão votos para um aliado dela, José Ivo Sartori, do PMDB. Na região central, em Mato Grosso do Sul, os socialistas tomaram o mesmo rumo e subirão no palanque peemedebista, que pedirá votos para Rousseff e Campos.

A falta de coerência nas alianças regionais predomina há anos no Brasil. Ela tentou ser quebrada com a regra da verticalização, que vigorou apenas nos pleitos de 2002 e 2006 e previa que as coligações nacionais deveriam ser repetidas nos Estados. Porém, desde o pleito de 2010, o Judiciário liberou as alianças. “Se há algum idealismo na política no Brasil ela ocorre na esfera federal. Nos Estados há a política do canibalismo, em que as conveniências locais prevalecem”, afirmou a cientista política Aline Machado.

Autora do livro “Alianças eleitorais: casamento com prazo de validade”, Machado diz que a briga por cargos costuma prevalecer na hora de se fazer conchavos políticos. Além disso, analisa ela, a maioria do eleitorado brasileiro não está tão atenta às diferenças entre as coligações. “Só quem sabe sobre as alianças é o eleitor do PSDB, que é o leitor de jornal, a classe média alta. Quem vota no PT, que recebe Bolsa Família, não se preocupa com isso e por isso a Dilma ainda é forte”, afirma.

Em cima do muro

Pelo cenário que se desenha no país, outra característica eleitoral que fica bastante clara é que o fiel da balança nos Estados será mais uma vez o PMDB. Há anos, os peemedebistas não desgrudam do poder nacional. Deram apoio a todos os presidentes eleitos desde o fim da ditadura militar (1964-1985). Atualmente, está com Rousseff, ao indicar o vice-presidente Michel Temer. Na convenção que reafirmou esse apoio, contudo, os peemedebistas deixaram bem exposta essa rachadura do partido: 41% dos votantes optaram por romper com os petistas.

Para não desagradar tanto as bases locais, os caciques peemedebistas decidiram por liberar as alianças regionais. É aí que a confusão se amplia. Os peemedebistas do Ceará se juntarão a Aécio Neves, enquanto que os do Rio Grande do Sul, estarão com Eduardo Campos.

A bagunça é grande também com partidos pequenos e recém criados, como o Solidariedade e o PROS. Aquele seguirá com os tucanos em alguns Estados enquanto esse apoia o PT, mas quer mudanças nos ministérios em um eventual segundo mandato de Rousseff.

Muita coisa ainda pode mudar, já que falta pouco mais de uma semana para a oficialização das alianças. E esse é apenas o início da união, ainda que efêmera, de várias sopas de letrinhas.

Em troca de apoio, os partidos forçam mudanças no Governo

A coligação que elegeu Dilma Rousseff em 2010 não deverá se repetir na candidatura dela à reeleição neste ano. Para piorar sua situação, parte dos partidos que entraram no seu governo no início do mandato já começam a abandonar a nau petista.

O PSB entregou os cargos no ano passado, quando Eduardo Campos decidiu concorrer à presidência. O PDT viveu crises, mas decidiu ficar. O PTB, que sempre foi da base governista, apesar de ter apoiado José Serra na eleição passada, repetirá a coligação com o PSDB, agora dando suporte a Aécio Neves.

A saída dos petebistas, aliás, ligou o sinal amarelo na gestão Rousseff que, para não perder o PR, decidiu trocar o ministro dos Transportes, uma antiga demanda da legenda. O novo trabalho da presidenta agora é conter uma iminente saída do PP e do PSD, ambos com ministérios.

Em São Paulo, por exemplo, o PSD já decidiu que não estará ao lado do candidato Alexandre Padilha, do PT. O presidente da sigla, o ex-prefeito paulistano Gilberto Kassab, disse que há três opções: lançar candidatura própria ao governo (tendo Kassab ou o ex-presidente do Banco Central Henrique Meirelles), apoiar o tucano Geraldo Alckmin ou seguir com o peemedebista Paulo Skaff. Apesar de já ter dado sua palavra para Rousseff, o PSD quase mudou de lado nacionalmente também. A convenção nacional realizada nesta quarta-feira, porém, contou com a presença de Rousseff para fazer um agrado e garantir o apoio do partido que lhe dará 3 minutos na propaganda eleitoral de rádio e TV.

Já o PP, ficou mais animado para deixar os petistas de lado quando viu que a senadora pelo Rio Grande do Sul Ana Amélia, foi sondada para ser candidata a vice na chapa de Aécio.

Até legendas nanicas têm saído do governo ou ameaçado sair. O PSC vai lançar candidato próprio, o pastor Everaldo Pereira. Enquanto o PTC decidiu apoiar os tucanos. Já o PROS, um dos caçulas da política nacional, decidiu apoiar a reeleição da petista, mas pediu a saída do ministro da Fazenda, Guido Mantega, em caso de vitória.

As mudanças nas alianças políticas não afetam só Rousseff. O PSDB também teve uma perda considerável, se comparada as eleições de 2010. O PPS, que nos últimos anos caminhou com os tucanos, estará ao lado de Eduardo Campos, do PSB.

FONTE: BRASIL/EL PAÍS - AFONSO BENITES 

sexta-feira, junho 27, 2014

A mordida de Luis Suárez tem explicação?







Especialista avalia comportamento do uruguaio

Depois de morder zagueiro italiano, atacante está fora da Copa do Mundo. Fifa decidiu cortá-lo de nove partidas da seleção e bani-lo por quatro meses de qualquer atividade ligada ao futebol

Impulso? Acesso de raiva? Resposta à pressão? O atacante uruguaio Luis Suárez está fora da Copa do Mundo após a decisão da Fifa em cortá-lo de nove partidas da seleção e bani-lo por quatro meses de qualquer atividade ligada ao futebol. Para completar, uma multa de 100 mil francos suíços (cerca de 247 mil reais), e a proibição de permanecer em qualquer ambiente que tenha vínculo com a Federação, ou seja, ele terá que deixar o hotel em que os companheiros estão concentrados. O motivo? A mordida que o goleador deu no ombro do zagueiro italiano Giorgio Chiellini, nesta terça-feira, em Natal (RN).

O incidente 'mordida' não é novidade na carreira de Suárez. Ele apresentou comportamento semelhantes quando jogou na Holanda e na Inglaterra, em jogos com as camisas de Ajax e Liverpool. Em 2010, tomou uma suspensão de sete jogos no futebol holandês. Em 2013, foram dez jogos no campeonato inglês e a sugestão de uma terapia para 'controle da raiva'. Envolvido ainda em acusações de racismo e milhares de 'memes' pela internet, o artilheiro tem esperança de se emendar?

De acordo com professor do departamento de Psicologia Social da PUC de São Paulo, Hélio Deliberador, sim. “Essa mordida representa, de certa forma, uma dimensão humana, demasiadamente humana da Copa. Foi um momento de comportamento irracional, que se expressou dessa maneira bizarra. Ao invés de se expressar verbalmente, como é muito comum no campo; ou com um drible, Suárez agrediu o zagueiro italiano com a mordida. Mas sim, se ele parar para pensar porque continua fazendo isso e aceitar realizar uma análise, ele pode se livrar do comportamento de mordedor”, afirma o especialista.

Depois de receber a notícia de sua eliminação da Copa, Suárez chorou. “Uma associação recorrente é com o menino que morde o coleguinha e depois tiram o futebol dele. De fato, é um comportamento incomum em adultos”, acrescenta o professor, descartando comparações. Quando alguém atira um objeto no outro durante uma briga, temos uma conduta irracional e agressiva, mas cada caso é um caso. “Cada coisa tem que ser analisada separadamente. 

A mordida é característica de crianças pequenas, de até 3 anos. Elas atacam aquela pessoa que as impedem de conseguir o que querem. É possível que, no caso do jogador, também esteja ligado a um trauma infantil, mas para fazer essa análise seria necessário conhecer sua biografia ou conversar com ele”, pontua o psicólogo.

O atacante, que se recuperou recentemente de uma lesão no joelho e voltou em grande estilo para a Copa do Mundo, marcando dois gols contra a Inglaterra, significa uma grande perda para a seleção uruguaia e também para o futebol. “Infelizmente, ele se expôs ao julgamento da Fifa com esse comportamento. Por mais que eu ache a punição severa demais, alguma medida era necessária para mostrar ao artilheiro que ele não pode agir dessa forma”, completa Deliberador, que é fã de futebol e considerou a pena rígida como uma expressão da preocupação da Fifa com a violência dentro e fora de campo.

Segundo o professor, nas disputas esportivas, há um limite muito tênue entre o épico e o trágico. “Um atleta tem que saber lidar com situações de stress e usar outros recursos diante da pressão. De herói, Suárez passou a vilão. E a mordida tornou-se a imagem da Copa até agora”, destaca.

Hélio Deliberador lembra ainda que todos nós estamos sujeitos a um momento assim, e não há necessidade de demonizar. “No jogo contra a Croácia, Neymar deu uma cotovelada no adversário e isso lhe rendeu um cartão amarelo. As duas ações não têm sentido, não têm utilidade prática no jogo. Mas, em situações extremas, alguns atacam, outros desmaiam. O caso de Suárez chamou a atenção por ser mais bizarro. Afinal, ao contrário de leões e lobos, nós normalmente só usamos a boca para nos defender com palavras”, conclui o especialista. “Falo com pesar no coração, mas Suárez foi punido por uma conduta que não é considerada legítima no jogo. É lícito disputar espaço, brigar pela bola, usar o corpo para proteger. Mas não é lícito morder”, finaliza.

FONTE: Letícia Orlandi - Saúde Plena

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'Dacnomania - Entenda porque o Suárez mordeu o italiano'

quarta-feira, junho 25, 2014

Paolo Sollier: el futbolista «a la izquierda de Dios»








En realidad, si se piensa fríamente, un futbolista con la actitud de Sergio Ramos o Cristiano Ronaldo no surge de la nada: es producto de una determinada realidad histórica, de un proceso de “privatización” del fútbol  que bebe directamente de los cambios operados en los esquemas culturales durante los últimos 30 años. El individualismo, la ostentación de riqueza, la apología del analfabetismo funcional de los que hacen gala los “cracks mediáticos” son hijos directos de los paradigmas de la posmodernidad neoliberal: generan valores, pero por supuesto, los absorben. El fútbol  posee una autonomía relativa a lo social, pero solo relativa. No se le puede separar de los contextos de cada época.


¿Se imaginan a un futbolista militante revolucionario? Pues aunque resulte difícil, alguno hay y alguno hubo.
A finales de los años 60, en Italia se vivía una situación casi revolucionaria. Los obreros ocupaban las fábricas, las mujeres se autoorganizaban, surgían todo tipo de grupos que renovaban la tradición comunista, desde el “Operaismo” (obrerismo) de los CuaderniRossi, hasta el “culturalismo” de los CuaderniPiacentini. El cuestionamiento del orden capitalista afectaba a todos los ámbitos de la sociedad: la sexualidad, la estética, las universidades, y por supuesto, el fútbol  terreno de encuentro fundamental para las comunidades proletarias. Enrico Belinguer, el elegante Secretario General del PCI, paraba los comités centrales del Partido Comunista para ver los encuentros de fútbol de la selección italiana, alegando que no había que perder la conexión con la clase obrera. Togliatti, Lama (secretario general de la CGIL, principal sindicato del país) y el propio Belinguer se declaraban seguidores de la Juventus de Turín, el club de la Fiat y de la principal familia burguesa italiana, los Agnelli. Belinguer ironizaba en este sentido declarando que “era lo único en común que tenía con los Agnelli”.
Paolo Sollier también estaba vinculado a la automoción, pero desde el punto de vista del trabajo. Nacido en 1948, trabajó en 1969 durante 8 meses en la Fiat Mirafiori. Vive desde dentro el llamado “Otoño Caliente”, momento de máximo antagonismo de clases durante el periodo. La efervescencia y la rebelión social amenazan el orden dominante: huelgas salvajes, sabotaje, confrontaciones físicas con la policía, surgimiento de elementos de autoorganización desde abajo, como los Comités Unitarios de Base, un instrumento de los trabajadores para gestionar autónomamente sus reivindicaciones.
En aquellos momentos, Sollier jugaba en el Cinzano, un modesto club amateur. Sollier siempre vivió el futbol como una parte más de la identidad obrera: “Siempre trabajé de peón y como futbolista. Entraba en el vestuario, me ponía la camiseta y las botas y entraba en otro mundo. El día a día quedaba fuera. Luego me volvía a cambiar, me despedía de todos y volvía a mi vida. Comencé a realizar trabajos sociales en mi barrio, la Vanchiglia (entonces zona obrera en Turín) en una organización católica llamada Manai Tese. Éramos voluntarios. Al crecer me fui acercando a la izquierda y a la democracia proletaria”.
Entre 1969 y 1974 juega en el Cossatese y en el Pro Vercelli , ambos equipos de la serie C. Su calidad como mediapunta hace que el Perugia se fije en él, en donde es uno de los motores del ascenso de este humilde club a la serie A. Durante este periodo, Sollier se compromete más en su militancia política. Pasa a formar parte de “Avanguardia Operaia” (Vanguardia Obrera), un grupo del arco de la izquierda extraparlamentaria italiana que cuenta con aproximadamente 15.000 miembros. Impulsado originalmente por militantes de la IV internacional en Italia, este grupo se construye a partir de las luchas dentro de la fábrica y se inspira en un leninismo “operaísta”, muy en boga en la época. Posteriormente, junto a Lotta Continua y otros grupos, formaron la coalición “Democracia Proletaria”, que llegó a tener representación parlamentaria en los 70. No era el único futbolista de su entorno vinculado a la izquierda: “En Perugia, Raffaeli provenía de una familia vinculada al Partido Comunista. Otros simpatizaban con la izquierda radical: Blangero, Pagliari, Codogno, Ratti, Galasso, Montessi. En 1974 o 1975, no me acuerdo, organizamos un par de reuniones para tratar de crear algo nuevo”.
Sus fotos leyendo IlManifesto (principal diario del comunismo no oficial) o el Quotidianideilavoratoi (periódico de AvanguardiaOperaia) , su estetica “beatniks” y su saludo con el puño en alto le generaron simpatías entre los aficionados, que le cantaban “a la izquierda de Dios”, pero también odios profundos de, como no, los hinchas de la Lazio. Paolo Sollier no se andaba con remilgos a la hora de hablar de ellos: “No es correcto hablar de fans del Lazio. Es mejor hablar de los fascistas del Lazio. Me gritaron “Verdugo Sollier”, esa gentuza de mierda, los muy bastardos, haciendo el saludo fascista. Entré en el estadio tranquilamente. Si hubiera alzado el puño, hubieran conseguido llamar la atención con sus insultos. Tenía miedo, estaba temblando. En ese momento quería tener un fusil para matarlos a todos”.
Paolo Sollier no aguantó demasiado tiempo en la serie A , donde jugó 21 partidos de titular. Más preocupado otros intereses como la fotografía o la poesía que por un fútbol que cuanto más se profesionalizaba mas perdía su esencia comunitaria, juega en el Rimini, de serie B, entre 1976 y 1979, recalando luego en equipos amateur hasta su retirada. La segunda mitad de los 70 supuso el reflujo del movimiento obrero, y una retirada de dinámica política de amplios sectores de la sociedad. Sollier recordaba que apenas algunos futbolistas como Gianni Rivera mantuvieron el interés por la política, aunque no precisamente desde un prisma revolucionario: Rivera fue a partir de los 80 parlamentario de la Democracia Cristiana y posteriormente Subsecretario del Ministerio de Defensa en el primer gobierno de Romano Prodi.
Los tiempos cambiaron: la idea de revolución se alejo de las mayorías sociales, llegaba la era de la deconstrucción neoliberal, de Thatcher y Reagan, el supuesto fin de las ideologías, el intento de enterrar los sueños de solidaridad y justicia. Muchos renegaron de su pasado revolucionario (los mismos que hoy miran desconcertados el desastre provocado por la voracidad capitalista), pero no fue el caso de Sollier, el cual, aunque abandonó la militancia activa, no dejó de lado sus ideas ni su pasión por el fútbol de base. Se gana la vida como entrenador en las categorías inferiores y escribiendo en revistas o diarios como Reporter, Tuttosport o Micromega, además de ser el presidente desde 2005 de la Asociación de Escritores sobre fútbol.
Preguntado por aquellos años, afirma que fueron una oportunidad perdida para cambiar las cosas. La versión de cierta historiografía oficial no parece convencerle: “Parece que en los 60-70 solo participaron los idiotas que se pasaron al terrorismo, tomaron las armas y dispararon. Se intenta esconder todo lo demás. Se olvida conscientemente como contribuyeron al progreso de Italia. Pienso en el feminismo, el ecologismo, los derechos civiles, el movimiento obrero, todos productos de aquella época”.
* Paolo Sollier es co-autor de “Calci e sputi e colpi di testa” (de donde provienen las citas del artículo). Publicado en“El Ciudadano”

FONTE: loque somos.org

terça-feira, junho 24, 2014

SINASEFE: GREVE CAVG; 50 DIAS











A Greve do Campus Pelotas Visconde da Graça, iniciada no dia 02 de maio, completou neste final de semana, cinquenta dias. O movimento faz parte da Greve nacional do SINASEFE, deflagrada no dia 21 de maio. Ao longo destes dois meses de mobilização nacional, o cenário apresentado pelo governo tem sido de criminalização da luta e não de negociação.

Principais momentos:

Com 20 dias de greve, e mais de 150 unidades em greve, o MEC e o MPOG receberam pela primeira vez o SINASEFE, a mesa de negociação resumiu-se a informação de que não haveria negociação, que o Sindicato poderia manter a Greve por tempo indeterminado, pois a educação federal não estava na pauta do governo.

Alguns dias depois, o Comando Nacional de Greve calou a presidente Dilma durante a abertura da Arena da Participação Social, na ocasião, o comando foi retirado do local, mas com a promessa de uma nova reunião com o MEC. A reunião não ocorreu, bem como o avanço das negociações.

Desde o início da Greve, o SINASEFE Nacional realizou três PLENAS com as bases do sindicato, todas aprovaram para a continuidade e a ampliação da mobilização nacional. Uma nova PLENA está marcada para o final do mês de junho. No Campus Visconde da Graça foram realizadas três assembleias, uma que aprovou a adesão ao movimento de Greve e outras duas que decidiram, por aclamação, pela continuidade e fortalecimento do movimento.

Diversas atividades de mobilização em torno das pautas, nacional e local, foram realizadas no período, como a construção da pauta em conjunto com a comunidade; a apresentação das pautas para a direção do Campus e para a reitoria do IFSul; diversas reuniões ampliadas para esclarecimentos dos assuntos de Greve e um ato público em frente ao CAVG pedindo mais segurança no acesso ao Campus.

Desde o início de junho, o comando vem promovendo também atividades de discussão sobre o novo regimento do CAVG, que deverá ser concluído até setembro, as atividades do comando foram, até o momento, a única oportunidade da comunidade participar da construção deste importante documento, uma vez que a direção ainda não programou nenhum tipo de atividade.


Semanalmente o Comando Local de Greve divulga uma agenda local de mobilização, com diversas atividades que tem auxiliado a manutenção e ampliação da Greve no Campus. O comando tem participado também das assembleias de base do SINASEFE IFSul, onde apresenta a conjuntura da greve do CAVG e promove o debate sobre a possibilidade de construção de uma pauta local de mobilização em todas unidades do IFSul, independente de adesão ao movimento paredista.

FONTE: SINASEFE IFSUL


GREVE CAVG: REUNIÃO AMPLIADA

O Comando Local de Greve do CAVG realizou nesta segunda-feira, 23, com apoio da assessoria jurídica do SINASEFE IFSul, uma reunião ampliada com a categoria para esclarecer a petição do STJ que declara a Greve nacional dos servidores ilegal.

A petição determina o encerramento imediato da Greve, sob pena de multa de cem mil reais por dia de paralisação. A ação é dirigida ao SINASEFE Nacional, com base em um acordo assinado em 2012 pelo PROIFES, um sindicato governista que não representa a categoria.

A assessoria jurídica do SINASEFE IFSul esclareceu que a ação não atinge a Seção Sindical, nem aos servidores individualmente, uma vez que estes estão legalmente amparados pelo direito de mobilização legítima de categoria.

Conforme esclarecido em nota oficial do SINASEFE Nacional, a Greve 2014 é um movimento legítimo, motivado pela ausência da data base da categoria; falta de uma política de reajuste salarial; necessidade da reestruturação do PCCTAE e da Carreira Docente; o descumprimento de parte do acordo assinado pelo SINASEFE e Fasubra, em relação aos técnico-administrativos em educação (TAE); e o não cumprimento por parte do governo da sua proposta para os docentes quanto à RSC e Classe de Titular.

O Sindicato informou ainda, que o Comando de Greve Nacional está trabalhando em todas as frentes possíveis pela derrubada da liminar, que fere o direito dos trabalhadores(as), desrespeita decisão da instancia máxima do judiciário e tenta, SEM SUCESSO, desarticular a greve.

Em relação aos direitos dos professores substitutos durante a greve, a assessoria jurídica reafirmou que são garantidos os mesmos direitos de mobilização dos servidores efetivos.

A categoria levantou ainda a possibilidade de levar para a esfera jurídica alguns itens da pauta local, como condições de trabalho no Campus. Foram relatadas situações extremas de insalubridade e de periculosidade em diversos departamentos da escola. A assessoria jurídica informou que estes casos deverão ser analisados individualmente, para que então sejam encaminhados da melhor maneira possível, na esfera administrativa ou jurídica.

FONTE: SINASEFE IFSUL

Leia a íntegra do discurso de José Mujica na ONU










Presidente uruguaio criticou o capitalismo e o individualismo em discurso que empolgou nas Nações Unidas

Amigos, sou do sul, venho do sul. Esquina do Atlântico e do Prata, meu país é uma planície suave, temperada, uma história de portos, couros, charque, lãs e carne. Houve décadas púrpuras, de lanças e cavalos, até que, por fim, no arrancar do século 20, passou a ser vanguarda no social, no Estado, no Ensino. Diria que a social-democracia foi inventada no Uruguai.

Durante quase 50 anos, o mundo nos viu como uma espécie de Suíça. Na realidade, na economia, fomos bastardos do império britânico e, quando ele sucumbiu, vivemos o amargo mel do fim de mudanças funestas, e ficamos estancados, sentindo falta do passado.


Quase 50 anos recordando o Maracanã, nossa façanha esportiva. Hoje, ressurgimos no mundo globalizado, talvez aprendendo de nossa dor. Minha história pessoal, a de um rapaz — porque, uma vez, fui um rapaz — que, como outros, quis mudar seu tempo, seu mundo, o sonho de uma sociedade libertária e sem classes. Meus erros são, em parte, filhos de meu tempo. Obviamente, os assumo, mas há vezes que medito com nostalgia.

Quem tivera a força de quando éramos capazes de abrigar tanta utopia! No entanto, não olho para trás, porque o hoje real nasceu das cinzas férteis do ontem. Pelo contrário, não vivo para cobrar contas ou para reverberar memórias.
Me angustia, e como, o amanhã que não verei, e pelo qual me comprometo. Sim, é possível um mundo com uma humanidade melhor, mas talvez, hoje, a primeira tarefa seja cuidar da vida.
Mas sou do sul e venho do sul, a esta Assembleia, carrego inequivocamente os milhões de compatriotas pobres, nas cidades, nos desertos, nas selvas, nos pampas, nas depressões da América Latina pátria de todos que está se formando.
Carrego as culturas originais esmagadas, com os restos de colonialismo nas Malvinas, com bloqueios inúteis a este jacaré sob o sol do Caribe que se chama Cuba. Carrego as consequências da vigilância eletrônica, que não faz outra coisa que não despertar desconfiança. Desconfiança que nos envenena inutilmente. Carrego uma gigantesca dívida social, com a necessidade de defender a Amazônia, os mares, nossos grandes rios na América.
Carrego o dever de lutar por pátria para todos.
Para que a Colômbia possa encontrar o caminho da paz, e carrego o dever de lutar por tolerância, a tolerância é necessária para com aqueles que são diferentes, e com os que temos diferências e discrepâncias. Não se precisa de tolerância com aqueles com quem estamos de acordo.
A tolerância é o fundamento de poder conviver em paz, e entendendo que, no mundo, somos diferentes.
O combate à economia suja, ao narcotráfico, ao roubo, à fraude e à corrupção, pragas contemporâneas, procriadas por esse antivalor, esse que sustenta que somos felizes se enriquecemos, seja como seja. Sacrificamos os velhos deuses imateriais. Ocupamos o templo com o deus mercado, que nos organiza a economia, a política, os hábitos, a vida e até nos financia em parcelas e cartões a aparência de felicidade.
Parece que nascemos apenas para consumir e consumir e, quando não podemos, nos enchemos de frustração, pobreza e até autoexclusão.
O certo, hoje, é que, para gastar e enterrar os detritos nisso que se chama pela ciência de poeira de carbono, se aspirarmos nesta humanidade a consumir como um americano médio, seriam imprescindíveis três planetas para poder viver.
Nossa civilização montou um desafio mentiroso e, assim como vamos, não é possível satisfazer esse sentido de esbanjamento que se deu à vida. Isso se massifica como uma cultura de nossa época, sempre dirigida pela acumulação e pelo mercado.
Prometemos uma vida de esbanjamento, e, no fundo, constitui uma conta regressiva contra a natureza, contra a humanidade no futuro. Civilização contra a simplicidade, contra a sobriedade, contra todos os ciclos naturais.
O pior: civilização contra a liberdade que supõe ter tempo para viver as relações humanas, as únicas que transcendem: o amor, a amizade, aventura, solidariedade, família.
Civilização contra tempo livre que não é pago, que não se pode comprar, e que nos permite contemplar e esquadrinhar o cenário da natureza.
Arrasamos a selva, as selvas verdadeiras, e implantamos selvas anônimas de cimento. Enfrentamos o sedentarismo com esteiras, a insônia comcomprimidos, a solidão com eletrônicos, porque somos felizes longe da convivência humana.
Cabe se fazer esta pergunta, ouvimos da biologia que defende a vida pela vida, como causa superior, e a suplantamos com o consumismo funcional à acumulação.
A política, eterna mãe do acontecer humano, ficou limitada à economia e ao mercado. De salto em salto, a política não pode mais que se perpetuar, e, como tal, delegou o poder, e se entretém, aturdida, lutando pelo governo. Debochada marcha de historieta humana, comprando e vendendo tudo, e inovando para poder negociar de alguma forma o que é inegociável. Há marketing para tudo, para os cemitérios, os serviços fúnebres, as maternidades, para pais, para mães, passando pelas secretárias, pelos automóveis e pelas férias. Tudo, tudo é negócio.
Todavia, as campanhas de marketing caem deliberadamente sobre as crianças, e sua psicologia para influir sobre os adultos e ter, assim, um território assegurado no futuro. Sobram provas de essas tecnologias bastante abomináveis que, por vezes, conduzem a frustrações e mais.
O homenzinho médio de nossas grandes cidades perambula entre os bancos e o tédio rotineiro dos escritórios, às vezes temperados com ar condicionado. Sempre sonha com as férias e com a liberdade, sempre sonha com pagar as contas, até que, um dia, o coração para, e adeus. Haverá outro soldado abocanhado pelas presas do mercado, assegurando a acumulação. A crise é a impotência, a impotência da política, incapaz de entender que a humanidade não escapa nem escapará do sentimento de nação. Sentimento que está quase incrustado em nosso código genético.
Hoje é tempo de começar a talhar para preparar um mundo sem fronteiras. A economia globalizada não tem mais condução que o interesse privado, de muitos poucos, e cada Estado Nacional mira sua estabilidade continuísta, e hoje a grande tarefa para nossos povos, em minha humilde visão, é o todo.
Como se isto fosse pouco, o capitalismo produtivo, francamente produtivo, está meio prisioneiro na caixa dos grandes bancos. No fundo, são o vértice do poder mundial. Mais claro, cremos que o mundo requer a gritos regras globais que respeitem os avanços da ciência, que abunda. Mas não é a ciência que governa o mundo. Se precisa, por exemplo, uma larga agenda de definições, quantas horas de trabalho e toda a terra, como convergem as moedas, como se financia a luta global pela água e contra os desertos.
Como se recicla e se pressiona contra o aquecimento global. Quais são os limites de cada grande questão humana. Seria imperioso conseguir consenso planetário para desatar a solidariedade com os mais oprimidos, castigar impositivamente o esbanjamento e a especulação. Mobilizar as grandes economias não para criar descartáveis com obsolescência calculada, mas bens úteis, sem fidelidade, para ajudar a levantar os pobres do mundo. Bens úteis contra a pobreza mundial. Mil vezes mais rentável que fazer guerras. Virar um neo-keynesianismo útil, de escala planetária, para abolir as vergonhas mais flagrantes deste mundo.
Talvez nosso mundo necessite menos de organismos mundiais, desses que organizam fórums e conferências, que servem muito às cadeias hoteleiras e às companhias aéreas e, no melhor dos casos, não reúne ninguém e transforma em decisões...
Precisamos sim mascar muito o velho e o eterno da vida humana junto da ciência, essa ciência que se empenha pela humanidade não para enriquecer; com eles, com os homens de ciência da mão, primeiros conselheiros da humanidade, estabelecer acordos para o mundo inteiro. Nem os Estados nacionais grandes, nem as transnacionais e muito menos o sistema financeiro deveriam governar o mundo humano. Sim, a alta política entrelaçada com a sabedoria científica, ali está a fonte. Essa ciência que não apetece o lucro, mas que mira o por vir e nos diz coisas que não escutamos. Quantos anos faz que nos disseram coisas que não entendemos? Creio que se deve convocar a inteligência ao comando da nave acima da terra, coisas assim e coisas que não posso desenvolver nos parecem impossíveis, mas requeririam que o determinante fosse a vida, não a acumulação.
Obviamente, não somos tão iludidos, nada disso acontecerá, nem coisas parecidas. Nos restam muitos sacrifícios inúteis daqui para diante, muitos remendos de consciência sem enfrentar as causas. Hoje, o mundo é incapaz de criar regras planetárias para a globalização e isso é pela enfraquecimento da alta política, isso que se ocupa de todo. Por último, vamos assistir ao refúgio de acordos mais ou menos "reclamáveis", que vão plantear um comércio interno livre, mas que, no fundo, terminarão construindo parapeitos protecionistas, supranacionais em algumas regiões do planeta. A sua vez, crescerão ramos industriais importantes e serviços, todos dedicados a salvar e a melhorar o meio ambiente. Assim vamos nos consolar por um tempo, estaremos entretidos e, naturalmente, continuará a parecer que a acumulação é boa, para a alegria do sistema financeiro.
Continuarão as guerras e, portanto, os fanatismos, até que, talvez, a mesma natureza faça um chamado à ordem e torne inviáveis nossas civilizações. Talvez nossa visão seja demasiado crua, sem piedade, e vemos ao homem como uma criatura única, a única que há acima da terra capaz de ir contra sua própria espécie. Volto a repetir, porque alguns chamam a crise ecológica do planeta de consequência do triunfo avassalador da ambição humana. Esse é nosso triunfo e também nossa derrota, porque temos impotência política de nos enquadrarmos em uma nova época. E temos contribuído para sua construção sem nos dar conta.
Por que digo isto? São dados, nada mais. O certo é que a população quadruplicou e o PIB cresceu pelo menos vinte vezes no último século. Desde 1990, aproximadamente a cada seis anos o comércio mundial duplica. Poderíamos seguir anotando dados que estabelecem a marcha da globalização. O que está acontecendo conosco? Entramos em outra época aceleradamente, mas com políticos, enfeites culturais, partidos e jovens, todos velhos ante a pavorosa acumulação de mudanças que nem sequer podemos registrar. Não podemos manejar a globalização porque nosso pensamento não é global. Não sabemos se é uma limitação cultural ou se estamos chegano a nossos limites biológicos.
Nossa época é portentosamente revolucionária como não conheceu a história da humanidade. Mas não tem condução consciente, ou ao menos condução simplesmente instintiva. Muito menos, todavia, condução política organizada, porque nem se quer tivemos filosofia precursora ante a velocidade das mudanças que se acumularam.
A cobiça, tão negativa e tão motor da história, essa que impulsionou o progresso material técnico e científico, que fez o que é nossa época e nosso tempo e um fenomenal avanço em muitas frentes, paradoxalmente, essa mesma ferramenta, a cobiça que nos impulsionou a domesticar a ciência e transformá-la emtecnologia nos precipita a um abismo nebuloso. A uma história que não conhecemos, a uma época sem história, e estamos ficando sem olhos nem inteligência coletiva para seguir colonizando e para continuar nos transformando.
Porque se há uma característica deste bichinho humano é a de que é um conquistador antropológico.
Parece que as coisas tomam autonomia e essas coisas subjugam os homens. De um lado a outro, sobram ativos para vislumbrar tudo isso e para vislumbrar o rombo. Mas é impossível para nós coletivizar decisões globais por esse todo. A cobiça individual triunfou grandemente sobre a cobiça superior da espécie. Aclaremos: o que é "tudo", essa palavra simples, menos opinável e mais evidente? Em nosso Ocidente, particularmente, porque daqui viemos, embora tenhamos vindo do sul, as repúblicas que nasceram para afirmas que os homens são iguais, que ninguém é mais que ninguém, que os governos deveriam representar o bem comum, a justiça e a igualdade. Muitas vezes, as repúblicas se deformam e caem no esquecimento da gente que anda pelas ruas, do povo comum.
Não foram as repúblicas criadas para vegetar, mas ao contrário, para serem um grito na história, para fazer funcionais as vidas dos próprios povos e, por tanto, as repúblicas que devem às maiorias e devem lutar pela promoção das maiorias.
Seja o que for, por reminiscências feudais que estão em nossa cultura, por classismo dominador, talvez pela cultura consumista que rodeia a todos, as repúblicas frequentemente em suas direções adotam um viver diário que exclui, que se distância do homem da rua.
Esse homem da rua deveria ser a causa central da luta política na vida das repúblicas. Os gobernos republicanos deveriam se parecer cada vez mais com seus respectivos povos na forma de viver e na forma de se comprometer com a vida.
A verdade é que cultivamos arcaísmos feudais, cortesias consentidas, fazemos diferenciações hierárquicas que, no fundo, amassam o que têm de melhor as repúblicas: que ninguém é mais que ninguém. O jogo desse e de outros fatores nos retém na pré-história. E, hoje, é impossível renunciar à guerra quando a política fracassa. Assim, se estrangula a economia, esbanjamos recursos.
Ouçam bem, queridos amigos: em cada minuto no mundo se gastam US$ 2 milhões em ações militares nesta terra. Dois milhões de dólares por minuto em inteligência militar!! Em investigação médica, de todas as enfermidades que avançaram enormemente, cuja cura dá às pessoas uns anos a mais de vida, a investigação cobre apenas a quinta parte da investigação militar.
Este processo, do qual não podemos sair, é cego. Assegura ódio e fanatismo, desconfiança, fonte de novas guerras e, isso também, esbanjamento de fortunas. Eu sei que é muito fácil, poeticamente, autocriticarmo-nos pessoalmente. E creio que seria uma inocência neste mundo plantear que há recursos para economizar e gastar em outras coisas úteis. Isso seria possível, novamente, se fôssemos capazes de exercitar acordos mundiais e prevenções mundiais de políticas planetárias que nos garantissem a paz e que a dessem para os mais fracos, garantia que não temos. Aí haveria enormes recursos para deslocar e solucionar as maiores vergonhas que pairam sobre a Terra. Mas basta uma pergunta: nesta humanidade, hoje, onde se iria sem a existência dessas garantias planetárias? Então cada qual esconde armas de acordo com sua magnitude, e aqui estamos, porque não podemos raciocinar como espécie, apenas como indivíduos.
As instituições mundiais, particularmente hoje, vegetam à sombra consentida das dissidências das grandes nações que, obviamente, querem reter sua cota de poder.
Bloqueiam esta ONU que foi criada com uma esperança e como um sonho de paz para a humanidade. Mas, pior ainda, desarraigam-na da democracia no sentido planetário porque não somos iguais. Não podemos ser iguais nesse mundo onde há mais fortes e mais fracos. Portanto, é uma democracia ferida e está cerceando a história de um possível acordo mundial de paz, militante, combativo e verdadeiramente existente. E, então, remendamos doenças ali onde há eclosão, tudo como agrada a algumas das grandes potências. Os demais olham de longe. Não existimos.
Amigos, creio que é muito difícil inventar uma força pior que nacionalismo chovinista das grandes potências. A força é que liberta os fracos. O nacionalismo, tão pai dos processos de descolonização, formidável para os fracos, se transforma em uma ferramenta opressora nas mãos dos fortes e, nos últimos 200 anos, tivemos exemplos disso por toda a parte.
A ONU, nossa ONU, enlanguece, se burocratiza por falta de poder e de autonomia, de reconhecimento e, sobretudo, de democracia para o mundo mais fraco que constitui a maioria esmagadora do planeta. Mostro um pequeno exemplo, pequenino. Nosso pequeno país tem, em termos absolutos, a maior quantidade de soldados em missões de paz em todos os países da América Latina. E ali estamos, onde nos pedem que estejamos. Mas somos pequenos, fracos. Onde se repartem os recursos e se tomam as decisões, não entramos nem para servir o café. No mais profundo de nosso coração, existe um enorme anseio de ajudar para que o homem saia da pré-história. Eu defino que o homem, enquanto viver em clima de guerra, está na pré-história, apesar dos muitos artefatos que possa construir.
Até que o homem não saia dessa pré-história e arquive a guerra como recurso quando a política fracassa, essa é a larga marcha e o desafio que temos daqui adiante. E o dizemos com conhecimento de causa. Conhecemos a solidão da guerra. No entanto, esses sonhos, esses desafios que estão no horizonte implicam lutar por uma agenda de acordos mundiais que comecem a governar nossa história e superar, passo a passo, as ameaças à vida. A espécie como tal deveria ter um governo para a humanidade que superasse o individualismo e primasse por recriar cabeças políticas que acudam ao caminho da ciência, e não apenas aos interesses imediatos que nos governam e nos afogam.
Paralelamente, devemos entender que os indigentes do mundo não são da África ou da América Latina, mas da humanidade toda, e esta deve, como tal, globalizada, empenhar-se em seu desenvolvimento, para que possam viver com decência de maneira autônoma. Os recursos necessários existem, estão neste depredador esbanjamento de nossa civilização.
Há poucos dias, fizeram na Califórnia, em um corpo de bombeiros, uma homenagem a uma lâmpada elétrica que está acesa há cem anos. Cem anos que está acesa, amigo! Quantos milhões de dólares nos tiraram dos bolsos fazendo deliberadamente porcarias para que as pessoas comprem, comprem, comprem e comprem.
Mas esta globalização de olhar para todo o planeta e para toda a vida significa uma mudança cultural brutal. É o que nos requer a história. Toda a base material mudou e cambaleou, e os homens, com nossa cultura, permanecem como se não houvesse acontecido nada e, em vez de governarem a civilização, deixam que ela nos governe. Há mais de 20 anos que discutimos a humilde taxa Tobin. Impossível aplicá-la no tocante ao planeta. Todos os bancos do poder financeiro se irrompem feridos em sua propriedade privada e sei lá quantas coisas mais. Mas isso é paradoxal. Mas, com talento, com trabalho coletivo, com ciência, o homem, passo a passo, é capaz de transformar o deserto em verde.
O homem pode levar a agricultura ao mar. O homem pode criar vegetais que vivam na água salgada. A força da humanidade se concentra no essencial. É incomensurável. Ali estão as mais portentosas fontes de energia. O que sabemos da fotossíntese? Quase nada. A energia no mundo sobra, se trabalharmos para usá-la bem. É possível arrancar tranquilamente toda a indigência do planeta. É possível criar estabilidade e será possível para as gerações vindouras, se conseguirem raciocinar como espécie e não só como indivíduos, levar a vida à galáxia e seguir com esse sonho conquistador que carregamos em nossa genética.
Mas, para que todos esses sonhos sejam possíveis, precisamos governar a nos mesmos, ou sucumbiremos porque não somos capazes de estar à altura da civilização em que fomos desenvolvendo.
Este é nosso dilema. Não nos entretenhamos apenas remendando consequências. Pensemos na causa profundas, na civilização do esbanjamento, na civilização do usa-tira que rouba tempo mal gasto de vida humana, esbanjando questões inúteis. Pensem que a vida humana é um milagre. Que estamos vivos por um milagre e nada vale mais que a vida. E que nosso dever biológico, acima de todas as coisas, é respeitar a vida e impulsioná-la, cuidá-la, procriá-la e entender que a espécie é nosso "nós".
Obrigado.
FONTE: ZERO HORA / Tradução: Fernanda Grabauska