Valoriza herói, todo sangue derramado afrotupy!

sexta-feira, maio 30, 2014

Entidades da educação federal lançam carta exigindo negociação com o governo












ANDES-SN, Fasubra e Sinasefe, entidades que representam os trabalhadores das Instituições Federais de Educação (IFE), divulgaram na tarde de quinta-feira (29) uma carta que exige que o governo negocie com as categorias. As bases de Fasubra e Sinasefe estão em greve há mais de dois meses, e o Setor das Federais do ANDES-SN aprovou indicativo de greve na última semana, mas o governo federal segue dizendo não à educação federal.

A carta aponta para a necessidade de maior autonomia e democracia interna dentro das IFE, de reestruturação das carreiras dos servidores da educação, da abertura de concursos públicos, do combate à privatização da educação e critica a criminalização de greves e de mobilizações políticas.

As entidades ainda lembram que, ao contrário do que diz o governo, há dinheiro a ser investido na melhoria da educação e do serviço público, mas não há a vontade de fazê-lo. Segundo a carta, as iniciativas governamentais mostram que existe a prioridade de investimento de dinheiro público no setor empresarial, inclusive por meio de desonerações e anistias fiscais.

A carta da educação federal começou a ser distribuída ontem (29), durante concentração de Servidores Públicos Federais (SPFs) em frente ao Palácio do Planalto, onde as três entidades, junto com outras categorias do funcionalismo público, realizaram uma audiência com o governo, também exigindo negociação. 


Confira a carta de ANDES-SN, Fasubra e Sinasefe.


EM DEFESA DA EDUCAÇÃO PÚBLICA E PELA ABERTURA
IMEDIATA DE NEGOCIAÇÃO 

As entidades representativas daqueles que trabalham e estudam nas Instituições Federais de Ensino (IFE) estão mobilizadas em defesa do direito dos brasileiros a educação pública de qualidade e dos direitos dos professores e técnico-administrativos, que dedicam seu esforço e seu trabalho a essas instituições.

As bases da FASUBRA e do SINASEFE estão em greve, respectivamente desde os dias 17 de março e 21 de abril. O ANDES-SN acaba de aprovar indicativo de greve para o mês de junho.

Isto porque o governo federal diz apenas NÃO a suas pautas de reivindicações. O governo NÃO negocia. O governo diz NÃO à educação federal.

Muitos laboratórios, cursos, alas de hospitais, setores importantes das Instituições Federais de Ensino já estão paralisados, independentemente da greve, por total falta de infraestrutura e condições de funcionamento.

As entidades apontam ainda a necessidade de vagas e concursos públicos para professores e técnico-administrativos, aprimoramento das carreiras - correção de distorções e reestruturação -, com a valorização salarial de ativos e aposentados. Cobram também a democratização naquelas instituições, com eleições paritárias para reitores e diretores.

Alertam que é urgente e necessário reverter o acelerado processo de privatização interna das IFE e da terceirização do trabalho nestas instituições. Além disso, denunciam também o agravamento da criminalização contra os movimentos sociais, a judicialização das greves, por parte dos gestores, e as tentativas de utilização dos meios institucionais para reprimir o direito à divergência.

A comprovação de que há prazos e recursos para reverter essa situação é evidenciada pelas iniciativas governamentais, que se avolumam, de transferência de recursos públicos ao setor empresarial. Novas desonerações e anistias fiscais são anunciadas constantemente, inclusive para as empresas que mercantilizam o ensino.

A população brasileira e os trabalhadores em educação cobram que o governo assuma sua responsabilidade de responder às necessidades das Instituições Federais de Ensino e às pautas apresentadas por cada uma das entidades, bem como a ampliação das condições de acesso e permanência estudantil.
Denunciamos o NÃO que o governo vem dando para as reivindicações dos trabalhadores da educação federal e exigimos negociação.

ANDES-SN: Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior; FASUBRA Sindical: Federação de Sindicatos de Trabalhadores Técnico-Administrativo em Instituições de Ensino Superior Públicas do Brasil; SINASEFE: Sindicato Nacional dos Servidores Federais da Educação Básica, Profissional e Tecnológica.

FONTE: ANDES-SN

domingo, maio 25, 2014

A classe C, do paraíso ao inferno







Mais uma pista a indicar o andar da carruagem. Parcela da população brasileira é arrastada para cima e para baixo da pirâmide social pelas ondas de marés enchentes e marés vazantes. A primeira carrega as pessoas da classe C, a chamada nova classe média, para um passeio pelos territórios do grupo B, às vezes com direito a uma escapulida (rápida) ao topo, onde habita a categoria A. Quem propicia a subida é grana extra.

A segunda maré, a baixa, empurra o contingente para as águas do fundo. Isso se dá quando a renda das famílias fica apenas no parco rendimento de aposentadoria, pensão ou bolsas, sem os ganhos com bicos e atividades paralelas. No sufoco do bolso apertado, quem foi induzido a consumir e se ver sem condição de ressarcir despesas, passa a usar de maneira indiscriminada cartões de crédito e a resvalar pela inadimplência.

Tal radiografia, flagrada por pesquisa encomendada pelo Consultative Group to Assist the Poor (CGAP), organismo ligado ao Banco Mundial, e exposta no jornal (OESP, 18/05/2014), pode explicar fenômenos que estão a ocorrer no país, a partir de manifestações de movimentos organizados e categorias profissionais.

Ponderável parcela da classe média que muda de condição, muitas vezes de um mês para outro, acaba ingressando no perigoso meio fio da instabilidade, tornando-se, ela própria, um dos eixos a mover a engrenagem da insatisfação social.

A expressão desolada de um microempreendedor sobre seus ganhos mensais arremata a situação que abriga milhões de brasileiros: “ganho algo entre nada e R$ 5 mil; não dá para adivinhar quando e quanto vai entrar”.

A insegurança que grassa por classes, espaços, setores e profissões tem se avolumado nos últimos meses, apesar de constatarmos que a taxa de desemprego se mantém estável (em torno de 5%, em março último, nas cinco maiores regiões metropolitanas).

A questão é a baixa qualidade do emprego, que leva muitos a buscar outros meios de sobrevivência. Ademais, o cobertor social tem sido curto para cobrir novas demandas. A precária estrutura de serviços não tem recebido do Estado alavancagem para oferecer bom atendimento ao povo.

Portanto, por conta do estranho fenômeno que aqui se forma - uma classe C mutante que tateia na escuridão entre as portas do céu e do inferno, passando pelo limbo - as pessoas decidiram abrir a locução sob propícia temperatura ambiental.

As políticas sociais do governo, é oportuno lembrar, abriram buracos. A decisão de implantar gigantesco programa de distribuição de renda – elogiável, porquanto se vive, hoje, o menor nível de desigualdade de nossa história – não tem sido acompanhada de uma política educacional estruturante, capaz de elevar o grau civilizatório de milhões de pessoas que ascenderam na vida.

Basta avaliar a estratégia de indução ao consumo, adotada pelo governo brasileiro para enfrentar a crise por que passaram as economias mundiais, a partir de 2008. Ouçam-se especialistas, dentre eles, Celso Amâncio, ex-diretor das Casas Bahia (OESP, 18/05/2014): “o governo incentivou o consumo, mas crédito é uma coisa e poder de compra é outro.” Quer dizer, o banco até oferece crédito, mas os novos consumidores não dispõem de educação financeira. Acabam usando e abusando de cartões de crédito, um pagando o outro.

O governo forjou, de um lado, o populismo econômico para abrir as portas do consumo aos grupos emergentes, mas, por outro, deixou de oferecer a eles ferramentas (e valores) que balizam comportamentos da classe média tradicional. A cesta de compra dos emergentes inchou: TV por assinatura, internet, plano de saúde, escola privada para os filhos, moto ou carro novo. A ignorância em matéria financeira acabou estourando o bolso de tantos quantos achavam ter encontrado o Eldorado.

Sob essa engenharia, pode-se compreender o movimento das “placas tectônicas” que geram sismos nas camadas do centro da pirâmide. Como se recorda, o losango tem sido apresentado como o formato do novo Brasil: de topo mais espaçado, alargamento do meio e estreitamento da base.

Ocorre que o saracoteio da classe C – que ora dança na pista do meio, ora na de baixo -, não permite apostar na substituição definitiva da pirâmide pelo losango. O que se vê na configuração é um redemoinho nas camadas centrais, a denotar insatisfação e impactos que afetam a vida de milhões de brasileiros, principalmente os habitantes de grandes cidades, cujas rotinas sofrem com congestionamentos, mobilizações, greves e paralisações de frentes de serviços públicos.

É verdade que parte considerável da tensão urbana se deve ao momento especial do país: vésperas de Copa de Mundo e de campanha eleitoral. A estratégia de sensibilização do poder e de atores políticos ganha fôlego.

Mas é inegável que há uma força centrípeta em ação, aqui mais forte e organizada, ali mais tênue e dispersa, dando a impressão de que o gigante “deitado eternamente em berço esplêndido” faz parte da retórica do passado. A dissonância se forma em nossas mentes quando somos levados a cantar (sem interpretar os versos) nosso belo hino nacional.

Remanesce a questão: e para onde as altas e baixas marés carregarão a classe C (que soma 64 milhões de pessoas) e, ainda, que consequências serão sentidas em outros conjuntos?

A hipótese mais provável é a que, a continuar o vaivém dos grupos emergentes, os sismos continuarão a balançar o losango e este voltará a dar lugar à velha pirâmide. As conquistas obtidas com os avanços dos programas de distribuição de renda estariam comprometidas. Reflexos (pressões, contrapressões, conflitos, demandas) aparecerão na malha de toda a classe média (cerca de 100 milhões de brasileiros). As marolas geradas por impactos no meio da lagoa acabarão chegando às margens.


Em suma, enquanto as famílias de classe média se mantiverem “enforcadas”, o nó apertará o gogó de outros habitantes da pirâmide. O Brasil terá de voltar a crescer, de maneira forte e sadia, sem usar o esparadrapo de paliativos sociais.

FONTE: O GLOBO / Blog do Noblat - Gaudêncio Torquato, jornalista, professor titular da USP, consultor político e de comunicação. Twitter: @gaudtorquato

sábado, maio 24, 2014

O DIA DA CRIAÇÃO










Macho e fêmea os criou. 
Bíblia:
 Gênese, 1, 27 

Rio de Janeiro , 1946


I


Hoje é sábado, amanhã é domingo 
A vida vem em ondas, como o mar 
Os bondes andam em cima dos trilhos 
E Nosso Senhor Jesus Cristo morreu na Cruz para nos salvar. 

Hoje é sábado, amanhã é domingo 
Não há nada como o tempo para passar 
Foi muita bondade de Nosso Senhor Jesus Cristo 
Mas por via das dúvidas livrai-nos meu Deus de todo mal. 

Hoje é sábado, amanhã é domingo 
Amanhã não gosta de ver ninguém bem 
Hoje é que é o dia do presente 
O dia é sábado. 

Impossível fugir a essa dura realidade 
Neste momento todos os bares estão repletos de homens vazios 
Todos os namorados estão de mãos entrelaçadas 
Todos os maridos estão funcionando regularmente 
Todas as mulheres estão atentas 
Porque hoje é sábado. 


II

Neste momento há um casamento 
Porque hoje é sábado. 
Há um divórcio e um violamento 
Porque hoje é sábado. 
Há um homem rico que se mata 
Porque hoje é sábado. 
Há um incesto e uma regata 
Porque hoje é sábado. 
Há um espetáculo de gala 
Porque hoje é sábado. 
Há uma mulher que apanha e cala 
Porque hoje é sábado. 
Há um renovar-se de esperanças 
Porque hoje é sábado. 
Há uma profunda discordância 
Porque hoje é sábado. 
Há um sedutor que tomba morto 
Porque hoje é sábado. 
Há um grande espírito de porco 
Porque hoje é sábado. 
Há uma mulher que vira homem 
Porque hoje é sábado. 
Há criancinhas que não comem 
Porque hoje é sábado. 
Há um piquenique de políticos 
Porque hoje é sábado. 
Há um grande acréscimo de sífilis 
Porque hoje é sábado. 
Há um ariano e uma mulata 
Porque hoje é sábado. 
Há uma tensão inusitada 
Porque hoje é sábado. 
Há adolescências seminuas 
Porque hoje é sábado. 
Há um vampiro pelas ruas 
Porque hoje é sábado. 
Há um grande aumento no consumo 
Porque hoje é sábado. 
Há um noivo louco de ciúmes 
Porque hoje é sábado. 
Há um garden-party na cadeia 
Porque hoje é sábado. 
Há uma impassível lua cheia 
Porque hoje é sábado. 
Há damas de todas as classes 
Porque hoje é sábado. 
Umas difíceis, outras fáceis 
Porque hoje é sábado. 
Há um beber e um dar sem conta 
Porque hoje é sábado.
Há uma infeliz que vai de tonta 
Porque hoje é sábado. 
Há um padre passeando à paisana 
Porque hoje é sábado. 
Há um frenesi de dar banana 
Porque hoje é sábado. 
Há a sensação angustiante 
Porque hoje é sábado. 
De uma mulher dentro de um homem 
Porque hoje é sábado. 
Há a comemoração fantástica 
Porque hoje é sábado. 
Da primeira cirurgia plástica 
Porque hoje é sábado. 
E dando os trâmites por findos 
Porque hoje é sábado. 
Há a perspectiva do domingo 
Porque hoje é sábado. 


III

Por todas essas razões deverias ter sido riscado do Livro das Origens, ó Sexto Dia da Criação. 
De fato, depois da Ouverture do Fiat e da divisão de luzes e trevas 
E depois, da separação das águas, e depois, da fecundação da terra 
E depois, da gênese dos peixes e das aves e dos animais da terra 
Melhor fora que o Senhor das Esferas tivesse descansado. 
Na verdade, o homem não era necessário 
Nem tu, mulher, ser vegetal, dona do abismo, que queres como as plantas, imovelmente e nunca saciada
Tu que carregas no meio de ti o vórtice supremo da paixão. 
Mal procedeu o Senhor em não descansar durante os dois últimos dias 
Trinta séculos lutou a humanidade pela semana inglesa 
Descansasse o Senhor e simplesmente não existiríamos 
Seríamos talvez pólos infinitamente pequenos de partículas cósmicas em queda invisível na terra. 
Não viveríamos da degola dos animais e da asfixia dos peixes 
Não seríamos paridos em dor nem suaríamos o pão nosso de cada dia 
Não sofreríamos males de amor nem desejaríamos a mulher do próximo 
Não teríamos escola, serviço militar, casamento civil, imposto sobre a renda e missa de sétimo dia, 
Seria a indizível beleza e harmonia do plano verde das terras e das águas em núpcias 
A paz e o poder maior das plantas e dos astros em colóquio 
A pureza maior do instinto dos peixes, das aves e dos animais em cópula. 
Ao revés, precisamos ser lógicos, freqüentemente dogmáticos 
Precisamos encarar o problema das colocações morais e estéticas 
Ser sociais, cultivar hábitos, rir sem vontade e até praticar amor sem vontade 
Tudo isso porque o Senhor cismou em não descansar no Sexto Dia e sim no Sétimo 
E para não ficar com as vastas mãos abanando 
Resolveu fazer o homem à sua imagem e semelhança 
Possivelmente, isto é, muito provavelmente 
Porque era sábado.

FONTE: VINICIUS DE MORAES

Vinicius de Moraes - O Dia da Criação

https://www.youtube.com/watch?v=zbtHw1cH98g

sexta-feira, maio 23, 2014

Servidores do IFSul/CAVG decidem, por aclamação, manter a greve da categoria









A ADUFPel acompanhou a Assembleia Geral convocada pelo Comando Local de Greve na manhã desta sexta feira (23)

Após uma série de informes sobre as tentativas de negociação com o governo e com base em uma avaliação de conjuntura, os servidores técnico-administrativos e docentes avaliaram o descaso do governo em relação às pautas da categoria. 
Nesta semana, o Sindicato Nacional dos Servidores Federais da Educação Básica, Profissional e Tecnológica (SINASEFE) foi recebido pelo governo onde foi informado que não há, por parte deste, qualquer aceno sobre as demandas da categoria. 
O mesmo se deu em reunião chamada com a Federação de Sindicatos de Trabalhadores Técnico-Administrativos em Instituições de Ensino Superior Públicas do Brasil (FASUBRA). 
A reunião com o ANDES-SN, em que o governo deveria apresentar propostas para a pauta da carreira docente, foi desmarcada na última hora. Por outro lado, na quinta-feira (22), o governo recebeu uma “outra entidade” que diz representar os trabalhadores da educação superior, com quem iniciou tratativas para o período 2016-2018. 
Os técnico-administrativos e docentes, reunidos no espaço do CTG do IFSul-CAVG, deliberaram pela manutenção da greve e a intensificação da mobilização com uma agenda de atividades para pressionar o governo a negociar com suas entidades representativas. A decisão se deu por aclamação.
Participaram da assembleia representantes da direção nacional do SINASEFE e da ADUFPel-SSind do ANDES-SN.
FONTE: PORTAL ADUFPel

quinta-feira, maio 22, 2014

Grupos que se manifestam contra a Copa explicam motivos dos protestos







Com um nome/sigla que fazia referência às mobilizações de indignados que começaram na Espanha 15 de maio de 2011, o ato “15M – Dia Internacional de Lutas Contra a Copa”, articulado pelo Comitê Popular da Copa (articulação horizontal e apartidária de movimentos sociais, organizações, coletivos e indivíduos) teve início, em São Paulo, às 17 horas da tarde de ontem, com a saída planejada para às 18 horas, da praça do Ciclista, na Av. Paulista, em direção ao Estádio do Pacaembu. Nas outras onze cidades brasileiras eleitas para sediar jogos da Copa, os coletivos locais ligados ao Comitê também realizaram diversas mobilizações.

“A gente tem um tipo de organização que não podemos chamar de trabalho de base, preferimos dizer que é uma construção coletiva”, define Vanessa Santos, integrante do Comitê em SP, ao discorrer sobre a articulação entre os inúmeros grupos que assinam o manifesto do 15M – “Copa sem povo: tô na rua de novo”. “Não sou eu quem tem que falar sobre moradia” exemplifica, “nós fazemos uma construção juntocom os movimentos de moradia, por exemplo”.

Pluralidade à esquerda
De fato, durante a concentração para o ato, era possível observar bandeiras e representantes de diversos movimentos de moradia, como o Movimento de Moradia na Região do Centro e a União de Movimentos de Moradia de SP; bem como a Escola de Samba Unidos da Lona Preta (do MST); e um punhado de organizações estudantis, tais como a ANEL, o Coletivo RUA, e muitos Centros Acadêmicos. Além disso, diversos indivíduos e coletivos autônomos, entre eles o Movimento Passe Livre e a Fanfarra do MAL.

Até mesmo os organizadores dos protestos que ficaram conhecidos como “Se não tiver direitos, não vai ter Copa” decidiram somar na mobilização do 15M. Para Rafael Padjal, que participou da construção destes atos, e também é membro do coletivo Território Livre, as mobilizações anteriores tinham, em sua maioria, pautas muito semelhantes a esta articulada pelo Comitê. “O Território Livre é o único que destoa, porque somos os únicos que pedimos o cancelamento da Copa — com a perspectiva de que seria uma demonstração de força do povo, e uma derrota para o governo”.

Rafael explica que a maioria das pautas defendidas pela frente “Não vai ter Copa” são vinculadas a direitos, como moradia, saúde, educação. “Essencialmente todos os grupos estão discutindo a mesma coisa, as diferenças são pequenas. O que separou estas duas frentes [do “Não vai ter Copa” e do Comitê] foi a vontade de ir para a rua antes, ou não; de acompanhar a juventude radicalizada que não saiu das ruas desde junho passado”, esclarece.

Para o jornalista e membro do coletivo Desentorpecendo a Razão, Pedro Nogueira, as diferenças são mais profundas: “o Comitê começa fazendo a pergunta certa: Copa para quem? Porque, na verdade, já não teve Copa, já vai ser uma Copa restrita, que não existe para a grande maioria dos brasileiros. O Comitê está junto dessas pessoas, dos removidos, junto com aqueles que estão sofrendo as maiores atrocidades por conta da Copa, e por isso conseguiu dialogar com muitos coletivos e movimentos autônomos, em uma demonstração de força do movimento popular”.

Recusa
Enquanto a noite caía e a concentração do ato atingiu seu ápice, com inúmeros grupos, palavras de ordem e baterias, parecia mesmo que a tônica e a força do 15M de fato eram a pluralidade de pautas e propostas poíticas – que se revelaram também extremamente populares; sempre à esquerda.

Neste momento, o filósofo Vladimir Safatle, que acompanhava tudo junto de grupos do PSOL (partido ao qual se filiou em setembro de 2013), comentou que a recusa da população à Copa é inacreditável: “a gente está há um mês da Copa e você não vê casa pintada, bandeira, essas coisas que você sempre via em todas as Copas, e esse ano a Copa é no Brasil, e você não vê. O povo brasileiro demonstrou uma consciência dos seus interesses absolutamente admirável.”

20 minutos
Já eram 19 horas quando o ato virou a esquina e começou a descer a Av. da Consolação e parou o tráfego desse lado da via, tocando e cantando animadamente sua recusa, contando com aproximadamente 7.000 pessoas, segundo os organizadores – ou 1.200, segundo a Polícia Militar de SP.

Menos de vinte minutos depois, três quadras abaixo pela Consolação, estouraram as primeiras bombas. A manifestação caminhava devagar, sem nem tempo de ser “violenta” ou “pacífica”, quando a Polícia tentou conter seu andamento, cercando-a pelas laterais, o que desencadeou um tumulto entre policiais e alguns manifestantes, seguido por forte repressão e correria.

Ao som das hélices de helicóptero, sob a fumaça das bombas de gases lacrimogênio e pimenta, os manifestantes tentaram retomar o ato, caminhando até a quadra seguinte, porém a repressão seguiu forte, provocando a dispersão quase completa do ato. Um grupo maior se deslocou para a Rua Augusta, e tentou subir de volta até a Paulista, onde foi recebido por mais viaturas e balas de borracha.

Um grupo menor tentou chegar até a Av. Pacaembu, seguindo o trajeto previsto originalmente, mas se dispersou no caminho. Grupos menores caminhavam a esmo na região do bairro da Bela Vista e da Praça Roosevelt, seguidos de perto por viaturas policiais. A Polícia Militar não informou o número de agentes participantes da ação.

Ao longe, ainda era possível ouvir o grito de ordem “não vai ter copa”. Enquanto isso, o Comitê Popular da Copa contabilizou ao menos 5 feridos por conta da repressão. Sete pessoas foram detidas para averiguação, ainda antes de o ato começar, e liberadas ao longo da noite. Em pouco tempo, já não havia mais nem sinal das viaturas e batalhões que tomaram as ruas. As pautas e a recusa, todavia, seguem as mesmas – assim como a sistemática falta de disposição ao diálogo por parte do Estado.

Ou ainda, nas palavras de Safatle, vinte minutos mais cedo: “Há um esgotamento da política, que se manifesta em várias coisas; quando a sociedade não consegue acreditar que o futuro vai ser melhor do que o presente, ela entra em um processo brutal de recusa, e a Copa apareceu como um sintoma muito forte deste processo. É preciso lembrar que desde 2011 estamos numa era de revolta, que não para mais. Essa pressão popular é fundamental, porque há uma tarefa atual: a tarefa de ultrapassarmos a democracia parlamentar, em direção à uma democracia real e direta. Como isso vai ser feito? É uma história que só começa a ser contada agora.”

FONTE: Beatriz Macruz e Caio Castor, especial para o Viomundo

domingo, maio 18, 2014

Suspeito de envolvimento na morte de Luana Pepe é preso

Ministério Público (MP) pediu a preventiva do suspeito com base em um laudo pericial
Dois anos e sete meses depois do assassinato da adolescente Luana Ferraz Pepe, de 14 anos, a Justiça de Pelotas decretou nesta segunda-feira (24) a prisão preventiva de um suposto envolvido no crime. Com base em um laudo pericial, o Ministério Público (MP) pediu a preventiva do suspeito, expedida pela 1ª Vara Criminal. L.C.P.S., 46 anos, foi detido às 17h30min na rua Voluntários da Pátria, centro da cidade. Ele nega envolvimento. Luana, segundo a perícia, teria sido estuprada e morta com golpes na cabeça.

Um segundo mandado também foi expedido nesta segunda, mas o suspeito não foi localizado. Representantes do MP e da polícia preferiram aguardar por mais detalhes para se manifestar sobre o suposto envolvimento dos suspeitos.

L.C.P.S. foi encaminhado ao Presídio Regional de Pelotas (PRP), conforme consta na ocorrência registrada na Delegacia de Polícia de Pronto Atendimento (DPPA).

Relembre
No dia 7 de maio de 2011, um sábado, Luana saiu de casa, na rua Ramiro Barcellos, bairro Areal, em direção à escola Monsenhor Queiroz - onde assistiria à palestra preparatória para uma Olimpíada de Astronomia. Desde então ela nunca mais foi vista. A menina passou dez dias desaparecida até seu corpo ter sido encontrado por guardadores de carro em um terreno baldio no final da rua Argolo - próximo à avenida Juscelino Kubitschek. Luana morreu em decorrência de traumatismo craniano.

FONTE: DIÁRIO POPULAR / Cíntia Piegas




Segundo o MP, Luana ficou em cárcere privado antes de morrer



Detalhes da investigação foram revelados durante coletiva à imprensa


Dois anos e dez meses depois do crime que chocou a cidade pela crueldade com que foi cometido, o caso Luana Pepe parece finalmente estar perto do fim. Em coletiva à imprensa concedida na manhã de terça-feira (25), representantes do Ministério Público (MP) e da Polícia Civil revelaram detalhes do inquérito que levou à prisão de dois suspeitos.

Um fio de cabelo da adolescente estuprada e morta foi encontrado na casa de L.C.P.S., 46 anos, e J.B.S., 38. O material levado à perícia, e comparado com o de um irmão da vítima, fez com que a Justiça determinasse a prisão preventiva da dupla - o que ocorreu segunda-feira. L.C.P.S. foi preso às 17h30min na rua Voluntários da Pátria, na área central; J.B.S., por volta das 19h30min, na Vila Castilho. Eles têm passagem pela polícia por pequenos furtos e, segundo a Promotoria, são usuários de crack. Embora neguem a autoria do crime, já estão no Presídio Regional de Pelotas (PRP). Para a Promotoria, pelo menos neste momento, o assassinato de Luana está elucidado.

Luana desapareceu de casa em uma manhã de sábado, 7 de maio de 2011. Seu corpo foi encontrado por dois guardadores de carro dez dias depois, em um terreno baldio no final da rua general Argolo, próximo à avenida Juscelino Kubitschek. Os mesmos guardadores são apontados como autores do crime.

A titular da Delegacia Regional da 18ª Região, Carla Kuhn, e o promotor José Olavo Passos disseram que a principal pista que levou às prisões foi o resultado dos exames de perícia. Depois de dois anos e dez meses, as provas apontaram que fios do cabelo encontrados na casa onde os dois moravam eram compatíveis com o do irmão da vítima (DNA mitocondrial). Em depoimento, ambos afirmaram nunca terem tido contato com Luana - o que foi entendido pela Promotoria como uma contradição que os colocou como os principais suspeitos.

Requintes de crueldade
Um detalhe chocante anunciado na coletiva foi de que a estudante, que tinha 14 anos na época do crime, teria sido mantida em cárcere privado e estuprada em uma casa durante uma semana. Depois de ser morta a golpes na cabeça, a menina foi jogada em um banhado, onde permaneceu por três a quatro dias. O estado de putrefação do cadáver prejudicou o trabalho de coleta de provas para investigação.

O caso, considerado bastante extenso, teve quatro linhas de investigação, nas quais vários suspeitos foram enumerados. O procedimento chegou até a Justiça e foi devolvido ao MP para nova análise. Durante duas semanas, o promotor Olavo Passos e sua equipe reviraram as páginas do inquérito produzido pela Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente (DPCA). Após descartar todas as hipóteses antes levantadas sobre diferentes possíveis autores - com direito até a suposto envolvimento de parentes de Luana - a Promotoria decidiu por concluir a investigação. "Esta é a hora de fazermos a denúncia", justificou o promotor.

De acordo com ele, o inquérito, composto de provas indiciárias (onde a soma de dados resulta na culpa dos suspeitos), será concluído apenas com a condenação dos suspeitos. “Se vão ser condenados, vai depender do Tribunal de Júri. Caso outros nomes apareçam nas investigações, vamos investigar”, admitiu Passos.

Na mesma proporção
O porta-voz da família Pepe quer que a justiça seja feita na mesma proporção do crime que tirou a vida de sua filha. Fernando Pepe disse à reportagem que nunca perdeu as esperanças de ver os culpados do assassinato de Luana presos. “Mas a justiça tem que ser bem feita. Não adianta condená-los a 30 anos e depois de cumprir dez serem liberados por bom comportamento.”

Fernando admite ter ficado abalado com a suspeita de Luana ter sido mantida em cárcere privado. Mas sua maior indignação - e diz acreditar que o tempo não irá apagar - é ter sido apontado como provável suspeito ainda no início das investigações. “Tive a minha imagem manchada. Fiquei um ano e meio sem conseguir emprego.” Atualmente ele trabalha como porteiro de um clube social. E, para suportar a dor da perda, diz que procura manter as boas lembranças que guarda da filha.

FONTE: DIÁRIO POPULAR / Igor de Campos com Cíntia Piegas

LEIA MAIS: 

18 de MAIO: "Caso Luana Pepe" Um Ano sem Solução


sexta-feira, maio 16, 2014

“O maior legado da Copa foi a especulação imobiliária”






O coordenador nacional do MTST, Guilherme Boulos, expõe as razões que levaram o movimento a tornar-se um dos protagonistas dos protestos contra o Mundial.

Desde o início das obras da Arena Corinthians, há três anos, os apartamentos no bairro de Itaquera, na zona leste de São Paulo, apresentaram uma valorização de 50%, segundo o índice Finpe/Zap. Entre 2008 e 2011, o aumento dos preços não passou de 10%. Não há como negar a relação entre o advento da estrutura para a Copa do Mundo na região e a disparada da especulação imobiliária. Nesse cenário, o Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST) tem assumido um protagonismo maior nos protestos contra o megaevento. Em 2 de junho, o grupo liderou a ocupação de um terreno em frente ao Parque do Carmo, em Itaquera, a quatro quilômetros do palco de abertura do Mundial. Mais de 2 mil famílias montaram barracões na chamada “Copa do Povo”. Na quinta-feira 8, o coletivo Resistência Urbana, capitaneado pelo MTST, organizou três frentes de protestos em São Paulo. Os alvos foram as sedes das construtoras OAS, Odebrecht e Andrade Gutierrez, responsáveis por erguer mais de metade das arenas para a Copa.

Nesta quinta-feira 15 o grupo volta às ruas para participar do Dia Internacional da Luta contra a Copa do Mundo. Articulada pelos Comitês Populares da Copa, a série de atos deve ocorrer em 50 cidades brasileiras e outras 15 no exterior. Embora crítico do processo de especulação imobiliária desencadeado pelas obras dos estádios, Guilherme Boulos, coordenador nacional do MTST, não encara o Mundial como o “cerne do problema”. Em entrevista a CartaCapital, o ativista descreve as tratativas para tornar o terreno ocupado em Itaquera uma Zona Especial de Interesse Social e seu encontro com Dilma Rousseff (PT) e Fernando Haddad (PT) na quinta-feira 8, após os protestos realizados em São Paulo, no qual foram abordadas a elaboração de uma nova lei do inquilinato e uma política federal de prevenção de despejos forçados.

CartaCapital: Como foi planejada a ocupação do terreno em frente ao Parque do Carmo, batizada de “Copa do Povo”?
Guilherme Boulos: A ocupação de Itaquera resultou do aumento da demanda por moradia na região. O MTST foi procurado por grupos de moradores e associações locais por conta do aumento no custo do aluguel, resultante da especulação imobiliária. A partir daí fizemos reuniões com as famílias e organizamos a ocupação. O nome foi aprovado em assembleia. Há uma indignação em relação as contradições proporcionadas pelos investimentos da Copa. Sabemos que este não é o cerne do problema. Temos uma crítica muito mais focada no pagamento da dívida pública aos rentistas internacionais, que consome muito mais dinheiro público do que a Copa. Mas há uma indignação popular.

CC: O MTST critica em especial a alta da especulação imobiliária em Itaquera. A Copa é o principal motivo para a elevação dos preços aluguéis e dos imóveis?
GB: A especulação imobiliária em São Paulo e nas grandes metrópoles do país foi violenta nos últimos anos. Isso foi resultado dos incentivos para o setor imobiliário e da construção, associados à facilitação do crédito para o consumo. A demanda aumentou e com isso os preços. O mercado passou a colonizar regiões que antes eram apenas periféricas. Com isso houve uma expulsão de moradores que dependem do aluguel para regiões mais distantes, a periferia da periferia. Não foi a Copa que causou este processo, mas ela agravou o problema. Os investimentos associados ao Mundial potencializaram a valorização imobiliária. Isso não é novidade. Onde há megaevento, há especulação imobiliária pesada. A Relatoria de Moradia da ONU demonstrou isso detalhadamente.

CC: Você foi à Câmara Municipal tentar convencer vereadores a assinarem uma emenda no Plano Diretor que inclua o terreno ocupado entre as chamadas Zonas Especiais de Interesse Social (ZEIS). Qual foi o resultado das negociações?
GB: Entendemos que o terreno da Ocupação Copa do Povo tem todas as condições de ser demarcado como ZEIS. É uma zona urbana, com infraestrutura, com alto déficit habitacional e não está na Área de Proteção Ambiental do Carmo. Ela está como Zona Especial de Desenvolvimento Econômico desde o último Plano Diretor. Conversamos com o relator Nabil Bonduki (PT) e os vereadores Paulo Fiorilo (PT) e Juliana Cardoso (PT), que são da região. Acreditamos que será possível reverter o zoneamento.

CC: A Viver incorporadora e construtora pediu a reintegração de posse...
GB: A Incorporadora pedir o despejo é algo esperado. Surpresa seria o contrário. O problema é o Judiciário deferir o pedido mesmo com todas as irregularidades que há na área.

CC: O prefeito Fernando Haddad mencionou que a área poderia se tornar uma ZEIS, caso a empresa tivesse dívidas com o município. A Viver, no entanto, garante que não há inadimplência nos impostos. Isso pode facilitar a reintegração de posse?
GB: De fato não há débito, diferente da informação inicial que tínhamos, mas o problema é muito pior. A área está classificada fraudulentamente como área rural e por isso não está sujeita a IPTU. Paga Imposto sobre a Propriedade Territorial. O valor anual é 57 reais! Por isso, não há débito. Temos desconfiança que esta manobra possa ter ligação com as práticas da máfia do ISS que atuou nos bastidores da Prefeitura em gestões anteriores. A área está marcada como industrial há 10 anos. Paga ITR por fraude. É sonegação evidente.

CC: Como foi o encontro com a presidenta Dilma Rousseff e Haddad?
GB: No encontro com a presidenta apresentamos nossa pauta, que não incluía apenas a desapropriação do terreno da ocupação Copa do Povo. Incluía centralmente nossas pautas nacionais, com destaque para a elaboração de uma nova lei do inquilinato, com controle social do reajuste do valor de aluguéis, e para uma política federal de prevenção de despejos forçados. A inclusão no Minha Casa, Minha Vida não basta. É preciso modificar pontos importantes do programa: revogar a Portaria 595 (segundo o MTST, a medida impede as prefeituras de indicar as demandas dos movimentos de moradia), fortalecer a modalidade do programa via entidades e acabar com o valor fixo de cada faixa, que induz a construção de conjuntos em regiões mais periféricas e com pior qualidade.

CC: Qual é a posição do MTST sobre a realização do Mundial?
Não achamos que a realização da Copa tenha trazido benefícios para os trabalhadores do país. O maior legado da Copa foi transferência de recursos para as grandes empreiteiras e especulação imobiliária urbana. Há contradições claras entre o discurso oficial e os fatos. Por isso o MTST tem se mobilizado em relação ao tema e lançou, junto com a Resistência Urbana, a campanha "Copa Sem Povo, Tô na Rua de Novo". No entanto, sabemos que a direita mais atrasada, que se alicerça na grande mídia, usa a Copa para fortalecer eleitoralmente os candidatos da oposição. O MTST não compartilha com isso e busca pautar suas ações numa perspectiva classista e combativa, que impeça a utilização oportunista de nossas lutas por estes setores. Embora o governo do PT esteja longe de ser hegemônico quanto aos interesses populares, Aécio [Neves-PSDB] e [Eduardo] Campos [PSB] representam um retrocesso. Ambos não têm pudor em recorrer ao discurso neoliberal fracassado para definir seus programas. Não nos representam. Estão do outro lado da trincheira.

CC: Os protestos contra as grandes construtoras na semana passada estavam previstos para serem realizados simultaneamente à ocupação do terreno em Itaquera?
GB: As ações da Resistência Urbana já estavam previstas desde o início do ano, com o lançamento da Campanha “Copa Sem Povo, tô na rua de novo”. Ocupamos as grandes construtoras para apontar os maiores responsáveis pela especulação imobiliária e pela apropriação privada de recursos públicos. As grandes empreiteiras são um câncer nacional. Precisam ser denunciadas por seu patrimonialismo, superexploração de trabalhadores e captura do Estado pelos interesses privados.

CC: O MTST participará também do ato de 15 de maio, o chamado Dia Internacional de Lutas contra a Copa?
GB: O MTST estará nas lutas do dia 15, realizando uma série de mobilizações entorno da pauta da Campanha Copa Sem povo. Não só no dia 15, mas também no 22 e outras datas de luta até a Copa.

FONTE: CARTA CAPITAL / Miguel Martins

Kroton e Anhanguera recebem sinal verde para criar grupo de R$ 22 bi







Kroton e Anhanguera recebem sinal verde para criar grupo de R$ 22 bi

Cade fez restrições à negociação entre as empresas de educação

As empresas de educação Kroton e Anhanguera receberam aprovação governamental nesta quarta-feira para criarem uma gigante com valor de mercado de R$ 22 bilhões e um conjunto de mais de 1 milhão de alunos no país. A aprovação partiu do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), que condicionou aval à operação anunciada em abril do ano passado ao cumprimento de obrigações que não terão impacto relevante no grupo combinado, disseram executivos de ambas as empresas.

Apesar de o negócio envolver a união das duas maiores empresas de capital aberto do setor de educação do país, o presidente da Kroton, Rodrigo Galindo, afirmou que os remédios aprovados pelo Cade para autorizar a fusão terão impacto de apenas 5% a 6% na receita líquida do grupo combinado.

Além disso, as restrições não terão impacto na previsão de sinergias de R$ 300 milhões, que seguem mantidas, disse Galindo.

A fusão dos dois grupos acelerou uma onda de consolidação no setor de ensino brasileiro, que tem recebido fortes incentivos governamentais nos últimos anos na forma de programas como o Fundo de Financiamento Estudantil (Fies).

A onda de aquisições incluiu a compra da paulista Uniseb pela fluminense Estácio por 615 milhões de reais. O negócio, anunciado em setembro passado, também foi aprovado com restrições pelo Cade nesta quarta-feira.

Bastante prazo
As medidas foram aprovadas após meses de negociações entre o Cade e as empresas e têm como destaque a venda de uma base de alunos de ensino à distância (EAD) de 74 mil estudantes, reunidos na operação da catarinense Uniasselvi, comprada pela Kroton em 2012 por R$ 510 milhões.

Além dessa venda, as empresas terão que limitar a captação de alunos em alguns cursos de EAD em 48 cidades até 2017. A própria venda das operações de EAD da Uniasselvi pode representar oportunidade para as empresas.

— O Cade deu prazo bastante razoável para construirmos um processo de alienação que agregue valor para a companhia — disse Galindo, afirmando que o prazo aprovado pelo Cade é confidencial.

Segundo o executivo, a Kroton já recebeu “várias sondagens” de potenciais interessados nos ativos da Uniasselvi e o processo de venda deve ser “competitivo”. Ele evitou fazer projeções para o grupo combinado após 2017, mas afirmou que a companhia chegou a fazer estudos de internacionalização pós-fusão.

Apesar dos estudos, o grupo vai preferir continuar focando no Brasil no curto prazo, cuja taxa de penetração de estudantes de 18 a 24 anos no ensino superior é de 17 por cento ante meta de 33 por cento definida pelo governo federal.

— Tem muito espaço ainda no Brasil. Obviamente, pelo porte da operação, em algum momento pode vir a fazer sentido a internacionalização, mas não no curto prazo — disse Galindo.

As incertezas sobre a manutenção dos programas federais de apoio à educação em caso de mudança de governo após as eleições de outubro não preocupam a companhia.

— A meta do governo é 33%. Ainda tem espaço de décadas para atingir patamares de países desenvolvidos (...) Todos os sinais do governo dizem que são políticas de Estado e não de governo.

Valorização de até 40%
Desde o anúncio da fusão das empresas, as ações da Kroton tiveram valorização de 26%, enquanto os papéis da Anhanguera avançaram 40%. Atualmente, a Kroton tem valor de mercado de R$ 15 bilhões, enquanto a Anhanguera vale R$ 7 bilhões.

A Kroton está mais concentrada em ensino superior no Mato Grosso, Minas Gerais, Bahia, Santa Catarina e Paraná, enquanto a Anhanguera está presente em São Paulo, Mato Grosso do Sul, Goiás, Santa Catarina e Rio Grande do Sul.
A implementação de remédios na operação já era esperada pelas companhias e pelos agentes do mercado. Em dezembro passado, a Superintendência Geral do Cade chegou a dizer que a fusão representava riscos de concentração nas áreas de ensino presencial e EAD no Brasil, com “séria potencialidade de efeitos anticompetitivos em diversos mercados”.

Apesar desse posicionamento, os remédios aplicados pelo Cade ficaram concentrados sobre as operações de ensino a distância de ambos os grupos. Sobre esta área, ficou definido que os grupos terão que atingir um nível combinado de 80% de professores com mestrado e doutorado.

Segundo a relatora do caso no Cade, Ana Frazão, os cursos de EAD de ambas as empresas terão de alcançar o percentual de 80% até 2017.

— As empresas também terão de notificar ao Cade qualquer aquisição que façam no mercado de ensino à distância — disse Frazão a jornalistas.

Porém, essa exigência não deve trazer impactos relevantes para a companhia combinada, disse Galindo.

— São poucos professores para muitos alunos, do ponto de vista de custo, não é impactante.

FONTE: O GLOBO