Valoriza herói, todo sangue derramado afrotupy!

quarta-feira, abril 30, 2014

Servidores deflagram greve no CAVG e alunos protestam







Participaram da assembleia representantes do Sindicato Nacional dos Servidores Federais da Educação Básica

A dez semanas do fim do ano letivo, professores e servidores do Campus Pelotas-Visconde da Graça (CAVG) deflagraram greve na instituição a partir da próxima sexta-feira. Com o feriado nacional de quinta-feira, os alunos terão aula somente até amanhã. A assembleia foi realizada no início da tarde de ontem. Ao fim do dia, diante do resultado, estudantes organizaram um protesto. O trânsito para entrada e saída de veículos no Campus foi bloqueado em alguns momentos.
Participaram da assembleia representantes do Sindicato Nacional dos Servidores Federais da Educação Básica, Profissional e Tecnológica (Sinasefe), do Sindicato dos Servidores da Universidade Federal de Pelotas (Asufpel) e da Associação dos Docentes da Universidade Federal de Pelotas (Adufpel). A pauta é ampla, mas entre os motivos da paralisação estão melhorias na qualidade dos serviços, questões ligadas a aumento salarial, Previdência Complementar (Funpresp), entre outras.
Manifestação
Aos gritos de “não à greve”, um grupo de estudantes se reuniu em protesto na entrada principal do Campus. Aluna do curso Técnico em Meio Ambiente, Josiele Rodrigues diz que a turma compreende a situação dos docentes e acha justo que busquem seus direitos, porém, esta seria a terceira greve em quatro anos. Com isso, o tempo de permanência na instituição para quem se formaria dentro de três anos aumentaria para quatro anos e meio. “Todos os estudantes estão sendo muito prejudicados.”
A coordenadora do Sinasefe em Pelotas, Maria Lúcia Monteiro, considera importante a participação dos jovens de alguma forma. Quanto ao prejuízo, ela considera questionável. “O projeto do governo federal é de precarização, então estamos lutando por toda a instituição.”
Na tentativa de que seja realizada nova assembleia, uma mobilização dos alunos está prevista para ocorrer na manhã de hoje. O instituto possui em torno de 1.040 estudantes e cerca de 120 professores. Com a deflagração, o Sinasefe se une ao movimento nacional de greve.
FONTE: DIÁRIO POPULAR / Diego Queijo

terça-feira, abril 29, 2014

Chegaremos a ser humanos?











Não creio que a melhor saída seja se fotografar com bananas, aludindo que "somos todos macacos". Não o somos

O racismo é uma coisa brutal. Alguém é considerado inferior apenas por conta da intensidade de sua melanina. O racismo não é algo natural. É coisa construída, em nome da necessidade de poder.  Na Europa, o racismo se consolida com as grande invasões do 400, quando portugueses e espanhóis singram os mares em campanhas de conquista, depois seguidos por outros povos da região. Assim, eles invadem a China, o Japão, a Índia,  Abya Yala, a África inteira... Discriminam os amarelos, os azuis, os vermelhos, os negros. Chamam de seres inferiores, simplesmente porque não são como eles. Com isso, justificam a dominação, a escravidão, o extermínio. Visão grega de mundo, na qual só o igual é ser. Os demais são não-seres. Portanto, passíveis de destruição. Toda a cultura e história milenar desses povos dominados são ignoradas.

O tempo passa, o colonialismo daquele então se acaba, mas as marcas e a herança maldita seguem vivas. Hoje, na Europa, depois de terem destruído a vida de milhões e milhões de pessoas, com a invasão e o massacre, as gentes ainda são capazes de discriminar africanos, asiáticos, árabes e latinos, apenas porque eles são quem são. Nada mais. Essa gente sequer se dá conta de que seus países são responsáveis por toda a pobreza e miséria na qual vivem esses povos, na periferia do sistema capitalista. Ainda assim, rechaçam, matam, humilha, violentam, massacram. No Brasil não é diferente. O ódio contra índios e negros, que teve sua origem na invasão portuguesa, segue com a mesma força. E isso se vê todos os dias, em pequenos gestos, comentários racistas, atitudes discriminatórias.

Agora,  vejo um campanha iniciada pelo jogador Neymar, que alude ao gesto de um outro jogador brasileiro - vítima de racismo - que resolveu agir sem alarde diante de uma banana jogada a seus pés, comendo-a, como a dizer: fodam-se, racistas! O ato do jogador, nem discuto. Como branca, é incognoscível para mim saber o que pode ter sentido esse rapaz, assim como tantos outros negros submetidos a momentos de humilhação, sistemáticos, constantes, dia após dia. Talvez tenha sido um esgotamento, um ódio surdo. Não sei.

O que me causa espécie é a atitude de tantos outros brasileiros, na tentativa de se solidarizar com o atleta que hoje vive na Espanha, possivelmente por estar submetido - sem chances de escapar - a essa forma de escravidão moderna que é o futebol. Não creio que a melhor saída seja se fotografar com bananas, aludindo que "somos todos macacos". Não o somos. Nem nós, os brancos, nem eles, os negros. Somos de uma triste espécie, frágil e fraca, chamada humana. Uma espécie que só conseguiu sobreviver até agora porque há uma parte de seus indivíduos que coopera e se solidariza no processo de construção da vida. Uma parte que consegue manter o equilíbrio apesar de outra parte insistir na destruição e no egoísmo.

Fico aqui, agora, depois de ler, entristecida, uma matéria sobre um povo negro, do Quilombo São Roque, que teve de jogar fora centenas de quilos de semente, porque está proibidos de plantar em sua própria terra ancestral. Condenados á miséria, ao abandono. Não são macacos, são humanos. Vejo também, no facebook, os cartazes distribuídos em algum lugar desse nosso triste Brasil que dizem que os índios são "atrapalhos" ao progresso, incitando assim o ódio e a violência contra os parentes de todas as etnias. E os índios tampouco são macacos. São humanos.

Então me dá um cansaço, um esgotamento, um ódio. E me deixo ficar na impotência. Não há o que dizer para quem não quer escutar. A solidariedade ao povo negros, aos índios, aos que nos aparecem como diferente não precisa de fotos no facebook. Precisa de ações concretas, na vida cotidiana.

Nietzsche, ao criticar o mundo moderno, dizia que somos humanos, demasiado humanos... Mas não sei, se um dia chegaremos como raça a cumprir esse designa!

FONTE: BRASIL DE FATO / Elaine Tavares

quinta-feira, abril 17, 2014

A Carta de Despedida de Gabriel García Márquez











A través del portal internacional español, Telemadrid, se conoció que el reconocido escritor colombiano, Gabriel García Márquez, difundido a través de Internet una carta de despedida a sus amigos.

El nobel escritor colombiano, autor de una larga lista de obras entre ellas “Cien años de Soledad”, fue famoso tanto por su genio como escritor así como por su postura política.

En 1999 le fue diagnosticado un cáncer linfático.

A principios de julio de 2012, por comentarios de su hermano Jaime, se rumoró que el escritor padecía de demencia senil, pero un vídeo donde celebra su cumpleaños en marzo de 2012 sirvió para desmentir el asunto.


La semana pasada Márquez fue internado en un hospital de México a causa de un problema respiratorio.

Esta es la carta que Marcía Márquez difundida por Telemadrid:

“Si por un instante Dios se olvidara de que soy una marioneta de trapo y me regalara un trozo de vida, aprovecharía ese tiempo lo más que pudiera.

Posiblemente no diría todo lo que pienso, pero en definitiva pensaría todo lo que digo.

Daría valor a las cosas, no por lo que valen, sino por lo que significan.

Dormiría poco, soñaría más, entiendo que por cada minuto que cerramos los ojos, perdemos sesenta segundos de luz.

Andaría cuando los demás se detienen, despertaría cuando los demás duermen.

Si Dios me obsequiara un trozo de vida, vestiría sencillo, me tiraría de bruces al sol, dejando descubierto, no solamente mi cuerpo, sino mi alma.

A los hombres les probaría cuan equivocados están al pensar que dejan de enamorarse cuando envejecen, sin saber que envejecen cuando dejan de enamorarse.

A un niño le daría alas, pero le dejaría que el solo aprendiese a volar.

A los viejos les enseñaría que la muerte no llega con la vejez, sino con el olvido.

Tantas cosas he aprendido de ustedes, los hombres… He aprendido que todo el mundo quiere vivir en la cima de la montaña, sin saber que la verdadera felicidad está en la forma de subir la escarpada.

He aprendido que cuando un recién nacido aprieta con su pequeño puño, por primera vez, el dedo de su padre, lo tiene atrapado por siempre.

He aprendido que un hombre sólo tiene derecho a mirar a otro hacia abajo, cuando ha de ayudarle a levantarse.

Son tantas cosas las que he podido aprender de ustedes, pero realmente de mucho no habrá de servir, porque cuando me guarden dentro de esa maleta, infelizmente me estaré muriendo.

Trata de decir siempre lo que sientes y haz siempre lo que piensas en lo más profundo de tu corazón.

Si supiera que hoy fuera la última vez que te voy a ver dormir, te abrazaría fuertemente y rezaría al Señor para poder ser el guardián de tu alma.

Si supiera que estos son los últimos minutos que te veo, te diría “Te Quiero” y no asumiría, tontamente, que ya lo sabes.

Siempre hay un mañana y la vida nos da siempre otra oportunidad para hacer las cosas bien, pero por si me equivoco y hoy es todo lo que nos queda, me gustaría decirte cuanto te quiero, que nunca te olvidaré.

El mañana no lo está asegurado a nadie, joven o viejo. Hoy puede ser la última vez que veas a los que amas. Por eso no esperes más, hazlo hoy, ya que si mañana nunca llega, seguramente lamentaras el día que no tomaste tiempo para una sonrisa, un abrazo un beso y que estuviste muy ocupado para concederles un último deseo.

Mantén a los que amas cerca de ti, diles al oído lo mucho que los necesitas quiérelos y trátalos bien, toma tiempo para decirles, “lo siento” “perdóname”, “por favor”, “gracias” y todas las palabras de amor que conoces.

Nadie te recordará por tus nobles pensamientos secretos. Pide al Señor la fuerza y sabiduría para expresarlos.

Finalmente, demuestra a tus amigos y seres queridos cuanto te importan”.


FONTE: PARTIDO COMUNISTA COLOMBIANO

Gabriel Garcia Marques,morre em sua casa na Cidade do México












Ganhador do Prêmio Nobel, escritor morreu nesta quinta-feira (17), em sua casa na Cidade do México

O escritor Gabriel García Marquez morreu aos 87 anos de idade nesta quinta-feira em sua casa na Cidade do México, segundo membros da família disseram à imprensa colombiana.

Ganhador do prêmio Nobel de Literatura, ele foi um dos escritores mais famosos da América Latina e uma de suas principais obras, "Cem Anos de Solidão", o tornou famoso mundialmente.

García Márquez nasceu em Aracataca, na Colômbia, em 6 de março de 1928. Ele passou a infância sob os cuidados dos avós maternos, o coronel Nicolás Ricardo Márquez Mejía, veterano da guerra dos Mil Dias, da Colômbia, e Tranquilina Iguarán.

O escritor sempre disse que a semente de seu estilo e de sua imaginação está nesta parte de sua vida, no casarão onde sua avó contava histórias de fantasmas e presenças como se fossem a coisa mais normal do mundo.
Anos depois, García Marquéz diria que esta forma de contar histórias fantásticas é a mesma que ele iria usar em livros como "Cem Anos de Solidão".

O avô Nicolás Ricardo morreu quando "Gabito", como os amigos o chamavam, tinha 8 anos. O menino então voltou a morar com os pais, que eram praticamente desconhecidos para a criança, na cidade de Sucre, ao lado dos outros irmãos.

Este fato marcou o fim da infância do escritor que, em suas recordações, afirma que não prestou atenção em mais nada a partir daí. "Desde então, nada interessante me aconteceu", disse.

Estudos
Aos 12 anos, García Márquez ganhou uma bolsa de estudos para um internato em Zipaquirá, cidade perto de Bogotá que muitos reconhecem nas descrições do povoado lúgubre e remoto onde o personagem Aureliano Segundo vai buscar Fernanda del Carpio no livro "Cem Anos de Solidão".

Os anos no internato foram decisivos para a formação do escritor, que passava as tardes de sábado e domingo devorando obras de Julio Verne e Alexandre Dumas.

Em 1947 García Márquez começou a estudar direito na Universidade Nacional de Bogotá, mas nunca seguiu esta carreira. Neste mesmo ano, ele publicou no jornal "El Espectador" seu primeiro conto, "La Tercera Resignación". No ano seguinte ele começou a trabalhar como repórter no jornal "El Universal", de Cartagena, continuou escrevendo contos para "El Espectador".

Em 1950, García Márquez conheceu em Barranquilla um grupo de jovens intelectuais formado por Álvaro Cepeda Samudio, Alfonso Fuenmayor e Germán Vargas. Estes o apresentaram a Ramón Vinyes, chamado na época de o "sábio catalão". Todos eles apareceriam nos últimos capítulos de "Cem Anos de Solidão".

A influência deste grupo seria grande. Eles foram os melhores amigos do escritor e conseguiram para ele um emprego no jornal "El Heraldo" de Barranquilla e introduziram em sua vida o melhor da literatura moderna com autores como Faulkner, Hemingway, Joyce, Kafka e Virginia Woolf.

Em 1951 García Márquez já havia escrito seu primeiro romance, "La Hojarasca", que só foi publicado anos mais tarde.

Jornalista
Em 1954 García Márquez volta a Bogotá para trabalhar em tempo integral no "El Espectador", onde escreveu reportagens que o transformaram em um dos jornalistas mais famosos da Colômbia. No ano seguinte, foi para Genebra, como enviado do jornal para uma conferência. O que era para ser uma viagem curta, durou quatro anos.

A ditatura de Gustavo Rojas Pinilla fechou o jornal e García Márquez, que estava em Paris, decidiu investir o dinheiro da passagem de volta em sua estadia na Europa e na finalização do livro "Ninguém Escreve ao Coronel".
Neste período também escreveu "Os Funerais da Mamãe Grande" e outros contos. Em uma de suas visita à Colômbia, em 1958, se casou com Mercedes Barcha.

Em Havana e no México
As viagens de García Márquez levaram o escritor a vários lugares da América Latina e Caribe, entre eles, Havana, em Cuba onde, em 1960, trabalhou na agência de notícias criada pelo governo cubano, Prensa Latina, depois da Revolução.

Nesta ocasião começou seu interesse pela ilha e sua amizade com Fidel Castro. O escritor também trabalhou em Caracas e Nova York até chegar à Cidade do México, exatamente no dia em outro escritor e um de seus mestres, Ernest Hemingway, morreu.

Na capital mexicana trabalhou como roteirista de cinema, editor, publicitário e jornalista. E foi na Cidade do México que ele escreveu "Cem Anos de Solidão".
A forma como García Márquez escreveu seu livro mais famoso já entrou para a mitologia literária da América Latina.

"Há muito tempo me atormentava a ideia de um romance desmedido, não apenas diferente de tudo que escrevi antes, mas também de tudo que havia lido. Era uma espécie de terror sem origem."

"(...) No começo de 1965, ia com Mercedes e meus dois filhos para um fim de semana em Acapulco quando me senti fulminado por um cataclisma da alma (....).

"Não tive um minuto de sossego na praia. Na terça-feira, quando voltamos ao México, me sentei na máquina para escrever uma frase inicial que não podia suportar dentro de mim: 'Muitos anos depois, em frente ao pelotão de fuzilamento, o coronel Aureliano Buendía se lembraria daquela tarde remota em que seu pai o levou para conhecer o gelo'."

"Desde então não parei um dia, em uma espécie de sonho demolidor, até a linha final (...)", acrescentou o escritor.

"Cem Anos de Solidão" mudou a vida de García Márquez. O estilo avassalador e luminoso do livro e suas histórias delirantes conquistaram leitores do mundo todo.

E o livro ainda faz sucesso. A estimativa é que tenha vendido mais de 30 milhões de exemplares no mundo todo desde sua publicação em junho de 1967.

O outono
Instalado em Barcelona, na Espanha, García Márquez começou a escrever o romance "O Outono do Patriarca", o relato sobre um ditador da América Latina, um livro publicado em 1975 e que confirmou a força literária do escritor colombiano.

O livro, segundo o escritor, mostra o homem em que Aureliano Buendía teria se transformado se tivesse chegado ao poder.

Antes porém publicou vários contos. Neste período também ocorreu a maior divisão política entre os integrantes do "boom" da literatura da América Latina. Em 1971 ocorreu a detenção e depois a confissão pública de culpa em Cuba do poeta Heberto Padilla, algo que lembrou a muitos os julgamentos stalinistas.

Enquanto escritórios como Mario Vargas Llosa (de forma pública e furiosa) e Carlos Fuentes (de forma mais discreta) se distanciaram do regime cubano, García Márquez continuou apoiando o governo da ilha junto com Julio Cortázar.
A década de 1970 foi o período de maior atividade política do escritor, quando ele anunciou que não voltaria a publicar obras de ficção até que Augusto Pinochet deixasse o poder no Chile. Ele também se dedicou a escrever artigos jornalísticos.

Para sorte dos leitores e fãs, García Márquez rompeu a promessa em 1981, quando publicou um livro curto, denso e magnífico, "Crônica de uma Morte Anunciada".

No ano seguinte, ele recebe o prêmio Nobel de literatura.

Etapa final
Depois do prêmio, García Márquez escreveu outros três livros: "O Amor nos Tempos do Cólera", "O General em Seu Labirinto" (sobre os últimos dias de Simón Bolívar), "Do Amor e Outros Demônios" e "Memórias de Minhas Putas Tristes", de 2004, sua última obra de ficção.

Também publicou o livro de relatos "Doces Contos Peregrinos", uma grande reportagem, "Notícia de um Sequestro", e suas memórias, "Viver para Contar", em 2002.

Em 1999 foi diagnosticado com câncer linfático. Apesar do tratamento bem-sucedido, o escritor diminuiu suas aparições públicas, que ficaram ainda mais raras nos últimos anos de vida.

Além de sua reclusão, outro assunto comentado foi sua perda de memória, algo confirmado por um de seus irmãos. A cada dia 6 de março, dia de seu aniversário, García Márquez ia até a porta de sua casa na Cidade do México para cumprimentar os jornalistas que se acotovelavam no local.

Agora, Gabriel García Márquez pertence à história. Ele mesmo costumava dizer, e seus amigos confirmavam: no fundo da alma, ele nunca desejou ser o filho do telegrafista de Aracataca.

Os que tiveram a chance de conhecer o escritor pessoalmente perceberam que, atrás da pessoa pública e do amigo de estadistas, se escondia um homem terno e quase tímido.

Por isso e também por todos seus livros, ele era amado pelos amigos e por milhões de pessoas no mundo todo. E, muitos anos depois de ter escrito seu último livro, García Márquez continua sendo amado.

FONTE: Ultimo Segundo.ig


Gabo por José Saramago:
Os escritores dividem-se (imaginando que aceitem ser assim divididos…) em dois grupos: o mais reduzido, daqueles que foram capazes de rasgar à literatura novos caminhos, o mais numeroso, o dos que vão atrás e se servem desses caminhos para a sua própria viagem. 
É assim desde o princípio do planeta e a (legítima?) vaidade dos autores nada pode contra as claridades da evidência. 
Gabriel García Márquez usou o seu engenho para abrir e consolidar a estrada do depois mal chamado “realismo mágico” por onde logo avançaram multidões de seguidores e, como sempre acontece, os detractores de turno. 
O primeiro livro seu que me veio às mãos foi Cem Anos de Solidão e o choque que me causou foi tal que tive de parar de ler ao fim de cinquenta páginas.
Necessitava pôr alguma ordem na cabeça, alguma disciplina no coração, e, sobretudo, aprender a manejar a bússola com que tinha a esperança de orientar-me nas veredas do mundo novo que se apresentava aos meus olhos.
Na minha vida de leitor foram pouquíssimas as ocasiões em que uma experiência como esta se produziu. Se a palavra traumatismo pudesse ter um significado positivo, de bom grado a aplicaria ao caso. Mas, já que foi escrita, aí a deixo ficar. Espero que se entenda.

Stédile do MST do Brasil: “O neodesenvolvimentismo chegou ao limite”












Segundo a liderança mais expressiva do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra do Brasil, o economista João Pedro Stédile, o programa do governo de conciliação de classes "bateu no teto". 

"A reforma agrária fixa o homem no campo e desfaveliza o país." É a ideia central, hoje, do discurso que, com perseverança, põe em prática há 35 anos, o fundador e uma das lideranças mais expressivas do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), o economista gaúcho João Pedro Stédile, de 61 anos.

Carismático, um dos pensadores de raiz marxista e dos ativistas de esquerda mais importantes do país, Stédile não hesita em dizer: "Perdeu-se a oportunidade histórica de fazer a chamada reforma agrária clássica no Brasil." Para ele, o importante agora é a luta resultante da aliança entre os trabalhadores do campo e os da cidade - os que farão a reforma agrária popular. E acrescenta: "A cidade grande é o inferno em vida para o camponês, pois sobra para ele a favela e a superexploração."
Segundo João Pedro Stédile, o programa do governo de conciliação de classes "bateu no teto”.

Gaúcho nascido na cidade de Lagoa Vermelha, região de agropecuária do nordeste do Rio Grande do Sul, nesta entrevista exclusiva à Carta Maior João Pedro relembra três datas seminais do MST, 17 de abril: o Dia Nacional da Luta pela Reforma Agrária, o Dia Mundial da Luta Campesina e os 18 anos do Massacre de Eldorado dos Carajás, no sul do Pará, quando 1500 trabalhadores rurais foram brutalmente agredidos pela Polícia Militar do estado e 18 trabalhadores foram por ela assassinados. Privatizações de terras, de acesso aos minérios – do subsolo do país -, de águas, fontes naturais, lençóis freáticos, e até do ar da Amazónia estão na pauta da nossa conversa assim como o tema do agronegócio: "A media é a arma para protegê-lo e aos seus lucros," lembra o líder do MST.

Carta Maior: Quais as mudanças nas ações do MST a partir deste ano?
Stédile: A reflexão coletiva no MST e na Via Campesina Brasil é a de que, no passado, estava posto um programa de reforma agrária que visava resolver o problema de terra de trabalho, e ao mesmo tempo desenvolver as forças produtivas, o mercado interno para a indústria nacional e assim participava do processo de desenvolvimento nacional.

E a reforma agrária clássica ficou nas calendas
Esse tipo de reforma agrária ficou conhecido como reforma agrária clássica. Ele se realizava quando havia condições de uma aliança tácita entre os camponeses que precisavam de terra e a burguesia industrial, que precisava de mercado interno. No Brasil, chegámos mais próximo dessa possibilidade na crise da década de 60 quando o governo Goulart apresentou um projeto de reforma agrária clássica, que era também revolucionário para a época. Ele apresentou o projeto dia 13 de março e caiu dia 1 de abril. Mais tarde, esse programa poderia ainda ter sido implementado na redemocratização do país, no governo Tancredo, quando José Gomes da Silva, o nosso maior especialista em reforma agrária clássica foi presidente do Incra. Ele preparou um plano que previa assentar 1,4 milhões de famílias em quatro anos. Apresentou ao Sarney dia 4 de outubro e caiu dia 13 de outubro de 85. Quando Lula chegou ao governo também imaginávamos que esse programa poderia ser retomado. Mas aí o contexto económico e político já era outro. E a reforma agrária clássica ficou nas calendas.

CM: A reforma agrária clássica, então, não tem mais sentido aqui no Brasil? E o que é projetado no lugar dela para que se cumpra, enfim, a justiça social e económica no campo?

Como eu disse: a reforma agrária clássica visava resolver a questão do trabalho no campo e o desenvolvimento industrial com mercado interno. Nos tempos atuais, o que hegemoniza o capitalismo é o capital financeiro e as empresas transnacionais que controlam o mercado mundial de alimentos. Para essa classe dominante não interessa mais reforma agrária, de nenhum tipo, pois eles não precisam de mercado interno, nem de camponeses, nem de indústria nacional. E por isso estão implementando um novo modelo de controle da produção agrícola pelo capital, que é o agronegócio.

Não interessa mais reforma agrária clássica para a classe dominante atual. E ela está inviabilizada para os camponeses. Então, nós temos levantado a tese da necessidade de lutar por um novo tipo de reforma agrária que chamamos de reforma agrária popular.

O agronegócio representa os interesses apenas dos grandes proprietários de terra, do capital financeiro e das empresas transnacionais. Um modelo baseado na monocultura, em que cada fazenda se especializa num só produto como soja, cana, pastagens ou eucalipto. (No Brasil de agora, 80% de todas as terras se dedicam apenas a esses cinco cultivos.) Em lugar de usar mão-de-obra eles fazem uso intensivo de máquinas agrícolas e de venenos, ambos controlados pelas empresas transnacionais. Destroem o meio ambiente, pois o único objetivo é o lucro máximo. E estão completamente dependentes do capital financeiro, que adianta o crédito para que comprem os matérias-primas das empresas transnacionais - e assim se fecha o ciclo.

Meia dúzia de empresas fica com o lucro, e o povo fica desempregado e com passivo ambiental, que já está afetando o clima até nas cidades. Por isso, não interessa mais reforma agrária clássica para a classe dominante atual. E ela está inviabilizada para os camponeses. Então, nós temos levantado a tese da necessidade de lutar por um novo tipo de reforma agrária que chamamos de reforma agrária popular.

CM: O que você chama de "reforma agrária popular"?
Diante dessa nova realidade agrária, com o domínio do capital internacional e financeiro, fizemos um intenso debate dentro do MST que envolveu toda nossa militância, nossa base, intelectuais e professores, amigos, durante dois anos. E terminamos com a realização do evento do VI Congresso Nacional há menos de dois meses, em fevereiro deste ano onde aprovamos essa formulação da necessidade de uma reforma agrária popular.

Reforma agrária popular porque agora ela precisa atender não só as necessidades dos camponeses sem terra, que precisam trabalhar. Mas as necessidades de todo o povo. E o povo precisa de alimentos, alimentos sadios, sem venenos, precisa de emprego, precisa de desenvolvimento da agroindústria, precisa de educação e cultura. Então, o nosso programa de reforma agrária de novo tipo, parte da necessidade de democratização da propriedade da terra, fixando limites, e propõe a reorganização da produção agrícola, priorizando a produção de alimentos sem venenos. Para isso precisamos adotar e universalizar uma nova matriz tecnológica que é a agroecologia. E foi isso que pedimos ao Silvio Tendler para mostrar em seu novo documentário, O veneno está na mesa 2.

Como é possível e necessária a matriz da agroecologia para produzir alimentos sadios que beneficiam toda a população e evitam as enfermidades, sobretudo o câncer, provocado pelos alimentos contaminados por agrotóxicos. O Instituto Nacional do Câncer advertiu que, neste ano de 2014 teremos 526 mil novos casos de cancro entre os brasileiros. A maior parte deles de mama e de próstata. Precisamos uma reforma agrária que valorize a vida no interior, gerando emprego para jovens. E para isso propomos a implantação de milhares de pequenas agroindústrias na forma de cooperativas que vão dar emprego a milhões de jovens que precisam estudar. Propomos a democratização da educação para que todos tenham os mesmos direitos e oportunidades sem sair do meio rural.

CM: Você tem denunciado que nesse modelo do agronegócio privatiza-se até o ar. Como é isso?
De facto, entre as características desse novo modelo do capital, é que este, agora mais poderoso, pois é dominado pelo capital financeiro e pelas empresas transnacionais, quando chega à agricultura, e procura se apropriar de todos os recursos naturais para tirar lucro máximo.

Em períodos de crise capitalista no hemisfério norte, como o que estamos vivendo, essa necessidade deles aumenta, pois a apropriação privada dos recursos naturais seja terra, minérios, água, energia elétrica, é fonte inesgotável de uma renda extraordinária, mais além da exploração do trabalho. Pois os recursos estão na natureza, e eles, ao se apropriarem desses recursos, colocam no mercado a preços bem acima do seu valor, medido pelo custo de produção.

Para isso, desde a implantação da hegemonia do neoliberalismo, foram impondo condicionamentos jurídicos, em todos os países do mundo, sob orientação dos Estados Unidos e dos organismos internacionais a seu serviço, como FMI, OMC, Banco Mundial, para garantir a propriedade privada de bens da natureza. Então, pela lei de patentes (aprovada em 1995), eles agora podem ser donos das sementes. Para isso fazem mudanças genéticas e dizem que é um novo ser vivo, transgénico, produzido em laboratório. Privatizaram as águas. Seja nos lençóis freáticos, seja nas fontes naturais. Privatizaram o acesso aos minérios.

CM: As riquezas do subsolo do país, propriedade da população e que deveriam estar a serviço do povo não escaparam desse processo de espoliação.
O Brasil concedeu, nos últimos anos, sob a gestão da velha Arena, que até hoje não largou a teta do Ministério de Minas e Energia, mais de oito mil licenças de mineração no nosso subsolo para empresas privadas que deveriam estar a serviço de todo povo. E agora, como você disse, estão tentando privatizar o oxigénio produzido pelas florestas nativas. Medem pelo GPS a quantidade de oxigénio produzido pelas florestas, emitem um documento que estabelece certo valor e isso se converte em dólares como crédito de carbono que é vendido na Europa para as empresas poluidoras se justificar e assim continuarem poluindo. Aqui, no Brasil, até a empresa Natura está praticando isso.

CM: Como agem as transnacionais dessa área no Brasil, hoje?
Para se ter uma ideia, por outro lado, em termos de valores, da crise mundial de 2008 para cá entraram no Brasil mais de 200 mil milhões de dólares que foram aplicados em recursos naturais. Somente no setor sucroalcoleiro, que era propriedade da tradicional burguesia nacional, agora apenas três empresas transnacionais (Cargill, ADM e Bungue) controlam mais de 50% de todo setor.

CM: Muito importante você enfatizar estes temas: mudança de parâmetros da agricultura no país e uma agricultura voltada para a produção de alimentos. Quais os novos parâmetros?
Nossa análise coletiva considera que a organização da produção de alimentos e dos produtos agrícolas tem que estar submetida a outros parâmetros. Os capitalistas, com seu modelo do agronegócio, fundam sua ação baseados apenas no paradigma da produção de mercadorias para o mercado mundial, na busca incessante do lucro máximo, do aumento da produtividade do trabalho e da produtividade física de cada palmo de terra.

Nós queremos reorganizá-la baseada em outros parâmetros. Baseados na história da civilização que sempre viu os alimentos como um bem - e não como mercadoria. Visão de que todos os seres humanos têm direito a se alimentar. Na produção agrícola em equilibro com a natureza, e não contra ela. E, sobretudo, organizando a produção para dê trabalho para as pessoas, para que elas tenham renda e possam viver em boas condições e felizes, no interior, sem cair na ilusão de que somente serão felizes se vierem para a cidade grande. Cidade grande é o inferno em vida para o camponês.Pois sobra para ele apenas a favela e a superexploração.

CM: Mas e a bancada ruralista, com trânsito livre nos palácios de Brasília... e o agronegócio - não aceitam esses parâmetros...
Claro, eles são os porta-vozes da classe dominante. Os capitalistas, para manterem seus altos lucros no campo espoliam a natureza e expulsam o povo do interior e se protegem num estado burguês, que é o estado brasileiro. Protegem-se fazendo leis apenas para seus interesses, como fizeram nas mudanças do código florestal etc. Protegem-se com o seu poder judiciário que é o poder ainda monárquico, que inviabiliza as desapropriações para reforma agrária, que impede a legalização das terras indígenas e de quilombolas, que impede inclusive as desapropriações das fazendas com trabalho escravo, como determina a Constituição - mas que eles não cumprem.

E tudo isso é respaldado pelos media televisivos, sobretudo a Globo, a Bandeirantes, SBT, que manipulam todos os dias o nosso povo para lhes dizer que o agronegócio é a única solução. Que o agronegócio é que sustenta o Brasil, quando é justamente o contrário. Os média são a arma ideológica para proteger o agronegócio e seus lucros.

CM: Como se dará a mudança do foco das ações, deslocado para o urbano? Como é esta aliança do MST com as cidades?
O nosso programa de reforma agrária popular implica agora em envolver todo o povo, pois ela não interessa apenas aos sem-terra. E, portanto, temos que explicar ao povo, à classe trabalhadora que a reforma agrária é necessária para ele se alimentar melhor, de forma sadia, sem venenos. Que o programa de agroindústrias vai dar emprego, que universalizar a educação no interior vai gerar milhões de empregos para educadores etc.
Esta aliança vai se fazendo através da construção de uma consciência coletiva de todas as classes trabalhadoras. Por um plano de lutas conjunto que envolva a todos na luta por mudanças sociais. E, sobretudo, num programa político de mudanças para o país que unifica todos os setores da classe trabalhadora da cidade e do campo.

Tudo isso leva tempo, exige energias, mas é o caminho para construirmos verdadeiras mudanças na cidade e na agricultura. Para isso teremos que travar muitas batalhas, passar por muitos "pedágios" que a classe dominante vai nos impor.

CM: E as cidades? A cidade virou um grande negócio que alija os mais pobres cada vez mais para os seus confins. Mas como mudar isto?
Os territórios urbanos, as cidades e suas periferias também estão sendo vitimas desse modelo do grande capital que igualmente quer a renda extraordinária nas cidades, conquistada através da especulação sobre os preços dos prédios, dos terrenos, dos espaços urbanos. A diferença entre o valor real de uma casa, de uma praça, de um prédio, e o preço de mercado, que eles impõem, é que representa a renda da qual eles se apropriam e que toda sociedade acaba pagando.

Pior, os trabalhadores acabam sendo expulsos para as periferias de uma maneira permanente, e ali os transportes públicos não chegam. Ou foram privatizados. Ou são caríssimos. Por isso, a bandeira de luta de tarifa zero para os transportes públicos em todas as grandes cidades é mais do que justo e é necessária.

A par de tudo isso, como tem defendido nossa querida professora Ermínia Maricato, somente uma grande reforma urbana que devolva ao povo o direito de usar a sua cidade. As cidades foram usurpadas do povo, e agora pertencem apenas aos especuladores, aos bancos e à indústria automobilística.

CM: O mais recente governo do PT foi decepcionante?
Os governos Lula e Dilma não foram governos do PT, nem da classe trabalhadora. Foram governos de composição de classe, que gerou um programa de governo do neodesenvolvimentismo, que se propunha a fazer a economia crescer, distribuir renda e retomar o papel do estado suplantando o mercado (dos tempos do neoliberalismo). Nesse sentido eles cumpriram o programa, e nesse programa todas as classes ganharam um pouco, sendo que, como diz o próprio Lula, os banqueiros foram os que mais ganharam.
Mas esse programa e essa composição de classes, na opinião dos movimentos sociais, bateram no teto. E agora já não conseguem mais resolver os problemas fundamentais do povo que ainda padece com falta de moradia digna, emprego qualificado, acesso à universidade, e transporte público civilizado. As manifestações do ano passado foram o sinal de que o modelo do neodesenvolvimentismo chegou ao seu limite.

E como disse antes, espero que os setores organizados da classe trabalhadora construam um programa unitário de mudanças, e retomem a iniciativa das mobilizações de massa. Isso permitiria termos, no futuro, governos também populares, que possam fazer as mudanças estruturais de que precisamos. Por ora, os movimentos sociais de todo país construíram uma unidade em torno da necessidade de uma reforma política que devolva ao povo a soberania para escolher seus representantes.

Já que, no regime atual, as empresas sequestraram as eleições. Veja: segundo o TSE, em torno de 2.262 empresas gastaram mais de 4,6 mil milhões de reais, nas últimas duas eleições sendo que 80% desses recursos foram de apenas 117 empresas. Ou seja, o novo colégio eleitoral que decide quem deve ser eleito, são essas 117 empresas que usam o dinheiro para elegê-los. Isso precisa mudar, para salvar uma democracia frágil e precária. Então, a necessidade urgente de uma reforma política. Para tanto, será necessário convocar uma assembleia constituinte soberana (na forma de ser eleita) exclusiva para essas mudanças.

CM: Mas a força do MST está intacta - ou não? Vinte mil trabalhadores foram protestar defronte do Planalto, dois meses atrás. Acabaram sendo recebidos pela Presidenta Dilma.
O MST é uma pequena parcela do conjunto das forças populares do povo brasileiro. Nós temos procurado nos manter unidos, resistindo à avalanche do capital e mantendo nossos projetos de mudança. Outros setores da classe, influenciados pela pequena burguesia ou pelos média, foram derrotados em seus projetos. Levamos nossos 15 mil militantes ao VI Congresso, como um espaço de unidade e de celebração de nossa mística da mudança. Por isso, fomos recebidos pela Presidenta, e apresentamos nossas ideias, sem ilusões. As mudanças não vêm de palácios; vêm das ruas e de um povo consciente e organizado; sempre foi assim na historia da humanidade. E nós vamos seguir esse caminho.

CM: Esta semana, dia 17 de abril, mais uma vez é lembrada a data dos 18 anos do Massacre de Eldorado dos Carajás, quando 1.500 trabalhadores sem terra foram brutalmente agredidos pela Polícia Militar do Pará e 18 deles cruelmente assassinados por agentes daquela PM. Como está a situação do processo de punição dos policiais que participaram da ação criminosa? Como o MST está agindo sobre o assunto?
Nunca mais poderemos esquecer aquele 17 de abril de 1996, sendo presidente Fernando Henrique, quando a Polícia Militar do Pará, financiada pela empresa Vale, assassinou cruelmente 19 companheiros nossos. Posteriormente, outros dois vieram a falecer e há ainda até hoje 69 feridos, com sequelas graves.

O processo judicial se arrasta até os nossos dias. Apenas os dois comandantes foram condenados a mais de 200 anos de prisão. Porém apelaram, e estão em prisão domiciliar num quartel da PM de Belém, em apartamentos com todas as regalias de oficiais. Tradicionalmente, todos os anos repetimos, no mesmo local, um grande acampamento com a nossa juventude do MST da regional amazónica, para que os nossos jovens não se esqueçam, e ajudem a lutar por justiça e por reforma agrária.

Em todo Brasil vamos fazer manifestações, cultos ecuménicos, e protestar perante o poder judiciário, que protege descaradamente apenas os interesses dos ricos e fazendeiros do país. Entre as suas reformas estruturais, o Brasil precisa de uma reforma do judiciário que democratize e coloque esse poder sob controle da sociedade. Haja visto como se comporta o imperador Joaquim Barbosa, com suas tropelias, megalomanias e diárias em tempos de férias. Ainda bem que ele comprou um apartamento em Miami, e imagino que seu sonho é ir morar lá...

Em todo mundo, nos mais de cem países em que a Via Campesina está organizada haverá manifestações, pois esse dia 17 de abril foi declarado Dia Mundial da luta camponesa. E até aqui no Brasil, envergonhado, no último ano de seu governo, FHC assinou um decreto, declarando o dia 17 de abril, Dia Nacional de Luta pela Reforma Agrária. Então, nesse dia, é até legal você lutar pela reforma agrária.

FONTE: ESQUERDA NET / Entrevista feita por Léa Maria Aarão Reis para a Carta Maior

O custo das obras das Olimpíadas já supera 30% o orçamento inicial










Após intervenção do Comitê brasileiro, gastos do Rio de Janeiro com 27 projetos são divulgados: 36,7 bilhões de reais

Não há mais novidades, as Olimpíadas do Rio 2016 custarão 36,7 bilhões de reais, 30% a mais do estipulado inicialmente. As administrações brasileiras responsáveis pela primeira Olimpíada realizada na América Latina publicaram ontem finalmente os custos dos 27 projetos de mobilidade urbana, meio ambiente e urbanização que faltam terminar (e, em alguns casos, começar), cinco dias depois de que a paciência do Comitê Olímpico Internacional (COI) se esgotasse e decidisse intervir na preparação dos Jogos Olímpicos. Depois de semanas de notícias preocupantes (greves dos trabalhadores do Parque Olímpico, demissão da presidenta da Empresa Olímpica Municipal e discussões entre as autoridades brasileiras - prefeitura, Estado do Rio de Janeiro e Governo Federal – para definir as verbas do orçamento), todos os atores nacionais implicados na organização dos Jogos compareceram no Forte de Copacabana para apresentar o ‘Plano de Obras Públicas’ que, como destacou repetidamente o prefeito da cidade, Eduardo Paes, “será o legado das olimpíadas para todos os cariocas”.

O valor anunciado destas infraestruturas será de 24,1 bilhões de reais, que junto ao resto dos investimentos previstos (organização das competições e construção de instalações puramente esportivas) elevam o orçamento global do Rio 2016 em 30% a mais dos 28 bilhões de reais acordados com o COI em 2008. Depois de não descartar novos aumentos quando as licitações de alguns projetos sejam definidas, e um pouco irritado pelas perguntas dos jornalistas diante do incremento do gasto, Paes o justificou devido à “inflação acumulada” desde que os orçamentos foram feitos e se aventurou em dizer, inclusive, que poderia ter alcançado 40 bilhões de reais. O prefeito tentou diferenciar as Olimpíadas dos Jogos Panamericanos, realizados no Rio em 2007, dos quais alguns estádios estão fechados para reforma, e cujo orçamento final continua sendo esclarecido.

Na semana passada, o presidente do COI, o alemão Thomas Bach, afirmou que “chegou o momento de agir”, depois de uma chuva de críticas procedentes de federações internacionais sobre o estancamento das obras no Rio de Janeiro; uma delas, a Federação de Handebol, perguntou expressamente se havia um “plano B” para as Olimpíadas, caso a ‘cidade maravilhosa' não chegasse a tempo. As dúvidas sobre os prazos são agravadas pela greve indefinida que o Sindicato dos Trabalhadores da Construção Civil do Rio protagoniza desde o começo do mês, pedindo melhores salários e um seguro de saúde. O caso mais preocupante, reconhecido pelas autoridades, é o Complexo Deodoro, ao oeste da cidade, que será sede das competições de hipismo, arco, rugby e hóquei em campo, entre outros, e cuja licitação não se publicou ainda. Francesco Ricci Bitti, dirigente da Associação de Federações Olímpicas de Verão, afirmou há alguns dias que o Rio "representa a situação mais grave que surgiu nos pelo menos últimos vinte anos". O prefeito Paes, que recebeu com diplomacia na sexta-feira passada o anúncio da chegada dos gestores do COI e assegurou sua plena disposição para colaborar, voltou a dizer ontem que se trata de uma "boa" notícia, "inclusive para que os presidentes das federações não fiquem histéricos".

Gilbert Felli, diretor executivo do COI, será inicialmente o assistente permanente do Comitê Local Organizador para resolver a "paralise política" a partir da próxima semana. Em plena pré-campanha das eleições presidenciais de outubro e em meio a fortes críticas pelo atraso da construção dos estádios para a Copa que começa dentro de 56 dias, as autoridades tentam amortizar as incipientes suspeitas de que o caminho até as Olimpíadas será outro parto extenuante para a sociedade brasileira. "O fator tempo é fundamental", recalcou ontem o general Fernando Azevedo, presidente da Autoridade Pública Olímpica. "É uma tarefa dificílima, [...] mas vamos fazer as melhores Olimpíadas da história", prometeu por sua parte Paes.

Outras vozes discreparam deste otimismo. "A intervenção chega tarde, o COI deveria ter visto estes problemas muito antes", declarou à Deutsche Welle Antônio Eulálio Pedrosa Araújo, membro do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Rio de Janeiro (Crea-RJ). "Foi uma temeridade do Governo assumir ao mesmo tempo a organização do Mundial e das Olimpíadas", disse José Cruz a este jornal, um jornalista especializado em política esportiva e blogueiro da UOL. "O principal problema não é a organização, mas sim a falta de experiência, de gestão... E a corrupção. Olimpíadas são 28 campeonatos do mundo em apenas duas semanas: requer uma infraestrutura enorme, não há experiência nem capacidade. Sem contar que estão em jogo bilhões em compromissos televisivos... Em agosto, depois da Copa, o COI poderia tentar uma mudança. Seria pavoroso para nossa reputação".

FONTE: EL PAÍS - BRASIL

quarta-feira, abril 16, 2014

Actualidade do Manifesto Comunista













Talvez com uma única excepção, burguesias arrogantes controlam os governos europeus. Os políticos que as representam são neoliberais, social-democratas domesticados, ou saudosistas do fascismo. Neste contexto histórico tão sombrio, ao reler o Manifesto Comunista, concluí que não perdeu actualidade.

Reli há dias o Manifesto Comunista.

Transcorreram 165 anos desde que Marx e Engels divulgaram esse explosivo documento revolucionário.

O mundo atual é muito diferente daquele que inspirou o Manifesto. Na época, a Revolução de 1948 alastrava pela Europa. O «espectro» do comunismo alarmava as classes dominantes, do Atlântico aos Urais. Mas somente em 1917, quase meio século após a Comuna de Paris, uma revolução vitoriosa e um partido comunista criaram o primeiro Estado socialista na Rússia.

Mais de sete décadas durou a primeira experiência socialista triunfante. Findou com a trágica desagregação da União Soviética e o regresso do capitalismo à Rússia.

Hoje, na Europa, o Poder é exercido pelas classes dominantes. Talvez com uma única exceção, burguesias arrogantes controlam os governos. Os políticos que as representam são neoliberais, social-democratas domesticados, ou saudosistas do fascismo.

Neste contexto histórico tão sombrio, foi com surpresa que, ao reler o Manifesto Comunista, conclui que não perdeu atualidade.

Continua carregado de ensinamentos para comunistas e não comunistas. Sinto que em Portugal, nomeadamente, é atualíssimo.

A ESCOLA DA REVOLUÇÃO DE 1848
Na Alemanha, então um conglomerado heterogéneo de reinos e principados quase feudais, a Revolução de 1848 foi uma grande escola de política para Marx e Engels.

Ambos sabiam que a teoria sem a prática não abre o caminho para vitórias revolucionárias. A Revolução de Fevereiro em França lançara o pânico na Europa das monarquias quando Lamartine proclamou a Republica em Paris.

Mas foi somente quando regressaram à Alemanha que Marx e Engels se aperceberam em dois dramáticos anos, no quadro da revolução que abrasava a Europa, das dificuldades insuperáveis que na época impediam a concretização em prazo previsível do projeto comunista de que a Nova Gazeta Renana era o mensageiro mais prestigiado.

Engels afirmou na velhice que o Manifesto era «o produto mais amplamente divulgado, mais internacional, de toda a literatura socialista, o programa comum de muitos milhões de operários de todos os países, da Sibéria à Califórnia».

«Este pequeno livrinho-escreveu Lénine - vale por tomos inteiros: inspira e anima até hoje o proletariado organizado e combatente do mundo civilizado». Segundo o grande revolucionário russo, o Manifesto «expõe, com uma clareza e um vigor geniais, a nova conceção do mundo, o materialismo consequente, aplicado também no domínio da vida social, a dialética como a doutrina mais vasta e mais profunda do desenvolvimento, a teoria da luta de classes e do papel revolucionário histórico universal do proletariado, criador de uma sociedade nova, a sociedade comunista».

Inovador, o Manifesto esboçou o quadro do desenvolvimento do capitalismo e iluminou as contradições internas que conduzirão ao seu desaparecimento.
Marx e Engels estavam conscientes de que era indispensável para a conquista do poder criar um partido capaz de assumir o papel de vanguarda da classe operaria. Internacionalistas, advertiram, porem, que a luta da classe operária teria de se desenvolver em primeiro lugar em cada nação.

Ambos consideraram extremamente perigosas as organizações reformistas e contra elas lutaram sempre com tenacidade.

Pensando na União Europeia e mais especificamente em Portugal, impressiona verificar como essas preocupações e advertências permanecem atuais e facilitam a compreensão de grandes desafios do presente.

Na Alemanha, a ausência de condições subjetivas favoráveis foi determinante para a alteração da relação de forças, abrindo caminho à repressão, comandada pela Prússia.

Os autores do Manifesto esbarraram com obstáculos intransponíveis na tentativa de criar o partido revolucionário de novo tipo. Seria Lenine o seu criador na Rússia, muitas décadas depois.

Mesmo em Colónia, sede do núcleo duro da Liga dos Comunistas, os conflitos entre fações e personalidades foram permanentes, incluindo entre alguns dirigentes políticos que pretendiam ser comunistas, mas atuavam como oportunistas.

Marx e Engels tiveram de enfrentar problemas – ambições, invejas, vaidades, etc. - na própria redação da Nova Gazeta Renana. Até no debate sobre a legalidade ou ilegalidade da Liga dos Comunistas. A imaturidade do movimento revolucionário alemão contribuiu decisivamente para a derrota da revolução democrática burguesa. Mas a prática da luta revolucionária, como sublinhou Marx, foi uma excelente escola para a educação política dos operários.

A reflexão de Marx e Engels sobre os acontecimentos de 1848/49 é identificável em trabalhos que escreveram sobre a complementaridade teoria-prática.

A derrota do proletariado francês em junho de 48 foi o prólogo da vaga de repressão que varreu a Europa. A revolução democrática burguesa foi esmagada na Áustria, na Boémia, na Itália, na Alemanha, na Hungria (em Budapeste com a ajuda militar da autocracia russa).

Mas, apesar de derrotadas, essas Revoluções confirmaram a opinião dos autores do Manifesto sobre o papel fulcral que a luta de classes desempenha no choque entre opressores e oprimidos.

Na sua obra A Luta de Classes em França, Marx demonstra ter assimilado as lições do insucesso da insurreição do proletariado francês na insurreição de junho.

LIÇÕES PARA PORTUGAL
Ao reler o Manifesto, conclui que ele funciona como um manual para a luta contra a tirania que oprime hoje o povo português.

O atual governo consegue ser mais nocivo pelo projeto e pela sua obra destruidora do que os piores da monarquia absoluta. Apos uma luminosa revolução progressista, traz de volta o passado.

No Manifesto há parágrafos, na denúncia do desprezo pelos trabalhadores, da sobre-exploração da força de trabalho, e da desumanização e arrogância do capital, que se ajustam como uma luva à estratégia devastadora do governo português. Este diferencia-se de ditaduras tradicionais porque atua sob a fachada de uma democracia formal. Mas a máscara institucional não ilude as vítimas de uma política criminosa, nem sequer já personalidades e estamentos sociais que o apoiaram inicialmente. Alguns discursos de Passos Coelho, com leves adaptações (porque a sua oratória é tosca e beócia), trazem à memória, pelo farisaísmo, os de Salazar, não obstante ele ser apenas um instrumento do capital.

Cresce a cada dia o repúdio pela política do primeiro-ministro e sua gente. O presidente da Republica apoia-a ostensivamente, desrespeitando a Constituição que jurou cumprir.

Os trabalhadores condenam–na diariamente nas ruas, invadem ministérios, manifestam-se frente à Assembleia da Republica.

Há um limite para que os inimigos do povo governem contra ele. Marx e Engels recordam essa evidência no seu atualíssimo – repito - Manifesto Comunista.

O direito de rebelião contra a tirania é inerente à condição humana.

Vila Nova de Gaia, 10 de Abril de 2014.

FONTE: Diário Liberdade / Miguel Urbano Rodrigues