Valoriza herói, todo sangue derramado afrotupy!

segunda-feira, setembro 22, 2014

Maconha e casamento gay seguem o mesmo rastro









As duas questões não são relacionadas. Mas, juntas, ressaltam a mudança dos EUA rumo a uma sociedade mais libertária

Este é o ano das “eleições legislativas de Seinfeld”, temos dito — um pleito sobre nada em particular, sem temas dominantes. Ainda, estas eleições também mostram como estamos nos tornando uma “sociedade Seinfeld”. Quando se trata de duas questões culturais que antes eram tabu — relações homossexuais e uso de maconha —, os americanos estão cada vez mais dizendo: “Não que haja algo de errado com isso.”

Em novembro, os eleitores do Alasca e do Oregon vão decidir se legalizam e regulam a venda de maconha, como os do Colorado e de Washington já fizeram, enquanto os cidadãos da capital do país vão optar por legalizar, ou não, a posse da droga. Pesquisas preliminares sugerem que a legalização é aprovada no Oregon e em Washington, ambos redutos democratas. No Alasca, é mais difícil de prever. Uma sondagem realizada em agosto mostrou a oposição na frente: 49% a 44%. Isto após duas votações anteriores mostrarem o campo pró-maconha na liderança. No entanto, mesmo se os alasquianos votarem “não” sobre a legalização total, a maconha para uso medicinal e consumo em casa permanecerá legal.

Enquanto isso, outra questão, uma vez considerada como contracultural, é um não fator nestas eleições legislativas. Pela segunda vez, desde 2000, nenhum estado sequer vai realizar um referendo sobre a proibição do casamento homossexual. Embora 31 estados tenham adotado o veto, os oponentes do matrimônio entre pessoas do mesmo sexo têm sofrido uma série de perdas em tribunais federais e parecem ter desistido da luta pelos referendos por agora. Mesmo que a Suprema Corte finalmente decida que o casamento homossexual não é constitucionalmente protegido, mais estados tendem a legalizá-lo em resposta ao crescente apoio público.

As atitudes públicas em relação ao casamento homossexual e à maconha têm percorrido um caminho muito similar. Apenas um em cada quatro americanos apoiaram a legalização de uma das duas questões em meados da década de 1990. Até 2011, o apoio tinha se ampliado para um em cada dois cidadãos. Agora, a aprovação pública está se aproximando de 60%, com a maioria dos americanos com idades entre 30 a 49 a favor.

Hoje, o casamento entre pessoas do mesmo sexo é legal em 19 estados; três deles têm leis de uniões civis e de parceria doméstica que reconhecem casais gays. A maioria desses estados também liberalizou as leis relativas à maconha nos últimos anos.

Se a legalização da erva continuar a seguir a trajetória do casamento homossexual, irá se expandir para mais estados nos próximos anos — mais provavelmente para aqueles que já adotaram a maconha para uso medicinal. Se isto acontecer, e se a Suprema Corte não derrubar a proibição do casamento homossexual, o mapa dos estados que já legalizaram a maconha e o casamento homossexual pode vir a ser muito parecido.

As duas questões são, obviamente, não relacionadas. (A legalização da maconha levanta sérias preocupações.) Juntas, porém, ressaltam a mudança do país em direção a uma sociedade culturalmente mais libertária.

Os paralelos podem se estender até a corrida presidencial de 2016. Um ou ambos os principais candidatos poderiam adotar a mesma posição sobre a maconha que o presidente Barack Obama assumiu sobre o casamento homossexual em 2008: oposição à legalização pessoalmente, mas apoiando o direito dos estados de decidirem a questão por si mesmos. Enquanto isso, os esforços para colocar a legalização da maconha na cédula de 2016 já estão em andamento em pelo menos dois estados: Montana e Wyoming.

Se os eleitores de Washington aprovarem o referendo da maconha para a cidade em novembro deste ano, a velha turma de colégio do presidente pode ser tentada a aparecer na Casa Branca para comemorar. Não que haveria alguma coisa errada nisso.

FONTE: O GLOBO /Francis Barry é jornalista

"VAI TER BICHA DOS PAMPAS, SIM!"












Mais de 2 mil pessoas compareceram à Parada Livre da Região Centro, em Santa Maria, em sua 13ª edição neste final de semana que passou. No último sábado (20), o Desfile Farroupilha na cidade amargou uma presença de 10 mil pessoas - número expressivo, porém relativamente inferior ao de anos anteriores. A luta pela criminalização da homofobia e pela igualdade de gênero está ultrapassando, em muitos locais, o pensamento retrógado que não aceita a manifestação livre em seus espaços.

Durante os festejos gaudérios de setembro, o tradicional Desfile (agendando em diversas cidades do Rio Grande do Sul), também transcorreu, como de costume, na cidade de Carazinho, no norte do Estado.

O jovem Leonardo Chaves (18 anos), em protesto, não amargou os recentes - e recorrentes - casos de homofobia gaúchos e se juntou ao Desfile na cidade em que hoje reside - Carazinho. Vestindo elementos do traje típico gaudério, Leonardo levantou um cartaz, enquanto desfilava junto de centenas de tradicionalistas, sem descer de um altíssimo salto vermelho. No cartaz de Leonardo, lia-se “VAI TER BICHA DOS PAMPAS, SIM. E SE RECLAMAR, VAI TER TRAVESTI TAMBÉM!”. Do outro lado, “HOMEM DE SAIA E DE BIGODE - GAÚCHO TAMBÉM PODE”. Fotos do protesto de Leonardo circularam pelas redes sociais. Em alguns rostos durante o Desfile, o espanto. Na internet, centenas de apoiadores e admiradores da coragem de Leonardo.

Sobre a importância de lutar contra o machismo e a homofobia, e sobre seu ato de protesto no Desfile do dia 20, Leonardo concedeu à revista o Viés uma entrevista (que você confere logo abaixo).

o Viés: Por que você optou por protestar durante o Desfile?

Leonardo: Sabe quanta gente morre todos os dias por causa desse conservadorismo patriarcal? Quanta gente vive em armários porque o tradicionalismo os rejeita? Quantos comerciantes sofrem com a quantidade de detritos que ficam grudados nas calçadas nos dias seguintes? Pois bem, vou te falar o porquê: Esse estrelismo do gaúcho tem que acabar, essa meritocracia de uma história que nem é bem assim também tem que acabar. Um CTG foi incendiado para impedir a união LEGAL e legitimada de LGBTS porque o machismo das pessoas (não da tradição) foi mais uma vez vencedor (sobre o caso do incêndio no CTG Sentinelas do Planalto, em Livramento, na quinta-feira do dia 11 de setembro). Dominador de uma sociedade diariamente subordinada ao comportamento patriarcal. Esse protesto foi uma maneira particular de gritar em nome de todos os mortos em virtude do machismo e fobias. Cansei de entrar de luto todos os dias porque mais um amigo foi assassinado, mais uma lésbica foi estuprada, mais uma pessoa com identidade de gênero diferente que a do seu corpo foi apedrejada.

V: Qual a importância em contrastar um movimento machista e misógino muito incrustado no cotidiano de muitos moradores do RS?

L: Inserir o debate, o pensamento. Uma vez que for perceptível que eu estava ali porque algo está errado e que o patriarcado só vai beneficiar o opressor, já estaremos em vantagem. Não podemos admitir que, em 2014, os pensamentos sejam retrógrados, quase arcaicos, sobre as questões LGBTs (usarei a sigla mais popular para maior entendimento) como estupro corretivo, espancamento, incêndios criminosos e afins para dizer qual verdade é absoluta. As pessoas tem todo o direito de ter ideias divergentes das minhas, mas não tem autoridade nenhuma de controlar a liberdade e comportamento de um grupo. Sou uma pessoa não binária, portanto, na “Província” em que vivo, sou singular e muito agredido por determinados fatores. Boatos que eu estava ali sozinho, naquela avenida toda suja de detritos de cavalos e, em contrapartida, eu digo que não - eu estava lutando por você, eu e nós, todos os oprimidos, pois aqui existe gente que luta inclusive para os oprimidos enxergar o quão subjugados.

V: Você ficou com receio durante o seu protesto?

l: Não tive medo em nenhum momento. Fui preparado até para ser esfaqueado. A questão é que a minha segurança e segurança dos meus entes queridos foi a minha prioridade. O meu corpo era a minha ferramenta de luta (sempre será) e a intenção era causar visibilidade para aquela minoria e não para quem estava se manifestando, mesmo que todos soubessem que eu seria a única pessoa capaz de fazê-lo. Algumas pessoas (casos bem isolados) me olhavam com expressões muito agressivas, mas eu já tinha rota de fuga e gente nas laterais para me proteger e “cair para dentro” (como é que chamam na internet mesmo? Ah! Os amigos gayzistas e as amigas feminazis). Eu me preparei até para ser perseguido por tochas e tridentes (risos). Senti muito medo, mas fui com medo mesmo porque a energia que me move é a ação.

V: Qual foi a reação do pessoal que estava no desfile e por que você acredita que as pessoas vaiaram? Para ti, o que significam essas vaias?

L: A reação foi inesperada. Foi um silêncio mortificante quando eu entrei na avenida enfrentando a pomposa apresentação de um CTG. Logo depois, vaias e aplausos se intercalavam. Todavia, as vaias são a afirmação do sucesso no ato. Nas ruas todo mundo me conhece e sabe que a indústria heteronormal-têxtil não me representa. Companheiros de todo o Brasil estão me apoiando e me deram total apoio em caso de quaisquer agressões e/ou manifestações danosas a minha imagem e pessoas relacionadas a mim. Salvador, Rio de Janeiro, São Paulo, Mato Grosso, Brasília e o próprio Rio Grande do sul não irão se curvar mais uma vez para essa falácia sensacionalista que passamos todos os anos no nosso estado. Dia 20 eu estava lá, sozinho nas imagens, mas representando tod@s @s oprimidos. Avante revolucionári@s! Não nos calaremos. Eu posso ter aparecido sozinho naquela avenida, mas ano que vem tem mais. Carazinho verá mais, muito mais.

V: Você participa da militância LGBT? Como você se organiza e desde quando isso é presente em sua vida?

L: Olha, eu agi de maneira bem independente nessa intervenção, mas sempre que posso estou presente com o Plural Coletivo Sexodiverso e participo do Grupo de estudos feminista hoje idealizado como Coletivo Feminista “Maria, vem com as outras!”. Inclusive, estamos organizando mais uma Marcha das Vadias de Passo Fundo e região. Eu militava na causa LGBT e nem sabia, desde pequeno a descontrução de gênero era evidente e a visão também. Mas conheci a cena ativista ano passado, quando fui convidado por uma amiga para a Marcha das Vadias e descobri que o meu ideal estava ali. Desde então promovemos muitas ações e idealizamos muitos eventos que concentraram quase dez mil pessoas.

Eu não estava ali para a autopromoção. Eu estava ali para dar visibilidade ao cenário LGBT e ao transfeminismo, uma vez que já estou cansado de entrar e sair do luto todos os dias por amig@s que morrem a todo o momento. Lutei por você, por mim e por tod@s @s oprimid@s. Afinal, a revolução farroupilha só começou!

Abram caminho que estamos passando com a revolução!


FONTE: Revista O Viés

sexta-feira, setembro 19, 2014

Vaias a Aranha são a vitória do racismo na Arena do Grêmio








O racismo brasileiro, que contesta a existência do preconceito e nega ao negro até mesmo o direito de se sentir ofendido, obteve uma vitória expressiva na Arena do Grêmio, na noite desta quinta-feira 18 em Porto Alegre. Três semanas depois de Aranha ser chamado de “macaco” e “preto fedido”, o goleiro do Santos foi xingado de “viado” e “branca de neve”, vaiado durante o aquecimento e também a cada vez que encostava na bola durante nova partida entre os dois clubes, desta vez pelo Campeonato Brasileiro. Foi uma clara demonstração por parte de muitos torcedores gremistas da “indignação” provocada pelo simples fato, vejamos só o tamanho do buraco, de ter denunciado o ato de racismo do qual foi vítima em 28 de agosto.

Como de costume, houve uma tentativa cínica de negar que as vaias a Aranha fossem uma crítica ao goleiro e, consequentemente, apoio ao ato de racismo anterior. Durante o jogo, vicejava nas redes sociais o argumento de “vaia ser normal no futebol”. Após a partida, essa tese foi encampada por dois repórteres ligados às Organizações Globo, um do SporTV e outro da RBS.

SporTV: Aranha, mas você não acha normal as vaias (sic), o que aconteceu de anormal além das vaias?

Aranha: Eu não ligo com vaia, com manifestação de torcedor, desde que seja do esporte. E a gente, sem ser hipócrita… Porque às vezes também a gente fala as coisas, todo mundo começa a achar o que quer. Todo mundo sabe que a vaia hoje foi diferente.

SporTV e RBS: Diferente por quê?

Aranha (olhando para a repórter da RBS): Você sabe por quê? Por que foi diferente?

RBS: É a pergunta que a gente quer saber.

Aranha: Por tudo o que aconteceu no outro jogo, ou não foi? Ou você concorda com o que aconteceu? Você concorda?

RBS: Eu não tenho que concordar com nada.

Aranha: Ah, você não tem… (que concordar ou discordar)? Por quê? Então você não tá nem aí, é isso?

A conversa é perturbadora e chocante em dois níveis. Em primeiro lugar, pelo fato de os jornalistas partirem do princípio de as vaias não terem relação com o episódio de racismo, uma conclusão que desconsidera todo o contexto e, portanto, configura uma clamorosa e patética mentira. Em segundo lugar, pela busca cega da “isenção” por parte da repórter da RBS diante do claro ato racista do jogo anterior, postura resultante, por óbvio, das regras da emissora e cujo resultado é a dissociação entre o jornalismo e sua causa primária, a defesa da verdade.

Por trás das vaias a Aranha e das perguntas feitas ao goleiro após o jogo está também a construção de uma falsa verdade, a de que o goleiro não foi vítima de um ato racista, mas culpado por fazer torcedores gremistas “perderem a cabeça” ao fazer cera durante o jogo entre Grêmio e Santos pela Copa do Brasil. Defenderam essa tese, para ficar em dois exemplos, diretores do Grêmio, e Eduardo Bueno, também da SporTV. O último a fazê-lo foi Luiz Felipe Scolari, o artífice do 7 a 1, que comparou as denúncias de Aranha a uma esparrela.


O caso envolvendo o goleiro do Santos e a torcida do Grêmio é mais um na lista da moralidade alternativa que vigora no futebol, mas é também emblemático como ferramenta de análise da sociedade brasileira. Quem acusa Aranha, e quem silencia diante da pressão sofrida pelo goleiro, de uma forma ou de outra fortalece a reação à busca pela igualdade, contribuindo de forma perversa para a tentativa de “colocar o negro em seu devido lugar”, invisível e subalterno, onde não incomode com suas reclamações insolentes sobre o “suposto” racismo. É uma postura simplesmente abjeta, que ignora décadas de luta e, como disse o próprio Aranha, a dor de muitas pessoas cujo sofrimento está na base das leis contra o racismo.

FONTE: José Antonio Lima / esportefino.cartacapital


VEJA O VÍDEO




quarta-feira, setembro 17, 2014

NOTA DA OCUPAÇÃO UFPEL

















Pelotas, 17 de setembro de 2014

À Comunidade da UFPel e ao MCE.


Na manhã desta quarta-feira, o Movimento Estudantil Unificado da UFPel, convocado pela Casa do Estudante, ocupou o gabinete do reitor Mauro Del Pino, tendo como motivação principal a imediata publicação da licitação do projeto do Condomínio Estudantil e do Restaurante Universitário da UFPel.

Fora estas pautas, o MEU vê a necessidade de retomar as pautas da ocupação de dezembro de 2013, e que não foram cumpridas nos prazos expostos pelo reitor, e de convidar estudantes e trabalhadores da UFPel que queiram agregar pautas para se dirigirem a ocupação e levarem suas questões. É importante que todos os problemas sejam unificados para que a reivindicação seja de todos e por todos.

Abaixo, as pautas da ocupação de dezembro de 2013, e as pautas atuais, reunidas até o momento:

1. Reivindicação das pautas não cumpridas da ocupação de 09/12/2013:

- Criação do Conselho de Gestão;

- Licitação da Casa do Estudante e do Restaurante Universitário do Centro e do Anglo (pauta urgente, adiada pela reitoria desde março de 2014);

- Ampliação do quadro de funcionários do RU para a viabilização de café da manhã para não-bolsistas;

- Solução para a rota dos ônibus e fluxo de circulação em horários de pico, que ainda é insuficiente;

- Instalação de bebedouros em todas as unidades da UFPel, em especial no Campus Capão do Leão.

2. Solução dos problemas de infraestrutura generalizados no ICH e Tablado;

3. Acesso ao plano de desenvolvimento do Campus Capão do Leão;

4. Discussões sobre EBSEHRS e Constituinte;

5. Abertura do RU para não bolsistas aos fins de semana;

6. Atendimento imediato das pautas internas dos residentes da CEU e cumprimento do PNAES em todos os 10 pontos expostos no decreto para a Assistência Estudantil;

7. Posicionamentos claros e direcionados aos estudantes sobre os escândalos de disponibilização indevida de bolsas a assessores do reitor da UFPel e ao presidente da FAU.

Por uma UFPel realmente democrática, participativa e de qualidade!

Moradia não se adia!

Assistência Estudantil é uma conquista! Não é um favor!

Casa do Estudante UFPel
Movimento Estudantil Unificado da UFPel

terça-feira, setembro 16, 2014

BASTA de racismo e machismo!








Lugar de Negros e Negras
 é dentro das Universidades!


Na última quinta-feira (10/09/2014), Sônia Regina Abreu, estudante da UFPA – Campus Altamira, foi vítima de racismo, machismo e ameaça à sua integridade física através da rede social facebook e pelo seu e-mail. Foram utilizadas palavras extremamente racistas e machistas, assim divulgadas. Sônia está entre os inúmeros negras/negros no Brasil que sofrem casos de racismo e machismo em pleno século XXI.

O papel do negro na sociedade ainda é um cenário de discriminação e segregação. As maiores partes dos pobres do país são negros, isso por si só, já faz com que a maioria da população negra não tenha acesso aos direitos básicos, como a educação.

Desde cedo, o jovem negro não pode pagar por uma educação privada, só restando a ele as instituições públicas, as quais, por descaso dos diversos governos, seja federal, estadual ou municipal, se encontram em péssima qualidade: com falta de merendas e salas de aula, bebedouros quebrados e falta de professores.

Dessa maneira, diversos espaços como a Universidade ainda não são assegurados como direito. O vestibular é um verdadeiro crivo que só permite passar a quem pagou por uma boa educação. Para o pobre e negro, fica apenas as faculdades privadas com o auxílio dos Prouni e Fies (que funcionam como forma de entregar dinheiro público para a iniciativa privada). E dos poucos negros que conseguem entrar numa Universidade pública, encontram lá novas dificuldades de se manter, como a falta de bolsas, fruto da falta de investimento na assistência estudantil.

Portanto, a atual política de cotas sociais é totalmente mesmo insuficiente como medida de reparação histórica, nós da ANEL defendemos cotas raciais para que os negros finalmente tenham acesso à educação.

A defesa intransigente da ANEL contra as diversas opressões, como a racismo e machismo, são travadas no cotidiano das lutas e reivindicações. Exigimos uma resposta imediata da reitoria da UFPA sobre o caso.

Solidarizamos-nos e apoiamos a estudante Sônia nessa luta no sentido de punir este neonazista e desconstruir este tipo de opressão enraizado na sociedade brasileira, dentro e fora das Universidades!

#SomosTodas(os)Sônia
#Negras/Negros nas Universidades é um DIREITO! Cotas raciais já!
#BASTA de machismo e racismo!

Clara Rodrigues - estudante de Serviço Social - UFPA

Alessandra Cristina - estudante de Serviço Social - UFPA, 
Executiva Estadual de Comunicação da ANEL Pará

Luiz Arias - estudante de Engenharia Civil - UFPA, Executivo Nacional da ANEL

Aranha! Aranha! por Tony Bellotto








Todos nós conhecemos direitinho como funciona nosso racismo, não somos inocentes.

Estive recentemente no Rio Grande do Sul e me surpreendi com comentários de parte da imprensa gaúcha, que, de certa forma, tentavam minimizar a gravidade das ofensas racistas da torcedora gremista Patrícia Moreira ao goleiro Aranha, do Santos. Após a torcedora, em prantos, ter declarado à imprensa que chamar o goleiro de macaco não foi uma ofensa racista, e de ter publicamente invocado seu perdão, vários jornalistas em solidariedade começaram a sugerir que Aranha tivesse a “grandeza” de perdoar Patrícia pelas injúrias.

Se chamar um homem negro de macaco não é uma ofensa racista, é o quê?

Uma demonstração carinhosa de admiração e respeito?

É admissível que alguém numa conversa declare: “Realmente aquele macaco do Joaquim Barbosa fez um trabalho excelente no STF”?

Ou: “O macaco do Obama é de fato um orador notável”?

“Mas como é veloz esse macaco do Usain Bolt!”

“A macaca da minha cozinheira prepara uma feijoada inigualável!”

Façam-me o favor!

Chamar um negro de macaco é das piores ofensas racistas que há, ponto final. Entendo que Patrícia esteja morrendo de medo de ser presa e tope qualquer negócio para evitar uma descida às masmorras medievais brasileiras, que, aliás, estão cheias de negros e negras. Compreendo também que Patrícia sinceramente não se considere racista. Muita gente no Brasil acha que chamar um negro de macaco não é racismo. Assim como, para muitos, ofender um homossexual não constitui preconceito ou homofobia. Homens que espancam mulheres também não se consideram misóginos. Isso prova, claro, que além de racistas, preconceituosas e estúpidas, essas pessoas são ignorantes. E não é porque são ignorantes que não devem responder por seus atos.

Sabemos muito bem como funciona o dissimulado racismo brasileiro. Quantas vezes não somos obrigados a ouvir contra a vontade as constrangedoras piadas sobre negros, as abjetas expressões como “preto quando não caga na entrada caga na saída” e as deploráveis insinuações de que a ineficiência de algum servidor negro se explica pela cor de sua pele: “também… olha a cor… esperava o quê?”.

E tudo isso dito por pessoas comuns, gente de “bem” que não se considera racista. Até mesmo negros às vezes se referem a outros de forma preconceituosa, demonstrando uma subserviência patológica e deprimente.

Todos nós conhecemos direitinho como funciona nosso racismo, não somos inocentes.

Há os que dizem que não somos racistas, que nosso preconceito é social, que o que existe é o preconceito do rico contra o pobre, que o preconceito racial não tem como subsistir num país como o Brasil, o “caldeirão de raças” em que todos se misturam com sensualidade, amor, alegria, respeito mútuo, muito samba e muita ginga. Ôlelê!

Será?

Isso me soa como mais uma dessas balelas ufanistas com as quais gostamos de nos iludir, como aquela que diz que somos um povo pacífico.

Negros ofendidos, homossexuais agredidos e mulheres espancadas estão aí para provar que as coisas não são bem assim.

Alguns jornalistas chegaram a citar o fato de Mandela ter perdoado seus carcereiros ao sair da prisão para reforçar a necessidade de Aranha perdoar a torcedora que o chamou de “macaco”. Além de despropositada e ridícula, a comparação é capciosa. Parecem estar querendo culpar o Aranha por insensibilidade e acabam reforçando a ideia racista de que, se ele é negro, com certeza deve ter alguma culpa nessa história.

Muitos alegam que é injusto que Patrícia Moreira responda sozinha por um crime que foi cometido também por outros torcedores no estádio do Grêmio e que não puderam ser identificados pelas câmeras de TV. Discordam de que a moça seja a única responsabilizada por um crime que é praticado diariamente por milhares de pessoas em nossas cidades. Nada disso justifica que Patrícia não seja julgada pela Justiça, e que seu ato, e os dos outros torcedores que ofenderam Aranha, seja repudiado com veemência e que isso sirva de alerta e desestímulo às odiosas manifestações de racismo em estádios de futebol e em toda a sociedade.

Mário Lúcio Duarte da Costa, o Aranha — que aliás ganhou o apelido por suas defesas remeterem às de Lev Yashin, o mítico goleiro russo conhecido como Aranha Negra —, tem demonstrado muita personalidade nesse episódio todo. Expresso aqui minha solidariedade ao goleiro do Santos, que foi enfático e corajoso ao interromper o jogo no momento em que era ofendido pelos torcedores e demonstrou depois magnanimidade nas entrevistas que se seguiram ao evento, afirmando que como cristão ele perdoa Patrícia, mas mantém a convicção de que ela deve responder à Justiça por suas ofensas.

Mais que pedir perdão, os torcedores gremistas dariam um grande exemplo de cidadania se, na próxima vez em que o Grêmio enfrentasse o Santos, eles recepcionassem o goleiro adversário não com gritos de “macaco”, mas de “Aranha! Aranha!”

FONTE: O GLOBO

Nota do MTST sobre o despejo de prédio ocupado pela Frente de Luta por Moradia.






Na manhã de hoje, acompanhamos o despejo promovido pela polícia militar do Estado de São Paulo das mais de 300 famílias que ocupavam a mais de 6 meses um hotel abandonado a mais de 10 anos na Av. São João, centro de São Paulo.

Mais uma vez o governo do estado, assim como o judiciário paulista trata o problema da moradia como um problema de polícia.

A especulação imobiliária vem transformando a cidade de São Paulo a seu bel prazer em busca do lucro fácil, provocando a segregação e a exclusão.

Expulsa a população mais pobre para a periferia da periferia, longe de seu local de trabalho, sem equipamentos públicos de qualidade, enquanto no centro de São Paulo, milhares de prédios abandonados permanecem vazios, servindo apenas para valorização e especulação imobiliária.

A moradia é um direito humano e um direito garantido na constituição, no entanto, os interesses de quem lucra prevalece em detrimento da população mais pobre.

Avaliamos que era possível uma proposta razoável às famílias que evitasse o despejo violento e todo o transtorno decorrente disso.

Defendemos a expropriação do prédio para as famílias e a libertação imediata dos mais de 80 presos da ocupação organizada pela FLM.

O governo de Geraldo Alckmin deve ser responsabilizado por mais esta tragédia social que está sendo levada a cabo pela Tropa de Choque.

Todo a apoio a quem luta pelo direito à moradia!

São Paulo, 16 de setembro de 2014.
Movimento dos Trabalhadores Sem Teto





Publicado em 16/09/2014
Famílias da ocupação São João, centro de SP, levantam escadas para levar crianças em segurança para prédio vizinho. Logo depois, a polícia invadiu o edifício para cumprir mandado de reintegração de posse.





DECLARAÇÃO PÚBLICA DO MTST SOBRE AS ELEIÇÕES DE 2014:






O MTST tem realizado lutas em várias partes do Brasil por moradia digna e Reforma Urbana. Em nossa atuação de pressão sobre o Estado em seus diversos níveis não nos pautamos por quem está no governo. Temos rigorosa autonomia em relação a qualquer partido político e essencialmente a qualquer governo.

Isso não significa que sejamos apolíticos. Muito pelo contrário. Defendemos mudanças profundas na política e na organização social brasileira. Mas acreditamos que essas mudanças se constroem com luta e organização popular.

Avaliamos que a Reforma Urbana e demais Reformas populares que os trabalhadores brasileiros necessitam não serão conquistadas nessa configuração institucional. O financiamento privado de campanha e os demais vícios do sistema político brasileiro fazem das eleições um jogo onde os interesses populares não têm vez.

Não que os partidos e candidatos sejam todos iguais. Essa é uma percepção falaciosa e despolitizada. Um governo que dialoga com as organizações populares não é a mesma coisa de outro que reprime e criminaliza. Assim como partidos e candidatos que defendem transformações populares e o combate aos interesses da elite devem ser valorizados. Por isso, a possibilidade de um retrocesso nos preocupa bastante.

Nas eleições presidenciais, nos identificamos com muitas propostas da candidatura de Luciana Genro (PSOL), que buscou incorporar as posições dos movimentos populares - incluindo o MTST - em seu programa. Reconhecemos ainda a resistência expressa em outras candidaturas no campo da esquerda. No entanto, sabemos que suas chances reais de disputa são muito pequenas, exatamente pelo domínio dos interesses econômicos sobre o processo eleitoral.

Nas eleições para os governos estaduais e para o legislativo também reconhecemos candidatos que representam propostas que defendemos. E buscaremos apresentar e indicar aos trabalhadores sem-teto organizados pelo MTST esses casos.

No entanto, por todos os motivos que temos apresentado em nossas lutas, reafirmamos que nosso caminho não é a participação em campanhas eleitorais. Continuaremos, independentemente do período eleitoral, mobilizados nas ruas para arrancar os direitos que sempre foram negados à maioria.

Nossos sonhos não cabem nas urnas. Nosso voto é no poder popular!

COORDENAÇÃO NACIONAL DO MTST

segunda-feira, setembro 15, 2014

Mulheres negras e pobres são quem mais pagam impostos no Brasil







Levantamento aponta que os 10% mais pobres da população brasileira comprometem 32% da renda com o pagamento de tributos. Nesse extrato da população, 68,06% são negros e 31,94%, brancos. 46% são homens e 54% mulheres

Caracterizado por onerar proporcionalmente os mais pobres em relação aos mais ricos, o sistema tributário brasileiro provoca um tipo mais profundo de injustiça. Estudo do Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc) revela que os impostos punem mais os negros e as mulheres em relação aos brancos e aos homens.

O levantamento cruzou dados de duas pesquisas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O estudo baseou-se na Pesquisa de Orçamento Familiar (POF), que fornece dados sobre a renda das famílias, e na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), que capta informações demográficas como raça e gênero.

Segundo o levantamento, os 10% mais pobres da população comprometem 32% da renda com o pagamento de tributos. Para os 10% mais ricos, o peso dos tributos cai para 21%. A relação com o gênero e a raça aparece ao comparar a participação de cada fatia da população nessas categorias de renda.

Nos 10% mais pobres da população, 68,06% são negros e 31,94%, brancos. A faixa mais desfavorecida é composta por 45,66% de homens e 54,34% de mulheres. Nos 10% mais ricos, que pagam menos imposto proporcionalmente à renda, há 83,72% de brancos e 16,28% de negros. Nessa categoria, 62,05% são homens e 31,05%, mulheres.

“Não há dúvida de que a mulher negra é a mais punida pelo sistema tributário brasileiro, enquanto o homem branco é o mais favorecido”, diz o autor do estudo, Evilásio Salvador. Para ele, é falsa a ideia de que a tributação brasileira é neutra em relação a raça e gênero.. “Como a base da pirâmide social é composta por negros e mulheres, a elevada carga tributária onera fortemente esse segmento da população”, contesta.

Historicamente, o sistema tributário brasileiro pune os mais pobres porque a maior parte da tributação incide sobre o consumo e os salários, em vez de ser cobrada com mais intensidade sobre o patrimônio e a renda do capital. Segundo o estudo, no Brasil, 55,74% das receitas de tributos vieram do consumo e 15,64% da renda do trabalho em 2011, somando 71,38%. Nos países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), a média está em 33%.

Os tributos sobre o consumo são regressivos do ponto de vista social por estarem embutidos nos preços dos bens e dos serviços. Dessa forma, uma mercadoria com R$ 1 de imposto embutido no preço pesa mais para as camadas de menor renda.

Para reverter a situação, Oliveira aponta a necessidade de uma reforma tributária, que amplie a tributação sobre o patrimônio e a renda do capital e desonere o consumo e a renda do trabalho. “Os mais ricos precisam ser mais tributados proporcionalmente, por meio de alíquotas progressivas, que aumentem conforme o nível de renda”, explica.

Entre as medidas sugeridas, ele defende a regulamentação do Imposto sobre Grandes Fortunas – determinada pela Constituição, mas até hoje não cumprida – e a extensão da cobrança de Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores (IPVA) a embarcações de luxo, como lanchas, jatos particulares, helicópteros e jet skis.

FONTE: Wellton Máximo, Agência Brasil

Dilma divulga apoio de 70 artistas e intelectuais







Chico Buarque, Beth Carvalho, Osmar Prado, Luis Fernando Veríssimo e Fernando Morais, entre outros, assinam manifesto a favor da reeleição da petista. 

Chico Buarque é um dos artistas que assinam o manifesto de apoio à reeleição da petista. A campanha da candidata Dilma Rousseff (PT) divulgou a relação de um grupo de 70 artistas, intelectuais e jornalistas que apoiam a reeleição da petista à Presidência da República. A lista reúne nomes como os dos cantores e compositores Chico Buarque, Chico César, Alcione, Beth Carvalho e Leci Brandão, também deputada estadual pelo PCdoB de São Paulo. Atores como Osmar Prado, Paulo Betti, Matheus Nachtergaele*, Chico Diaz, Sergio Mamberti, Silvia Buarque , Tonico Pereira, Hugo Carvana e Ângela Vieira e os escritores Luis Fernando Veríssimo, Fernando Morais e Silvano Santiago, entre outros, também assinam o texto intitulado “A primavera dos direitos de todos: ganhar para avançar” 

“Os brasileiros decidem agora se o caminho em que o país está desde 2003 é positivo e deve ser mantido, melhorado e aprofundado, ou se devemos voltar ao Brasil de antes – o do desemprego, da entrega, da pobreza e da humilhação”, diz trecho do texto.

O manifesto afirma que nunca o país viveu um processo “ tão profundo e prolongado de mudança e de justiça social, reconhecendo e assegurando os direitos daqueles que sempre foram abandonados”. Abandonar esse caminho para retomar fórmulas econômicas que protegem os privilegiados de sempre, segundo os signatários, seria um “enorme retrocesso”.

Os três presidenciais que despontam nas pesquisas têm buscado reunir o apoio de intelectuais e artistas. Na semana passada, o candidato Aécio Neves (PSDB) lançou um site com uma centena de apoiadores. Entre eles, acadêmicos e gestores com passagem pelo governo Fernando Henrique Cardoso. Dilma pretende reunir nesta segunda-feira (15) vários dos signatários do manifesto em favor de sua reeleição no Teatro Casa Grande, no Rio de Janeiro. Já a candidata Marina Silva (PSB) prepara um encontro com artistas, como os atores Odilon Wagner, Irene Ravache, Fábio Assunção e Bruna Lombardi na Casa das Caldeiras, em São Paulo. O evento de Marina é articulado pelo cineasta Fernando Meirelles, segundo a colunista Mônica Bergamo.

A primavera dos direitos de todos: ganhar para avançar

Os brasileiros decidem agora se o caminho em que o país está desde 2003 é positivo e deve ser mantido, melhorado e aprofundado, ou se devemos voltar ao Brasil de antes – o do desemprego, da entrega, da pobreza e da humilhação.

Nós consideramos que nunca o Brasil havia vivido um processo tão profundo e prolongado de mudança e de justiça social, reconhecendo e assegurando os direitos daqueles que sempre foram abandonados. Consideramos que é essencial assegurar as transformações que ocorreram e ocorrem no país, e que devem ser consolidadas e aprofundadas. Só assim o Brasil será de verdade um país internacionalmente soberano, menos injusto, menos desigual, mais solidário.

Abandonar esse caminho para retomar fórmulas econômicas que protegem os privilegiados de sempre seria um enorme retrocesso. O brasileiro já pagou um preço demasiado para beneficiar os especuladores e os gananciosos. Não se pode admitir voltar atrás e eliminar os programas sociais, tirar do Estado sua responsabilidade básica e fundamental.

O Brasil precisa, sim, de mudanças, como as próprias manifestações de rua do ano passado revelaram. Precisa, sem dúvida, reformular as suas políticas de segurança pública e de mobilidade urbana. Precisa aprofundar as transformações na educação e na saúde públicas, na agricultura, consolidando com ousadia as políticas de cultura, meio ambiente, ciência e tecnologia, e combatendo, sem trégua, todas as discriminações.

O Brasil precisa urgentemente de uma reforma política. Mas precisa mudar avançando e não recuando. Necessita fortalecer e não enfraquecer o combate às desigualdades. O caminho iniciado por Lula e continuado por Dilma é o da primavera de todos os brasileiros. Por isso apoiamos Dilma Rousseff.”

FONTE: CONGRESSO EM FOCO / EBC



Nota de esclarecimento* 

de Matheus Nachtergaele
O Site Brasil 247 relacionou meu nome numa lista de artistas ( todos admiráveis e queridos ) que apoiam a reeleição da Candidata Dilma Roussef à presidência. Não assinei manifesto algum, e por agora não pretendo colocar publicamente minha posição com relação a isso! Estou avaliando tudo e quando, ou se tiver certeza de algo, me pronunciarei!!!!!!!!!!!!
Atualizado em 16 de Setembro de 2014 / 14:30

sábado, setembro 13, 2014

Pastores brasileiros usam psicanálise para cativar fiéis evangélicos













Por meio do estudo das teorias de Freud, religiosos tentam aumentar o rebanho e o dízimo
Numa noite chuvosa de quarta-feira, desci do ônibus na rua Brigadeiro Luis Antônio, região central de São Paulo, quase em frente a uma das unidades da Igreja Universal do Reino de Deus situadas na capital paulista. No portão, uma senhora e dois jovens distribuíam exemplares da Folha Universal, periódico evangélico que circula semanalmente por todo o país há vinte e um anos. Ela estendeu o jornal e convidou-me a voltar “qualquer dia desses para conhecer a palavra de Deus”. Respondi que estava prestes a fazer isso. “Entre que o Senhor vai te abençoar, querida”, disse sorrindo. Entrei.

A Universal do Reino de Deus é a maior entre as igrejas neopentecostais existentes no Brasil. Segundo o Censo Demográfico de 2010, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), ela reúne mais de 1,8 milhão de fiéis espalhados por todas as regiões do país. Fundada em 1977 pelo bispo Edir Macedo num subúrbio do Rio de Janeiro, faz parte do movimento das igrejas evangélicas surgidas no final dos anos 1970, que se distanciam do pentecostalismo tradicional, principalmente porque pregam a prosperidade como via de aproximação com Deus.

Naquela quarta-feira à noite, perdi as contas de quantas vezes o pastor evocou a imagem do diabo para representar todos os males existentes na Terra. Mas num momento específico, ele decidiu falar sobre males mais concretos, muito contemporâneos, e comumente associados a tratamentos psicoterápicos, psicanalíticos ou mesmo psiquiátricos: o medo e a síndrome do pânico. “Grande parte das igrejas neopentecostais se pretende especializada no cuidado de três conhecidos ‘problemas’ humanos: a saúde, o amor e o dinheiro”, diz o psicanalista Wellington Zangari, doutor em Psicologia Social pela Universidade de São Paulo e vice-coordenador do Laboratório de Psicologia Social da Religião do Instituto de Psicologia da USP. 

“Para alguns pastores, não importa se existem médicos, psicólogos e outros profissionais de saúde para lidar com questões de doença. Há sempre uma interpretação bíblica para oferecer e vender saúde”.

A estratégia das igrejas neopentecostais e de seus pastores, segundo Zangari, tem sido a da assimilação, reinterpretação e incorporação dos diversos discursos presentes na cultura. Inclui-se aí o discurso da psicanálise, que cada vez mais é objeto de estudo por parte dos próprios pastores evangélicos – tanto neopentecostais, quanto pentecostais (batistas, presbiterianos e metodistas).

Psicanálise no templo

Izilmar Finco é pastor batista desde 1986, quando começou a atuar como missionário em Prado, na Bahia. Hoje, Izilmar trabalha na Igreja Batista de Eldorado (IBEL), em Serra, no Espírito Santo, e é filiado à Ordem dos Pastores Batistas do Brasil (OPBB). Em 1998, formou-se em Psicanálise pela Sociedade Psicanalítica Ortodoxa do Brasil (SPOB), criada em 1996 com a missão de popularizar e disseminar a psicanálise por todos os cantos do país. “Foi uma experiência muito enriquecedora e sou grato pela oportunidade que tive. A SPOB foi pioneira no Brasil na modalidade de formação de psicanalistas e deu a chance a muitas pessoas, assim como eu, de conhecer a psicanálise e seu valor na clínica, para ajudar as pessoas”, diz.

A psicanálise não é uma profissão regulamentada, ou seja, não existem cursos universitários especializados na prática criada por Sigmund Freud, tampouco leis que guiem especificamente seu exercício. A formação tradicional de um psicanalista passa pela graduação em Psicologia ou Medicina e pela associação a alguma sociedade psicanalítica, além da análise em si.

Na Sociedade Brasileira de Psicanálise, a primeira a ser criada na América Latina, em 1927, tal formação é oferecida a médicos e psicólogos registrados nos respectivos Conselhos Regionais, e a aceitação de profissionais graduados em outras áreas do conhecimento fica sob responsabilidade de uma Comissão de Ensino. Se aprovado, o pretendente deve se submeter a cinco anos de análise – com frequência mínima de quatro sessões semanais – além de realizar 160 seminários obrigatórios e atender a dois pacientes adultos ao menos quatro vezes por semana sob supervisão de um analista membro da sociedade.

Sendo livre a formação psicanalítica, entidades paralelas, como a Sociedade Psicanalítica Ortodoxa do Brasil, oferecem cursos livres a qualquer interessado, como o pastor Izilmar Finco. Atualmente, a Sociedade Psicanalítica Ortodoxa do Brasil é a maior sociedade de psicanalistas da América Latina. Em seus 18 anos de existência, concluiu mais de cem turmas em todos os estados brasileiros e formou cerca de três mil psicanalistas. O único pré-requisito para participar dos cursos é ter um diploma de graduação, seja ele qual for. Em dois anos, depois de participar de aulas duas vezes por mês e realizar 80 sessões de análise, o aluno recebe seu diploma de psicanalista.

A procura do curso por pastores evangélicos e líderes religiosos é intensa. Para o pastor Izilmar, se um religioso deseja desenvolver um bom ministério pastoral, ele precisa acumular uma série de conhecimentos, além da teologia: “Claro que a área da psique é uma delas. O pastor precisa se conhecer bem e saber como conhecer o outro”.  Com o auxílio da psicanálise ele afirma não atribuir tudo a questões espirituais. “Uma abordagem correta do problema é o primeiro passo para ajudar a encontrar a solução e a cura.”

Em 1927, Freud publicou um ensaio intitulado O futuro de uma ilusão, no qual afirma ser a religião “a neurose obsessiva universal da humanidade”, culpada pela decadência intelectual de parte dos seres humanos. Não seria então contraditório tentar conciliar religião e psicanálise? O pastor Izilmar acredita que não. “Não podemos negar o conhecimento ou os benefícios que a psicanálise trouxe para nós, desmistificando muitas coisas. Também de forma alguma podemos negar a fé e principalmente a fé em Jesus Cristo”, diz.

Gildásio dos Reis, pastor da Igreja Presbiteriana do Parque São Domingos, em São Paulo, e docente no Centro de Educação, Filosofia e Teologia (CEFT) da Universidade Presbiteriana Mackenzie, afirma que teologia e psicanálise partem de pressupostos completamente diferentes. Por isso, não acredita ser honesto um pastor evangélico “atender pacientes utilizando acriticamente uma técnica que diverge sob muitos aspectos da fé cristã”. “Quando eu clinicava, há dez anos, deixava claro aos pacientes sobre minha fé e dizia que, no tratamento, iria fazer uso da teologia para ajudá-los.”

Quando os assuntos tratados passavam por questões como adultério, homossexualidade, aborto ou “qualquer comportamento que, à luz dos ensinos bíblicos, são considerados errados”, Gildásio utilizava-se dos princípios bíblicos “para orientar melhor os pacientes”.

Sérgio Laia, analista membro da Escola Brasileira de Psicanálise e professor, há mais de trinta anos, do curso de Psicologia da FUMEC, em Belo Horizonte enxerga também um problema conceitual na aliança entre as duas práticas: “A perspectiva de Freud era a de que a religião está para a civilização assim como a neurose está para o indivíduo. É dessa forma que a psicanálise lida com a religião – e uma pessoa que pratica uma atividade religiosa dificilmente aceitaria esse tipo de definição”.

 “Ouvi de um dos meus professores uma frase de que nunca me esqueci: ‘Não há incompatibilidade entre verdade e verdade’. O que é verdade na psicanálise não anula as verdades do cristianismo”, relembra o pastor Izilmar.

A frase ouvida por ele durante o curso de psicanálise é de autoria do Dr. Heitor Antonio da Silva, um dos fundadores da Sociedade Psicanalítica Ortodoxa do Brasil. Ele me repetiria a máxima alguns dias depois, quando nos falamos pelo telefone. “Não existe incompatibilidade alguma entre psicanálise e religião, pois se a psicanálise é uma verdade, ela tem que ser compatível com qualquer ciência. Se a religião é verdadeira, ela também terá que ser compatível com qualquer ciência”, explica Heitor, que além de psicanalista, também é pastor batista. “Se duas coisas se apresentam incompatíveis, ou ambas são mentirosas ou uma delas o é.”

Durante dez anos, Heitor da Silva foi diretor executivo da SPOB e um dos responsáveis por concretizar o objetivo de disseminar a psicanálise para todos os estados do país. Hoje, ele atua como diretor geral e presidente do grupo Redentor, que administra três faculdades no Rio de Janeiro. “A ideia de popularizar a psicanálise não significa que o façamos sem qualidade. É uma questão simples: a psicanálise é uma ciência independente”, ressalta. “Freud disse que a psicanálise era a profissão de pessoas leigas que curam almas e que não necessitam ser médicos.”

Em 2000, o deputado Éber Silva, do Rio de Janeiro – ele mesmo pastor da Igreja Batista – apresentou um projeto de lei no Congresso Nacional que visava a regulamentar o exercício da psicanálise no Brasil. Ele recebeu o apoio da SPOB, que passaria a atuar com maior reconhecimento,  aumentando os atritos já existentes com grande parte da comunidade psicanalítica, que comumente a associa a grupos evangélicos.

Heitor da Silva afirma que a SPOB foi vinculada aos evangélicos devido a “perseguições das sociedades ligadas ao organismo internacional”, pois sabem que ele e o presidente Dr. Ozéas da Rocha Machado são pastores evangélicos. “A SPOB não oferece cursos para pastores, mas para qualquer pessoa que tenha formação universitária. Nunca foi uma sociedade religiosa ou vinculada à religião”, defende-se. Ele admite, no entanto, que a sociedade de fato forma muitos pastores e líderes religiosos, pois estes exercem funções que lidam com a “problemática humana”.

O projeto de lei não foi aprovado. “O fato de esses cursos terem sido fechados e considerados sem validade não me parece terminar com o problema”, considera o psicanalista Wellington Zangari. “Eles permanecem em nosso meio, senão como superiores, como cursos livres. A ‘formação’ é a mesma, com direito a carteirinha de psicanalista depois do cumprimento de uma série de regrinhas e provinhas de leituras de apostilas mal feitas.” Para ele, a medida não elimina “a sombra do risco de formação de péssimos psicanalistas, com placas com seus nomes em consultórios, cartões de visita e sites na internet”.

O curioso é que as próprias plataformas de formação a distância voltadas especificamente para pastores e líderes religiosos também oferecem cursos de psicanálise. Se a procura dos próprios pastores pelo conhecimento psicanalítico acontece de forma “natural”, como afirma a maioria deles, o caminho inverso também é verdadeiro, uma vez que a formação em psicanálise está acoplada à formação religiosa. Na Faculdade Gospel, por exemplo, criada há vinte e cinco anos, junto às aulas de aperfeiçoamento em bibliologia, direito eclesiástico, história de Israel, liderança cristã e outros cento e cinquenta títulos, há também os cursos de “psicanálise clínica pastoral” e “psicanálise cristã”.

Apologia ao medo

Segundo Doryedson Cintra, professor de psicanálise nos cursos realizados pela Sociedade Contemporânea de Psicanálise (SCOPSI), as religiões evangélicas estão praticando uma psicanálise selvagem, espécie de chantagem terapêutica que ele chama de “comando passivo”. “Os pastores sabem que há algo na vida de cada indivíduo que inspira o medo e o terror. 

Só não sabem o quê. Com a apologia ao medo, eles incitam os membros a ponto de despertarem um comportamento histriônico, uma espécie de teatralidade muito comum nos casos de possessão”, teoriza. Ele afirma que, na verdade, essas pessoas se encontram psicologicamente abaladas e, inconscientemente, desenvolvem comportamentos que poderiam perfeitamente ser diagnosticados como transtornos histéricos, e não casos de possessão.

Ainda que as pessoas busquem a religião e a psicanálise para lidar com seus sofrimentos, Wellington Zangari acredita que o ponto de contato entre ambas termina aí: “Cada uma dessas perspectivas oferecem compreensões do ser humano baseadas em modos de obter conhecimento que são, por vezes, antagônicas”. A religião supõe a existência de agentes espirituais intencionais e uma ordenação da realidade que é ligada àqueles agentes. A ciência, por outro lado, não enxerga a realidade a partir de referenciais sobrenaturais.

Segundo ele, ao contrário da religião, a psicanálise encontra a natureza do sofrimento humano no próprio sujeito, em sua subjetividade e dinâmica pessoal. Nada é atribuído a Deus ou a qualquer associação do tipo. Além disso, as formas de lidar com esse sofrimento são distintas: “A religião poderá buscar a solução do sofrimento pela via da salvação divina ou do afastamento do demônio, o que supõe uma ação de tipo sobrenatural ou, ao menos, um contato entre o ser humano e uma instância desse universo transcendente. Na psicanálise, lida-se com o sofrimento justamente colocando o sujeito no centro, na natureza mesma do sofrimento. Ele próprio é o agente último da ação, implicado até o pescoço no sofrimento que sente.”

FONTE: Amanda Massuela / Revista Cult