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sexta-feira, setembro 21, 2012

Feminismo no Brasil é elitista e hermético, diz líder do Femen nacional

Para Sara Winter, a imprensa é fundamental para a popularização do debate sobre o feminismo no país

O Femen Brazil está em processo de renovação. As críticas de Bruna Themis, ex-número 2 do grupo no país, obrigou a reflexão das atuais representantes da organização que se define como neofeminista. Em entrevista exclusiva ao Opera Mundi, Sara Winter, líder do Femen Brazil, reconhece erros da sua atuação, admite que o grupo ainda é inexperiente e tem discurso raso e esclarece quais são os principais objetivos dos protestos.

Sara também destaca a importância das aparições em programas de televisão, nega que tenha dito que Hitler foi um bom marido e deixa aberta a possibilidade do Femen Brazil se unir com outros movimentos feministas.

Questionada sobre a relação do grupo brasileiro com as idealizadoras ucranianas, Sara afirma que, a partir de setembro, passou a receber cerca de 400 dólares por mês, dinheiro utilizado apenas para as necessidades do projeto. Apesar das dificuldades financeiras e de não receber nada como ativista, garante: nunca vai deixar o Femen Brazil.

Opera Mundi: Sara, vamos começar com um tema que foi muito debatido nas redes sociais. A Bruna Themis disse que vocês receberam um “puxão de orelha” da Ucrânia por terem colocado mulheres fora do peso nos protestos…

Sara Winter: Não sei de onde a Bruna tirou isso. Ela vai ter que provar. As meninas na Ucrânia nunca me disseram nada a respeito disso. Uma das ucranianas me disse uma vez que a minha calcinha estava muito apertada numa foto que ela viu do protesto e parecia que eu estava acima do peso. Mas ela falou em tom de brincadeira. Eu comentei com a Bruna e acho que ela entendeu mal.

OM: E qual é o envolvimento do Femen com Andrey Cuia, candidato a vereador em Santo André pelo PMN (Partido de Mobilização Nacional)? Qual é o papel do Andrey e do PMN no movimento?

SW: O Andrey sempre escrevia na página do Femen Ucrânia, deixando mensagens de apoio ao grupo. Quando começamos o Femen Brazil, ele também se mostrou simpático à causa, mas mantivemos o contato somente por e-mail. No dia da Marcha das Vadias, ele me reconheceu na Rua Augusta e veio falar comigo. E foi aí que ele entrou no movimento. Como ele tem mais experiência para lidar com a mídia, ficou o responsável por essa parte.

OM: E por que o PayPal do Andrey é utilizado pelo Femen Brazil?

SW: A gente precisava de alguma conta PayPal porque eu não tenho cartão, cheque, conta em banco, nada. E ele se ofereceu, nada mais.

OM: Mas você não acha que o Andrey poderia ter pensado em se aproveitar da popularidade do Femen Brazil para dar uma alavancada na candidatura dele?

SW: Não. Duvido muito. Quando o Andrey se ofereceu para ajudar, ele não tinha recebido o convite para a candidatura ainda. E por diversas vezes perguntou se queríamos que ele se afastasse de todas as funções do Femen para não comprometer o movimento. Mas o Femen não abandona e não deixa ninguém para trás. O Andrey ajuda muito o grupo. Por exemplo, quando a produção do Danilo Gentili [do programa "Agora é Tarde", da Band] entrou em contato comigo, eles queriam que eu fosse aqui de São Carlos até São Paulo por minha conta e que eu bancasse todos os gastos, inclusive de hotel. Eles queriam se aproveitar de mim porque sabem que eu não entendo como funciona a relação com a imprensa. O Andrey conseguiu que o programa pagasse a minha passagem e duas diárias de hotel. Esse é o papel dele no Femen. Quando o Andrey se candidatou a vereador, fizemos uma outra reunião e ficou decidido que ele já não teria poder de voto no grupo. Ele participa, mas já não decide nada.

OM: Você fala de “nós tomamos a decisão”, “a equipe se reuniu”, mas a Bruna disse que vocês nunca se reuniam e não decidiam nada em grupo. Quantas pessoas fazem parte desta equipe do Femen?

SW: Depois dessa situação com a Bruna, a gente teve que sentar e repensar tudo. Muitas pessoas saíram e, as que ficaram, eu chamo de heroínas. Não foi fácil e não está sendo fácil. Agora somos 10 ou 12 com poder de voto, não mais do que isso. Antes éramos 30. Quando eu voltei da Ucrânia e as pessoas viram os nossos protestos na Eurocopa, todo mundo queria ser Femen, mas essa vontade de lutar durou pouco.

OM: E quantas são as ativistas que fazem topless agora no Femen?

SW: Quatro. E outras ainda estão conhecendo o movimento. Mas o tempo todo tem pessoas que entram e acabam saindo.

OM: Por que elas entram e saem logo?
SW: Acho que a vontade de ser ativista passa rápido. Parece que elas não têm uma opinião forte sobre nada e que ainda estão submetidas ao que pensam os maridos e namorados.

OM: Mas algumas pessoas já disseram que você é bem autoritária. Isso não poderia ser uma razão? 

SW: Eu confesso que sou individualista e preciso aprender a trabalhar em equipe. Eu pedi muito à Bruna para que me ajudasse com isso, mas parece que não adiantou. Eu comecei o Femen sozinha aqui no Brasil e fiquei muito tempo sendo a única cara do movimento, mas isso acabou prejudicando o projeto.

OM: A falta de comunicação da equipe foi criticada pela Bruna e, quando a gente acompanha um pouco o grupo do Facebook, isso fica bem claro. Parece que vocês não se entendem como equipe. Cada um fala uma coisa…

SW: Sim, mas a gente mudou tudo. Com a nova equipe, temos uma comunicação excelente. Conversamos todos os dias por Skype e discutimos tudo.

OM: Essas pessoas são todas voluntárias?

SW: Sim, são pessoas que acreditam no Femen como um todo, que acreditam na nossa ideia.

OM: E qual é essa ideia?

SW: A nossa missão é muito clara, na verdade. A missão, por enquanto, ... eu vou repetir sempre... somos mulheres simples, não temos dinheiro. A única coisa que temos é o nosso corpo e a nossa voz. Como ainda não podemos formar uma ONG e trabalhar de maneira efetiva para ver quantas mulheres são exploradas, a nossa missão ainda é de outdoor, de mostrar para a opinião pública, para o governo, um problema que existe e é negligenciado. O Femen é um instrumento do feminismo. Lutamos contra toda e qualquer opressão patriarcal machista. E cada país tem sua luta específica. Na França, por exemplo, eles colocam a luta contra a lei islâmica [sharia] na agenda. Aqui no Brasil, incluímos a violência doméstica, os direitos LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transsexuais) e a questão indígena.

FONTE: OPERA MUNDI

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