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quarta-feira, setembro 26, 2012

Movimento feminista merece respeito

A perspectiva histórica é fundamental quando falamos de política e feminismo, porque feminismo é, essencialmente, política

Movimentos questionando a organização social opressora estão de volta. É o caso dos mineiros espanhóis, da "Primavera Árabe", dos estudantes chilenos e das vadias canadenses. Os chamados "indignados" tomaram o mundo e questionam a sociedade em que vivemos. Nesse processo, também se abre o questionamento à opressão contra a mulher.

Em consonância com os levantes mundiais, os movimentos feministas ressurgem com mais força. Não se trata de algo dissociado, até mesmo das movimentações vistas pelo mundo por mudanças mais profundas na sociedade. Isso porque, quando analisamos dados estatísticos, percebemos que aqueles que mais sofrem com as políticas de austeridade, a falta de emprego e o aumento da violência policial, são justamente os que têm gênero, raça e orientação sexual diferentes ou "minoritários".

No âmbito do feminismo, também surgiram novas formas de organização, mas que talvez não sejam tão inovadoras assim, como propõe a organização Femen Brazil, cuja líder, Sara Winter, protagonizou uma recente polêmica por afirmar que o feminismo é "elitista e hermético". O movimento feminista brasileiro tem história e vitórias importantes, que precisam ser retomadas como base para o amadurecimento de futuras ações, mesmo que seja repensando métodos, organizando as falas para o mundo de hoje.

Uma coisa é certa: as chamadas "tarefas feministas", levantadas durante a revolução sexual no anos 60, perduram. Dessa forma, por compreender que diversas bandeiras colocadas naquele momento ainda não foram alcançadas, o conceito do neofeminismo deve ser condenado. No Brasil, ainda travamos diversas lutas, como a da descriminalização das mulheres, da legalização do aborto, da efetivação de uma política pública que combata a violência machista, pelo casamento civil igualitário, contra a mercantilização do corpo da mulher, pela nossa liberdade sexual e tantas outras. Todos esses elementos estão ao fácil alcance, ainda mais na época da internet. A luta pela emancipação das mulheres está em todas as partes.

Além disso, o movimento feminista brasileiro é sortido, diverge entre si. Porém, não é elitista. Tanto que em 2012 celebramos o aniversário de 80 anos do  voto feminino. Conquistamos o voto e o ampliamos depois para as mulheres trabalhadoras. Surgiu então a licença-maternidade, o SUS, a redemocratização do país, a Lei Maria da Penha e tantas outras lutas importantes que as mulheres feministas estiveram à frente. Nossa história é repleta de conquistas importantes e é nos baseando nelas que analisamos o presente e as perspetivas e estratégias futuras.

Olhamos para a história que pessoas como Amelinha Telles, Tatau Godinho, Nalu Faria, Heleieth Saffiotti, Beth Lobo, Helena Hirata, Sônia Coelho, entre tantas outras companheiras, e podemos observar, existindo divergências ou não, um caminho que deve ser respeitado e experiências e reflexões que devem servir como parâmetro para novas reflexões e atuações no movimento. A perspectiva histórica é fundamental quando falamos de política e feminismo, porque feminismo é, essencialmente, política.

O debate é concreto, porque as mulheres, atualmente organizadas em diversos coletivos com posicionamentos políticos variados, se olham e percebem que precisam se juntar em torno de uma agenda mínima para a disputa da sociedade. Existe de sobra a disposição para organizar e conversar com mulheres que não tenham a bagagem teórica ou militante, ao contrário do que disse Sara Winter.

A conclusão é a de que se abre hoje um momento importante para nós, feministas no Brasil e no mundo. Momento propício e fundamental para a organização, com o intuito de disputar, organizar e ganhar cada vez mais espaço no país. O caminho para isso é por meio do debate e combate, principalmente com os expoentes do conservadorismo. Disputaremos uma sociedade em conjunto, com o desejo de criar espaços de discussão fortes o bastante para provocarem inúmeras rupturas.

FONTE: Opera Mundi / Luka Franca é jornalista e militante do movimento feminista  

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