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segunda-feira, junho 06, 2011

Martinho da Vila: Viva Santo Antônio, São João e São Pedro!



Quando eu era rapazola ficava feliz ao chegar o mês de junho. Dos 12, o sexto era o que eu mais gostava. Era o mês mais alegre do Rio de Janeiro. Em quase todas as noites o céu ficava infestado de balões com muitas lanterninhas. Em sua maioria os luminosos de papel fino eram do tipo tangerina ou charuto, alguns soltando fogos de artifício.

Durante o dia vislumbravam-se os balões caixas, peões, estrelas, cruzes... Era lindo. Eu sei, ou melhor, sabia, fazer de todos os tipos. O mais difícil era o cruz e depois o estrela. Os caixas também não eram fáceis e por não serem muito bonitos, eram adornados com fitas. Muitos balões subiam e desapareciam nas nuvens. Uma infinidade de balões se via no firmamento com mais profusão nos dias de Santo Antônio, São João e São Pedro. Não se tinha notícias de incêndios porque a grande maioria não subia muito e caia apagado, ou quase. Como era bom correr atrás de balões, pegar e soltar. As buchas eram feitas de estopa com sebo, breu ou espermacete, e umedecidas com querosene ou álcool.

Depois surgiram os grandes baloeiros com artefatos enormes, perigosíssimos e vieram as proibições. Hoje em dia não se pode soltar nem o pequeno balão japonês. Entretanto, o que eu mais gostava naquele tempo era das festas juninas. Havia muitas. Eu adorava soltar foguetes tipo buscapés, estalinhos, estrelinhas, rodinhas giratórias... Morteiros não. Em todos os dias tinha arraial em alguma rua dos bairros com música junina quadrilha e casamento caipira. Nas fogueiras assava-se batata doce, aipim e bebia-se quentão, uma mistura de cachaça com açúcar, temperada com gengibre, canela e servida quente. Servia-se também quentão de vinho de garrafão fervido com cravo-da-índia, canela e gengibre, também para se sorver ainda quente.

A festa melhor de todas, de Vila Isabel, era a da Rua Petrocochino, que era enfeitada com bandeirinhas da esquina da Torres Homem até o Morro dos Macacos. Lá em cima, num lugar chamado Terreirinho, é que acontecia o ponto alto da festa. Ali não se fazia fogueira para não atrapalhar a dança da quadrilha seguida de baile ao som de baião, xaxado, coco e xote.

Alô, povo da Vila! O momento está propício para reviver e festejar. A diferença das outras festas é que nas lá do morro tinha churrasco patrocinado pelo presidente da Unidos de Vila Isabel. A cerveja era fornecida pelos bares do bairro e tudo era servido de graça. Lamentavelmente os folguedos de junho estão mais escassos e menos característicos no nosso Rio de Janeiro, mas ainda acontecem em algumas vilas ou condomínios. Vou sair por aí à procura de um arraiá para comemorar o dia de Santo Antônio, São João ou São Pedro.

Quem sabe organizar bem uma festa junina é a minha amiga e grande cantora Alcione. Todos os seus convivas tinham de ir vestidos a caráter, mas valia improviso. Uma vez eu e a Mart’nália nos fantasiamos tanto que nós mesmos não nos identificamos de cara e as pessoas só nos reconheciam pelas vozes. Alô, Marrom! Se tiver gandaia este ano, não se esqueça de mim.
FONTE: JORNAL O DIA

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