
Miguel
Horta e Costa, antigo presidente da Portugal Telecom, hoje administrador do
BESI e presidente da Fundação Luso-Brasileira, foi constituído arguido num
processo que investiga corrupção no comércio internacional.
Horta
e Costa esteve na sexta-feira no
Departamento Central de Investigação e Ação Penal para responder às
perguntas do Ministério Público brasileiro, que chegaram a Lisboa em carta
rogatória. Esta investigação começou em 2012, depois do publicitário brasileiro
Marcos Valério, condenado como o executor do "mensalão", ter afirmado
num depoimento que a Portugal Telecom financiou o Partido dos Trabalhadores
(PT) com 2,6 milhões de euros, durante o Governo de Lula da Silva. Segundo
Valério, esse dinheiro foi negociado diretamente entre o ex-presidente do
Brasil e o então presidente da Portugal Telecom, Miguel Horta e Costa, no
Palácio do Planalto, em Brasília.
Nos
depoimentos de Marcos Valério, surgiram os nomes de Ricardo Salgado, António
Mexia e Miguel Horta e Costa, com os quais Valério alega ter-se reunido entre
2002 e 2006 para organizar financiamentos ao Partido dos Trabalhadores, de Lula
da Silva. Todas aquelas figuras foram testemunhas de defesa de José Dirceu e
outros “mensaleiros”. Horta e Costa é agora constituído arguido.
Os
órgãos sociais da Fundação Luso-Brasileira, a que Horta e Costa preside, são o
retrato das proximidades que a Fundação
quer cultivar. Na vice-presidência da fundação está outro ex-presidente da PT
(1996-2002), Murteira Nabo. Foi sob estas presidências que a PT se tornou uma
empresa luso-brasileira, acabando por se fundir com a gigante Oi e por cair
depois sob domínio de capital brasileiro. Como assinala Horta e Costa no site
da Fundação, a FLB “promove o relacionamento institucional, político e
económico entre os dois povos”. O peso de representantes de interesses
angolanos é também grande na FLB, onde têm cargos, entre outros, António
Monteiro, ex-MNE do PSD indicado pela Sonangol para chairman do BCP, e Miguel
Relvas, vindo da Finertec angolana, um dos braços empresariais da Fundação
Eduardo dos Santos.
Dirceu próximo de
Relvas e de interesses angolanos
Segundo
o jornal Público, José Dirceu foi em 2008 operacional na venda da operadora da
PT no Brasil, a Vivo. Para apoiar o negócio, a PT contratou o escritório de
advogados de Fernando Lima. Já em finais de 2011, encontramos de novo Lima a
representar os interesses brasileiros, então na privatização da TAP. Foi Lima
quem providenciou o primeiro encontro de Gérman Efromovich, candidato à TAP
apoiado por Brasília, com o ministro Miguel Relvas, então titular do processo
no governo. Semanas depois, o próprio irmão de José Dirceu veio a Lisboa
representar Efromovich numa reunião com o então presidente do BES, Ricardo
Salgado (P, 2.8.2012). Até ser preso, o escritório de advogados de José Dirceu
representava no Brasil o escritório de Fernando Lima, o LSF & Associados.
Lima
foi presidente da construtora Engil e também grão-mestre do Grande Oriente
Lusitano. Quando o BPN foi nacionalizado, a parte rentável do grupo SLN,
incluindo os negócios do grupo em Angola, foi mantida nas mãos dos seus donos
de sempre - o grupo cavaquista de Oliveira e Costa, Joaquim Coimbra e outros. O
grupo mudou de nome para Galilei, e contratou o advogado Fernando Lima para
presidir à sua administração.
O mensalão chega a
Angola
Angola
foi o segundo país mais profundamente atingido pelo escândalo do “mensalão”, o
esquema de corrupção e financiamento ilegal de partidos e governantes. Uma
comissão parlamentar brasileira investigou as movimentações financeiras do
empresário Marcos Valério, o operacional do ministro José Dirceu neste
escândalo. Muitas transferências realizavam-se através do Trade Link Bank,
offshore nas ilhas Caimão detido pelo Banco Rural brasileiro.
As
investigações da justiça brasileira ao TradeLink/Banco Rural acabaram por
detetar também o trânsito de vultuosas transferências precisamente para Angola,
para contas bancárias do ex-ministro angolano das Finanças, José Pedro Morais,
e do ex-governador do banco central angolano (BNA), Amadeu Maurício. Segundo a
imprensa brasileira, foram 21 remessas entre 2003 e 2005, num total de 2,7
milhões de dólares. Os dois políticos acabaram afastados dos seus cargos por
José Eduardo dos Santos.
O
caso angolano não parece ter relação direta com o “mensalão”, mas os
empresários brasileiros que realizavam aqueles pagamentos serviam-se do mesmo
canal offshore por onde Marcos Valério fazia circular os seus subornos.
A rede luso-brasileira
da Fundação Eduardo dos Santos
Um
dos condenados no “mensalão” foi o presidente do Banco Rural, José Roberto
Salgado. Este banqueiro brasileiro, hoje na prisão, presidiu também à filial de
Lisboa, o Banco Rural/Europa (BR/E). Até 2012, o BR/E era um offshore na
Madeira, mas em 2012 abriu portas em pleno Saldanha, em Lisboa.
.jpg)
A
rede BFI-Finertec é um dos braços financeiros do palácio presidencial angolano.
Nos postos-chave desta rede vamos encontrar o pessoal político-empresarial em
torno da Fundação Eduardo dos Santos, associado a gestores de topo portugueses
e responsáveis com boas relações políticas em Lisboa.
Legenda:
José
Dirceu está ligado ao Banco Rural brasileiro pelo “caso Mensalão”, à Ongoing
pelos media do grupo no Brasil e a Efromovitch na candidatura à privatização da
TAP. Dirceu foi ainda parceiro da sociedade de advogados portuguesa LSF&A.
À frente da LSF&A está Fernando Lima, grão-mestre do GOL e presidente do
grupo Galilei (ex-SLN). A Ongoing e o BES são acionistas de referência da PT.
Miguel Horta e Costa, administrador do BESI, foi constituido arguido no caso
Mensalão. Foi presidente da PT e é presidente da Fundação Luso-Brasileira.
Luís
Rodrigues tem cargos de topo na filial de Lisboa do Banco Rural brasileiro. No
universo Finertec/Fundação José Eduardo dos Santos, preside à Opex (onde
Nogueira Leite esteve no Conselho Geral) e é administrador do Banco Fiduciário
Internacional (com o presidente da Finertec e o ex-secretário-geral do PAICV de
Cabo Verde, Armindo Maurício). A Fundação José Eduardo dos Santos dirige a
Finertec através dos seus principais quadros. Miguel Relvas foi substituído por
Marcos Perestrello na administração da Finertec durante um curto período.
Pereira Coelho mantém-se no grupo angolano e como consultor da diplomacia
português.
FONTE: ESQUERDA NET / 11
de Janeiro, 2015 - 16:24h Jorge Costa
Nenhum comentário:
Postar um comentário