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sexta-feira, janeiro 21, 2011

AfroReggae completa 18 anos de sucesso com status de empresa social







Era uma vez uma ONG. O AfroReggae atinge a maioridade com status de empresa social. O aniversário de 18 anos é hoje. Sem festa. Mas há muito a comemorar: o programa "Conexões Urbanas", do Multishow, apresentado pelo coordenador da coisa toda, José Júnior, virou referência em cultura de periferia. O Multishow não divulga números de audiência, mas só de lucros para o AfroReggae o "Conexões" rendeu R$ 500 mil em 2010. A trupe de teatro estreou profissionalmente no Laura Alvim em setembro, com a peça "Urucubaca", feita de textos inéditos de Jorge Mautner.

A banda AfroReggae, que lança seu quarto disco este ano, acaba de se associar à Mondo Entretenimento, a maior empresa de agenciamento de artistas no país. O AfroSamba lança, ainda neste semestre, seu primeiro CD. E a cereja do bolo de aniversário foi a inauguração, em maio passado, do Centro Cultural Waly Salomão, em Vigário Geral. São quatro andares, que abrigam salas de aulas e estúdios bem equipados para ensaios e gravações. Em frente, uma praça para espetáculos. Caetano, Gil, Fernanda Abreu, Adriana Calcanhotto, Daniela Mercury, muitas gente já tocou lá. Para ontem à noite estava agendado um show do Cidade Negra, marcando a volta de Toni Garrido.

- Não fazemos hoje nenhuma produção de show ou de televisão que não dê lucro para o AfroReggae. Tudo dá lucro. Em 2010, nossa receita foi de R$ 14 milhões - revela Júnior. - O DNA do AfroReggae é cultural e social. Mas tudo passa pela cultura. Nosso trunfo são as nossas associações. Sempre procuramos os melhores como parceiros.

Sem leis de incentivo

O AfroReggae tem uma constelação de patrocinadores. O que transformou - ou está transformando - a ONG em empresa social, porém, é a mudança de paradigma. A maioria dos apoiadores não usa leis de incentivo porque a relação é de empresa para empresa, de CEO para CEO.

- Nós fomentamos negócios, e eles nos pagam por isso - explica Júnior. - Os artistas vão tocar em Vigário Geral não porque somos coitadinhos. Vão lá porque têm toda a estrutura para ensaiar, para gravar, para se apresentar. O AfroReggae conta hoje com oito bandas, duas trupes de circo, uma trupe de teatro e mantém 75 projetos sociais, de projetos de empregabilidade a cursos de capacitação.

Com pinta de CEO pop - calça e camiseta da Reserva, quatro argolas de ouro nas orelhas e muitas tatuagens -, Júnior recebeu O GLOBO na mais nova instalação do AfroReggae, uma cobertura na Rua da Lapa, com ampla vista da Baía da Guanabara. A reforma foi concebida pelo designer Luiz Stein. Custou, incluindo o imóvel, R$ 1 milhão. Por quase duas horas, Júnior despejou projetos, que vão de programas de televisão à construção de um museu no Complexo do Alemão, que está em fase embrionária, com previsão de inauguração nos 20 anos do AfroReggae. O projeto é de Oscar Niemeyer. E o acervo, ainda em negociação, do banco Santander, dono de uma das maiores coleções privadas do mundo.

- Vamos inaugurar com pelo menos um Picasso, um Monet, um Salvador Dalí - diz Júnior. - Mas queremos um museu interativo, como o Museu da Língua Portuguesa e o do Futebol.


- Ele não está no papel de policial, mas de alguém que se muda para a favela dez dias depois da ocupação, interagindo, conversando, tomando banho, comendo, dormindo. Aprovamos o programa numa quinta-feira, e na segunda estava todo mundo morando no Alemão: câmera, editor, produção... - comenta Júnior. - Filmamos muito o Beto na rua, com as pessoas. Filmamos 24 horas. O mais interessante foi perceber o olhar do policial para a favela e o olhar da favela para o policial.Na TV, vai dar muito AfroReggae em 2011. No dia 7 de fevereiro, estreia "Papo de polícia", no Multishow. O programa, umreality show no Complexo do Alemão, terá sete episódios. O AfroReggae plantou na favela o policial civil Beto Chaves, que participou nos últimos anos de todas as operações por ali. Beto ficou morando lá uma semana.

Mais dois programas de TV estão na ponta da língua de Júnior: "Poder" e "3D". O primeiro também será exibido no Multishow. Está na grade de 2011, mas sem data confirmada para estrear. A série vai apresentar mulheres poderosas, de traficantes a empresárias. A ideia é mostrar o cotidiano de mulheres que interferem no seu entorno. No roteiro, na direção, na apresentação, nas câmeras, na produção, só mulheres. Já o "3D" é uma encomenda da TV Globo: um programa jornalístico nos 18 municípios do Grande Rio, com reportagens que não encontrariam espaço no jornalismo tradicional da emissora. E, por fim, o "Conexões Urbanas", há quatro anos no ar, continua. Três temas já estão na pauta: uma entrevista com Marcinho VP, um papo com Fernandinho Beira-Mar e um apanhado dos cem primeiros dias do Exército no Complexo do Alemão.

- Estamos filmando 24 horas. Não fazem os cem dias do presidente, do prefeito? Estamos fazendo os cem dias do Exército no Alemão. Continua a ter tráfico, mas obviamente não é mais aquilo - comenta Júnior. - Mas agora tem assalto, coisa que não tinha. Tem porrada física entre os jovens, o que não acontecia. No contexto geral, porém, melhorou muito para os moradores.

Enquanto caminha pela nova sede, com o orgulho de quem começou com pequenas oficinas de percussão na quadra de Vigário Geral, Júnior prova: o AfroReggae está na moda. Literalmente.

- Estamos lançando um selo: o AR. Quem está pilotando o licenciamento é a Reserva. Vinte empresas já pediram licenciamento. A criação será coletiva. A marca que receber o selo AR vai produzir produtos em parceria com o nosso time de estilo. Mas é mais do que estilo, obviamente. É transformação social. O dinheiro tem destino certo.

FONTE: O GLOBO

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