Era uma vez uma ONG. O AfroReggae atinge a maioridade com status de empresa social. O aniversário de 18 anos é hoje. Sem festa. Mas há muito a comemorar: o programa "Conexões Urbanas", do Multishow, apresentado pelo coordenador da coisa toda, José Júnior, virou referência em cultura de periferia. O Multishow não divulga números de audiência, mas só de lucros para o AfroReggae o "Conexões" rendeu R$ 500 mil em 2010. A trupe de teatro estreou profissionalmente no Laura Alvim em setembro, com a peça "Urucubaca", feita de textos inéditos de Jorge Mautner.
A banda AfroReggae, que lança seu quarto disco este ano, acaba de se associar à Mondo Entretenimento, a maior empresa de agenciamento de artistas no país. O AfroSamba lança, ainda neste semestre, seu primeiro CD. E a cereja do bolo de aniversário foi a inauguração, em maio passado, do Centro Cultural Waly Salomão, em Vigário Geral. São quatro andares, que abrigam salas de aulas e estúdios bem equipados para ensaios e gravações. Em frente, uma praça para espetáculos. Caetano, Gil, Fernanda Abreu, Adriana Calcanhotto, Daniela Mercury, muitas gente já tocou lá. Para ontem à noite estava agendado um show do Cidade Negra, marcando a volta de Toni Garrido.
- Não fazemos hoje nenhuma produção de show ou de televisão que não dê lucro para o AfroReggae. Tudo dá lucro. Em 2010, nossa receita foi de R$ 14 milhões - revela Júnior. - O DNA do AfroReggae é cultural e social. Mas tudo passa pela cultura. Nosso trunfo são as nossas associações. Sempre procuramos os melhores como parceiros.
Sem leis de incentivo
O AfroReggae tem uma constelação de patrocinadores. O que transformou - ou está transformando - a ONG em empresa social, porém, é a mudança de paradigma. A maioria dos apoiadores não usa leis de incentivo porque a relação é de empresa para empresa, de CEO para CEO.
- Nós fomentamos negócios, e eles nos pagam por isso - explica Júnior. - Os artistas vão tocar em Vigário Geral não porque somos coitadinhos. Vão lá porque têm toda a estrutura para ensaiar, para gravar, para se apresentar. O AfroReggae conta hoje com oito bandas, duas trupes de circo, uma trupe de teatro e mantém 75 projetos sociais, de projetos de empregabilidade a cursos de capacitação.
Com pinta de CEO pop - calça e camiseta da Reserva, quatro argolas de ouro nas orelhas e muitas tatuagens -, Júnior recebeu O GLOBO na mais nova instalação do AfroReggae, uma cobertura na Rua da Lapa, com ampla vista da Baía da Guanabara. A reforma foi concebida pelo designer Luiz Stein. Custou, incluindo o imóvel, R$ 1 milhão. Por quase duas horas, Júnior despejou projetos, que vão de programas de televisão à construção de um museu no Complexo do Alemão, que está em fase embrionária, com previsão de inauguração nos 20 anos do AfroReggae. O projeto é de Oscar Niemeyer. E o acervo, ainda em negociação, do banco Santander, dono de uma das maiores coleções privadas do mundo.
- Vamos inaugurar com pelo menos um Picasso, um Monet, um Salvador Dalí - diz Júnior. - Mas queremos um museu interativo, como o Museu da Língua Portuguesa e o do Futebol.
Mais dois programas de TV estão na ponta da língua de Júnior: "Poder" e "3D". O primeiro também será exibido no Multishow. Está na grade de 2011, mas sem data confirmada para estrear. A série vai apresentar mulheres poderosas, de traficantes a empresárias. A ideia é mostrar o cotidiano de mulheres que interferem no seu entorno. No roteiro, na direção, na apresentação, nas câmeras, na produção, só mulheres. Já o "3D" é uma encomenda da TV Globo: um programa jornalístico nos 18 municípios do Grande Rio, com reportagens que não encontrariam espaço no jornalismo tradicional da emissora. E, por fim, o "Conexões Urbanas", há quatro anos no ar, continua. Três temas já estão na pauta: uma entrevista com Marcinho VP, um papo com Fernandinho Beira-Mar e um apanhado dos cem primeiros dias do Exército no Complexo do Alemão.
- Estamos filmando 24 horas. Não fazem os cem dias do presidente, do prefeito? Estamos fazendo os cem dias do Exército no Alemão. Continua a ter tráfico, mas obviamente não é mais aquilo - comenta Júnior. - Mas agora tem assalto, coisa que não tinha. Tem porrada física entre os jovens, o que não acontecia. No contexto geral, porém, melhorou muito para os moradores.
Enquanto caminha pela nova sede, com o orgulho de quem começou com pequenas oficinas de percussão na quadra de Vigário Geral, Júnior prova: o AfroReggae está na moda. Literalmente.
- Estamos lançando um selo: o AR. Quem está pilotando o licenciamento é a Reserva. Vinte empresas já pediram licenciamento. A criação será coletiva. A marca que receber o selo AR vai produzir produtos em parceria com o nosso time de estilo. Mas é mais do que estilo, obviamente. É transformação social. O dinheiro tem destino certo.
FONTE: O GLOBO
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