Quase metade das pessoas que estão na fila da adoção – 37,5% – só aceita a adotar se a criança for branca, é o que revela o Cadastro do Conselho Nacional de Justiça (CNJ).
Segundo a juíza Andréa Pachá, titular da 1ª Vara de Família de Petrópolis (RJ), trata-se de uma forma camuflada de racismo. “É um dado estarrecedor. Ainda é forte a fantasia de que a adoção deve obedecer aos critérios da família biológica. Família é muito mais um núcleo de afeto do que herança biológica. Criança é criança, não tem cor. O discurso que se tem é o de que a criança não pode se sentir diferente. Mas isso é uma forma de racismo”, afirmou.
Segundo os números divulgados nesta segunda-feira (24/01), a cor da pele ainda é fator decisivo: dos 30.378 inscritos, 11. 316 só aceita se a criança for branca. Dos adultos inscritos, 14.259 – ou seja 46,94% - faz questão de escolher a criança pela cor da pele.
Além da exigência majoritária de que a criança deve ser branca, há ainda 5,81% (1.764) dos potenciais pais adotivos que só aceitam uma criança de pele parda; 1,91% (579) só aceitam uma criança negra; 1% (304) só aceita uma criança amarela; e 0,97% (296), uma criança indígena.
Com essas exigências as crianças negras continuam sendo esquecidas nos abrigos e orfanatos, sem chance de ganhar um lar adotivo, porque não atendem as exigências dos candidatos a adoção.
No cadastro, a maioria das crianças e adolescentes é parda — 50,57%, ou 4.020 de um total de 7.949. Estão disponíveis 2.411 crianças brancas, ou 30,33% do total. Também aguardam uma família 1.441 (18,13%) crianças negras, 41 (0,52%) amarelas e 36 (0,45%) indígenas.
Forma de racismo
Segundo a juíza “criança é criança, não tem cor” e o discurso de que a criança não pode se sentir diferente, não deixa de ser uma forma de racismo”. “Isso era pior antes. Hoje é mais fácil por uma criança de outra raça em uma família substituta. Temos encontrados casais que queriam uma menina loira de olhos azuis e, depois de visitar um abrigo, mudam de ideia. Esse perfil de menina loira de olhos azuis não é o que temos nos abrigos”, acrescenta.
Há uma outra exigência que acaba contribuindo para inviabilizar a adoção de crianças negras: os candidatos a adoção preferem crianças mais novas. Apenas 6,78%, ou 2.058, aceitam crianças com idade entre 6 e 10 anos. Outros 228 (0,76%) aceitam adotar um menor de 11 a 17 anos. No cadastro, há 2.006 crianças, ou 25,2% do total, com idade de 6 a 10 anos. Há também outras 3.855 crianças e adolescentes, ou 48,5%, com idade entre 11 e 17 anos.
Como a criança negra tem poucas chances de ser adotada, quanto mais velha vai ficando, menos chances tem de ganhar um novo lar.
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