Índios e agricultores do Xingu realizam nesta terça-feira uma manifestação em Brasília contra a liberação das obras do complexo hidrelétrico de Belo Monte.
Eles pretendem entregar à presidente Dilma Rousseff um documento com mais de 500 mil assinaturas contra o início das obras da usina.
Ontem, centenas de índios se reuniram em Brasília. A primeira atividade organizada pelos representantes das comunidades indígenas foi um seminário sobre os riscos da implantação da usina, que será construída no Pará.
"Vim para falar que somos contra, que não queremos Belo Monte. Se o Governo pudesse me ouvir, queria dizer que não construam a usina", declarou o cacique Raoni Metuktire, da tribo caiapó e conhecido no mundo todo desde 1989, quando o cantor britânico Sting se uniu à campanha de defesa do Parque Indígena do Xingu, onde será construída a hidrelétrica.
Belo Monte, cuja construção custará cerca de US$ 10,6 bilhões, terá capacidade de gerar 11.233 megawatts e criará 18.700 empregos diretos que, segundo argumentam os grupos contrários à construção, não serão destinados aos habitantes da região, em sua maioria indígenas e agricultores dedicados ao cultivo de cacau.
A execução do projeto ainda implicará na inundação de uma área de 506 quilômetros quadrados e provocará o deslocamento de cerca de 50 mil índios e camponeses, segundo afirmam os movimentos sociais.
Em discurso proferido na abertura do seminário, Raoni sustentou que as obras de construção destruirão vastas áreas de floresta "vitais" para os habitantes da região e, além disso, alterarão as condições de um rio que para muitos representa "a vida", pois ali se pesca o que milhares de pessoas consomem.
"Não há mais espaço, porque os homens brancos já tomaram todas as terras dos índios", disse Raoni, que ressaltou que os povos da Amazônia querem "floresta e os rios para seus netos".
O líder indígena Marcos Terena também participou da abertura do evento e lembrou que o projeto nasceu na década de 1970, idealizado pela ditadura, e que posteriormente foi retomado por Lula para se transformar em realidade com Dilma.
"Durante muito tempo o homem branco agrediu nosso pensamento e o de nossos espíritos, devem parar, nossos territórios são sítio sagrado do nosso povo. Nosso espírito indígena diz: parem", declarou Terena.
Apesar da oposição de alguns grupos, Belo Monte já ganhou várias instâncias legais e em janeiro recebeu a primeira das permissões requeridas pelo Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis).
Em janeiro, o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, qualificou a construção de Belo Monte como "um dos mais importantes projetos" para a geração de energia e disse acreditar que todas as permissões necessárias para começar as obras antes de março serão concedidas.
As obras foram licitadas em abril de 2010 em meio a ações judiciais entre grupos que se opõem à hidrelétrica e o Governo, que conseguiu realizar o leilão e concedeu o projeto a um grupo formado pela Chesf (Companhia Hidroelétrica do São Francisco), a construtora Queiroz Galvão e outras seis empresas.
No ano passado, os opositores do projeto foram apoiados por personalidades como o cineasta canadense James Cameron e a atriz americana Sigourney Weaver, que inclusive participaram de uma manifestação contra a hidrelétrica em Brasília.
FONTE: FOLHA.COM
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