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quarta-feira, fevereiro 16, 2011

Mangueira contará a vida e obra de Nelson Cavaquinho

Obras como “Folhas secas” e "Primeiro de abril" serão lembradas no desfile.



“O filho fiel, sempre Mangueira”. O título do enredo da Estação Primeira de Mangueira para o carnaval 2011 resume o sentimento dos 4 mil componentes em homenagear Nelson Cavaquinho. Para carnavalizar a vida e a obra do sambista, que completaria cem anos neste ano, a verde-e-rosa vai mergulhar no próprio passado e exaltará o belo caso de amor entre o poeta e a comunidade.

Última escola a se apresentar no primeiro dia de desfiles, já na madrugada de segunda-feira (7), entre 02h25 e 03h50, a verde-e-rosa vai trazer a modelo Renata Santos como rainha de bateria e o casal de metre-sala e porta-bandeira, Raphael e Marcella Alves.

Para apresentar um desfile à altura do homenageado, os carnavalescos Mauro Quintaes e Wagner Gonçalves fizeram uma vasta pesquisa em livros, internet e com os próprios moradores, e descobriram curiosidades sobre a trajetória do sambista. Obras como “Folhas secas”, "Primeiro de abril" e “Degraus da vida” serão lembradas nas 35 alas que a escola levará para a Sapucaí.

Nelson Antônio da Silva, verdadeiro nome de Nelson Cavaquinho, nasceu na Tijuca, na Zona Norte, em 1911. Desde cedo tocava cavaquinho, mas preferiu ingressar na cavalaria da Polícia Militar. Foi como um policial que ele chegou à Mangueira e logo fez amigos. Além de Cartola, Carlos Cachaça e Zé da Zilda tiveram influência na sua vida. O poeta se mudou para a comunidade em 1952 e trocou a farda pela música, os poemas e a boemia.“A gente se deparou com um universo de religiosidade, de superstições, de bom humor, de grandes amigos, de grandes amores, que estavam muito além da boemia. Nos três primeiros momentos vamos mostrar o Nelson na Praça Tiradentes, a sua relação com Cartola, a sua chegada à Mangueira e o encontro da bossa nova com o samba”, explicou Mauro Quintaes.

A boemia, aliás, fez de Nelson Cavaquinho um personagem de grande destaque nas noites do Rio de Janeiro e também pela convivência com a fina-flor do samba mangueirense. Segundo o carnavalesco, o poeta sempre impressionou os apreciadores da música popular brasileira pela capacidade de compor letras e músicas tão sofisticadas, trabalhando sozinho ou em parcerias.

A morte e o relógio

Uma das oito alegorias promete chamar a atenção do público. Ela vai representar um sonho indesejado que Nelson tivera enquanto dormia, com a revelação da hora de sua morte. Daquele dia em diante, o sambista passou a atrasar diariamente o relógio, na esperança de retardar a partida anunciada, que na verdade só aconteceu em 1986, em horário diferente do "revelado" no pesadelo.

“A morte é um assunto que o Nelson bate direto nas suas canções. Ele se repete muito em cima desse tema da morte. E para que a morte não fique tão pesada no desfile, a gente brinca com esse episódio. A gente conseguiu aglutinar a presença da morte na obra do Nelson e um episódio pitoresco numa alegoria, que é alegoria do relógio. O carro terá a morte em forma de esculturas”, explicou o carnavalesco.

Ordem é brincar
Mas nem só de passagens tristes será marcado o carnaval sobre o centenário de nascimento do grande poeta do samba. Num enredo quase todo pautado em títulos de músicas, uma das alas da Mangueira vai brincar com a música "Primeiro de abril", cujos versos comentam a dor de ser traído por uma mulher, fato encarado com bom humor pelo sambista. Segundo Mauro, os componentes virão caracterizados de Pinóquio.

“A música fala justamente da relação com a mentira e por isso tivemos a ideia de colocar a figura do Pinóquio. Isso foi uma sacada do Wagner para trazer essa coisa diferenciada para dentro de um enredo tão ‘pesado’. A obra do Nelson é muito vasta e ela nos deu esse leque de opções. O que a princípio a gente achou difícil, acabou se tornando fácil demais”, explicou Mario Quintaes.

O samba-enredo foi composto por Alemão do Cavaco, Cesinha Maluco, Xavier, Ailton Nunes, Rifai, Pê Baianinho e será puxado mais uma vez por Luizito, Zé Paulo Sierra e Ciganerey.

Há nove anos sem conquistar um título – o último foi em 2002, com o enredo “Brazil com "z" é pra cabra da peste, Brasil com "s" é a nação do nordeste” -, a Mangueira vai apresentar um desfile moderno e tradicional, sem deixar de lado as suas raízes.
FONTE: G1

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