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domingo, abril 08, 2012

Pressão sobre Apple por condições de trabalho levanta questões para ativistas


O movimento americano de oposição à exploração da mão de obra nasceu no dia em que descobrimos como nossos Nikes eram costurados. Duas décadas depois, estamos descobrindo como nossos queridos iPhones são feitos, dando à Apple seu próprio "momento Nike".

Os suicídios de trabalhadores no principal fornecedor chinês da Apple, a Foxconn, em 2010, aconteceram após relatos de trabalho forçado, trabalho infantil, violações do salário mínimo e condições de insegurança em seus fornecedores, contrastando com a posição da Apple como criadora de equipamentos elogiados e com seus lucros de US$ 13 bilhões no primeiro trimestre.


Os relatos alimentaram um crescente protesto entre estudantes e sindicatos, que pedem que a Apple obrigue seus fornecedores na China a melhorar as condições de centenas de milhares de trabalhadores que montam seus produtos -cujos salários contribuem com apenas US$ 10 para o custo de US$ 549 de um iPhone 4.

Mas se as condições perturbadoras nas linhas de montagem da Foxconn levantam novas questões sobre a responsabilidade das empresas nesta era de capitalismo global, a revolta também levanta uma questão. A pressão para melhorar o comportamento das multinacionais em países pobres causa mais mal que bem? A Apple é diferente de certa maneira dos fabricantes de confecções e de calçados de campanhas anteriores. Seu perfil e sua riqueza sugerem que a pressão do consumidor poderia de fato causar mudanças em seus fornecedores na China.

Hoje, a globalização tem um histórico melhor que sua alternativa. Os países que recebem muito investimento multinacional cresceram mais depressa. Eles registram menos pobreza e trabalho infantil.

A China é um exemplo dos benefícios da globalização. O investimento estrangeiro aumentou nos últimos 20 anos, causando um espetacular crescimento econômico. Os salários não agrícolas aumentaram 10% ao ano em termos reais na última década, segundo Nicholas Lardy, do Instituto Peterson de Economia Internacional. O índice de pobreza do país caiu para 17% em meados da última década, contra 64% no início dos anos 1990, segundo estatísticas do Banco Mundial.

Em Bangladesh, metade da população vive na pobreza extrema, aproximadamente a mesma porcentagem que em 1981. Como notou a economista britânica Joan Robinson há meio século, "a miséria de ser explorado pelos capitalistas é nada, comparada à miséria de não ser absolutamente explorado".

Isso apresenta um enigma para os possíveis ativistas no Ocidente. Eles consideram sua tarefa convencer multinacionais como a Apple de que o custo de melhores condições de trabalho nas fábricas de seus fornecedores é menor que o custo potencial para sua reputação de permitir condições de trabalho desumanas. Mas eles não devem esquecer que a principal prioridade da maioria dos trabalhadores da Foxconn é manter seus empregos. Enquanto a pressão poderá melhorar suas vidas, também poderá convencer a empresa a demiti-los.


"Quando as marcas são apanhadas em uma fábrica, e a pressão é controlável, eles podem ser obrigados a forçar mudanças naquela fábrica", disse Scott Nova, diretor do Consórcio de Direitos dos Trabalhadores, que monitora as condições de trabalho em fábricas que fazem roupas de marca. "No entanto, se essas mudanças aumentarem os custos e reduzirem o tempo de produção, é fácil que daqui a um ou dois anos a marca reduza as encomendas naquela fábrica, em favor de outras."

Os críticos da Apple não devem se desesperar, porém. Por um lado, eles convenceram grandes marcas e varejistas a assumir a responsabilidade pelas condições de trabalho em sua linha de produção.

Mas a elogiada capacidade da Apple de fazer os fornecedores se adaptarem para cumprir suas especificações no menor tempo possível sugere que a companhia poderia impor também regras sobre salários ou direitos dos trabalhadores.

Quem sabe os ativistas poderiam ajudar a provocar melhorias na vida dos trabalhadores da Foxconn e nos fazer sentir melhor sobre nossos iPhones?

FONTE: FOLHA.COM / EDUARDO PORTER DO "NEW YORK TIMES"


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