A poucos dias da eleição de 3 de outubro, o cenário projetado pelas pesquisas de opinião pública aponta para algumas mudanças significativas no quadro partidário brasileiro. Além do provável crescimento do PT, do PMDB e de alguns partidos médios que compõem a base governista na Câmara e no Senado, outra tendência aparentemente consolidada é o brutal encolhimento do DEM, agremiação de direita que já foi o segundo maior partido do país.
Durante o primeiro mandato do tucano Fernando Henrique Cardoso (1995-1998), quando ainda se chamava PFL, o DEM chegou a presidir a Câmara dos Deputados com Inocêncio de Oliveira. Em 1989, o PFL havia apoiado a eleição de Fernando Collor, se tornando uma das bases de apoio de seu governo, com o qual rompeu durante o processo de impeachment.
Dois anos depois, o partido obteve excelente resultado nas urnas, elegendo nove governadores (seis em estados do Nordeste), oito senadores e 83 deputados federais. Tudo isso credenciou o PFL - que, apesar da origem nacionalista na Arena, abraçara o ideário neoliberal ditado pelas instituições financeiras multilaterais - a se tornar o braço direito do PSDB nos oito anos de governo FHC.
Para as próximas eleições, o cenário para o DEM é bem mais sombrio. De acordo com os institutos de pesquisa, o partido só tem chance de ganhar as disputas pelos governos de Santa Cantarina, com Raimundo Colombo, e do Rio Grande do Norte, com Rosalba Ciarlini. Em outros estados, mesmo colocando na disputa nomes conhecidos como os ex-governadores Paulo Souto (Bahia) e João Alves (Sergipe), o DEM deve perder as eleições já no primeiro turno.
Segundo prognósticos feitos pelo Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap), o DEM corre o risco na próxima legislatura de passar a ser a quinta ou sexta força na Câmara dos Deputados, podendo ser ultrapassado por partidos como o PSB, o PP e o PR. Na projeção mais pessimista do Diap, o DEM elegerá nas próximas eleições somente 38 deputados federais, o que configura um recorde negativo desde que o PFL foi criado como dissidência do PDS, em 1985.
Caciques fora
É na disputa pelo Senado, no entanto, que o drama do DEM se revela de maneira mais nítida, graças ao mau desempenho de três lideranças nacionais do partido que, ao que tudo indica, não devem conseguir se eleger no próximo domingo.
Entre os caciques demistas ameaçados pela vontade popular estão o ex-prefeito do Rio de Janeiro, Cesar Maia, o ex-vice-presidente da República, Marco Maciel, e o ex-prefeito de Teresina, Heráclito Fortes - os dois últimos, candidatos à reeleição.
O caso mais emblemático é o do pernambucano Marco Maciel, que foi vice de FHC, nunca perdeu uma eleição na vida e é uma das últimas grandes lideranças nordestinas do PFL/DEM ainda em atividade. Com apenas 16% das intenções de voto, segundo as pesquisas mais recentes, Maciel vê se afastarem os adversários Humberto Costa (PT, com 40%) e Armando Monteiro Neto (PTB, com 34%), ambos apoiados pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Cesar Maia, por sua vez, parece próximo de amargar uma derrota que não era esperada nem por ele nem pelo DEM. Em terceiro lugar na pesquisa mais recente, com 23% das intenções de voto, o ex-prefeito do Rio de Janeiro fica cada vez mais longe dos adversários Lindberg Farias (PT, com 37%) e Marcelo Crivella (PRB, com 34%), ambos também apoiados por Lula, e ainda pode ser ultrapassado por Jorge Picciani, com quem está empatado.
As eventuais derrotas de Maciel e Cesar, aliada à eventual derrota de Heráclito Fortes no Piauí, reduzirão enormemente o poder de fogo do DEM no Senado. De todos os senadores demistas que fizeram forte oposição ao governo Lula e disputam a reeleição este ano, somente José Agripino Maia, no Rio Grande do Norte, parece ter a vitória assegurada.
Jovem guarda
Sem os velhos caciques, o DEM deve apostar no fortalecimento político da nova geração que assumiu a direção do partido no último Congresso. Nomes como Rodrigo Maia (RJ), ACM Neto (BA) e Paulo Bornhausen (SC) devem se reeleger para a Câmara dos Deputados, mas, ao que tudo indica, terão um árduo trabalho de oposição pela frente, bastante diferente da proximidade do poder usufruída por seus antepassados.
Outro nome da nova guarda demista é o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, mas há quem diga que ele apenas aguarda as eleições para ingressar no PMDB.
No Senado, além do goiano Demóstenes Torres, candidato à reeleição, restará ao DEM contar com o bom momento da senadora Kátia Abreu (TO).
Presidente da Confederação Nacional de Agricultura, a senadora é hoje a maior liderança do agronegócio no Congresso Nacional. O fortalecimento de Kátia, aliado à reeleição para a Câmara de nomes como Ronaldo Caiado (GO), no entanto, faz o DEM correr o risco de se transformar num partido meramente ruralista.
FONTE: rede brasil atual
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