Países localizados ao norte do rio histórico defendem novo acordo e chamam tratado sobre utilização das águas de colonialista
Um lugar para se começar a entender por que o Egito, um país assolado pela seca, rompeu as relações com seus vizinhos Nilo acima é a região lamacenta das plantações de algodão e milho de Mohamed Abdallah Sharkawi. O preço que ele paga pelo precioso recurso que inunda sua fazenda? Nada.
"Graças a Deus", disse Sharkawi sobre a água do rio Nilo. Ele ergueu as mãos para o céu, então fez um gesto na direção de um funcionário do Estado visitando sua fazenda."Tudo vem de Deus e do ministério".
Mas talvez não por muito tempo. Países localizados rio acima, buscando corrigir o que acreditam ser erros históricos, se uniram na tentativa de acabar com o quase monopólio que Egito e Sudão têm sobre a água, ameaçando uma crise que especialistas egípcios dizem que poderia, na sua forma mais extrema, levar à guerra.
Desde que a primeira civilização surgiu na região, os egípcios têm se agrupado ao longo das margens ricas em lodo do Nilo. Quase todas as 80 milhões de pessoas do país vivem a poucos quilômetros do rio, e os agricultores mudaram pouco seus métodos de cultivo em quatro milênios. A população do Egito está crescendo rapidamente, porém, e até o ano de 2017 as taxas atuais de uso da água do Nilo vão apenas atender às necessidades básicas do país, de acordo com o Ministério da Irrigação.
E isso caso o fluxo do rio se mantenha intacto. Sob o domínio colonial britânico, um tratado de 1929 reservou 80% de todo o fluxo do Nilo para o Egito e o Sudão, na época governados como um único país. Esse tratado foi reafirmado em 1959.
Tratado
Os sete países acima do rio – Etiópia, Uganda, Tanzânia, Quênia, República Democrática do Congo, Burundi e Ruanda – dizem que o tratado é um resquício injusto do colonialismo, enquanto o Egito diz que esses países estão repletos de recursos hídricos, ao contrário do Egito árido, que depende apenas de um.
O confronto de hoje tem se desdobrado em câmera lenta. Em abril, as negociações entre os nove países do Nilo foram interrompidas depois que Egito e Sudão se recusaram a ceder terreno. Os países acima rapidamente se reuniram e em maio ofereceram uma proposta que iria libertá-los para construir seus próprios projetos de irrigação e barragens, reduzindo o fluxo para o Lago Nasser, o vasto reservatório artificial que atravessa o Egito e o Sudão.
Até agora, Etiópia, Uganda, Tanzânia, Quênia e Ruanda assinaram o acordo da nova bacia do Nilo, que exigiria uma maioria simples dos países membros para aprovar novos projetos. O Egito quer manter o poder de veto sobre projetos em qualquer país e com o Sudão alega que as principais disposições do tratado da era colonial devem ser preservadas.
Congo e Burundi ainda não tomaram lados. Egito e Sudão têm até maio de 2011 para retomar as negociações, ou então os demais países irão ativar o novo acordo.
FONTE: ultimosegundo.ig /*Por Thanassis Cambanis
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