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sexta-feira, junho 25, 2010

Cheia e dor ...









Os dias 18 e 19 de junho de 2010, com certeza, ficarão na história de União dos Palmares.

Mas, não como uma história boa de ser lembrada e sim de uma história muito triste, que será difícil de apagar da mente dos mais de 60.000 palmarinos, principalmente os moradores da Rua da Ponte, Taquari, Jatobá, Muquém, Cachoeira, Padre Donald, Juazeiro, Várzea Grande, Laginha, Rocha Cavalcanti, Piranhas e das ruas próximas ao Riacho Canabrava.

Essa data lembra perda, lembra dor, lembra desespero, lembra choro, lembra morte.

São os dias da enchente que houve em Alagoas e Pernambuco, em que muitos municípios foram quase arrasados, deixando muitos mortos e milhares de flagelados.

Mas vou falar mais precisamente de nossa cidade, União dos Palmares, conhecida por ser a terra de Zumbi e também do poeta Jorge de Lima.

A angústia dos palmarinos começou na quinta-feira, 17, quando viram que a chuva não parava um só instante.

Em União já chovia há alguns dias seguidos e não chovia pouco, chovia bastante.

Com a chuva caindo sem parar e no mesmo ritmo, o nível do rio mundaú ia subindo cada vez mais e mais.

Algumas pessoas já começavam a retirar os seus móveis, mas, outra parte, a grande maioria, preferiu ficar em casa e nem ligaram se o nível do rio estava subindo ou não.
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Essas pessoas não acreditavam que o rio fosse encher da forma que encheu.

E quando essas pessoas sentiram o perigo que estava por vir, já era tarde, não adiantava mais, pois o rio já deixava sua tranqüilidade de sempre e começava a ameaçar.

A cheia desse ano não foi como a de anos anteriores, esse ano foi mais do que o normal.

A última grande enchente, que se tinha notícia, tinha sido a de 2000, mas já tinham acontecido várias, como a de 1938, 1961, 1969 e, também, a de 1989. Mas, segundo os moradores antigos, nestas enchentes as perdas materiais foram poucas

O nível da água subia cada vez mais e todo mundo até que tentou avisar, mas de nada adiantou.

Na sexta, pelo meio dia, os programas de rádio da cidade já anunciavam que cidades vizinhas, como, Santana do Mundaú, Rio Largo, Murici, São José da Laje e Branquinha, já estavam inundadas, e por isso pedia para que as pessoas que morassem em áreas de riscos tirassem o que pudessem, ou se não tivessem como tirar, que saíssem de suas casas enquanto era tempo.

Algumas seguiram o conselho e tiraram o que deu, pois a água subia de repente e o rio parecia bastante furioso.

Durante a tarde a ponte já estava coberta e diversas pessoas ficaram ilhadas do lado da Rua da Ponte, e não tinham mais como passar para o outro lado.

No fim da tarde o quadro já era desolador. Na Rua da Ponte e no Jatobá se ouviam gritos de socorro, ninguém queria acreditar no que estava acontecendo.

Era difícil acreditar que essas ruas, tão importantes para a nossa cidade, estavam sendo tragadas em pouquíssimos instantes.

Desciam panelas, geladeiras, sofá, cadeira, estante, bujão, enfim, de tudo o rio levava.

A violência das águas era algo nunca visto antes. Do alto da Rua das Pedreiras só se via água, nada de casa.
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Até o posto de combustível que existe lá tinha sumido.
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As pessoas subiam nos telhados, agarravam-se em postes, subiam em árvores, e muitos morreram ao tentar salvar um pouco do seu patrimônio.
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Nas enchentes que ocorreram em nossa cidade, as águas cobriam as casas, mas quando estiava e secava, as casas ainda continuavam no seu lugar e as pessoas voltavam para elas.

Mas, dessa vez não foi dessa forma... a água não só cobriu as casas, como destruiu tudo por onde passou.

Na Rua da Ponte não sobrou nenhuma casa.

Até a ponte centenária, construída no tempo de Basiliano Sarmento, teve uma parte dela levada.

Na Rua do Jatobá, tida como a primeira rua de nossa cidade, contam-se nos dedos as casas, que, creio eu, não chegam as dez.

A antiga fábrica de bebidas, na Rua da Ponte, que sobreviveu a cheia de 89, dessa vez não existe mais.

Nem o busto feito em homenagem ao agropecuarista Benon Maia Gomes ficou de pé, pois a cheia levou.

O rio estava implacável e nenhum poste de iluminação ou árvore ficou de pé nas ruas que sofreram com a enchente.

Nem o famoso Bar de Nivalda sobreviveu à enchente.

O desastre causado pelo velho Mundaú foi de dar dó.

Centenas de residências e prédios comerciais foram destruídos.

Muitos cidadãos que noite passada tinham casas, móveis, lojas estavam hoje somente com a roupa do corpo, e o pior, alguns perderam membros da família.

Até mesmo a Fazenda Jurema, do ex-governador Manoel Gomes de Barros, sofreu com a fúria do lendário mundaú.

Se a enchente foi ruim para quem vive melhor, para os mais pobres ela foi ainda pior.

A cheia foi notícia em vários canais de televisão do Brasil e do mundo.

Todos ficaram sabendo do sofrimento que se abateu em União e cidades circunvizinhas.

Compararam a destruição que se abateu em nossa região com a de um terremoto ou a de um furacão.

A maior enchente de que se tinha notícia tinha sido a de 89, mas a desse ano bateu o recorde.

Não só os pequenos casebres foram destruídos, as águas também invadiram as casas de concreto e levavam, com elas, móveis e utensílios.

O rio Mundaú e seus afluentes nunca tinham enchido tanto.

O Canabrava, sempre tímido, subiu de nível, invadiu a pista, derrubou as paredes da fábrica de leite, invadiu diversas ruas do bairro Roberto Correia de Araújo, popular Terrenos, e inclusive algumas que nem sofriam com o problema das enchentes.

Os moradores não acreditavam no que viam, pois a água chegou a cobrir e derrubar diversas casas.

Os tanques de álcool da Usina Laginha rolaram e causaram destruição por onde passou.

Cidades como Murici, São José da Laje e Rio Largo sofreram também com a cheia, mas o quadro foi ainda pior em Branquinha e Santana do Mundaú.

Foram dias de sofrimento.

União ficou sem energia, água e telefone por diversos dias. Nem mesmo o comércio funcionou.

As duas principais saídas da cidade estavam interditadas.

As pessoas estavam incrédulas e pareciam não acreditar no que tinha acabado de acontecer.

Nem a vitória do Brasil contra Costa do Marfim pela Copa do Mundo conseguiu alegrar as pessoas.

Cenário de guerra.

O número de mortos e desaparecidos ninguém sabe dizer.

Ouvir muitas histórias, como, por exemplo, a da mulher que voltou pra salvar o seu animal de estimação e foi levada pelas águas abraçada com ele e a do menino que não quis deixar sua casa e foi levado pela correnteza.

O número de desabrigados foi grande... incontável. Diversas escolas e o Ginásio Municipal ficaram cheios.

Teve gente que perdeu tudo... tudo...

Políticos e mais políticos chegaram a nossa cidade, pois sempre é bom aparecer nessas horas.

Já outros preferiram se esconder, mas dessa parte eu prefiro nem falar.

Os aproveitadores estavam à solta, durante esses dias, em nossa cidade.

Comerciantes aumentaram o preço da água, gasolina e até mesmo da vela. Parece mentira, mas é verdade.

Não passam de criminosos.

Uma coisa é ouvir, outra coisa é contar, mas o que vi nessa enchente é difícil de acreditar.

Homens, mulheres e crianças chorando, outros se lamentando, vendo tudo se acabar.

No domingo chegou o exército e o corpo de bombeiros para prestar socorro às vítimas.

Os tratores retiravam a lama acumulada, e nesse processo, traziam também vários corpos soterrados nas ruas.

A desolação era total.

Eu já disse que parecia cenário de guerra?

No domingo, depois que tudo passou, vendo tudo de perto o quadro era ainda mais triste, pois as pessoas voltavam para a sua casa à procura do que restou e só encontrava miséria.

Tudo que tinha adquirido, com tanto trabalho, não mais existia.

E o rio, que no passado ajudou a construir nossa cidade, foi o causador desse desastre.

Sem casa, sem dinheiro, sem lugar para dormir, sem nada para comer, sem roupa para vestir... uma triste realidade, que gostaríamos que fosse mentira, mas tudo não passa de verdade.

Como explicar tanta miséria, tanta dor, tanta destruição?
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Ouvi uma senhora bem simples dizendo que tudo não passou de uma lição. Talvez um castigo divino para a nossa população.
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Para ela a população está vivendo uma vida de pecado, ligando-se só as coisas materiais e esquecendo-se de Jesus Cristo.
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Outros dizem, que quando os romeiros iam pagar promessas em Juazeiro do Norte, o Padre Cícero Romão Batista, já falava neste dilúvio.
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Entre lendas, “estórias” e histórias, de uma coisa eu tenho certeza: devemos nos unir e ajudar os nossos desabrigados a sair dessa calamidade, pois a União faz a força!
FONTE:FRANCO MACIEL/A TERRA DA LIBERDADE BLOG

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