Milton Nascimento, Pedro Casaldáliga
Estamos chegando do fundo da terra,
estamos chegando do ventre da noite,
da carne do açoite nós somos, viemos lembrar.
Estamos chegando da morte nos mares,
estamos chegando dos turvos poroes,
herdeiros do banzo nós somos, viemos chorar.
Estamos chegando dos pretos rosários,
estamos chegando dos nossos terreiros,
dos santos malditos nós somos, viemos rezar.
Estamos chegando do chao da oficina,
estamos chegando do som e das formas,
da arte negada que somos viemos criar.
Estamos chegando do fundo do medo,
estamos chegando das surdas correntes,
um longo lamento nós somos, viemos louver.
A de ó (Recitado)
-Do Exilio da vida, das Minas da Noite,
da carne vendida, da Lei do açoite,
do Banzo dos mares...aos novos Albores!
vamos a Palmares todos os tambores! ! !
Estamos chegando dos ricos fogões,
estamos chegando dos pobres bordéis,
da carne vendida nós somos, viemos amar.
Estamos chegando das velhas senzalas,
estamos chegando das novas favelas,
das margens do mundo nós somos, viemos dançar.
Estamos chegando dos trens dos suburbios,
estamos chegando nos loucos pingentes,
com a vida entre os dentes chegamos, viemos cantar.
Estamos chegando dos grandes estádios,
estamos chegando da escola de samba,
sambando a revolta chegamos, viemos gingar.
A de ó (Recitado)
Estamos chegando do ventre das Minas,
estamos chegando dos tristes mocambos,
dos gritos calados nós somos, viemos cobrar.
Estamos chegando da cruz dos engenhos,
estamos sangrando a cruz do Batismo,
marcados a ferro nós fomos, viemos gritar.
Estamos chegando do alto dos morros,
estamos chegando da lei da Baixada,
das covas sem nome chegamos viemos clamar.
Estamos chegando do chao dos Quilombos,
estamos chegando do som dos tambores,
dos Novos Palmares só somos, viemos lutar.
A de ó (Recitado)
EM NOME DO DEUS
Em nome do Deus de todos os nomes
-Javé Obatalá Olorum 0ió -.
Em nome do Deus, que a todos os Homens
nos faz da ternura e do pó.
Em nome do Pai, que fez toda carne,
a preta e a branca, vermelhas no sangue.
Em nome do Filho, Jesus nosso irmão,
que nasceu moreno da raça de Abraão.
Em nome do Espírito Santo,
bandeira do canto do negro folião.
Em nome do Deus verdadeiro
que amou-nos primeiro sem dividição.
Em nome dos Três que sao um Deus só,
Aquele que era, que é, que será.
Em nome do Povo que espera,
na graça da Fé, à voz do Xangô,
o Quilombo-Páscoa que o libertará.
Em nome do Povo sempre deportado
pelas brancas velas no exílio dos mares;
marginalizado nos cais, nas favelas e até nos altares.
Em nome do Povo que fez seu Palmares,
que ainda fará Palmares de novo
-Palmares, Palmares, Palmares do Povo!!!
COMEMORAÇÃO G'BALA
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