Lideranças negras da Bahia insistem numa audiência com o governador Jacques Wagner, do PT, para pedir o afastamento do comandante geral da PM, Coronel Nilton Régis Mascarenhas, e dos policiais militares Júlio Guedes de Souza, e soldado e aspirante a oficial - identificados, respectivamente, por Jesus e Adjailson -, acusados de tortura e maus tratos contra a Mãe de Santo e líder Sem-Terra, Bernadete Souza.
O caso aconteceu no dia 23/10, no Assentamento Dom Hélder Câmara, em Ilhéus, região sul do Estado, quando uma tropa da PM, com fuzis e metralhadoras, invadiu o local em busca de um suposto traficante que teria escondido drogas local. Ao questionar a truculência com que agiam sem ordem judicial, numa área sob o controle do Instituto de Colonização e Reforma Agrária (INCRA), a líder religiosa, que é coordenadora do Assentamento, foi presa e incorporou uma entidade (Bernadete é filha de Oxóssi, entidade do Candomblé).
Teria sido então arrastada por 500 metros pelos cabelos, até um formigueiro e exposta ao ataque das formigas para, segundo os torturadores, “tirar o demônio do corpo”. Depois – ainda com a entidade incorporada - foi levada a 7ª COORPIN, onde ficou numa cela masculina. Só foi liberada depois da ação dos ativistas e da danúncia pública.
Segundo relato de testemunhas, durante todo o tempo, os policiais ironizavam que tinham chicote para afastar “satanás” e que os Sem-Terra deviam se queixar ao Governador e ao Presidente.
Ato nacional
Nesta sexta-feira (29/10), o líder da campanha "Reaja ou Será morto", Hamilton Borges Walê, que já vem denunciando o assassinato contínuo de jovens negros na periferia de Salvador, disse a Afropress, que ativistas de 16 organizações se uniram para exigir a audiência, onde pedirão o afastamento do secretário de Segurança, César Nunes, do comandante da Polícia Militar e de todos os envolvidos diretamente na tortura.
Ele ressaltou que a reunião ocorrida esta semana, com o comando da PM, e em que participou a secretaria da Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (SEPPROMI), Luiza Barrios, não esgota o caso. Na reunião, o comandante designou o Corregedor para receber os manifestantes.
Segundo Walê, contudo, a audiência com Wagner é inegociável e os protestos continuarão com o ato marcado para o dia 13 de novembro, em Ilhéus. “Queremos que esse ato tenha dimensão nacional”, afirmou.
Atitude do governador
Também nesta sexta-feira, o Secretário Nacional da Diversidade Humana da União Geral dos Trabalhadores (UGT) – a terceira maior central sindical do país – Magno Lavigne, lançou Nota repudiando a ação da PM baiana e se solidarizando com a líder religiosa. “A truculência, violência e tortura contra Bernadete, praticada por policiais militares baianos, tem de ser denunciada nacional e internacionalmente. Exigimos uma posição e uma atitude do governador Jacques Wagner”, afirmou.
Paralelamente, o Movimento Negro Unificado (MNU), por iniciativa da sua coordenadora Nacional, Vanda Gomes Pinedo, iniciou campanha pedindo o envio de cartas ao Governador, a Superintendência de Apoio e Defesa dos Direitos Humanos, ao comando Geral da Polícia Militar, a Secretaria Especial de Direitos Humanos, a SEPPIR, e a Secretaria Especial de Política para Mulheres, denunciando a tortura e a violência praticada contra a líder religiosa.
Narta, a líder do MNU exige a imediata apuração dos fatos e punição dos envolvidos na forma da Lei, retratação da Secretaria de Segurança Pública, e revisão dos programas das corporações, com inclusão de formação continuada, sobre relações raciais no Brasil.
FONTE:Afropress
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