A enchente de junho de 2010, em Murici, município alagoano, destruiu o cartório, o posto de saúde, escolas, lojas do comércio, o matadouro, os fundos da Igreja católica, da casa paroquial e várias casas da parte baixa do município, que ficam às margens do rio Mundaú.
Murici já fez parte da antiga Vila dos Macacos e hoje é um município povoado pelo descaso com as gentes que tiveram o presente engolido pela águas.
A convite do presidente, da Comissão Especial das Enchentes, deputado estadual, João Henrique Caldas, sábado, 02 de abril, visitamos, juntamente com uma comitiva de 07 pessoas, dentre elas uma cubana-norte-americana, as ruas descalças e ainda sem perspectivas do “acampamento” dos desalojados, em Murici.
Governador, eu vi!
Vi a cara feia da miséria abarcando, com braços sedentos, os desabrigados das últimas enchentes, na cidade de Murici, no estado de Alagoas.
Vi o desprezo da máquina alagoana com as tantas e muitas gentes: mulheres, homens e crianças, a grande maioria de pele preta e parda, que, hoje, vivem como Deus quer.
Conversamos com Alisson, menino de riso preso e uma desconfiança eterna por trás dos poucos oito anos de idade.
Com a simplicidade da infância atingida pelo tsunami do descaso institucional, Alisson afirmou que não gosta dali porque é “muito quente”.
O que Vossa Excelência estava fazendo, no sábado, 02 de abril às 15 h30?
Nas cinzas e asfixiantes barracas da Defesa Social, no município de Murici, o povo inventava uma forma de fazer nada, driblando uma onda de mormaço causticante abraçado pelo fedentina dos sanitários sujos de pobreza.
Jovens, adolescentes, meninas e meninos, como os filhos e filhas da gente, estavam por ali, construindo os caminhos do ócio.
O ócio é uma vacuidade, o pior inimigo das drogas, do crime e tantas coisas mais.
Ah! Se o estado político já tivesse realizado uma pequeníssima cota que fosse, do papel a ele atribuído, já teríamos avançado tanto!
Vi meninos nus, com o corpo pintado de sujeira, soltos nos galpões improvisados ( rezando a Deus que não desabem) com os órgãos genitais expostos ao bel prazer de adultos, menos desavisados.
As mães estavam nas barracas cuidando de outra penca de meninos e meninas de barriga grande e nariz escorrendo, envolta numa letargia de desesperança.
Dona Maria das Graças nos mostrou a barraca que mora com seu “veio”. O brilho das panelas arriadas de D. Graça não combina com a tristeza do lugar.
Vi, Excelência, um bebê de sete meses, uma das muitas crianças nascidas pós-enchente ,tão desnutrido com olhos enormes, como metástase da miséria e degradação humana.
A mãe, com o esquálido filho nos braços, apresentava o mesmo aspecto de desnutrição. Do outro lado avizinhado aos improvisados banheiros um pequeno , sentado no chão, engolia uma quentinha de macarrão com mãos sujas.
Vi Excelência que o dia-a-dia da população sobrevivente das enchentes empilhada em barracas, insuportavelmente quentes da Defesa Social traz parecença com o escravismo brasileiro.
Ainda somos escravizados, Excelência?
As cozinhas emergenciais (emergenciais?) dez meses após as enchentes, ainda, estão sendo construídas e segundo os mestres da obra, ainda, leva mais um mês para serem entregues.
Diante desse quadro constatado in loco, eu preciso entender Excelência: Porque o governo faz inauguração das cozinhas emergenciais dez meses após as enchentes?.
Emergência não é coisa para ontem, Excelência?
O povo de Alagoas, Excelência, pede socorro faz um bom par de tempo.
Até quando faremos ouvidos de mercador?
FONTE:cada minuto / Arísia Barros
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