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quinta-feira, abril 21, 2011

Autora americana desmistifica a vida de Cleópatra em novo livro















Cleópatra, a rainha mais famosa do Egito, não era egípcia, mas macedônia. Em casa, falava grego, e, das outras oito línguas que dominava, a que pior articulava era justamente a de seus 7 milhões de súditos, o egípcio. Cleópatra também não era fisicamente bonita. Assim como seus familiares, na dinastia dos Ptolomeus, tinha nariz adunco, olhos grandes e testa alta. Mas era rica, inteligente e dona de uma oratória cunhada desde muito cedo pelos mestres mais brilhantes de Alexandria. Para muitos, isso a transformava numa verdadeira devoradora de homens.

Na primeira vez em que viu Júlio César, Cleópatra vestia uma simples túnica de linho sem cores, adornos ou mangas. Provavelmente estava descabeladíssima. A rainha havia conseguido entrar nos aposentos do imperador romano com a ajuda de um conhecido que a carregara para dentro do palácio real em um saco de viagem como os usados para transportar alimentos. Obviamente ela não usava nenhuma das joias que foram inseridas na descrição desse primeiro encontro por algumas fontes históricas. Não teria se permitido isso.

Cleópatra também não procurou Júlio César com o objetivo único de seduzi-lo, como o mundo insiste em acreditar. Tinha 21 anos de idade quando conversou com ele pela primeira vez e buscava desesperadamente que aquele homem de 52 lhe garantisse a sobrevivência. Seu Egito havia sido exuberante, mas enfrentava um preocupante declínio.

A lista de mitos em torno de Cleópatra é gigantesca, mas muitos deles acabam de ser desconstruídos pela escritora americana Stacy Schiff nas 320 páginas de "Cleópatra - Uma biografia", que está há 11 semanas na lista dos mais vendidos do "New York Times" e chega ao Brasil pelas mãos da editora Zahar.

Em entrevista ao GLOBO, a escritora que em 1999 ganhou um prêmio Pulitzer com uma biografia de Véra, a mulher do autor russo Vladimir Nabokov, elencou as três razões pelas quais resolveu se debruçar sobre Cleópatra.


Com seu trabalho investigativo, Stacy queria resgatar os fatos e remover tudo o que fosse mito ou "propaganda envelhecida" em torno de Cleópatra. Mas descobriu que precisaria ir além. Deparou-se com lapsos colossais nos registros históricos sobre a rainha mais popular do Egito.- Primeiro porque pouquíssimas mulheres se igualam a ela até hoje, seja na História real ou no universo dos mitos, e, mesmo assim, a figura de Cleópatra ainda é incompreendida - explicou Stacy. - Segundo, porque a autoridade feminina continua sendo um assunto que incomoda muita gente, assim como incomodava no ano 1 d.C., e, terceiro, porque os coadjuvantes da história de Cleópatra, César, Marco Antonio, Herodes, não são nada menos do que magníficos.


- Nenhum papiro sobreviveu em Alexandria. Tito Lívio terminou seu relato sobre Roma cem anos antes do nascimento de Cleópatra. Plutarco, que foi uma das melhores fontes sobre ela, só nasceu 76 anos depois de sua morte. Apiano só começou a escrever sobre Cleópatra um século depois; Dio, dois séculos depois. Lucano era poeta demais e pendia nitidamente para o sensacionalismo - completou.

Sempre houve muita ficção em torno de Cleópatra e, segundo Stacy, sua vida vem sendo descrita como a de Napoleão Bonaparte seria contada se entregue às canetas dos britânicos do século XIX, repleta de erros e exageros, ou como os seguidores de Mao Tsé-tung, do século XX, registrariam a construção dos Estados Unidos, sem muita compreensão daquela realidade.

Mas para reduzir essas lacunas e diminuir uma confessada angústia intelectual, Stacy embarcou para o Egito e se fixou em Alexandria. Também esteve no deserto que fica a leste da cidade e que serviu de acampamento para Cleópatra nos dias em que César desembarcou na região. Foram cinco anos de trabalho sem descanso, mas o resultado vem colhendo elogios com adjetivos generosos.

Curiosamente, "Cleópatra - Uma biografia" ainda não foi lançada no Egito. Não se sabe o motivo. Mas, mesmo tendo escrito que o país não produz bons historiadores, Stacy Schiff não parece preocupada com uma possível reação nacionalista no reino de Cleópatra.

- Os egípcios sabem muito bem que a dinastia dela não era nativa. Estou tranquila.
De volta aos Estados Unidos, Stacy se diz encantada com o desfecho de seu trabalho sobre Cleópatra e se dedica a sua nova obra, um livro sobre o julgamento das bruxas de Salem. O novo título, ainda sem data para ser publicado, seguirá a linha investigativa de seus trabalhos anteriores, sobre Saint-Exupéry e Benjamin Franklin.

- Trata-se de um momento estranho e fascinante da América do século XVI. Estou animadíssima.
Stacy Schiff parece ter um quê de Cleópatra - sabe o que quer e corre atrás de seus objetivos.
FONTE: O GLOBO

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