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sexta-feira, novembro 15, 2013

População pobre e negra ‘se sente vítima de exclusão’ no atendimento do SUS, diz pesquisadora





Leny Trad vai se apresentar no VI Congresso Brasileiro de Ciências Sociais e Humanas em Saúde, organizado pela Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco)


Com estudos sobre a presença de racismo no atendimento no Sistema Único de Saúde (SUS), Leny Trad, professora do Instituto de Saúde Coletiva da Universidade Federal da Bahia, é um dos nomes da área a se apresentar no VI Congresso Brasileiro de Ciências Sociais e Humanas em Saúde, organizado pela Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco). O evento começou nesta quinta-feira e vai até este domingo, na Uerj, no Rio.

Coordenadora desde 2009 da Comissão Nacional de Ciências Humanas e Sociais, Leny analisou depoimentos de moradores negros de Salvador sobre o atendimento que recebem na rede pública de Saúde. Outra linha de pesquisa da professora é o atendimento a estrangeiros no Brasil pela rede de Saúde brasileira. Leny Trad se apresentará no evento nesta sexta, às 18h.

Outro destaque da programação do congresso organizado pela Abrasco é o lançamento da Comissão da Verdade da Reforma Sanitária Abrasco-Cebes, no sábado, às 8h30m. A comissão vai apurar casos de violações de direitos humanos praticadas por agentes do Estado contra profissionais da Saúde durante o período da ditatura militar.

O que a sra. examinou nos seus estudos sobre racismo dentro da rede pública de Saúde?
Fiz entrevistas de 2009 a 2011 com a população negra moradora de um bairro popular de Salvador, sobre o atendimento que recebiam na rede de atenção primária do SUS. O que apontaram nesses depoimentos foi que essa população se sentia vítima de exclusão, só que não somente por serem negros, mas também por serem pobres. Já em um segundo estudo que realizei, apenas com portadores de anemia falciforme, uma doença que aparece com mais frequência entre negros, a conclusão a que cheguei, a partir dos depoimentos colhidos, é que há uma percepção de que não seria uma enfermidade que receba atenção e investimentos na rede pública por ser mais comum em uma população excluída; podemos considerar que ela entrou no rol das chamadas doenças negligenciadas.

Como a sra. avalia essa percepção da população?
No primeiro estudo, por exemplo, acho que é uma percepção bastante coerente. Apesar de Salvador ter 70% da população formada por negros, nos bairros ricos 100% são brancos, enquanto nos bairros populares mais de 90% são negros. Então, esses dois fatores, cor e pobreza, confundem-se, e até por isso são necessárias outras pesquisas que isolem esses fatores, para ser visto o peso de cada um deles na exclusão. Mas, considerando que há estudos, por exemplo, que mostram as desigualdades entre a taxa de mortalidade infantil e materna entre brancos e negros, podemos falar em diferenças de tratamento de saúde.

Quais outras pesquisas a sra. realiza sobre diferenças de atendimento na rede de Saúde no país?
Tenho feito recentemente análise de casos de homofobia. Em outro estudo vi como é o atendimento de estrangeiros na rede brasileira, em três eixos do Brasil com maior presença deles: Sul, São Paulo e o arco Norte. O que podemos perceber é que falta regulamentação sobre como se dá o atendimento a migrantes estrangeiros no país. Há um vazio legal sobre isso, um assunto que deveria receber mais atenção até pela questão do custo disso para o sistema, que não tem uma capacidade infinita de absorção de atendimentos.

FONTE: O GLOBO / ALESSANDRA DUARTE

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