Na contramão do movimento negro partidário, que aderiu as campanhas do tucano José Serra e da petista Dilma Rousseff, sem qualquer pré-condição e por imposição da disciplina partidária, lideranças negras independentes, lançaram Movimento que descartam voto em Serra, porém, condicionam o voto em Dilma neste 2º turno, a compromissos da candidata do Governo com reivindicações históricas do movimento negro brasileiro.
A iniciativa partiu de ativistas do Movimento Negro Unificado (MNU), em especial, de seu coordenador Nacional de Organização, Reginaldo Bispo. Recusando abertamente o voto no candidato tucano, ele conclama as lideranças negras e aos ativistas a valorizarem, exigirem programa e a cobrarem projeto da candidata como condição para o voto.
“Não queremos cargos, nem participação no governo. Queremos o compromisso de um programa para negros e negras, índios e pobres. Sem isso não votaremos em Dilma. A luta por direitos não se esgota nas eleições”, afirma manifesto que está sendo divulgado.
Este ano, pela primeira vez, desde 1.872, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas, deverá confirmar, no Censo que está sendo feito, que o Brasil tem população majoritariamente negra - 51,3%, de acordo com a mais recente Pesquisa Nacional de Amostra por Domicílio do próprio IBGE - porém, o tema do racismo e da desigualdade racial não apareceu na campanha dos candidatos que disputam o 2º turno.
Seguidores dogmáticos
Segundo Bispo, “ao invés de seguidores religiosos e dogmáticos”, os negros devem exigir os seus direitos por um Brasil melhor para os trabalhadores e oprimidos. O texto é assinado por Margarida Barbosa, por Márcio Roberto do Carmo, ambos sindicalistas em Campinas, e por Onir Araújo, advogado dos quilombolas gaúchos, todos ligados ao Movimento Negro Unificado.
Com o título "Em Serra, não voto de jeito nenhum, mas preciso de garantias", ganhou o apoio de Douglas Belchior do Conselho Geral, da UNEAFRO/Brasil, entidade formada por dissidentes da Rede Educafro - a maior rede de cursinhos pré-vestibulares para negros e indígenas, dirigida pelo Frei David Raimundo dos Santos.
Sabujismo
O jornalista Dojival Vieira, que foi candidato a deputado estadual nas últimas eleições pelo PC do B de S. Paulo, saudou a iniciativa dos ativistas do MNU, e considerou positivo que lideranças negras denunciem o modelo “maria vai com as outras de movimento, o adesismo sabujo da meia dúzia que negocia – sem qualquer procuração - em nome dos negros brasileiros, preocupados apenas em defender seus próprios interesses e não tem sequer a decência, muito menos altivez de apresentarem a candidata Dilma um programa de reivindicações como condição para o voto”.
“O mínimo que se pede é que a indecente desigualdade racial entre na pauta dos candidatos, entre no debate da campanha, o que não aconteceu até o momento. Nos tornamos invisíveis novamente. Inaceitável a adesão pura e simples de quem se diz representante de movimento social, sem um programa, sem propostas, sem compromissos. Quem faz isso não tem espinha ereta nem integridade sequer para falar em nome próprio, muito menos em nome dos milhões que somos - submetidos à iniquidade do racismo e da herança maldita da discriminação. E isso vale para todo o movimento negro partidário – petista, do PC do B, do PMDB ou tucano.”
O jornalista disse que até entende as lideranças que fazem isso por "imposição da disciplina partidária, mas respeita ainda menos os que o fazem pelo sabujismo interesseiro". "Mesmo os que estão na defesa dos seus partidos, deveriam ter a decência de não falar em nome dos negros brasileiros, como se a todos representassem. Deveriam falar, no máximo, em nome dos "puxadinhos" que representam, nunca em nosso nome.", finalizou.
FONTE: AFROPRESS
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