A nova classe média brasileira já é maioria da população, pode decidir uma eleição sozinha, responde por quase metade do consumo nacional, compra eletrônicos, carro e até a casa própria. Mas ao mesmo tempo em que festeja esse boom de consumo, ela sonha mesmo é com a inclusão social, um bem que não é vendido no shopping e tem que ser adquirido aos poucos, num prazo ainda maior que o dos financiamentos de mercado. Esta é a principal conclusão da pesquisa "Sonhos da Nova Classe Média", um estudo qualitativo realizado em São Paulo com pessoas que ganham entre R$ 1.126 a R$ 4.854 por mês, mostra reportagem de Nice de Paula, publicada neste domingo pelo jornal ‘O GLOBO‘.
- Não adianta ter dinheiro para freqüentar o Leblon ou o Jardins, em São Paulo, porque o linguajar é diferente, ele não estudou numa boa escola. Foram 500 anos de um país dividido entre a casa grande e a senzala - diz Andre Toretta, publicitário e sócio-diretor da Ponte Estratégia, consultoria especializada em estudos sobre a classe C.
A pesquisa identificou duas outras grandes categorias de sonhos: o da realização pessoal e o de consumo. Os sonhos de realização pessoal estão ligados fundamentalmente à profissão. Mas, ao mesmo tempo em que avança o acesso aos cursos de nível superior, ainda é um privilégio escolher a profissão.
- Esse universitário da classe C, primeiro vê qual universidade tem perto de casa, depois quanto custa e, por último, ele olha que curso tem. Ele não faz o curso que quer, faz o que é possível - diz Torreta.
Que o diga a auxiliar financeira Elizabeth Mendonça Costa, 32 anos, que sonhava ser fisioterapeuta, mas acabou se matriculando em ciências contábeis, porque a mensalidade custava a metade do preço. E enquanto festeja conquistas, como a TV de 50 polegadas, o laptop e a geladeira que serve cerveja sem abrir a porta, Elizabeth sonha com fim do que ela chama de "discriminação":
- Infelizmente, na nossa sociedade há muita discriminação, principalmente do pobre contra outro pobre. Fui com meu irmão comprar o carro e o vendedor nem me deu atenção. Chamei um outro e falei logo: a gente vai comprar um carro zero. Aí o primeiro vendedor disse que ele estava me atendendo, mas eu não quis mais comprar com ele. Isso é pior do que racismo.
O economista Marcelo Neri, chefe do Centro de Estudos Sociais da Fundação Getulio Vargas (FGV), vê nas conclusões da pesquisa um reflexo da desigualdade e diz que, o desafio do país agora, é avançar nas questões coletivas.
- Esse sonho de inclusão é um sonho de pertencer. O país gerou um potencial de consumo, de geração de renda, mas temos problemas relacionais, porque temos desigualdade, inclusive dentro de um mesmo grupo.
FONTE: PERNAMBUCOCOM
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