O ciclo de palestras Fronteiras do Pensamento começou em Porto Alegre, na segunda-feira (23), com a participação do pensador e crítico literário norte-americano Fredric Jameson. Considerado um dos principais pensadores da era globalizada, Jameson falou durante mais de uma hora sobre a pós-modernidade e o modo como ela se espalha por todos os aspectos de nosso modelo de vida. O evento ocorreu no Salão de Atos da UFRGS e contou com a participação do governador gaúcho, Tarso Genro, e do prefeito de Porto Alegre, José Fortunati.
Fredric Jameson começou sua palestra lembrando que já havia estado em Porto Alegre antes, em uma das edições do Forum Social Mundial. “Espero que outros eventos como esse sejam realizados, para que eu possa retornar mais vezes”, brincou. A partir daí, auxiliado por anotações, falou de forma ininterrupta por quase uma hora. Sua palestra, intitulada “A estética da singularidade”, teve como propósito mostrar a pós-modernidade como o desdobramento cultural do capitalismo em um mundo globalizado. “Considero a pós-modernidade e a globalização como sendo o mesmo fenômeno”, disse Jameson, dando uma amostra do que seria aprofundado a seguir.
Para desenvolver esse conceito, o pensador abordou inúmeros campos da experiência humana, indo da arte à economia, passando por filosofia, política e até mesmo gastronomia. De acordo com Fredric Jameson, todos os aspectos parecem diversos, mas acabam sendo demonstrações de uma mesma realidade. Um dos pontos mais aprofundados na fala de Jameson foi a expressão artística. Segundo ele, perdeu-se o conceito moderno da arte como um trabalho único, surgido da força criativa do artista. No mundo pós-moderno, a arte é uma estratégia, uma receita que valoriza a eficiência técnica em detrimento de uma eventual marca artística individual. “A arte atual é mais um espaço do que uma presença”, disse o pensador, citando as instalações como obras artísticas para o presente, em oposição a pinturas ou esculturas, que eram produzidas para a posteridade. “As artes tornaram-se híbridas, e é por isso que a singularidade na arte está desaparecendo”, afirmou.
Lógica que se manifesta em vários outros aspectos, como na economia. De acordo com Jameson, o mercado não mais está conectado com os produtos e com o modo como são comercializados, e sim na especulação financeira, na movimentação de divisas e na circulação de capital. “Tudo que nos cerca abraça a ideia de efemeridade, de que o mais importante não é o objeto, e sim o evento”, argumentou. “Nossa frágil ligação com o produto espelha, na economia, o mesmo simulacro da comunicação”.
No pensamento de Fredric Jameson, a modernidade é fruto de um processo incompleto de modernização. A pós-modernidade, portanto, surge quando a modernização está concluída. “Ninguém mais acredita em mudanças a longo prazo”, garante ele. A singularidade, de acordo com o crítico literário, está caracterizada quando abandonamos o conceito de todo e passamos a focar no presente. Assim, como diz Jameson, “o passado sumiu e não podemos mais pensar no futuro”. “Nunca antes uma sociedade teve uma percepção tão reduzida de seu próprio passado”, defende Fredric Jameson. “Perdemos a propriedade de nós mesmos. Flutuamos na distância do outro, que é para nós um risco ou um trauma”.
O ciclo de palestras Fronteiras do Pensamento terá continuidade no dia 13 de junho, com a presença de Shirin Ebadi, ganhadora do Prêmio Nobel da Paz em 2003. Pela primeira vez, as palestras serão realizadas também em São Paulo. Ao todo, dez nomes farão parte do Fronteiras do Pensamento 2011 em Porto Alegre – entre eles, palestrantes como o escritor Orhan Pamuk, o sociólogo Zygmunt Bauman, o ativista político Lech Walesa e o enxadrista Garry Kasparov.
FONTE:sul 21 / Igor Natusch
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