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terça-feira, julho 02, 2013

I Encontro LGBT promovido pela CSP-Conlutas faz história






O I Encontro Nacional LGBT da CSP-Conlutas, realizado este fim de semana em São Paulo, é o primeiro promovido por uma central sindical no país, de acordo com os participantes, que deram caráter histórico para o evento. Houve a participação de 180 pessoas, entre delegados, observadores e convidados. Mais de 16 estados de norte a sul do país estavam representados.

Os debates e a troca de experiências sobre os desafios e perspectivas dos LGBTs foram enriquecidos pela realização de mesas redondas sobre Conjuntura Nacional LGBT e sobre Opressão e Exploração no sábado (29), além dos grupos setoriais de discussão promovidos ao final do dia. 

A mesa redonda sobre a conjuntura da Luta LGBT foi composta por Flavio Bandeira, do Setorial LGBT da CSP-Conlutas, Tarcisio Ramos do movimento Somos Todos Coloridos, Gean Santana, 2º vice-presidente do ANDES-SN e pelo estudante da Anel Lucas Brito. Bandeira iniciou sua fala dando destaque para o ato realizado na noite anterior pelo Dia Nacional do Orgulho LGBT. “Resgatamos uma data [Dia do Orgulho LGBT] que foi apagada pelos movimentos sociais. Uma salva de palmas para nós”, disse. O membro do Setorial LGBT da CSP-Conlutas fez uma análise das mobilizações em curso no país. “Mais de dois milhões de pessoas foram às ruas para dizer que não é apenas por vinte centavos, mas é também contra os gastos com a copa, é por mais investimento em saúde e educação”, salientou. A importância dos LGBTs neste contexto também foi ressaltada por Bandeira. “Não há como não falar de como nós [LGBTs] nos somamos a esses atos”.

Segundo o representante do Setorial LGBT, o cenário está se apresentando com novos elementos, entre eles “a escolha de um homofóbico, Marcos Feliciano, para presidir a Comissão de Direitos Humanos. Isso, entre outros elementos, só ‘coroou’ o que representa os 10 anos de governo do PT”. Alguns dos elementos elencados por Bandeira foram: “o projeto de Cura Gay – que significa um retrocesso de vinte anos. O veto ao Kit contra a Homofobia. E a presidente Dilma não se pronunciou e continua inerte aos nossos anseios”, avaliou.

Esses temas dividem a sociedade, e por isso, de acordo com Bandeira, o encontro é importante para disputar a consciência e preparar os trabalhadores sobre a luta LGBTs. “Esse é um momento histórico e queremos fazer um chamado. As centrais irão fazer um dia de luta em 11 de julho e precisamos nos somar e incluir nessa luta a derrubada de Feliciano. Colocar essa reivindicação para o conjunto da classe”.

De acordo com ele, a discussão de classe se perdeu e a substituíram pela palavra cidadania, em que a burguesia se apropria e a utiliza de forma indevida. “A gente quer construir uma agenda de LGBT de luta e classista. Na sociedade capitalista não conseguiremos acabar com a homofobia, por isso precisamos lutar por uma sociedade socialista”.

Tarcisio Ramos, da Comissão Organizadora do encontro e do movimento Somos Coloridos, fez um breve resgate histórico sobre a questão LGBT, desde o surgimento da Igreja que veio junto com o questionamento da sexualidade. Ramos falou também sobre o cristianismo, que durante a ocupação no Império Romano, entre as doutrinas, fazia a caça aos homossexuais. Citou ainda o Nazismo, em que os homossexuais, levados aos campos de concentração, eram diferenciados com Triângulo Rosa, entre outros períodos históricos.

“A perseguição aos homossexuais intensifica-se sempre em períodos de crise do sistema econômico. Eles se aproveitam da oportunidade da crise para encontrar alguém para ser oprimido para assim mudar o foco da crise. Aqui a gente não discute opressão pela opressão, mas sob a ótica do capitalismo”, explicou Tarcisio. Para ele, a conjuntura internacional não é boa. “Na África, em ao menos 13 países, condenam à morte os homossexuais”.

Tarcisio destacou que também aqui no Brasil, “em um governo que se diz de esquerda, a situação não é diferente. O governo Lula enganou os LGBTs e não colocou nossas pautas nas discussões. Hoje a Dilma estava no jornal com bandeira LGBT, mas a Dilma não nos representada. Prova disso, é ela ter assinado uma carta fundamentalista que ataca os LGBTs”, avaliou.

Em seguida, o representante da Anel Lucas Brito falou sobre a importância do movimento estudantil em unidade com LGBTs no combate à homofobia. “Nós, da Anel, assim como a CSP-Conlutas, temos construído importantes lutas no campo dos LGBT. Temos grandes tarefas pela frente. Se nas ruas conseguimos derrubar o aumento das passagens é nas ruas que conseguimos derrubar Feliciano”, disse.

O 2º vice-presidente do ANDES-SN, Gean Santana, destacou a importância do evento, que foi construído pelos trabalhadores, de forma autônoma, sem o financiamento de empresas e do governo. Santana falou ainda da experiência no Sindicato Nacional, como a realizado de seminário sobre a diversidade sexual promovido pelo ANDES-SN. Também citou o 32º Congresso do Sindicato Nacional, realizado pela entidade em março deste ao no Rio de Janeiro, no qual foi aprovado uma política de combate à homofobia. 

O diretor do ANDES-SN fez referência às mobilizações em curso e salientou a importância de os LGBTs organizados participarem e dar uma direção de classe para esse processo. “As bandeiras pelo Fora Feliciano começaram a aparecer depois de nossa intervenção, precisamos disputar as nossas pautas”, avaliou.

Debate sobre Opressão e Exploração
A mesa foi composta por Camila Lisboa, do Movimento Mulheres em Luta, Iraci Lacerda, da Oposição Alternativa Apeosp - da subsede Santo André - pelo coordenador do Sindsef-SP Carlos Daniel, pelo presidente do Sindicato dos Metroviários de São Paulo, Altino Prazeres, e por Renato Gomes, do Sindicato dos Comerciários de Nova Iguaçu.

Camila abriu o debate mencionando como o “capitalismo transforma diferenças em desigualdades”. Para ela, isso acontece porque no capitalismo há necessidade de lucro e, portanto, de superexploração da classe trabalhadora e de determinados setores sociais.

“Nós queremos organizar a luta contra a opressão e eliminá-la. Isso só será possível com a transformação da sociedade. Para isso, precisamos escolher um lado e é o lado da classe trabalhadora, que compõe mulheres, negros, LGBTs. Não podemos deixar a as organizações burguesas e capitalistas se apropriem”, frisou. Para ela, é preciso incorporar as demandas de luta contra a opressão e é essa batalha que ocorre na condução da CSP-Conlutas.

Renato, do Sindicato dos Comerciários de Nova Iguaçu, fez um discurso emocionado sobre o preconceito que sofreu. “No meu sindicato eu me assumi como homossexual, alguns setores que compunham o sindicato queriam me tirar, mas outros companheiros me apoiaram e eu não desisti. Esse encontro me dá mais força para enfrentar o preconceito”, disse. Renato também falou do ascenso das manifestações e de que há mudança de ânimo da classe trabalhadora. “Nós não podemos deixar que as nossas bandeiras sejam excluídas, porque nós nunca dormimos”.

Iraci, professora da rede publica estadual, falou da homofobia nas escolas e do problema que o adolescente homossexual encara sem o suporte necessário. Altino, do Sindicato dos Metroviários, destacou que a sociedade capitalista se interessa para que as pessoas se dividam. “É por isso que os LGBTs devem ir para as ruas organizados”.

Grupos de discussões
Ao final, os presentes se reuniram em grupos de trabalhos que discutiram diversos temas, bem como um manifesto, votado no domingo (30).

História do movimento LGBT e votação das resoluções
O integrante do Movimento Quilombo Raça e Classe, Wilson Honório, fez uma palestra descontraída no domingo (30) com um breve resgate sobre a história dos LGBTs. A luta contra a ditadura, em 78, a unidade com os trabalhadores metalúrgicos do ABC na década de 80, entre outros episódios importantes foram elencados por ele. “É preciso nos localizarmos de qual é a história do movimento LGBT sob uma ótica classista, contra a lógica burguesa e de opressão”, explicou. 

Wilson disse que os LGBTs devem lutar por sua liberdade e saber diferenciar a privada (aquela que é comprada) e a pública. “Nossa liberdade deve ser pública. Não defendemos a cidadania paga”. Wilson também citou os artistas e líderes homossexuais que fizeram história, como Leonardo Da Vinci e Michelangelo, exemplos de pessoas que se colocaram contra o sistema.

Para ele, o movimento LGBT nasce da crise do capitalismo que deve ser superado e combatido. “Não podemos tratar a opressão de forma conciliatória”. Wilson citou o movimento conhecido como “Pink Money” que surgiu com a burguesia e move a Parada Gay. “Isso nada mais é que comercialização e mercantilização do movimento. A nossa diferença com o resto do movimento é concreta. Em 2008, fomos expulsos da Parada gay”.

E finalizou: “vamos construir a consciência dos operários para que tenham acumulo sobre as questões LGBTs, mulheres, negros. Defendo a igualdade de diretos para exercemos nossas diferenças”.



Manifesto e resoluções
Na parte da tarde, foi apresentado e aprovado um manifesto sobre o Encontro e a situação atual dos LGBTs bem como as resoluções discutidas no encontro, que serão divulgados posteriormente.



Fonte: CSP-Conlutas / ANDES-SN

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