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domingo, fevereiro 14, 2010

Colônia psiquiátrica onde Bispo do Rosário viveu será restaurada

Isolado por uma grade, o pavilhão onde os internos viviam como prisioneiros e levavam eletrochoque está desativado há 30 anos, mas continua de pé.

Até os anos 80, era comum ouvir gritos do antigo prédio, hoje entregue a teias de aranha, ninhos de camundongo e mofo.

"Eles trancavam a gente na cela e as ratazanas ficavam soltas entre nós. E aí vinha o eletrochoque", lembra Tereza Aparecida Santana, 73, internada "ainda menina" por alcoolismo. Ela passou quase 40 anos na Colônia Juliano Moreira, em Jacarepaguá, zona oeste do Rio. Para os 490 internos que ainda vivem lá, o passado é uma evocação constante.

As obras que a prefeitura e o governo federal iniciaram no entorno da instituição psiquiátrica, no entanto, podem apagar as últimas marcas de violência e abandono que fizeram daquela área de 7,8 milhões de metros quadrados, fundada em 1924, o fim da linha para incontáveis homens e mulheres rejeitados por suas famílias, pela medicina e pelo poder público.

No total, estão previstos investimentos de R$ 142 milhões até 2012. Lá, o presidente Lula já inaugurou em 25 de janeiro o Espaço de Desenvolvimento Infantil Dra. Zilda Arns, uma creche para 150 crianças, além de obras de infraestrutura.

A reforma geral também vai beneficiar os mais de 20 mil moradores das nove comunidades formadas irregularmente no terreno da Colônia. O núcleo histórico da instituição, abandonado, será restaurado.

"Vamos criar o Museu Bispo do Rosário no antigo Pavilhão 1, que será um museu de arte contemporânea no Rio de Janeiro", diz o secretário municipal de Habitação, Jorge Bittar.

A homenagem a Arthur Bispo do Rosário não é casual. Diagnosticado como esquizofrênico paranoico, ele passou poucos meses no Hospício Pedro 2º, a primeira instituição psiquiátrica do Brasil, fundada no Rio no século 19, e em seguida foi transferido para a Colônia, onde morreu, em 1989.






Obra preservada

Com tudo o que obtinha na instituição --sucata, vassouras, chinelos, canecas e fios de algodão de lençóis e uniformes--, ele criou mais de 800 obras, foi comparado a Marcel Duchamp e é considerado expoente da arte contemporânea brasileira.

"Tenho a impressão de que ele exercia certa influência sobre os funcionários e internos da Colônia. Do contrário, não poderia se recusar a tomar remédios", diz Marcos Martins, diretor da Colônia. As obras do artista estão guardadas na reserva técnica da instituição.

A maioria dos atuais 490 internos esteve ao lado de Bispo. Eles têm, em média, 70 anos de idade e estão lá há mais de 40. Quase todos vieram do Hospício Pedro 2º --que ficou conhecido como "Palácio dos Loucos"--, onde também foi internado o escritor Lima Barreto.

FONTE: Folha de S.Paulo

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