Valoriza herói, todo sangue derramado afrotupy!

terça-feira, fevereiro 09, 2010

Mais um papelão da Seppir

É aquela velha história, ano novo, vida nova e resoluções para o ano entrante. Entre elas ficar mais light, brigar menos, cultivar a paz e ser menos ranheta. Até por conta da saúde. Porque o médico mandou. Porque os amigos pedem, porque a família exige. Aí me vem a Seppir e me faz um papelão desses. E eu, quietinho que estou, não me aguento e tenho que falar algo, senão passo mal.





Dirão que são subordinados, que devem obedecer. Aí terei que lembrar da frase de Marina Silva: "Perco o pescoço, mas não perco o juízo". E assim saiu do governo pela mesma porta em que entrou: a da frente, de cabeça erguida.

Tem aquela velha frase, né: "Quem muito se abaixa o #% aparece". No caso em questão a vergonha de se abaixar nos atinge a todos e todas. Coragem tem Makota Valdina de dizer o que disse: "Está na hora de irmos para o campo político e de educar os nossos para saber quem vamos eleger", insistiu Valdina, sob aplausos. "A gente viu o que aconteceu com o Estatuto da Igualdade Racial e o que está acontecendo com esse plano. Por que para negro e índio não tem terra? Precisamos acabar com esse vírus do racismo." (Da Matéria do Estadão)

Makota Valdina é pequenininha e é um mulherão. Cresce nas discussões. Nos honra! Nos dá coragem e força e diz em poucas palavras o que precisa ser dito. Me honra conhecê-la, me honra tê-la em meu coração já tão grande. Me orgulha tê-la como parceira e membro do CEN. A verdade é o que diz Makota. Tá na hora de parar de votar nessa gente.

Dizem por aí que Dilma quer conversar conosco. Mas é Dilma e seu chefe, o senhor Luiz Ignácio, que se sentaram nos mais de cem processos de investigação que existem dentro da Polícia Federal contra o senhor Bispo Macedo. Dilma quer conversar conosco mas faz grandes acordos com os veículos de comunicação que se calam sobre os processos abertos pelo governo americano contra o senhor Bispo Macedo. Dilma quer conversar conosco mas não dá uma palavra sobre os casos de intolerância absurdos que ocorrem cotidianamente. Aí pergunto eu, conversar o que? Para que? Para nos dizer que apóia nossa luta? Dilma não nos apóia.

O pragmatismo petista que levou a eleição de Lula e que permeia o recuo covarde e indecoroso da Seppir no Plano Nacional de Combate à Intolerância Religiosa é tão vergonhoso que não dá pra confiar em uma frase que nos venha desta seara. Em nome de se elegerem são capazes de tudo, menos de fazer escolhas justas.

Um tanto disso é culpa nossa. Nós também somos um bando de lambões e, portanto, é justo que nossos representantes na Seppir também sejam lambões. Quando brigamos tanto entre nós por vaidades bestas não conformamos força política o suficiente para mostrar o quanto podemos ser instrumentos de pressão. A verdade é que somos a maioria da população mas não sabemos operar esta força. Com isso ficamos reféns daqueles que só querem ver números em sua frente, mas não querem ver gente.

O que aconteceu nesta semana é um dos episódios mais vergonhosos da história recente do Movimento Negro brasileiro. Apenas uma semana antes do evento começamos a ser informados que o governo recuaria na posição de lançar o Plano de Combate à Intolerância Religiosa por conta das pressões dos evangélicos e da Cnbb. Mesmo assim mantiveram as passagens das pessoas com o argumento de que queriam "conversar". Não tiveram nem mesmo a dignidade de dizer às pessoas que suas viagens seriam inúteis. Os que lá estiveram presentes saíram com a promessa de que o Plano será lançado mais à frente. Sabemos que não será. Mais à frente se dará uma outra desculpa tão esfarrapada quanto esta. Uma vergonha!

Na boa, eu esperava pelo menos uma demissão. Bonito ia ser o Ministro se demitir. Mas se ele não pode seria legal ver o Alex pedir as contas. Dizer que não está ali para fazer papel de palhaço. Puxa vida!! Esses caras entrariam para a história. "Perco o pescoço mas não perco o juízo", se lembrarão da Marina no futuro. E dessa turma, quem lembrará?

Enfim, nos lembra sempre Stive Biko, estamos por nossa própria conta. Precisamos ser mais autônomos, buscar menos apoio do Estado, gerar menos dependência do governo. Não dever nada a ninguém!

Precisamos educar nosso povo para votar em quem realmente nos represente, nos ensina Makota Valdina, a quem peço a bênção. É isso que precisamos fazer, é deixar para trás o que para trás já ficou e buscar entre nós mesmos a força política e a coragem real para nos representar.

Lutar contra o racismo, lutar contra a intolerância religiosa, lutar contra as forças que comandam este país exige coragem, exige cabeça erguida. Exige a força de um milhão de makotas valdinas. E o que vemos nas proto-lideranç as é falta de coragem, falta de brio, como diria minha velha mãe, é uma vontade imensa de agradar aos chefes. E isso não queremos. Negros assim, não são nossos irmãos, diria Solano Trindade.

É triste, é lamentável, é profundamente decepcionante o que aconteceu. Mas é a verdade, tão certa assim.

Um belo dia Matilde Ribeiro concordou com o Palocci que deveria se tirar o fundo do Estatuto. Não foi uma sugestão do Palocci, foi uma exigência. Ela retirou. Palocci está na vala comum da história política brasileira, Matilde caiu para cima, como caem todos os petistas, e o Estatuto virou um trambolho tão sem sentido que nós, do CEN decidimos nos tornar totalmente indiferentes a ele.

O mesmo agora está se dando com relação ao Plano de Combate à Intolerância Religiosa. Desde que não fira os católicos, não ofenda os evangélicos e não crie problemas para Macedo e sua turma, tudo bem, e aí ficarão felizes o presidente, a Dilma e os nossos "representantes" na Seppir.

Eu já não votava nesta senhora antes, agora mesmo que não voto mais. Eu sempre votei em Edson para vereador e votei para o Senado, agora não voto mais. E de resto, francamente, só tenho a lamentar. Lamentar por nós mesmos, mas me envergonhar profundamente por aqueles que nos traem com o argumento de nos proteger.

Tristes dias!!
Por: Marcio Alexandre M. Gualberto
FONTE: AFROPRESS

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