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segunda-feira, fevereiro 08, 2010

Dinheiro público para a Copa

Que a Copa do Mundo é um evento capaz de atrair os olhos de todo o globo para o país sede, ninguém questiona. O motivo de perguntas - e, claro, de diversas críticas - é o investimento público necessário para que tudo ocorra bem aos olhos da Fifa e do mundo.

No Brasil, que se prepara à copa de 2014, a conta paga pelo contribuinte será alta. Estima-se que 94% dos recursos à transformação dos estádios em arenas no país vai sair dos cofres públicos. A cifra é assustadora: R$ 5,3 bilhões. A porcentagem põe por terra as declarações do presidente da CBF, Ricardo Teixeira, de que a copa no Brasil seria o "mundial da iniciativa privada". Por dedução óbvia, a iniciativa privada bancará 6% das obras, algo em torno de R$ 333 milhões.

A previsão de investimentos públicos nas 12 arenas para o Mundial já ultrapassa em 167% o valor estimado pela CBF há dois anos (em 2007, quando o país ganhou o direito de sediar o evento, a entidade divulgou que se gastaria menos de R$ 2 bilhões com estádios). Na semana passada, o Ministério do Esporte divulgou documento no qual estão detalhados todos os custos das obras e que agente irá financiá-las.

Aproximadamente R$ 3,5 bilhões serão "patrocinados" pelo BNDES. Por se tratar de empréstimo a juros de mercado, o governo federal sustenta que não se trata de uso de verba pública. A grande questão, contudo, como bem mostrou reportagem recente publicada na Folha de São Paulo, é que desse total apenas R$ 175 milhões devem ser tomados por entidades privadas (R$ 25 milhões pelo Atlético-PR e R$ 150 milhões pelo São Paulo). O restante deverá ser levantado pelos governos estaduais, que, ainda segundo a reportagem, teriam falhado na tentativa de encontrar parceiros privados às obras.

Os estados ainda investirão - além dos recursos obtidos junto ao BNDES - quase R$ 1,6 bilhão nas arenas. O detalhamento que se segue poderá cansar o leitor, mas é fundamental para dar a dimensão exata dos gastos públicos nos estádios. Ao todo, como já se disse, serão investidos R$ 5,3 bilhões. No Beira-Rio, R$ 130 milhões (investimento privado); na Arena da Baixada (PR), R$ 138 milhões (25 do BNDES e 113 privado); no Morumbi (SP), R$ 240 milhões (150 do BNDES e 90 privado); na Arena das Dunas (RN), R$ 350 milhões (250,5 do BNDES e 99,5 do Estado); no Mineirão (MG), R$ 426 milhões (300 do BNDES e 126 do Estado); no Verdão (MT), R$ 454 milhões (330 do BNDES e 124 do Estado); no Vivaldão (AM), R$ 515 milhões (375 do BNDES e 140 do Estado); na Arena Recife (PE), R$ 529 milhões (397 do BNDES e 132 do Estado); na Fonte Nova (BA), R$ 592 milhões (400 do BNDES e 192 do Estado); no Maracanã (RJ), R$ 600 milhões (400 do BNDES e 200 do Estado); no Castelão (CE), R$ 623 milhões (400 do BNDES e 223 do Estado); e no Mané Garrincha (DF), R$ 745 milhões (400 do BNDES e 345 do Estado).

A simples listagem dos investimentos impressiona. Ninguém é contra a Copa do Mundo, evento que pode trazer inúmeros ganhos (por exemplo, obras de mobilidade urbana também vão ser feitas nas cidades-sede). Entretanto, fundamental será o bom uso do recurso público. O Brasil, país de mil e tantas misérias, não pode mais ver o dinheiro escorrer pelo ralo - ou ser escondido em meias e cuecas. Para que isso ocorra, contudo, faz-se fundamental a fiscalização do cidadão. Afinal de contas, como sempre, ele é que paga a conta.
FONTE: EDITORIAL/DIÁRIO POPULAR-RS

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