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sexta-feira, janeiro 27, 2012

Cotas: de cursos pouco concorridos aos mais cobiçados

Hoje, estudantes da reserva de vagas preferem Direito e Medicina


Mais da metade da primeira geração de estudantes que ingressaram na Uerj pelo sistema de cotas para negros e alunos da rede pública trabalha atualmente em carreiras ligadas à Educação. Os pioneiros optaram por cursos menos concorridos, como Pedagogia e História, e com aulas à noite, para poderem trabalhar. 


Há oito anos, poucos se atreviam a disputar as graduações mais concorridas e em horário integral como Medicina e Odontologia. Essa situação começa a se inverter: no último vestibular, a preferência dos candidatos cotistas é por Direito e Medicina.

Levantamento feito pela (Uerj) mostra que entre os cinco cursos mais procurados por eles estão também Engenharia Elétrica, Psicologia e Engenharia Civil. Entre os não-cotistas a preferência é Medicina, Direito e as engenharias Civil, Elétrica e Química, cursos onde ainda há resistência à reserva de vagas.
 
“Os cotistas estão concorrendo às carreiras de maior prestígio, talvez influenciados pelo desempenho dos que já se formaram e pela garantia de que terão o apoio de material didático”, avalia a sub-reitora de Graduação da Uerj, Lená Menezes. 

Mais confiantes

Estudo inédito da Uerj, publicado ontem por O DIA, mostra que de cada 10 ex-cotistas, nove estão no mercado de trabalho. Um deles é o historiador Levi Jefferson Batista, 28 anos, que atualmente cursa o 5º período de Direito na Uerj, de olho nos concursos públicos. Levi deu aulas até ser aprovado no concurso para técnico em Gestão de Saúde, na Fiocruz, que exige diploma universitário: “Antes de fazer História, queria fazer Publicidade mas bateu a insegurança de não passar. Hoje me sinto confiante e capaz”.


Alunos sofreram preconceito em entrevistas de emprego

A Uerj foi foi a primeira a adotar cotas, reservando 20% das vagas para negros e indígenas, 20% para alunos de escolas públicas e 5% para pessoas com deficiência e filhos de policiais e bombeiros mortos em serviço. Das 5.316 vagas, 2.923 são para cotistas.

No curso de Direito, alunos cotistas denunciaram o preconceito nas entrevistas de emprego. Segundo a sub-reitora Lená Menezes, foi preciso recorrer à Ordem dos Advogados do Brasil para intervir junto aos escritórios de advocacia.

“A universidade tem o compromisso de alterar as desigualdades sociais. As cotas cumprem esse papel”, acredita Lená. 

As regras nas outras públicas

Outras quatro instituições do Rio adotam cotas em suas seleções. A UFRJ reserva 30% das vagas, em cada curso, para candidatos que cursaram todo o Ensino Médio em escolas públicas e que tenham renda familiar per capita inferior a um salário mínimo.

Na Unirio serão oferecidas para este ano 120 vagas para professores que estejam em atividade na rede pública de ensino. Docentes têm direito a 20% das vagas nos cursos de Licenciatura da UFRRJ (Rural).

A UFF concede bônus de 20% na nota final dos candidatos que concluíram, em 2011, todo o Ensino Médio em escolas públicas de qualquer estado, excluídos os colégios federais, militares e de aplicação.

FONTE: O DIA

 

Cotistas se dão bem na sua maior prova: a carreira

Nove em cada 10 formandos beneficiados por reserva de vagas estão no mercado de trabalho. Seis, na sua área de formação

Oito anos após o início do programa de reserva de vagas no ensino superior para negros e estudantes da rede pública, ex-cotistas estão se saindo muito bem na prova mais importante: a carreira profissional. Sete em cada dez estudantes que ingressaram na universidade pelo sistema de cotas já conquistaram uma vaga no mercado de trabalho, sendo seis deles na sua área de formação. Dois se preparam para concursos e apenas um não conseguiu emprego após a formatura.

Os dados inéditos fazem parte da primeira pesquisa feita, no ano passado, pela Universidade do Estado do Rio (Uerj), com 20% dos 4.280 ex-cotistas. O levantamento coordenado pela Sub-reitoria de Graduação revelou que 90% dos cotistas pioneiros não pensam em parar os estudos. Entre os egressos, 67% já concluíram cursos de pós-graduação e 39% frequentam mestrado, como Bruna Melo dos Santos, 30 anos. 
 
Formada em História, ela está na segunda faculdade, de Arquivologia, que concilia com o curso de mestrado. “Eu só precisava de uma chance de provar que era capaz. Daqui a dois anos pretendo fazer doutorado na Inglaterra”, planeja ela, que agradece aos patrões da mãe, doméstica, pela ajuda nos anos difíceis da faculdade. “Eles me davam vales-alimentação, transporte e até curso de inglês. Foram anjos na minha vida”, conta Bruna, que viu o padrão de vida mudar após os estudos. Ela comprou um apartamento junto com o marido, também ex-cotista, e se mudou de Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, para Irajá, na Zona Norte do Rio, para ficar mais perto do trabalho.

As amigas Ana Paula Ferreira de Melo, 27, e Camila Rodrigues de Souza, 26, trilharam o mesmo caminho, fazendo as duas faculdades. Ana Paula é professora das redes municipal e estadual do Rio e Camila trabalha como arquivista na iniciativa privada. 

“Vejo nos meus alunos que a maioria não sonha. Tento servir de exemplo”, diz Ana, que também comprou apartamento. “Estudávamos muito porque a cobrança era maior em cima da gente. Não queríamos que ninguém dissesse que jogamos fora a oportunidade”, conta Camila.

Beneficiados por cota se formam mais que os outros

Formada na primeira turma de cotistas da Uerj, em março de 2007, a dentista Priscila Seraphim, 26 anos, é a prova de que, às vezes, basta uma oportunidade. Ela se divide em três clínicas odontológicas e o curso de especialização. Durante a faculdade, Priscila contou com a ajuda da aposentadoria da avó para custear R$ 2 mil por semestre com o material da aula prática, livros, roupa branca, alimentação e transporte: “Havia livros que custavam R$ 300 e não tinha para todos na biblioteca”.

Como ocorreu com Priscila, a Sub-reitoria de Graduação da Uerj identificou que a maior dificuldade dos cotistas era permanecer até a formatura. Por isso ampliou a assistência estudantil. Além da bolsa-auxílio de R$ 300 e de oficinas de reforço escolar, a universidade passou a fornecer livros, calculadoras e kits básicos para alunos de Medicina e Odontologia, que incluem instrumentos como estetoscópio e material para aulas em laboratório.

Como tartarugas da fábula, cotistas começam em desvantagem, mas podem ser os primeiros na linha de chegada, incentivados pela determinação que os leva a seguir sempre em frente. Eles se formam mais (25,9%) do que os não-cotistas (20,5%). “Agarram com unhas e dentes a oportunidade e fazem melhor uso do dinheiro público, já que não abandonam o curso”, reconhece a sub-reitora Lená Menezes.

FONTE: O DIA


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