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domingo, setembro 25, 2011

A dor e o orgulho de ser palestino
















A vida de 4,1 milhões de palestinos é marcada por uma esperança ainda tênue de independência e pelo sonho tão almejado de liberdade. Na alma deles, ficou tatuada para sempre a dor da ocupação israelense. A demolição de casas e a construção de assentamentos pelas retroescavadeiras, os frequentes bombardeios com tanques e aviões, as incursões sem aviso de tropas, a pobreza extrema e o embargo econômico fazem parte do dia a dia de crianças, homens, mulheres e idosos. As limitações impostas desde 1967, quando Israel conquistou a Faixa de Gaza e a Cisjordânia, afetam até mesmo aspectos simples do cotidiano. “Tenho 27 anos de idade. E a ocupação israelense fez com que eu nunca tivesse a chance de viajar”, desabafa Mousheera Jamal, moradora da Cidade de Gaza. “Os momentos mais terríveis são quando os bombardeios ocorrem depois da meia-noite”, afirma Afaf Jallad, de 21 anos, morador de Tulkarem (na Cisjordânia). Seis palestinos contaram ao Correio seus medos e suas expectativas em relação à criação de um Estado soberano — anteontem, o presidente Mahmud Abbas entregou à ONU um pedido para o reconhecimento do novo Estado. Os depoimentos são fortes, repletos de dor e de revolta. Mas também mostram o amor a uma pátria quase ignorada pelo mundo.



Shahd Abusalama, 20 anos, estudante de literatura e desenhista, moradora da Cidade de Gaza


“Sou de Gaza, na Palestina, onde as pessoas são forçadas a viver em uma grande prisão. Onde as pessoas têm sua respiração, seus passos e até mesmo seus sonhos tolhidos pelas autoridades israelenses. Ser um palestino significa que temos força, apesar da injustiça; esperança, a despeito da miséria; e sorrisos, ainda que em meio à dor. Por todas essas razões, eu orgulhosamente digo que sou palestina. Nasci em um dia de guerra: o campo de refugiados de Jabaliya estava sitiado pelas forças israelenses e qualquer movimento era proibido. Meu pai foi preso pelos soldados. Eu vim para uma vida que nenhum ser humano merece: a um mundo cheio de injustiça, medo e perigo. Fui uma criança sem infância, exatamente como outras crianças palestinas. Como eu poderia ter uma infância real, em um lugar onde o som terrível dos morteiros e a visão do sangue escorrendo de nossos mártires abatidos são tão comuns? Eu me considero abençoada, pois ainda respiro, para provar ao mundo que sou palestina e que sou alguém. Eu desenharei uma Palestina livre e farei com que meu desenho fale sobre quão linda a minha preciosa Palestina pode ser quando for libertada. Eu desenharei seu mar inspirador, sem a Marinha israelense. Eu vou colorir o céu, sem aviões espiões e bombardeiros, que tornam o azul puro em cinza. Eu retratarei essa terra livre de todos os assentamentos, com as pessoas se movendo livremente. Vou representar a mim e a outros 7 milhões de refugiados retornando a nossos vilarejos originais de 1948.”


Ahmad Nimer, 24 anos, gerente de tecnologia da informação, morador de Ramallah (Cisjordânia)


“Eu nasci um ano antes da primeira intifada. Tinha 7 anos quando a Organização para a Libertação da Palestina (OLP) e Israel assinaram os acordos de Oslo. Ainda me lembro dos soldados israelenses invadindo minha casa. Após um período de relativa calma, de 1993 a 2000, a segunda intifada começou. Nos primeiros dias, havia funerais diários. Como o restante dos palestinos, começamos a nos distanciar da realidade brutal. Em 2009, mudei-me para Ramallah e me tornei mais ativo, politicamente. Isso porque os vilarejos da resistência popular são próximos. Desde então, senti a ocupação e o colonialismo ainda mais perto e aprendi sobre os vilarejos beduínos no Vale do Rio Jordão que enfrentam o risco de demolição de suas casas e sobre pequenas vilas ao sul de Hebron, constantemente ameaçadas pelos colonos judeus. Nós, palestinos, tendemos a não pensar no futuro. Vivemos em um ambiente muito instável, incapaz de se prever ou de se controlar.”



Mousheera Jamal, 27 anos, jornalista, moradora da Cidade de Gaza


“A vida por aqui é como viver perto da morte. Você precisa lutar contra várias doenças, a ocupação, as divisões internas, o embargo econômico, a política de veto imposta pelos Estados Unidos. Mas ainda há fôlego. A única coisa que mantém nossa fé é nosso direito. Eu acho que nada vai mudar na Palestina após a decisão do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas. Os israelenses e os norte-americanos farão tudo para terem o que desejam. Acredito na possibilidade de um Estado palestino para breve, mas precisamos que a comunidade internacional fique conosco. Precisamos pôr fim à ocupação. Tenho 27 anos. E a ocupação israelense fez com que eu nunca tivesse a chance de viajar. Não tenho um bom trabalho. Não me sinto segura, porque somos bombardeados diariamente. Eu não posso me casar, pois temo perder meu marido ou meu filho. Sou palestina e devo lutar com a vida para respirar.”


Nimr Hisham, 22 anos, intérprete e ativista de direitos humanos, morador da Cidade de Gaza


“Ser um palestino é difícil. E viver como um palestino é algo duro, porque em nosso dia a dia enfrentamos muitos obstáculos. A maior parte dos palestinos não sente estabilidade, por causa da ocupação israelense e de sua política brutal contra nosso povo. O cerco à Faixa de Gaza nos faz sofrer com muitos problemas, como a falta de comida e de remédios. Os israelenses nos proíbem de viajar e impedem a entrada de produtos em Gaza. Acreditamos que as coisas não vão mudar tanto por aqui. Nosso presidente (Mahmud Abbas) já disse que, mesmo que o mundo reconheça a Palestina, isso não removerá o muro do apartheid na Cisjordânia, nem colocará fim ao embargo imposto sobre Gaza. A Autoridade Palestina negociou por 20 anos com Israel e, no fim, nada obteve. Não preciso do reconhecimento do mundo para me orgulhar da minha condição de palestino. Mas se o mundo crê nos valores dos direitos humanos, na democracia, na justiça e na paz, deveria reconhecer a Palestina como Estado. Em Gaza, o Hamas governa pela força bruta. Ele controla nossas vidas e nos impede de fazer várias coisas. Expressar nossa opinião sobre o governo pode colocar nossas vidas em risco.”

Afaf Jallad, 21 anos, estudante de inglês na Universidade Aberta de Al-Quds, em Tulkarem (Cisjordânia)


“Nós vivemos em uma jaula. Eu não chamaria isso de vida! Ir de uma cidade a outra é difícil, por causa dos postos de controle. Os jipes de Israel aparecem do nada, em busca de algum palestino. Os momentos mais terríveis são quando os bombardeios ocorrem após a meia-noite. Meus dois irmãos dormem e eu corro para acordá-los. Eu desço as escadas com eles e esperamos até que as bombas parem de cair. Eu me lembro de como eu odiava os choros dos bebês, porque sabia que, enquanto suas lágrimas caíssem, nada estaria bem. A única esperança que meu país tem depende da integridade do mundo. Se a comunidade internacional tiver a chance de ver a verdade, então apoiará a liberdade das pessoas que têm lutado há anos contra a ocupação. Meu povo merece viver com dignidade. Nesses anos de conflito, já perdi um primo e vários familiares.”


Meera Adnan El-Baba, 19 anos, estudante de literatura, moradora da Cidade de Gaza


“Sou uma refugiada. Nasci na cidade de El-Lud, hoje ocupada por Israel, e moro na Cidade de Gaza. Por aqui, temos cortes de eletricidade e somos impedidos de viajar livremente. Eu me sinto presa em minha própria terra. A sensação é de que não sou capaz de praticar meus direitos como cidadã. O cerco a Gaza nos incapacita de reconstruir a comunidade e de participar da vida política. Ele tem isolado a Faixa de Gaza da Cisjordânia e do mundo inteiro. Isso nos afeta psicologicamente. A insegurança e o desemprego nos perseguem. Muitas pessoas morrem nos hospitais, pois não podem viajar para buscar tratamento fora. As negociações chegaram a um fim, e o caminho da resistência armada já não é mais adequado, ao menos temporariamente. É hora de a comunidade internacional condenar ou deter os crimes diários israelenses. Tenho esperança de que a demanda na ONU nos ajude a obter a soberania, a deter os assentamentos judaicos na Cisjordânia, a controlar nossas fronteiras de 1967 e nossas terras.”

FONTE: correio braziliense

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