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quinta-feira, setembro 01, 2011

E depois de Kadafi?





Divergências tribais e estrangeiros ameaçam o futuro



E depois de Kadafi? Enquanto o regime do coronel que governou com mão de ferro a Líbia desde 1969 conta suas últimas horas, o interesse concentra-se no "dia seguinte". A exemplo de como provou a experiência no Afeganistão e no Iraque, é muito mais fácil a derrubada de um regime do que a governabilidade de um país que emerge do limbo de uma ditadura.

Igualmente difícil é a edificação de um governo estável das ruínas de uma prolongada ditadura. A história está repleta de exemplos de opositores de um regime que uniram-se para combater o odioso tirano, mas depois divergem e entram em conflito armado entre si.

Em determinados casos, esta divergência evoluiu em guerra civil mais sangrenta do que as batalhas que foram travadas para derrubar o regime anterior. E em outros, a divergência mergulhou o país na anarquia. E como a Líbia encontra-se neste crítico ponto, um dos maiores problemas que enfrentará o Conselho Nacional de Transição são as históricas tensões étnicas, tribais e, locais.

Embora os líbios sejam, em sua maioria, árabes e muçulmanos, existem divergências entre eles: étnicas entre os bérberes das montanhas Nafousa, os Tuaregues do deserto sudoeste de Frezan e os toubou do deserto de Saara.

Entre os árabes existem também várias tribos diferentes que falam dialetos diferentes. A mais forte destas diferenças é aquela que existe entre as regiões antigas de Trípoli e de Cirenáica. A região de Cirenáica possui longa e rica história, desde o século VII a.C. Cirenáica foi invadida por muitos conquistadores, entre gregos, romanos, árabes, turcos, italianos e, britânicos.

Desde a Independência da Líbia até o reinado de Idris (1951-1969), a Líbia possuía, na realidade, duas capitais, Trípoli, a oeste, e Benghazi - sede do reinado de Idris, que era a capital de fato - a leste. Mas, depois do golpe de estado de Kadafi, em 1969, Trípoli foi reconhecida como capital única e sede do poder de toda a Líbia.

Kadafi não subjugou somente Benghazi, mas utilizou o regime autoritário e as arrecadações com a venda de petróleo e gás natural para controlar - com mão de ferro - as 140 tribos da Líbia. E não é por acaso que a revolução eclodiu, inicialmente, na Cirenáica que "fervia", literalmente, sob o asfixiante controle de Kadafi.

A leste, a pobreza e o desemprego em cidades como Darnah e Benghazi criaram terreno propício para o alistamento de jovens em grupos de combatentes islamitas. Estes e outros grupos de islamitas armados lutaram independentemente em diversas frentes durante a guerra civil com grau variado de sucesso. O papel deste grupos se tornará mais claro quando chegar a hora para a criação da estrutura de poder na após o Kadafi época.

Embora o Conselho Nacional de Transição seja um agrupamento "guarda-chuva", sob o qual encontra-se a maioria dos grupos que lutou contra Kadafi, sua liderança é originária, em grau elevado, da Cirenáica. No atual estágio, o Conselho enfrenta a difícil tarefa de equilibrar as exigências e os interesse dos diversos grupos que uniram suas forças para derrubar Kadafi.

É óbvio que as influências externas que tentarão aproveitar as disputas locais e tribais, representam um outro grande perigo para o futuro da Líbia. O Egito é um forte vizinho que já tentou, no passado, envolver-se nos assuntos internos da Líbia. Itália, França e Grã-Bretanha registram, também, histórico de envolvimentos na Líbia.

Regiões do país eram colônias italianas desde 1911, até que foram libertadas (leia-se conquistadas pelo Oitavo Exército britânico do general Montgomery) durante a Campanha da África do Norte, na Segunda Guerra Mundial, em 1943.

Foi quando a Grã-Bretanha assumiu o controle de Trípoli e Cirenáica, enquanto a França recebeu como "prêmio de consolação" a região de Frezan, até a declaração de Independência da Líbia, em 1951. Assim, não é por acaso que Grã-Bretanha e França exigiram a intervenção da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) na Líbia após a eclosão do levante em fevereiro último.

Empresas petrolíferas destes dois países, assim como da Itália, dos EUA e do Canadá, terão a primazia na divisão e exploração do petróleo e gás natural da Líbia. O emirado de Catar, a Turquia e os Emirados Árabes Unidos também desempenharam importante papel apoiando os rebeldes e, obviamente, continuarão exercendo forte influência sobre a liderança dos rebeldes.

Após a descoberta de petróleo e gás natural na Líbia, em 1959, empresas norte-americanas, britânicas e italianas envolveram-se fortemente na indústria petrolífera do país. E por causa deste envolvimento, cresceu a ideologia anti-ocidental, tornando-se, em seguida, a base da retórica de Kadafi.

O coronel mantinha relações estreitas com a antiga União Soviética e, mais tarde, com a Federação da Rússia, a qual encarregou-se do fornecimento do principal volume de seus armamentos. Acredita-se que Rússia - aposta na sobrevivência de Kadafi e, assim, não reconheceu até agora o Conselho Nacional de Transição - será um dos grandes perdedores a partir do momento em que assumirem o poder os rebeldes contra o Kadafi.

A China interessa-se, há tempos, pelos recursos da África do Norte e do continente africano de um modo geral e Kadafi opunha-se àquilo que caracterizava "imperialismo econômico chinês" na região.

Apesar disso, a China tem investido US$ 20 bilhões no setor energético da Líbia, enquanto grandes empresas construtoras de obras públicas de infra-estrutura operam no país, penetração que, ao que tudo indica, será fortalecida após o regime de Kadafi.



Anwar Kalil

Africa News Agency/Sucursal da África do Norte.

FONTE:monitor mercantil

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