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quinta-feira, novembro 20, 2008

Dia da Consciência Negra













O Dia da Consciência Negra, 20 de novembro, será feriado em 225, de um total de 5.561 municípios do país, segundo levantamento da Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial. A data, que será celebrada em centenas de eventos pelo país, lembra o dia em que foi assassinado, em 1695, o líder Zumbi, do Quilombo dos Palmares, um dos principais símbolos da resistência negra à escravidão.

Em 1971, ativistas do Grupo Palmares, do Rio Grande do Sul, - entre eles o poeta Oliveira Silveira-, chegaram à conclusão de que 20 de novembro tinha sido a data de execução de Zumbi e estabeleceram-na como Dia Da Consciência Negra. Sete anos depois, o Movimento Negro Unificado incorporou a data como celebração nacional.

Feriado Nacional
O Conselho de Defesa dos Direitos do Negro no DF (CDDN) marcou para amanhã uma audiência pública na Câmara Legislativa para debater a instituição de feriado distrital nesse dia. Em 225 municípios brasileiros, a data já é lembrada dessa forma.
Para Nelson Inocêncio, conselheiro do CDDN, professor de artes da Universidade de Brasília(UnB) e coordenador do Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros (Neab) da universidade, essas mudanças terão de ser feitas com o tempo de conscientizar a população para o verdadeiro sentido da diversidade. Para ele, os brasilienses, assim como os demais brasileiros, não estão acostumados a trabalhar de forma positiva essa diversidade.
– No nosso imaginário temos essa questão da diversidade como
referência, mas na prática as coisas são diferentes.
Nos EUA, a morte de Martin Luther King é lembrada com feriado. Deveria ser também aqui no Brasil - questiona Inocêncio.


Transversalidade
Segundo Inocêncio, o processo de mudança dessa consciência começou há pouco tempo.
– Só faz 20 anos que as políticas culturais de estado começaram a levar em consideração o patrimônio das culturas não-ocidentais. Tudo é muito novo porque também tudo é muito tardio no Brasil - argumenta, lembrando que, enquanto em muitos países do mundo a questão racial já está avançada, o mito da democracia racial nos impede de discutir essa questão com mais profundidade.
Para o coordenador do Neab, a luta de afirmação do negro no Distrito Federal se encontra em fase de avanço, a partir do diálogo estabelecido com o GDF.
– Nós já vínhamos de décadas tentando construir esse diálogo que está se estabelecendo agora. Eu sei que entre governo e base aliada não existe um consenso sobre a luta contra o racismo, mas o que acontece já constitui um começo – acredita
.


Processo de conscientização

Aluno de pedagogia na UnB e morador do Gama, o afro-descendente José Carlos Oliveira é taxativo em relação a datas. No seu entender, não basta um dia do ano para desencadear um processo de conscientização.
– A luta dos negros no país é antiga e ainda não vejo os frutos dessa luta implementados no dia-a-dia do cidadão. Ainda faltam muitas ações na agenda dos políticos para que essa situação se reverta - resume Oliveira.


Discussão de cotas
Para o estudante de pedagogia, a discussão das cotas é embrionária e os afro-descendentes ainda estão em situação de desigualdade no processo educacional.
– Eu vejo por mim. Moro no Gama e só aos 25 anos comecei a vislumbrar a possibilidade de frequentar uma universidade e entrei aqui aos 30. No entanto, esse meu processo de vida pode servir de exemplo multiplicador para muitos amigos também afro-descendentes, que nem sonham com isso – analisa.

Ações transformadoras
Para Gabriela Silva, recém formada em pedagogia, comemorar o 20 de novembro é positivo, mas essa discussão precisa vir acompanhada de uma série de ações transformadoras, a partir dessa lembrança. Afinal, o racismo ainda é um elemento arraigado na população.
– Só o fato de existir uma demanda para se discutir datas como é o caso do 20 de novembro, expõe uma realidade oculta na população em que sobrevive esse racismo. Essa diferenciação é hierárquica e é fácil enxergá-la no dia-a-dia das pessoas - acredita Gabriela.
É essa neblina que permite a persistência do mito da democracia racial, segundo a professora Maria Abádia, pesquisadora da UnB que realiza um trabalho a respeito das políticas públicas de gênero, educação e etnia. Para ela, as datas têm simbolismo, mas o que mais importa é o simbolismo que se pode criar a partir delas.
– Mais do que se comemorar uma data em dia tal, por razão tal, o que temos que promover é uma mudança de mentalidade, descobrindo um outro modo de ver as pessoas dentro da sociedade. Não podemos mais esconder essa realidade, ela tem que ser mostrada para que o processo educacional cuide de transformar essa mentalidade - justifica.

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