A idéia deste espaço é o de vir a ser mais um, dentre outros tantos, orientado à divulgação e discussão dos temas aos quais nos fazemos mais atentos nesta sociedade de tempo e espaço compactados.
Esperamos que aqui o debate das diferentes leituras possíveis de se realizarem sobre o concreto de nossa realidade tenha por baliza um sentimento de liberdade que se mostre completo ao expandir outras liberdades.
Antes de mais nada preciso colocar que no mais das vezes acabo por me expressar na forma escrita da mesma forma que faço da maneira oral. Para que possamos ter uma referência do vem a ser ironia coloco como ponto de partida o texto abaixo:
L. F. VERISSIMO
Da ironia
O Nílson Souza escreveu, exemplarmente como sempre, sobre o mal-entendido havido com uma crônica minha sobre o Lula e o Romanée-Conti, e intitulou a sua matéria "Ruído na mensagem". Perfeito.
Escrever com ironia é um pouco como escrever em código: a comunicação só funciona se na outra ponta houver um decodificador. Quem se mete a escrever irônica ou satiricamente precisa saber que nem todos têm o decodificador.
Não se trata de o leitor ser mais ou menos perspicaz. Ele às vezes simplesmente não tem a informação que o emissor pressupõe que ele tem, ou não tem tempo nem saco para ficar decifrando mensagens crípticas que querem dizer o contrário, e só recebe ruído. Ou – o que é o mais comum – o emissor é que não soube transmitir bem a sua intenção. Pecado grave num jornalista, que tem a mínima obrigação profissional de ser claro.
Mas não deixa de ser curioso que a ironia impressa tenha um trânsito tão difícil no Brasil, onde a ironia verbal é uma constante. Esta é, afinal, a terra do insulto carinhoso, e não existe melhor exemplo de uma coisa que quer dizer o seu contrário do que o xingamento entre amigos. É corriqueira a cena de dois homens se encontrando na rua e se chamando de tudo – "Seu filho disso!" "Seu filho daquilo!" – e, quando você pensa que eles vão se esmurrar, abraçando-se e dando-se, isto sim, tapas ruidosamente amistosos nas costas.
É uma lei não-escrita da afetuosidade brasileira que, quanto mais pesados os insultos, maior a amizade, e você sabe que dois homens realmente se amam quando um pode perguntar, naturalmente, ao outro: "E a sua mãe, continua na zona?" Nada destruirá uma amizade baseada tão solidamente na ironia consentida. Ela sobreviverá até a costelas eventualmente quebradas nos abraços.
Há alguns anos escrevi que todos os problemas do Brasil estariam resolvidos se o povo fosse eliminado. Como todos os índices de miséria, desnutrição etc. que nos envergonhavam se referiam ao povo, seu fim sumário nos projetaria automaticamente para o Primeiro Mundo.
Um leitor escreveu para elogiar minha coragem em apontar os verdadeiros culpados pelo nosso atraso, embora desconfiasse, algo desanimado, que eu tivesse usado o verbo "eliminar" "só em tese".
Z.H. - PORTO ALEGRE, SÁBADO, 19/10/2002
4 comentários:
Temos que espalhar decodificadores (bom senso e inteligência) a algumas pessoas que insistem em destruir reputação de companheira que sempre esteve na luta. Não é assim que se faz o movimento. Acabamos por perder valiosos aliados para nossas pautas.
Pois é, espero que mesmo depois de tamanho descalabro a referida companheira siga conosco na luta, embora eu admita que, se estivesse no lugar dela, pensaria duas vezes depois de tudo o que ela passou...
Querido Obá. Se Don é título (coisa que não sei, confesso que este "n" me pôs em dúvida), já me permito nos tratarmos com esta intimidade. Passei teu blog prá minha lista de e-mail. Parece que já entraram. Me convenci disto qdo. li os posts acima. Agradeço a manifestação e, só para esclarecer, não saio da luta de jeito nenhum. Aliás, o que não nos derruba nos fortalece, né? É um clichezinho miserável, mas já tô apelando ultimamente. Claro que tenho muitas dúvidas de como tocar as coisas prá frente, mas, prá isso, temos os amigos prá darem pitaco. Ah, sobre o último comentário, quero deixar um esclarecimento: eu ainda não passei pela missa metade. Quero deixar um convite àqueles que tem entrado no blog: a ASUFPel iniciou, na última assembléia, realizada ontem, a discussão sobre as cotas. Ficou marcado para a próxima quinta-feira, 15h, uma reunião ampliada para discutirmos este ponto. Estarei lá. Espero que a gente consiga fazer esta discussão com maturidade e possamos encaminhar juntos o resultado disto.Abçs. Rô.
Parabéns pela iniciativa de criação do blog!
Fiquei curiosa quanto aos nomes: "Don Obá" e "guebala". O que significam?
Quem quiser colaborar com o blog pode enviar mensagem para qual e-mail?
Deixarei o meu: tisabrandao@gmail.com
Teresinha Brandão
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