Valoriza herói, todo sangue derramado afrotupy!

sexta-feira, novembro 14, 2008

PORONGOS 164º























O dia 14 de novembro assinala na História a data em que ocorreu o Massacre de Porongos. Neste episódio, da Revolução Farroupilha, às vésperas da assinatura da paz, os intrépidos Lanceiros Negros farroupilhas, previamente desarmados por David Canabarro, foram atacados de surpresa e dizimados pelas tropas imperiais. Desde então, uma cortina de silêncio foi baixada sobre esse triste episódio da Guerra dos Farrapos. Aliás, uma das questões menos estudadas e conhecidas da Revolução Farroupilha é a enorme contribuição dos negros nessa luta e o destacado papel que nela tiveram os célebres Lanceiros Negros. 

Tudo de acordo com a conhecida "invisibilidade" a que costumam ser relegados os negros na história oficial do país e do Estado.

É preciso dizer que desde o seu início a luta dos farroupilhas contou com a importante participação de negros e mulatos. Em abril de 1836, logo após a captura de Pelotas, o chefe farroupilha João Manuel de Lima e Silva libertou e armou centenas de escravos. Em setembro de 1836, foi constituído o 1º Corpo de Cavalaria de Lanceiros Negros - recrutado, principalmente, entre os negros das charqueadas de Pelotas e do então município de Piratini ( atuais Canguçu, Piratini, Pedro Osório, Pinheiro Machado, Herval do Sul, Bagé, até o Pirai e parte de Arroio Grande) - , decisivo na batalha de Seival e na expedição a Laguna, verdadeira "tropa de choque" do exército farroupilha. Excelentes combatentes de Cavalaria, manejam como grande habilidade suas armas prediletas - as lanças. Estas, por eles usadas mais longas do que o comum. Combinada esta característica, com instrução para o combate e disposição para a luta, foram usados como tropas de choque, uso hoje reservado às formações de blindados. Por tudo isto infundiram grande terror aos adversários. Foi tão importante o seu papel que em agosto de 1838 foi formado o 2º Corpo de Lanceiros Negros.


Ao aproximar-se o final da guerra, as negociações de paz emperraram por conta da exigência da maioria dos chefes farrapos de que os negros que lutavam no exército da República conservassem sua liberdade.


É nesse contexto que ocorre, na madrugada do dia 14 de novembro de 1844, a Traição de Porongos, na qual os Lanceiros Negros - previamente desarmado por Canabarro e separados do resto das tropas - foram atacados de surpresa e dizimados pelas tropas imperiais através de um conluio entre David Canabarro e Duque de Caxias para livrarem-se dos negros em armas e forçar a assinatura da Paz de Ponche Verde. O fato ocorreu nas imediações do cerro dos Porongos, atual município de Pinheiro Machado.


Poucos dias depois, os remanescentes Lanceiros Negros e o seu chefe, Teixeira Nunes, foram liquidados em um novo confronto, depois de uma ação temerária ordenada por David Canabarro. Firmada a paz, Canabarro consumou a traição entregando a Caxias os ex-escravos que ainda permaneciam em armas.





Ancestralidade

Birágo Diop, poeta africano
Ouça no vento o soluço do arbusto,
é o sopro dos antepassados.

Nossos mortos não partiram.
Estão na densa sombra.
Os mortos não estão sob a terra.

Estão na árvore que se agita,
na madeira que geme,
estão na água que flui,
na água que dorme,
estão na cabana, na multidão;
os mortos não morreram...

Nossos mortos não partiram,
estão no ventre da mulher,
no vagido do bebê e no tronco que queima.

Os mortos não estão sob a terra,
estão no fogo que se apaga,
nas plantas que choram,
na rocha que geme,
estão na floresta,
estão na casa;
nossos mortos não morreram.

2 comentários:

Anônimo disse...

Olha, é por essas e outras que eu tenho horror quando alguns gaúchos mais inflamados resolvem "ressuscitar" a Revolução Farroupilha como se fosse um grande feito! Uma guerra entreguista, feita por e para interesses de fazendeiros e que, bem, é melhor parar por aqui...

Anônimo disse...

Que lindo poema! E pensar que, quando falam em Revolução Farroupilha, esquecem-se sempre dos negros...!
Teresinha Brandão