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domingo, julho 31, 2011

Onda de diversidade reduz a desigualdade racial nas empresas, mas não o preconceito









São pelo menos dois os funis que distanciam quem não é branco do mercado de trabalho: primeiro, o preconceito de cor ou de raça. E, segundo, a desigualdade de oportunidades que surge como consequência dessa barreira cultural.


Apesar de o cenário estar melhorando no meio empresarial - muito por causa da onda de diversidade que toma conta das organizações -, negros, pardos, mulatos, indígenas e amarelos ainda colecionam histórias de discriminação no ambiente profissional, seja no momento do recrutamento ou na hora de ganhar uma promoção.


Um levantamento recente do IBGE confirma o panorama: 71% dos 15 mil entrevistados - sendo 49% brancos e 51% de outras etnias - apontaram o mercado de trabalho como a área mais influenciada por características de cor ou raça. Conclusão reforçada pela quinta edição da pesquisa "Perfil social, racial e de gênero das 500 maiores empresas do Brasil", realizada junto a 623 mil profissionais pelo Instituto Ethos, em parceria com o Ibope Inteligência.


Entre os dados mais representativos do estudo - divulgado em novembro do ano passado - está o que destaca o número de negros que ocupam cargos de direção nas empresas: apenas 5,3%, contra 93,3% de brancos.


Essa participação dos negros cresceu, na comparação com os 2,6% apurados na primeira edição da pesquisa, em 2001. Isso, segundo Paulo Itacarambi, vice-presidente do Ethos, por conta de um esforço conjunto das empresas em tratar o assunto com mais naturalidade. Mas, acrescenta ele, esse esforço precisa ser ampliado em larga escala:


- A taxa dobrou, mas ainda é pouco. A dificuldade para pessoas com deficiência e homossexuais é grande, mas para os negros é muito maior. E uma das respostas para isso é serem os principais atingidos pelo déficit educacional do país. Se já é complicado entrar no mercado, imagine chegar a um cargo de destaque em uma grande empresa - diz Itacarambi, ressaltando que o objetivo da pesquisa não é verificar se existe desigualdade, mas sim estimular as organizações a trabalharem melhor o tema. - Não basta praticar o discurso da diversidade, até porque pode existir desigualdade dentro dela. O objetivo a perseguir é o da equidade, ou seja, o da igualdade de condições.


Formada em estatística, Alexsandra Silva, de 34 anos, já viu de perto como o preconceito pode se manifestar no ambiente de trabalho. Há oito meses na área de marketing estratégico da Icatu Seguros, a analista lembra de um episódio marcante do início da carreira, quando ainda atuava como prestadora de serviços em uma empresa de estatística que tinha, como cliente, uma gigante do mercado de telecom. Ela se destacava em vários projetos e, quando surgiu uma chance de efetivação, foi indicada por alguns gestores. Mas a pessoa que seria sua chefe imediata não a escolheu.


- Depois, uma colega veio conversar comigo e disse que eu não tinha sido escolhida por causa da minha cor. Fiquei muito abalada, até mesmo porque em nenhum momento passou pela minha cabeça que esse seria o motivo. O jeito foi sair de lá pouco tempo depois - diz Alexsandra, que, apesar da experiência, acredita que o preconceito tem diminuído nas empresas. - Hoje não só conquistei meu espaço como tenho certeza de que sou avaliada apenas pelo lado profissional. Também tenho visto mais negros em cargos estratégicos.


É o caso de Felippe Santana, de 26 anos, que trabalha na rede MegaMatte. Após muita dificuldade para descolar o primeiro emprego, o estudante de administração - que é negro e morador de São Gonçalo - conseguiu uma vaga como estagiário em uma unidade própria da empresa, onde começou como forneiro e, pouco a pouco, chegou a gerente. Hoje consultor de negócios da marca, faz parte do seu dia a dia levantar as necessidades dos franqueados e ajudá-los a solucionar possíveis problemas:


- Fiz bicos como entregador e balconista antes de meu chefe atual apostar em mim. O preconceito ainda existe no meio empresarial, basta ver a quantidade de negros em qualquer escritório. Só acho que o problema não deve ser encarado como uma questão cultural sem solução. Acredito na mudança de mentalidade.

FONTE: O GLOBO

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