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segunda-feira, agosto 01, 2011

Mulheres e negros têm menos acesso a transplantes de órgãos




Pesquisa recente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) revela que ser mulher e ser negro, no Brasil, pode diminuir ainda mais as possibilidades de tratamento eficaz na rede pública de saúde. Estudo inédito sobre transplantes de órgãos sólidos (como coração, fígado, rim, pâncreas e pulmão) mostra que a maioria dos transplantados no Brasil são homens da cor branca.

A pesquisa Desigualdade de Transplantes de Órgãos no Brasil: Análise do Perfil dos Receptores por Sexo, Raça ou Cor aponta que a cada quatro receptores de coração, três são homens, e 56% dos transplantados têm a cor da pele branca. No transplante de fígado, 63% dos receptores são homens e de cada dez pessoas que recebem o órgão, oito são brancas.

A maioria de receptores de pulmão também é formada por homens (65%) e pessoas brancas (77%). No transplante de rim, os homens também são maioria (61%) e 69% dos atendidos são brancos. Homens e mulheres são igualmente atendidos nos transplantes de pâncreas, mas 93% dos transplantados são brancos.

DESIGUALDADE – Para Alexandre Marinho, da diretoria de Estudos e Políticas Sociais do Ipea e um dos autores da pesquisa, “o trabalho revela que há desigualdade no recebimento dos órgãos, o que não deveria ocorrer, já que o acesso à saúde é um direito universal”.

Os pesquisadores analisaram dados de 1995 a 2004, fornecidos pela Associação Brasileira de Transplantes de Órgãos (ABTO). Marinho explica ainda que as causas da diferença entre brancos e negros não foram o foco do estudo, mas acredita-se que as condições socioeconômicas tenham influência no momento da escolha do paciente.

DESCASO – A Constituição Federal determina que a saúde é um direito de todos os brasileiros e um dever do Estado. Mesmo com os avanços obtidos através da instalação de diversos dispositivos legais, é inegável que brancos, negros, indígenas e pardos ocupam posições diferentes na sociedade e, consequentemente, vivem experiências diferentes ao recorrer à rede médica.

Confira abaixo alguns dados que demonstram a desigualdade no atendimento recebido por negros e negras no Brasil:

• Dados de 2008 divulgados pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad-IBGE) revelaram que 40,9% das mulheres pretas e pardas acima de 40 anos de idade jamais haviam realizado mamografia, contra 26,4% das brancas na mesma situação;

• Das mulheres acima de 25 anos, 37,5% das negras e, 22,9% das brancas jamais haviam realizado exame clínico de mamas. No mesmo intervalo etário, 18,1% das pretas e pardas e 13,2% das brancas nunca se submeteram ao exame Papanicolau (exame ginecológico preventivo);

• De acordo com o relatório Saúde Brasil 2005: uma análise da situação de saúde, o risco de uma criança preta ou parda morrer antes dos 5 anos por causas infecciosas e parasitárias é 60% maior do que o de uma criança branca;

• Também o risco de morte por desnutrição apresenta diferenças alarmantes, sendo 90% maior entre crianças pretas e pardas do que entre brancas;

• De acordo com a PNAD de 2006, a realização de exames clínicos de mamas durante uma consulta ginecológica é menos frequente em mulheres negras do que em mulheres brancas;

• No período de 2007 a 2009 o risco de uma mulher negra entre 10 e 29 anos de idade morrer por câncer de colo de útero foi 20% maior que aquele apresentado para uma mulher branca na mesma faixa etária.

Fonte: Jornal A Tarde

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