A permanência de Tatiana Oliveira, 22 anos, na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), cidade a 292 quilômetros de Porto Alegre, depois da aprovação no vestibular 2009 para o curso de Pedagogia, não durou um mês.
Ela começou o ano letivo no dia 9 de março e, na terça-feira passada, foi comunicada que sua matrícula foi cancelada. No centro da discussão para a perda da vaga, está o sistema pelo qual ela foi aprovada: ela se inscreveu como cotista afro-brasileira.
Logo depois da aprovação, Tatiana entregou os documentos que a UFSM exige dos futuros alunos. No caso dos cotistas afro-brasileiros, é necessária uma autodeclaração do aprovado dizendo que é negro ou pardo.
Logo depois da aprovação, Tatiana entregou os documentos que a UFSM exige dos futuros alunos. No caso dos cotistas afro-brasileiros, é necessária uma autodeclaração do aprovado dizendo que é negro ou pardo.
Tatiana fez o que foi pedido e começou as aulas normalmente. A surpresa veio no dia 18 de março, quando ela foi convocada para comparecer a uma entrevista na reitoria.
Segundo Tatiana, na reunião estavam sete pessoas, três negras. Por alguns minutos, eles a teriam questionado sobre sua raça, se já havia sofrido preconceito e o porquê da opção pelo sistema de cotas. Tatiana, filha de branca e pardo e neta de negro, respondeu:
- Eu falei que me considero parda. Menos parda do que meu pai, porque minha mãe é branca. Respondi que nunca sofri preconceito e que escolhi me inscrever no sistema de cotas porque ele dá chance para que nós, de cor parda, possamos ingressar na universidade. Falei a verdade - diz Tatiana.
Depois da entrevista, ela foi comunicada pela coordenadora do seu curso que a sua matrícula foi cancelada. A decisão revoltou Tatiana e sua mãe, a técnica em Enfermagem Adriana Oliveira.
- O que a UFSM quer? Que só entre quem já sofreu preconceito? Ninguém aqui usou de má fé para conseguir uma vaga. A Tatiana só se inscreveu por cotas porque entendemos que era um direito dela. Mas, pelo jeito, agora teremos de definir a cor da minha filha na Justiça - indigna-se Adriana.
Segundo Tatiana, na reunião estavam sete pessoas, três negras. Por alguns minutos, eles a teriam questionado sobre sua raça, se já havia sofrido preconceito e o porquê da opção pelo sistema de cotas. Tatiana, filha de branca e pardo e neta de negro, respondeu:
- Eu falei que me considero parda. Menos parda do que meu pai, porque minha mãe é branca. Respondi que nunca sofri preconceito e que escolhi me inscrever no sistema de cotas porque ele dá chance para que nós, de cor parda, possamos ingressar na universidade. Falei a verdade - diz Tatiana.
Depois da entrevista, ela foi comunicada pela coordenadora do seu curso que a sua matrícula foi cancelada. A decisão revoltou Tatiana e sua mãe, a técnica em Enfermagem Adriana Oliveira.
- O que a UFSM quer? Que só entre quem já sofreu preconceito? Ninguém aqui usou de má fé para conseguir uma vaga. A Tatiana só se inscreveu por cotas porque entendemos que era um direito dela. Mas, pelo jeito, agora teremos de definir a cor da minha filha na Justiça - indigna-se Adriana.
Para pró-reitor, Tatiana nunca se considerou parda
Conforme o pró-reitor de Graduação, Jorge Luiz da Cunha - que assina os documentos de cancelamento de vaga -, nos casos em que há dúvida sobre o que o aprovado declarou - em qualquer uma das modalidades de cotas: afro-brasileiro, estudante de escola pública, portador de deficiência ou indígena -, ele pode ser chamado depois de já estar cursando a faculdade.
Conforme o pró-reitor de Graduação, Jorge Luiz da Cunha - que assina os documentos de cancelamento de vaga -, nos casos em que há dúvida sobre o que o aprovado declarou - em qualquer uma das modalidades de cotas: afro-brasileiro, estudante de escola pública, portador de deficiência ou indígena -, ele pode ser chamado depois de já estar cursando a faculdade.
Esses alunos são submetidos a uma entrevista com representantes da Comissão de Implementação e Acompanhamento do Programa de Ações Afirmativas de Inclusão Racial e Social da UFSM.
No caso de Tatiana, a avaliação da comissão é que a estudante nunca se considerou afro-brasileira.
- Ela respondeu que nunca sofreu discriminação, que nunca se considerou parda, que se considera mais clara que outros integrantes da sua família, e que, no vestibular, foi a primeira vez que se disse "parda".
Partindo do espírito das políticas de ações afirmativas, a comissão, que inclusive tem representantes do Movimento Negro, entendeu que ela não se sente participante desse grupo - destaca Cunha.
Segundo ele, outros alunos, neste ano e no ano passado, quando o sistema de cotas da UFSM foi implantado, já tiveram suas vagas canceladas em função de não conseguirem comprovar sua condição. Outros processos estariam em andamento.
O pró-reitor não soube precisar quantos casos de cancelamento já ocorreram. No mesmo dia em que Tatiana foi avaliada, outros oito foram chamados para entrevista.
Na segunda-feira, a família de Tatiana pretende ir ao Ministério Público Federal para tentar reaver a vaga.
- Tudo o que eu quero é que isso seja resolvido e que eu consiga minha vaga de novo - desabafa Tatiana.
ClicRBS
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