Ao dizer ontem que "a crise chegou" ao Brasil, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que ainda nesta semana vai reunir sua equipe de governo para definir um plano de ajuda aos prefeitos, que reclamam da queda na arrecadação das suas receitas. Lula, porém, avisou que a ajuda não será suficiente para cobrir todas as perdas e que todos vão ter que "apertar o cinto".
"Imaginem vocês a nossa mãe colocando feijão no fogo para cinco pessoas e chegam dez. Ou seja, todos nós vamos ter de comer a metade do que estava previsto para a gente comer. Então é importante que cada prefeito, cada governador e cada ministro saiba que reduziu a receita. Reduzindo a receita, vai reduzir a distribuição", disse o presidente.
A declaração de Lula foi feita durante solenidade de inauguração da terceira usina de biodiesel da Petrobras, em Montes Claros (MG), que contou com a presença de trabalhadores rurais e prefeitos da região norte de Minas Gerais.
Lula afirmou que a crise afeta não só as prefeituras, mas também o governo federal e os estaduais. E sobre o saldo menor nos cofres da União, apontou dois motivos: a queda da atividade econômica ocasionada pela crise internacional e as desonerações de impostos promovidas para aquecer determinados setores, como o automotivo e o da construção civil.
"Todos nós vamos ter que apertar o cinto, mas nenhum de nós vai morrer na seca, como muitos municípios brasileiros já morreram durante tanto e tanto tempo", disse Lula.
O governo federal já havia anunciado queda de 27% na arrecadação federal em fevereiro e de 9,11% no primeiro bimestre, comparado o mesmo período de 2008.
Nos municípios a queda de receita tem sido até mais acentuada, chegando a 30%, conforme as entidades que reúnem os prefeitos.
No discurso, acompanhado por nove governadores da área da Sudene e 11 ministros, Lula voltou a falar da necessidade de o governo federal investir em infraestrutura e que continuará promovendo mais ações, como o programa habitacional anunciado recentemente.
Ele fez um novo apelo para a população não deixar de consumir, para girar a economia, e até pediu para que torçam e roguem a Deus para a crise acabar nos países da Europa, nos Estados Unidos e no Japão, de forma que esses países voltem a alimentar o comércio internacional. "Se eles não compram, teremos mais problemas aqui dentro", afirmou Lula.
No ano passado, ele chamou a crise de "marolinha". "Aqui no Brasil nós sabemos que a crise chegou, mas nós sabemos também que o Brasil é um país que recebeu a crise seis meses depois de ela ter chegado em outros lugares e que ela vai acabar antes de acabar nos outros lugares", disse ontem.
Os prefeitos que acompanharam ontem o discurso de Lula ficaram irritados com a ordem para apertarem os cintos.
"Vamos apertar os cintos das criancinhas, que precisam da merenda e do transporte escolar, apertar na saúde. Somos nós que mantemos o final da linha", disse o prefeito de Petis e presidente da associação que reúne os municípios mineiros da área da Sudene, Valmir Morais de Sá (PTB).
Agência Folha
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