Abrem-se as cortinas, começa uma batida de funk. Numa imagem que remete a um cabaré há um palco e, nele, revezam-se imagens de um desfile com roupas que fogem à convencional alta costura, com peças justas, curtas e sensuais. As modelos também não lembram em nada as magérrimas de costume: são encorpadas, fazem poses sensuais.
Essa é a abertura do
Engana-se quem pensa que o objetivo do site é vender para as prostitutas que navegam pela internet.
"É um público que nos interessa, sim. Mas hoje em dia vestir Daspu virou 'cult', vendemos para mulheres de classe média, profissionais liberais, que têm entre 26 e 45 anos", explica Flávio Lenz, diretor de marketing da Daspu.
"Afinal, hoje em dia, as patricinhas mesmo se vestem como as prostitutas."
Entre as peças comercializadas no site estão shorts --bem curtos--, camisetas, saias e lingeries. Segundo Lenz, neste setor a Daspu oferece um produto que ainda não existia no mercado, o "sutiliga", um sutiã que tem as alças de uma cinta-liga.
Lenz diz que a grife espera que os "best-sellers" da loja virtual sejam as camisetas da linha "Ativismo" --lançadas em 2003-- que têm os inscritos "pu da vida" e "somos más, podemos ser piores".
Por enquanto, há poucas peças da Daspu à venda no site. Mas a ideia é que os 20 modelos que a marca lança a cada coleção --uma por ano-- sejam disponibilizadas. A meta é que sejam comercializadas de 600 a 800 peças por meio do site, a mesma quantidade que a marca vende por mês em suas duas lojas.
A relação da grife com a internet começou em 2005, quando a direção da ONG foi ao site de relacionamentos Orkut criar para si uma comunidade.
"Para nossa surpresa, já havia duas", conta Lenz. E hoje são cerca de 30, sendo que a oficial tem mais de 900 membros.
"Usamos a página para fazer enquetes e saber do gosto do público", diz o diretor de marketing.
Os próximos passos da Daspu na web devem ser um concurso virtual para escolher uma frase para uma camiseta e um blog, que deve trazer depoimentos de prostitutas.
Daspu
A Daspu foi formada por prostitutas da ONG Davida, do Rio de Janeiro, no final de 2005. A grife se tornou conhecida ao entrar numa polêmica com a Daslu, um dos maiores centros de comércio de luxo do país.
No embate, a butique de luxo queria que a Daspu mudasse de nome. Segundo a Daslu, havia "deboche, visando denegrir a imagem da loja". Após a polêmica, os advogados da Daslu decidiram não ir à Justiça, e a grife manteve a marca.
Os desfiles da Daspu também foram comentados pela mídia por suas modelos serem, na maioria das vezes, as próprias prostitutas que compõem a ONG Davida.
Coordenadora da Davida, a escritora e prostituta aposentada Gabriela Leite responde atualmente pela Daspu. Gabriela fundou a ONG em 1992 como forma de organizar as prostitutas 'contra o preconceito' e na luta por bandeiras da categoria, como a prevenção à Aids e a doenças sexualmente transmissíveis, além do reconhecimento da prostituição como profissão legal.
Folha Online
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