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segunda-feira, maio 17, 2010

Americanos discutem a real importância do curso superior na vida profissional











Qual é a chave do sucesso nos Estados Unidos? Fora participar de um reality show, a resposta é automática e, alguns pode argumentar, até mesmo condicionada: fazer um curso universitário. A ideia de que quatro anos de educação superior significam um emprego melhor, salários maiores e uma vida mais feliz – um refrão que certamente será repetido este mês nas cerimônias de graduação em todo o país – tem sido bombardeada na cabeça das crianças, pais e educadores. Mas há um aspecto ruim nessa crença convencional. Talvez menos da metade das pessoas que começaram um curso de graduação de quatro anos no outono de 2006 receberão o diploma dentro de seis anos, de acordo com as últimas projeções do Departamento de Educação. (Os números não incluem os alunos transferidos, que não são rastreados.)


Para os estudantes universitários que estavam entre os 25% dos alunos mais fracos de suas classes no colegial, os números são ainda mais duros: 80% deles provavelmente nunca conseguirão um diploma superior, nem mesmo de um curso de curta duração. Isso pode se traduzir em muitas mensalidades a pagar, sem um diploma para compensar.


Um grupo pequeno porém influente de economistas e educadores está pressionando em outra direção: para alguns alunos, nada de faculdade. Segundo eles, chegou a hora de desenvolver alternativas com credibilidade para os alunos que provavelmente não terão sucesso na faculdade, ou que talvez não estejam prontos para ela.


Se todas as pessoas que estão na faculdade deveriam estar lá não é uma dúvida recente; o assunto tem sido discutido em livros e dissertações há anos. Mas a crise econômica enfatizou o problema, à medida que os Estados com problemas financeiros passaram a cortar as verbas para a educação superior.


Entre os que defendem essas alternativas estão os economistas Richard Vedder da Universidade de Ohio e Robert Lerman da American University, o cientista político Charles Murray, e James Rosenbaum, professor de educação na Universidade Northwestern. Eles encaminhariam alguns alunos para um treinamento profissional intensivo e de curta duração, através de programas de segundo grau expandidos e treinamentos em empresas.


“É verdade que precisamos de mais microcirurgiões do que há 10 ou 15 anos”, diz Vedder, fundador do Center for College Affordability and Productivity, uma organização de pesquisa sem fins lucrativos em Washington. “Mas os números ainda são relativamente pequenos comparados ao número de auxiliares de enfermagem de que vamos necessitar. Nós precisaremos de centenas de milhares deles na próxima década.” E a maior parte desse treinamento, diz ele, poderia ser oferecido fora do contexto da universidade.


Os diplomas universitários simplesmente não são necessários em muitas profissões. Das 30 carreiras com maior expectativa de crescimento durante a próxima década nos EUA, apenas sete costumam exigir diploma universitário, de acordo com a Agência de Estatísticas do Trabalho.


Entre as dez carreiras que mais crescem, duas delas exigem diplomas universitários: contabilidade (bacharelado) e professores de terceiro grau (doutorado). Mas esse crescimento deverá ser ultrapassado pela necessidade de enfermeiros registrados, assistentes de saúde domiciliar, representantes de serviços ao cliente e funcionários de lojas. Nenhum desses empregos exige um diploma de bacharelado.


Vedder gosta de perguntar por que 15% dos carteiros têm diplomas de bacharelado, de acordo com um estudo federal de 1999.


“Alguns deles poderiam ter comprado uma casa com o que gastaram em sua educação”, disse. Lerman, o economista da American University, diz que alguns formandos do segundo grau seriam melhor atendidos se fossem ensinados como se comportar e se comunicar no ambiente de trabalho.


Essas habilidades estão entre as mais desejadas – até mais do que a formação escolar – em muitas entrevistas de empregadores. Em uma pesquisa de 2008 com mais de 2 mil empresários do Estado de Washington, os empregadores disseram que os funcionários novatos pareciam ter mais deficiência em “resolver problemas e tomar decisões”, “resolver conflitos e negociar”, “cooperar com os outros” e “ouvir com atenção”.


Mas apesar da necessidade, os programas vocacionais, que podem ensinar esse tipo de habilidade, foram aniquilados pelos esforços do governo para melhorar os parâmetros nacionais de educação, que se concentraram em preparar os alunos para a universidade.


Enquanto alguns educadores propõem uma renovação radical do sistema de faculdades comunitárias para preparar os jovens para o trabalho, Lerman defende que o governo e empregadores façam um investimento significativo em programas de treinamento vocacional no local de trabalho. Ele falou com admiração, por exemplo, de um programa da rede de farmácias CVS no qual os assistentes de farmacêutico trabalham como aprendizes em centenas de lojas, e depois muitos deles continuam estudando para se tornarem farmacêuticos.


“O campo da saúde é um caso óbvio em que a situação da mão de obra deixa a desejar”, diz ele. “Eu tentaria trabalhar com alguns dos principais empregadores para desenvolver programas como esse para formar pessoas aptas a realizar trabalhos que demandam alta capacitação.”


Embora nenhum país tenha um modelo perfeito para esses programas, Lerman apontou um estudo modesto sobre um programa alemão feito no verão passado por uma estudante. Ela descobriu que, entre todos os estudantes alemães que foram aprovados no Abitur, o exame que permite frequentar a faculdade pagando quase nada, 40% preferiram fazer treinamentos em profissões técnicas, contabilidade, gerenciamento de vendas e computação.


“Algumas das pessoas que saíram desses treinamentos têm mais chances de conseguir emprego do que estudantes formados em universidades”, diz ele, “porque elas de fato tiveram experiência no ambiente de trabalho.”


Ainda assim, ao incentivar alguns alunos a deixarem de lado os cursos universitários de quatro anos, acadêmicos como Lernam tocam num ponto delicado do sistema educacional. No mínimo, eles poderiam ser acusados de reduzir as expectativas de alguns alunos. Alguns críticos vão além, sugerindo que a abordagem equivaleria a estabelecer uma discriminação na educação, uma vez que muitos dos estudantes que desistem da faculdade são negros ou hispânicos.


Peggy Williams, conselheira numa escola de segundo grau no subúrbio da cidade de Nova York cujos alunos são na maioria negros ou hispânicos, entende o argumento para errar por excesso e pressionar mais alunos a entrarem na faculdade.


“Se nós dissermos às crianças: 'Você não consegue chegar lá, não deveria ir para a faculdade ou universidade”, então estamos sendo injustos com elas e impedindo que conheçam um ambiente em que podem crescer”, diz ela.


Mas Williams diz que poderia aconselhar alguns alunos a desistirem do caminho pré-universitário se a sua escola, Mount Vernon High School, tivesse uma alternativa melhor de educação vocacional. Durante a última década, diz ela, os cursos de artes culinárias, enfermagem, auxiliar de odontologia e reparo de sistemas de ventilação e aquecimento foram eliminados. Talvez apenas 1% dos graduados deste ano terão se concentrado nos cursos vocacionais, diz ela, comparado a 40% há uma década.


Há ainda outra argumento em defesa do ensino superior: as pessoas com diplomas universitários e equivalentes normalmente ganham mais do que as que não os têm e enfrentam menos riscos de ficarem desempregadas, de acordo com números do Departamento de Estatísticas do Trabalho.


Mesmo aqueles que experienciam poucos anos de faculdade ganham mais dinheiro, em média, com menos riscos de desemprego, do que os que têm apenas um diploma de segundo grau, diz Morton Schapiro, economista que é presidente da Universidade Norhtwestern.


“Você recebe algum retorno, mesmo que não tenha recebido o diploma”, diz Shapiro.


Ele alertou que não se deve ignorar os benefícios intangíveis da experiência da faculdade – mesmo que seja uma experiência incompleta – para aqueles que talvez não apliquem diretamente o que aprenderam no trabalho que escolheram.


“[O ensino superior] não diz respeito somente ao retorno econômico”, diz ele. “Fazer faculdade, quer você termine ou não, contribui para a apreciação estética, uma melhor saúde e um melhor comportamento eleitoral.”


Entretanto, diz Rosenbaum, os conselheiros e professores de segundo grau não fazem o suficiente para alertar os alunos com poucas chances de conseguir um diploma universitário sobre o arriscado caminho que têm pela frente.


“Não estou dizendo para não buscarem o bacharelado”, diz ele. “Eu digo, vamos dar a eles algumas credenciais intermediárias, algumas conquistas intermediárias. Então, se eles quiserem ir adiante com sua educação, eles podem.”

FONTE:The New York Times

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