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quarta-feira, maio 26, 2010

Será que o Mundial muda a África do Sul?

O antigo presidente da África do Sul, Thabo Mbeki, previu que o Mundial’2010 seria o momento em que os africanos “recuperariam de séculos de pobreza e conflito”.




É uma declaração forte de um homem de poesia e de política.


Mas a menos de um mês do primeiro Campeonato do Mundo de África, é evidente que tais ambições nunca seriam alcançadas por um evento desportivo, não importa quão grande ou lucrativo.


Este Mundial vai ser o mais lucrativo do que qualquer outro da história. A FIFA amealhou um total de 2.100 milhões de dólares de direitos de televisão e patrocinadores, tornando pequenos os lucros alcançados na Alemanha há quatro anos.


Também foi um dos Campeonatos do Mundo mais caros de sempre. A FIFA gastou 1.100 milhões de dólares, enquanto a África do Sul pagou 5.000 milhões de dólares, na construcção de estádios, estradas e transportes públicos.


Pela última semana que aqui passei, viajando da Cidade do Cabo para Joanesburgo e agora para o campo de treinos de Inglaterra em Rustenburgo, torna-se claro que o país está preparado para realizar o evento.


Ainda falta fazer algum trabalho cosmético em estradas e nos aeroportos. No estádio Soccer City em Joanesburgo, onde o campeonato vai iniciar e terminar, ainda faltam alguns detalhes nas áreas circundantes para completar um cenário magnífico.


O estádio é um feito incrível por si só, mas a área envolvente foi transformada desde que eu visitei o sítio pela primeira vez há três anos. Novas estradas e uma nova estação de comboios foram construídas, sendo uma prova inequívoca do impacto que a competição já teve no país.


Ainda persistem dúvidas e receios sobre crime e segurança. Cerca de 10% dos bilhetes ainda estão por vender, enquanto continuam a haver ressentimentos sobre a controlada política de marketing da FIFA e a forma como foram geridos os pacotes de alojamento, com preços muito caros estipulados pela empresa parceira da FIFA, Match.


Mas os estádios são magníficos, o ambiente e a expectativa crescem e as pessoas que encontrei nos últimos dias não poderiam ser mais acolhedoras e amigáveis.


Até na township de Khayelitsha, uma vasta área repleta de casas de lata nos planos da Cidade do Cabo que albergam 1.6 milhões de habitantes, as pessoas são simpáticas e acolhedoras.


Foi lá que encontrei Lunga, um jovem treinador de futebol que trabalha num dos 20 projectos de “Esperança no Futebol” que estão a ser construídos no continente africano por cerca de 70 milhões de dólares pela FIFA. O projecto visa deixar em África um legado em condições do Campeonato do Mundo.


Ele usa as suas capacidades futebolísticas para ajudar a ensinar os valores aos adolescentes que os vão ajudar a combater os riscos mortais das infecções do HIV-Sida, das drogas e do crime. Ele faz isto porque o futebol o ajudou a fugir à dura realidade da vida numa township.


Ele tem experiência em primeira-mão de quão difícil pode ser a vida. No início deste ano, dois dos seus tios foram assassinados, mortos a tiro à porta da pequena casa que ele partilha com a sua avó. Certamente que o Campeonato do Mundo teve um papel importante na volta que ele deu à vida?


No entanto, até Lunga não está convencido que vão haver benefícios para os habitantes mais pobres do país. Tal como a maioria das pessoas com quem falei em Joanesburgo e na Cidade do Cabo, ele pensa que nada vai realmente mudar assim que o torneio termine e que os ricos vão ficar cada vez mais ricos.


Danny Jordaan, o director executivo do comité organizador sul-africano e, há mais de uma década, defensor da realização do Mundial, defende apaixonadamente o impacto positivo do evento.


Ele insiste que o Campeonato do Mundo vai deixar a África do Sul com mais do que novos estádios e memórias felizes, apontando as estradas, caminhos-de-ferro e redes de autocarros construídas, assim como terminais de aeroportos e hotéis. Depois há a melhoria e desenvolvimento da infra-estrutura de transmissões e tecnologias do país.


Jordaan diz que a história vai colocar a organização do Mundial no mesmo patamar que a libertação de Nelson Mandela da prisão de Robben Island e as eleições democráticas de 1994.


Talvez ele tenha razão.


O perigo, no entanto, é que a África do Sul gaste milhares de milhões de dólares numa campanha de publicidade de 30 dias que rapidamente se apaga assim que o torneio acabe.

FONTE: BBC/ÁFRICA

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