Você sabe quanto cada jogador do Flamengo ganhou de "bicho" pela vitória sobre o Liverpool? US$ 4.600, pagos no dia seguinte, pelo supervisor Domingo Bosco, sentado atrás de uma mesa cheia de dólares, num quarto do Hotel Takanawa Prince. Lá ele dividiu a receita da partida: US$ 300 mil dos quais, após despesas e gratificações, US$ 150 mil restaram para os cofres do clube.
Achou pouco? Pois saiba que a média salarial daquele que foi o maior time da história rubro- negra girava entre US$ 1,5 e 2 mil mensais. O zagueiraço Mozer, por exemplo, faturava US$ 1,6 mil. Zico, o craque maior e estrela da companhia, ganhava bem mais (US$ 20 mil/mês, entre luvas e ordenados), mas até os números do Galo evidenciam o salto estratosférico que a inflação mundial e o business do esporte deram em 30 anos.
Ainda sobre a premiação de 81, o técnico Paulo César Carpegianni, graças a uma cláusula de seu
contrato, levou US$ 20 mil. Mesmo valor pago ao supervisor Domingo Bosco que, entretanto, ao fechar a contabilidade da viagem a Tóquio, deu por falta de US$ 20 mil e assumiu sozinho o prejuízo. Na época, por conta da reclamação de alguns jogadores (que receberam menos), chegou-se a especular que a história poderia ter sido forjada para encerrar o assunto. Mas esta semana, 30 anos após o episódio, tanto o ex-presidente Antônio Augusto Dunshee de Abranches quanto o então vice de futebol Eduardo Mota me confirmam que, de fato, houve o roubo, no hotel. Dunshee e Mota comandaram o Flamengo em sua época mais brilhante: campeão da Libertadores e do Mundial, em 81; bi brasileiro, em 82 e 83 e, de
quebra, a vigança dos 6 a 0 contra o Botafogo...
CARROS EM CAMPO. Instantes antes de o time rubro-negro subir, para o reconhecimento do gramado do estádio Nacional, Domingo Bosco chegou ao campo e viu dois reluzentes carros da Toyota — um atrás de cada baliza. Soube, então, que estes seriam os prêmios para o artilheiro da final e para aquele que fosse eleito o craque da partida. Rapidamente, voltou ao vestiário e avisou: os automóveis passariam a fazer parte de uma gratificação extra e deveriam ser vendidos para que a grana fosse repartida por todos.
Zico e Nunes ganharam os possantes e decidiram ficar com eles mas, enquanto o Galo ressarciu os
companheiros, tão logo voltou, o João Danado foi empurrando a dívida com a barriga e acabou deixando o Fla sem saldar o débito. Somente quando retornou à Gávea, anos depois, o clube incluiu nas suas luvas, o pagamento aos companheiros. Zico até hoje tem o seu Toyota 81, que guarda como um troféu à parte, mas ainda é capaz de rodar, quando necessário.
RIR É O MELHOR REMÉDIO. Na hora de entrar em campo, o time rubro-negro se reuniu para a tradicional corrente e uma oração, antes de subir ao gramado. Diante da cena, os ingleses começaram a rir, com ar de desdém. Os rubro-negros perceberam e começaram o jogo mordidos. E,
literalmente, riu melhor quem riu por último...
PAPO COM A BOLA ROLANDO. Após um primeiro tempo estonteante (quando o Fla construiu o placar
de 3 a 0), a segunda etapa da partida contra o Liverpool foi tão fácil que o goleiro Raul passou boa
parte dela conversando com os repórteres que estavam atrás de sua baliza (eu era um deles). Embora não tenham voltado a marcar, os brasileiros dominaram de tal forma os 45 minutos finais que os ingleses acabaram na roda:
— Assim me resfrio! — brincava Raul.
Não chegou a tanto. Mas faltou pouco para que o "Véio" começasse a contar seus "causos".
VOCÊ SABIA? Adílio não aparece no poster do Mundial porque a fotografia foi feita em Los Angeles, onde a equipe treinou durante cinco dias, antes do embarque para Tóquio. Como se casou, no Brasil, neste período, o "Brown" (apelido do camisa oito) só se incorporou à delegação no aeroporto de LA, na hora da conexão para o Japão.
E por que tal foto não pode ser tirada na hora da partida, no estádio? Porque naquela época a tecnologia de transmissão de fotos a cores (através de máquinas ligadas à linhas telefônicas, em três lâminas: magenta, cyan e yellow) era rudimentar e o poster precisava ter qualidade. Por isso, as fotos foram clicadas nos EUA e seus filmes despachados para o Brasil, antes da etapa final da viagem. E foi assim que, em nome de seu amor por Rose, Adílio ficou fora daquele registro memorável, mas não da gloriosa história que ajudou aquele timaço a escrever. Em tempo: Rose acompanhou o marido na viagem ao Japão. Foi a única esposa de jogador na delegação, além de Sandra, mulher de Zico.
FONTE: globo.com / Renato Maurício Prado
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