Por conta da intervenção e mobilização do movimento de Economia Solidária junto ao governo federal e parlamentares (estaduais e federais), foram retiradas as atribuições da Economia Solidária da nova Secretaria Especial de Micro e Pequena Empresa, a ser criada no Projeto de Lei 865. Se isto foi considerado uma vitória, é preciso dizer que essa luta apenas começou.
A decisão de trabalharem juntos para vencer a situação de desemprego trouxe contradições para quem trabalha em conjunto, em regime de economia solidária. Dentro desta configuração do trabalho (nova ou não) restam dúvidas, que não devem ser desprezadas, e sim debatidas com profundidade.
Uma dessas grandes dúvidas é em relação à identidade das pessoas que assim trabalham. Não são empresários, no sentido de relacionar-se entre si, como patrões e empregados, já que um não vende a força de trabalho para o outro.
Seriam, então, trabalhadores que dividem as funções e os ganhos econômicos (ou perdas). Se são solidários ou não, podem até não se denominarem “economia solidária”, mas certamente serão um grupo de geração de renda. No entanto, continuam sendo pessoas que vivem do trabalho. Como todos os trabalhadores, anseiam por direitos, com toda razão.
Aí surge um perigo visível, quando, ao se formalizarem alguns grupos, acabam sendo registrados como micro-empresas. Inadvertidamente ou não, passam a chamar-se de empresários(as). E vêm as contradições, os perigos e as questões:
- A identidade e consciência de pertencer à classe trabalhadora não é mais importante? Afinal, uns e outros têm perdido esta identidade e parecem não se preocupar, até por estarem em posições de “poder” (governo, presidências de entidades e sabe-se lá o quê mais...).
- Mesmo que se denominem empreendedores, o perigo persiste... Empreendedor é trabalhador?
- Como fica a luta de classes? Ela não é mais necessária?
- Ou, mais grave, a classe trabalhadora tende a se extinguir, uma vez que os próprios empregados formais hoje são chamados de “colaboradores”, “associados” e outros termos desta linguagem maldosa e enganosa, carregada de ideologia capitalista?
- Ops... muito mais grave: algumas entidades que se dizem “responsáveis pela organização dos trabalhadores” adotam essa linguagem e a repetem, reforçando a fragilização e fragmentação da classe.
Pois é, povo... Uma linguagem carregada de ideologia capitalista vem dominando nossa comunicação, com o intuito justamente de descaracterizar a classe dos que vivem do trabalho. E não só as palavras, mas – e isto é histórico - muitas atitudes neste sentido.
Mas, enquanto prevalecer o sistema capitalista, a luta de classe estará presente. Isto porque é da natureza do sistema explorar. Assim como o anseio pela libertação permanece entre os trabalhadores.
Neste momento de profunda crise do sistema e dos ataques aos direitos dos trabalhadores, os movimentos sindical e social comprometidos com os interesses e a solidariedade de classe devem renovar a determinação de combater essa sociedade injusta e colaborar para a construção de uma sociedade justa, fraterna e solidária, que se manifesta na primazia do trabalho sobre o capital, no aumento da consciência de classe, nas ações transformadoras, na construção de um novo modo de produção sócio-ecológico, em uma nova cultura do trabalho, com vistas a romper com o sistema capitalista e como realização da Pessoa Humana em todas as suas dimensões.
ESCRITO POR ANTTONIA APARECIDA DA SILVA CARRARA |
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