Cesária Évora morreu, este sábado, aos 70 anos. "A diva dos pés descalços" estava doente há já vários meses e tinha já terminado a carreira, a 23 de Setembro de 2011. "Eu preciso de quando vez da minha da terra, do povo que sou e desse marulhar das ondas", confidenciou Cesária Évora.
Cesária Évora deu entrada no hospital Baptista de Sousa, em São Vicente, Cabo Verde, na sexta-feira, onde esteve internada nos serviços de cuidados intensivos "com um quadro muito complexo".
"Durante este período, ela alternou momentos de lucidez com momentos de inconsciência e esteve sempre acompanhada do seu empresário José da Silva", disse o director do hospital, Alcides Gonçalves.
A cantora regressou a S. Vicente, sua ilha natal, a 22 de Outubro após ter posto fim à sua carreira musical devido a problemas de saúde.
Cesária Évora, nasceu há 70 anos na cidade do Mindelo, na ilha cabo-verdiana de S. Vicente, no seio de uma família de músicos.
Cantava para "afastar coisas tristes"
"Tudo à minha volta era música", contou numa entrevista. O pai, Justiniano da Cruz, tocava cavaquinho, violão e violino, instrumentos que se tornaram característicos daquelas ilhas, o irmão, Lela, saxofone, e entre os amigos contava-se o mais emblemático compositor cabo-verdiano, B. Leza.
"Cise", como era carinhosamente tratada pelos amigos, tornou-se no nome mais internacional de Cabo Verde, país de onde o mundo conhecia já grandes músicos como Luís Moraes e Bana.
Desde cedo que Cesária Évora se lembrava de cantar, como referiu numa das muitas entrevistas que deu: "Cantava ao ar livre nas praças da cidade para afastar coisas tristes". Aos 16 anos canta nos bares das cidade e nos hotéis começando a ganhar uma legião de fãs que a aclamavam já como "rainha da morna".
A independência da nação africana, em 1975, coincide com o início de um "período negro" da cantora que deixa de cantar, tem problemas com o alcoolismo e trabalha noutra área.
Em 1985, a convite de Bana, proprietário de um restaurante e uma discoteca com música ao vivo em Lisboa, Cise vem a Lisboa e grava um disco que passou despercebido à crítica, seguindo para Paris onde é "descoberta".
Em 1988, gravou "La diva aux pied nus", álbum aclamado pela crítica. Nesta fase da sua carreira tem um papel fundamental, que se manteve até ao final, o empresário francês José da Silva.
Em 1992, Cesária Évora gravou "Miss Perfumado" e aos 47 anos tornou-se uma "estrela" internacional no mundo da world music, fazendo parcerias com importantes músicos e pisando os mais prestigiados palcos.
Uma carreira internacional que passou várias vezes por palcos portugueses cujas salas esgotavam para ouvir, entre outros êxitos, "Sôdade".
Em 2004, recebeu um Grammy para o Melhor Álbum, de world music contemporânea pelo disco "Voz d'Amor". "Cise" não parou e continuou em sucessivas digressões, regressando de quando em vez à sua terra natal.
"Eu preciso de quando vez da minha da terra, do povo que sou e desse marulhar das ondas", confidenciou um dia Cesária Évora.
A cantora começou a enfrentar vários problemas de saúde e alguns "sustos" como afirmava, mas regressava sempre aos palcos e aos estúdios com alegria.
Em 2009 o Presidente francês Nicolas Sarkozy entregou-lhe a medalha da Legião de Honra, depois de uma intervenção cirúrgico que a levou a temer pela vida.
Cesária voltou aos estúdios e anunciou não só uma digressão como a gravação de um novo que deveria sair no próximo ano.
Um passeio pelo Bairro Alto
A 24 de Setembro, numa entrevista ao "Le Monde", a cantora afirmou que tinha de terminar a carreira por conselho médico. A sua promotora, Tumbao, emitiu um comunicado confirmando as declarações da "diva dos pés descalços", e dando conta da tristeza que sentia por ter de o fazer.
Nesse mesmo dia, ao princípio da tarde, a cantora foi internada no hospital parisiense de Pitie-Salpetriere, por ter sofrido "mais um acidente vascular cerebral (AVC)". A Tumbao emitiu nesse mesmo dia um comunicado dando conta que o diagnóstico clínico da mais internacional artista cabo-verdiana era "reservado".
Este sábado, Cise, aos 70 anos, completados a 27 de Agosto, e após uma curta visita a Lisboa onde pediu para passear a pé pelo bairro de São Bento, morreu em Paris.
Ao longo da carreira, além das inúmeras digressões e actuações em televisões, gravou 24 álbuns, um DVD, "Live in Paris", e registou dezenas de colaborações em discos.
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