A mesma comissão que criou as cotas para negros e pardos em 2004 foi responsável pelo convênio entre a UnB e a Fundação Nacional do Índio (Funai). Ficou acertado que, a cada semestre, 10 indígenas aprovados em um teste de seleção ingressariam em um curso de nível superior. As provas são diferenciadas: têm somente matérias básicas como português e matemática. Já a oferta de cursos varia de acordo com as necessidades de cada tribo. A Funai oferece uma bolsa de R$ 900 para que eles se mantenham na cidade. Ela é cortada em caso de reprovação reincidente. Nos sete anos de vigência, 77 índios ingressaram na faculdade, mas até agora só três se formaram, de acordo com a coordenação acadêmica dos estudantes indígenas.
Atualmente, 63 índios cursam alguma área específica. A maior dificuldade é a diferença cultural. “O que eles aprendem na aldeia geralmente é diferente do ensino convencional. Quando chegam aqui, ainda sentem saudade da família. É complicado”, afirmou o coordenador dos estudantes indígenas, Umberto Euzébio.
Diferentemente dos negros e pardos, os índios ainda apresentam um rendimento muito aquém daqueles aprovados pelo vestibular tradicional. Em 2006, por exemplo, enquanto a média universal foi de 3,65, a dos que entraram pelo sistema de reserva de vagas foi de 2,72. Em 2008, o número melhorou. Aumentou para 2,93, em comparação a uma média de 3,41. Mesmo assim, distante da realidade dos outros alunos.
Desistência
A evasão também é alta entre ele. A saudade da família e o baixo valor que recebem para pagar moradia e alimentação fazem muitos desistirem do nível superior. “Algumas coisas precisam ser revistas. Para eles, é mais difícil. A reprovação, por exemplo, não deveria ser um fator decisivo para a perda da bolsa. Afinal, sem a ajuda eles precisam voltar para a aldeia”, lamentou Euzébio.
Mesmo assim, para o coordenador, a oportunidade é importante para reduzir o preconceito e contribuir para a construção de uma sociedade democrática. “O acesso à universidade deve ser para todos. A reserva de vagas para índios cumpre um papel fundamental até para as aldeias”, complementou.
A maioria dos índios que se forma por esse sistema quer atuar na tribo de origem. É o caso de Rayanne Cristine Máximo, 19 anos, e Antônio Macedo Dias, 28. Ela está no 3º semestre de enfermagem e ele, no 8º de agronomia. Rayanne quer fazer uma especialização e trabalhar na área de gestão da saúde na terra indígena do Alto Rio Negro (AM) para ajudar o povo Baré, do qual faz parte. Antônio é da etnia Kaimbé, aldeia Massacará, de Euclides da Cunha (BA), e deseja melhorar a produção agrícola de seu povo.
Os dois contam os problemas para assimilar matérias como química, física e matemática. “Apanhei demais nos primeiros semestres. Não sabia mexer no computador, não entendia a lógica da biblioteca. É difícil. Hoje, estou mais habituado”, contou Antônio. Rayanne ainda sente falta da família, mas afirma que não desistirá. “Muitos desistem pelas dificuldades. Eu sonho com isso desde a 8ª série, quero me formar.”
FONTE: Correio Braziliense
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