Trabalho infantil e escravo foi explorado em fazendas de algodão orgânico em Burkina Faso, na África, que fornecem para produtos da grife britânica de lingeries Victoria’s Secrets. A informação consta em um relatório de 2008 sobre fazendas certificadas com selos de comércio justo no país e confirmada por reportagem da agência norte-americana Bloomberg News, publicada nesta sexta-feira.
O estudo de 2008 da Helvetas Swiss Intercooperation, organização sediada em Zurique, sugere que “centenas, senão milhares” de crianças poderiam estar vulneráveis a exploração em fazendas no país, na produção de algodão empregado em cadeias produtivas de marcas importantes. O produto era beneficiado e transformado em roupas em fábricas no Sri Lanka e na Índia.
A jornalista Cam Simpson passou seis semanas no país e encontrou casos como o de uma menina de 13 anos que trabalha junto da mãe em uma propriedade na colheita do algodão. Segundo a reportagem, é o segundo ano em que a adolescente trabalha no local.
A marca Victoria’s Secret usa como marketing a informação de que a maior parte do algodão provém de fazendas com certificação de produção orgânica ou de comércio justo. Parte das roupas íntimas da grife traz o percentual mínimo de “fibras orgânicas” que compõe a peça vendida.
A empresa nega ter conhecimento do relatório de 2008. A federação de fazendeiros de Burkina Faso, parceira comercial responsável por promover os princípios orgânicos e de comércio justo, também rechaça a hipótese de serem empregadas crianças nas colheitas.
Segundo a reportagem da Bloomberg, o caso mostra fragilidades de certificações de comércio justo. O segmento teve crescimento de 27% em 2010, alcançando US$ 5,8 bilhões. Parte do avanço decorre justamente da promessa das marcas de que não há exploração de trabalhadores em condições sub-humanas.
Neste ano, no Brasil, a marca espanhola Zara, da empresa Inditex, foi acusada de explorar trabalho escravo no interior de São Paulo. Imigrantes bolivianos estavam entre as pessoas libertadas por fiscais do Ministério Público do Trabalho e do Ministério do Trabalho e Emprego. A companhia ainda negocia um termo de ajuste de conduta (TAC) com os promotores que acompanham o caso e viu sua imagem ser desgastada pelo amplo alcance internacional da notícia.
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