Em comemoração ao dia 20 de Novembro, dia da Consciência Negra o Jornal Inverta relembra a luta dos Panteras Negras nos Estados Unidos. O Partido dos PanterasNegras foi uma organização leninista revolucionária que lutou nos anos 60 e 70 pela derrubada do Governo imperialista dos Estados Unidos.
Quando os Panteras começaram a ganhar destaque, se aprofundaram no estudo do marxismo-leninismo, e passaram a se aliar com outros movimentos criando uma plataforma de luta para a classe operária nos EUA, suas lideranças foram exterminadas e o partido sofreu com a guerra suja desencadeada pelo FBI no programa que ficou conhecido como COINTELPRO. Esse programa visava aterrorizar a base de apoio dos Panteras Negras para minar seu apoio popular.
Uma de suas destacadas lideranças, foi George Jackson, revolucionário que se politizou na prisão, onde foi vendo sua pena ser aumentada na mesma medida que suas posições iam ficando mais claras. Da prisão ele nunca saiu, foi assassinado lá em agosto de 1971.
Um herói da classe operária nos EUA foi o jovem Jonathan Jackson, irmão de George, que com apenas 17 anos praticou uma ação armada aprisionando um juiz e exigindo a libertação dos presos negros da cadeia de Soledad. A polícia atacou fuzilando todos e na troca de tiros morreram todos os que fizeram a ação e os reféns.
George dedica sua coletânea de cartas que ficou conhecida por todo o mundo para seu irmão e Angela Davis. Abaixo reproduzimos essa dedicatória e uma carta de George a seu pai, em 1967, que faz parte da coletânea Soledad Brothe (ainda não traduzida para o português).
Ao Homem-Criança
Alto, terrível, gracioso, brilhante, homem-criança negro, Jonathan Peter Jackson, que morreu no dia 7 de Agosto de 1970, coragem em uma mão, rifle de assalto na outra; meu irmão, camarada, amigo, o verdadeiro revolucionário, o guerrilheiro negro, comunista em seu mais alto estado de desenvolvimento, morreu no estopim, açoite dos injustos, soldado do povo; a esse terrível homem-criança e a sua maravilhosa mãe, Georgia Bea, a Angela Y. Davis, minha grata experiência, eu dedico essa coletânea de cartas; à destruição de seus inimigos eu dedico a minha vida.
28 de Maio de 1967
Caro Robert,
Tenho sido um bom garoto ultimamente, gentil, educado, compreensivo. Não sei se isso fará algum bem, já que as pessoas invariavelmente confundem gentileza com fraqueza. Realmente não imagino como alguém pode estar desapegado e complacente por qualquer período de tempo e ainda assim manter contato social de qualquer nível. Não me surpreende mais, mas ainda acho perturbador a aceitação geral e a prática generalizada dos produtos transtornados da cultura ocidental. Pessoas rezando, barulhentas, esquizofrênicas, dominadoras, psiconeuróticas, o pressionam por todos os lados. Elas permanecem num estado contínuo de agitação, sempre no limiar de fazer algo maníaco! O Capitalismo, creio eu, a capitalização do trabalho do próximo, da fraqueza do próximo, contribuiu enormemente para o desenvolvimento do anômalo “homem ocidental”; capitalismo, empreendimentos competidores, homens competindo com outros homens por coisasnecessárias, por símbolos de status, pelo poder para reprimir seus concorrentes e assegurar seu bem estar para exercitar seu ego, seus devaneios. Eu simplesmente não posso me acostumar com a idéia de um oficial mesquinho, estereotipado, burocrático, evidentemente sofrendo de alguma desordem mental, fazer-me perguntas, pedindo-me explicações. São estranhase irônicas as artimanhas e reviravoltas que se deram nas últimas gerações.
Mastigue isso por um tempo, um colonizador, um usurário, o ladrão original, um assassino por benefício pessoal, um sequestrador escravocata, um construtor de canhões, bombas e gás venenoso, um parasita egocêntrico, o enganador original, o homem estranho está tentando nos convencer de que temos que nos ajustar a suas perversões, que temos que aprender a ser mais como ele, que por não o sermos, é que somos atrasados, subdesenvolvidos, toscos! Isto é estranho e contraditório.
Eu me arrependo profundamente de já ter dito uma mentira, roubado qualquer coisa e trapaceado em qualquer situação principalmente porque isso significa conformar-se nesse jeito ocidental.
Aparentemente eles estão chateados comigo por eu ter feito algumas dessas coisas. Eu suponho que este privilégio é reservado para eles. Então o que eles querem quando dizem que temos que nos dar bem com eles, ser como eles, adotar o capitalismo, vestirmo-nos do jeito ocidental? É estranho e contraditório. Se nós, os negros e não brancos do mundo adotássemos o capitalismo, onde iriamos buscar nossas colônias, na Europa, nos EUA? Em cima de quem nós iríamos capitalizar se fossemos usar a história deles como modelo?! Eles, eu diria!! Quem nós iríamos seqüestrar, assassinar, linchar, escravizar e depois negligenciar!! Então o que eles querem ao dizer “faça como eu faço”? Eu não penso, ou melhor eu sei que eles não falam sério, não são sinceros. Eu acho que eles estão empregando outro truque, um plano para nos confundir mais e nos usar, eu acho que o que eles querem dizer não é “faça como eu faço”, mas “faça o que eu digo”! Por volta de 1770 os europeus daqui queriam soltar-se dos europeus da Inglaterra. Eles chamaram isso de luta pela liberdade. Agora nós, homensde cor dos EUA, queremos soltar-nos desses europeus e eles chamam isso de subversão, irresponsabilidade etc. Eu nem falo mais com eles. Eu sigo meu caminho e espero ser deixado em paz.
George
FONTE:Essa matéria foi publicada na Edição 418 do Jornal Inverta, em 23/11/2007
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